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1.5 – O professor como profissional e investigador

A escola deve ser uma comunidade de aprendizagem e não apenas de ensino, onde os professores, e outros agentes educativos devem constituir-se, de fato, numa comunidade educativa. Segundo Stewart (1997, citado por Guerra, 2000), uma das riquezas das organizações é o seu capital intelectual, ou seja, a capacidade dos seus profissionais agirem e interagirem de forma inteligente e colegial, “o talento dos professores, o seu compromisso intelectual e moral com a ação, as relações interpessoais enriquecedoras, constituem o “ouro oculto” da organização” (p.47).

Assim, o professor deverá ser um profissional em constante aprendizagem, atualização e dialogicidade sobre o seu processo de autoanálise e de autoavaliação com a finalidade de promover o seu desenvolvimento pessoal, profissional e da própria

Mestrado em Ciências da Educação 19 instituição onde está inserido, ou seja, “refletir criticamente sobre a sua própria ação, com o objetivo de reconduzi-la ou de melhorá-la; assumir a própria autonomia dentro do processo educativo; reconhecer a importância de trabalho em equipa e da interação docente nas tarefas educativas” (Alves & Machado, 2010, p.102).

De acordo com Azevedo (2011), um professor para exercer com qualidade e profissionalismo a sua atividade docente deverá reunir as seguintes qualidades: possuir uma sólida formação científica; adquirir e aplicar o seu conhecimento didático; tornar o des-envolvimento e a aprendizagem possíveis a todos; ser um inspirador de valores; saber trabalhar em equipa; saber cooperar com os pais e manter um conhecimento atualizado do mundo. O professor, tal como já foi referido, deverá ser um profissional que se encontra em constante aprendizagem e investigação no sentido de potencializar e transformar o seu conhecimento/investigação em verdadeiras e significativas aprendizagens para os seus alunos, “(…) o professor deve ser também investigador, desenvolvendo e mantendo uma postura reflexiva/investigativa face à prática pedagógica, fundamental a qualquer pedagogia verdadeiramente focalizada no aluno” (Vieira, 1993, p.51).

Segundo Alarcão e Roldão (2010), o professor é sem dúvida um educador, com a função social de ensinar e detentor de um saber profissional. No exercício da sua atividade profissional deverá promover a integração de saberes e a sua ligação à ação prática e à vivência da cidadania (ter como premissa criar/proporcionar contextos educativos que garantam as aprendizagens e influenciem as comunidades).

Esta nova conceção de professor, como prático reflexivo e crítico, traduz um novo paradigma profissional gerador de inovações e de mudanças, tanto nos professores como na comunidade educativa e na própria organização escola:

(…) o professor através do conhecimento de si, dos contextos, dos saberes e dos valores, e numa atitude de continuado e colaborativo questionamento, atua e toma decisões no sentido da educação de todos e de cada um, balizadas pelos interesses do bem comum, da justiça e do conhecimento (Alarcão & Roldão, 2010, p.68).

O professor é detentor de um saber profissional específico e, nesse sentido, é-lhe “exigido” um constante e permanente investimento na sua formação, ao longo da vida que, segundo Alarcão e Roldão (2010), deverá ser alicerçada em três eixos fundamentais: o eixo dos saberes; o eixo da relação interpessoal e o eixo dos valores democráticos, os quais são apresentados na figura 2.

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Fig. 2: Conceção de professor (emergente)

atua em tem

é

tem está exerce uma

Fonte: adaptado de Alarcão e Roldão (2010, p.69).

Segundo Schön (1983, citado por Holly, 2007, p.85), para o “(…) professor profissional, haverá tanto o problema de definir o problema como o de o tentar resolver”, o que carece, por parte deste, flexibilidade, maturidade psicológica, criatividade, atenção continuada aos processos de investigação, entre outras, uma vez que a árdua tarefa de ensinar e de “fazer aprender” é um ato relacional e dinâmico entre os seus interlocutores, onde o observador é também observado (Holly, 2007).

