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A escola, como comunidade de ensino e de aprendizagem deve ser norteada por um projeto elaborado e partilhado democraticamente por toda a comunidade educativa.

A construção e implementação desse projeto carece da existência, no interior da organização educativa, de profissionais comprometidos com a prática e desejosos de alcançar a melhoria da escola. Nesse sentido é necessário “incorporar a investigação nas estruturas, de forma a que a reflexão partilhada sobre as práticas se converta numa necessidade e numa exigência” (Guerra, 2000, p.92).

A escola que se concebe, a si mesma, como organização aprendente e qualificante, tem para si uma visão projetivista, que implica a existência, no seu interior de comunidades de aprendizagem sistemicamente interligadas na grande comunidade de aprendizagem que é a escola e “exige” a presença permanente de um diálogo e de um pensamento sistémico, entre todos os interlocutores que conduza ao questionamento, ao confronto, à implicação, à aprendizagem e à qualificação (Alarcão, 2002).

Na escola deverá existir uma permanente atitude de reflexão e processos que desencadeiem a reflexão entre os seus agentes educativos e segundo Alarcão (2002), a metodologia de investigação-ação de cariz formativo apresenta-se relevante e determinante na promoção de uma escola aprendente, no desenvolvimento dos seus membros e nos seus contributos para a resolução dos problemas que à escola e na escola são “vividos”. O professor, numa escola com estas caraterísticas, apresenta-se como um profissional que possui a capacidade de se afirmar como analista e intelectual reflexivo, empenhado no desenvolvimento e na qualidade da educação que aí se pratica.

Mestrado em Ciências da Educação 23 A escola, como comunidade aprendente e reflexiva, pensa-se, organiza-se, investiga-se, avalia-se com a finalidade de saber como desempenha a sua missão de educar. Segundo Senge (1994, citado por Alarcão & Tavares, 2010), uma organização aprendente tem que criar no seu interior um clima organizacional caraterizado por uma atuação de forte dinâmica interpessoal e dialógica, focalizada numa visão prospetiva sobre a realidade em mudança e potencializando/desenvolvendo nos seus membros mecanismos de aprendizagem individual e coletiva. Numa organização inovadora, qualificante e aprendente, Senge considera que têm que estar presentes cinco componentes estruturantes, com destaque para o pensamento e o relacionamento social/interpessoal, que se passam a referenciar: a liderança e o equilíbrio pessoal; a existência de modelos mentais; a visão partilhada; a aprendizagem em grupo e o pensamento sistémico. Todos estes componentes são apresentados no quadro 3.

Quadro 3: Componentes estruturantes de uma organização aprendente Componentes Estruturantes Princípios orientadores

A liderança e o equilíbrio pessoal

 Possuir a capacidade de “saber o que se quer” e de o conceber;

 Ser capaz de criar condições que envolvam/encorajem os membros da organização a caminharem nesse sentido;

 Ter equilíbrio pessoal e pró-atividade;

 Interiorizar /valorizar o papel da liderança na mudança/inovação.

A existência de modelos mentais

 Organização que se pensa, logo desenvolve no seu interior: - a capacidade de refletir continuamente;

- a capacidade de clarificar e aprofundar as ideias dos seus membros; - a capacidade de se pensar de forma sistémica e compreender a sua

relação com o mundo/sociedade exterior.

A visão partilhada

 A organização tem a capacidade de implicar de forma responsável e dinâmica, todos os seus membros na construção coletiva de visões/princípios/linhas orientadoras para o futuro.

A aprendizagem em grupo

 Ter capacidade de pensar em grupo (exteriorização/comunicação interpessoal);

 Rentabilizar/potencializar as situações de diálogo e de pensamento coletivo, por forma a melhorar a organização;

 Mudar os esquemas mentais e de interagir individualistas em prol de comunidades de aprendizagem.

O pensamento sistémico

 Permitir que os grupos vejam “para além de” e ultrapassem as perspetivas individuais;

 Ter implícito a percepção das possibilidades e das estratégias de mudança da organização educativa.

Fonte: adaptado de Alarcão e Tavares (2010, pp.139-140).

Em síntese, e segundo os mesmos autores, a escola como organização reflexiva, aprendente e qualificante, em desenvolvimento e aprendizagem, necessita da existência,

Mestrado em Ciências da Educação 24 no seu interior, de um pensamento estratégico e de “(…) uma visão partilhada relativamente à sua missão e ao caminho que quer percorrer e refletir sistematicamente e colaborativamente sobre as implicações e as consequências da concretização dessa visão” (Alarcão & Tavares, 2010, p.140).

Como síntese das nossas leituras, constatamos que no seio de numa escola aprendente o professor carece de um permanente questionamento e reflexão sobre as suas práticas e dinâmicas educativas (com os alunos e com a organização no seu todo) pois como afirma (Canário, 1988), os professores aprendem a sua profissão nas escolas, logo a profissão docente exerce uma ação sobre, com, e para o ser humano, o que exige um esforço de aprendizagem e melhoria/atualização permanente.

Defende-se, por último, que existem bastantes vantagens em considerar/tornar a escola como o local privilegiado do desenvolvimento profissional contínuo dos professores e, nesse sentido, é necessário encorajá-los e fazê-los perceber as vantagens que existem em desenvolverem no interior da organização uma cultura de prática reflexiva, consubstanciada em “comunidades de aprendizagem”.

Nestas comunidades, a partilha e a reflexão de práticas e contextos de aprendizagem, entre professores, deverão ser uma realidade e deverão contribuir para que o desenvolvimento do professor, em contexto escolar, seja parte integrante e contextualizada do desenvolvimento da escola: a escola concebida como organização simultaneamente “qualificante” e “aprendente”.

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Capítulo 2 – Supervisão