Holly (2007) apresenta, a título exemplificativo de professor profissional, o conceito de professor–investigador, defendido por Lawrence Stenhouse (1975), segundo o qual o professor deverá desenvolver uma “investigação autocrítica sistemática”, que:

Educador que ensina Portador de um saber profissional

(eixo do saber, eixo da relação e eixo dos valores)

Sistemas plurais e complexos Intervenção crítica reflexivo prática de questionamento continuado em conflito com uma cultura do praticismo conhecimento: de si dos valores dos saberes dos contextos  Institucionais  Sociais  Socioculturais

 Favorecedor e garante das aprendizagens  Influenciador de comunidades

Mestrado em Ciências da Educação 21 Se baseia na curiosidade e no desejo de compreender; mas trata-se de uma curiosidade estável e não de curiosidade passageira; sistemática no sentido de ser sancionada por uma estratégia crítica… Fundamental a uma tal persistência da investigação é um estado de espírito cético, sustentado por princípios críticos, pondo em dúvida não só as respostas recebidas e confortáveis, mas também as suas próprias hipóteses… (Stenhouse, 1975, citado por Holly, 2007, p.85).

O professor, verdadeiramente empenhado no ato educativo e na melhoria do ensino, deverá desenvolver mecanismos de investigação sobre as suas práticas e da sua ação em contexto de sala de aula que potencializem o seu desenvolvimento profissional. Segundo Oliveira (1997), o desenvolvimento profissional do professor envolve três dimensões fundamentais, que se apresentam no quadro 2, de forma sumária.

Quadro 2: Dimensões fundamentais do desenvolvimento do professor Dimensões Princípios orientadores de cada dimensão

Vertente do saber

 Aquisição e organização de conhecimentos específicos: - das ciências da educação

- da especialidade de ensino

Vertente do saber fazer

(desempenho profissional)

 Está associado à analise e reflexão sobre: - as atitudes face ao ato educativo

- as funções e papel do professor e do aluno

- a implementação das atividades e estratégias de ensino

Vertente do saber ser e saber tornar-se

(relações afetivas/interpessoais)

 Engloba:

- as perceções sobre o próprio professor e a sua atuação profissional (relações interpessoais)

- as expetativas e motivações do professor associadas ao desempenho das suas funções docentes e à sua formação

Fonte: adaptado de Oliveira (1997, p.96).

Esta autora refere que, a eficácia da profissão docente (através da mudança/transformação dos próprios professores), bem como a melhoria do ensino, podem ocorrer se os seus profissionais desenvolverem de forma regular e metódica, a investigação sobre as suas práticas, nomeadamente recorrendo à implementação de um projeto de ação-investigação. Este projeto deverá, segundo a mesma autora, e citando Desroche (1981), ser monitorizado a partir da ação desenvolvida pelo professor e recorrendo à investigação como suporte para uma melhor compreensão e/ou reorientação da intervenção pedagógica do professor (a investigação estará ao serviço da ação, no sentido de a analisar, de a compreender e de a melhorar).

Por outro lado, o projeto de ação-investigação tem intrinsecamente associado a necessidade de os professores confrontarem as suas práticas com as de outros colegas,

Mestrado em Ciências da Educação 22 bem como recorrerem à formação, no sentido de analisarem de forma crítica e reflexiva as suas atitudes perante o ato educativo, bem como o nível das suas práticas profissionais. Assim, e de acordo com os mesmos autores, o projeto de ação- investigação surge como uma ferramenta formativa significativa para a promoção do desenvolvimento profissional de professores:

A construção do saber pedagógico com base num processo de interação dialética entre as teorias subjetivas do professor e as suas práticas reais e, em simultâneo, com o confronto com as práticas e teorias de outros atores profissionais e/ou investigadores encerra um potencial formativo fundamental para o desenvolvimento profissional do professor (Oliveira, 1997, p.97).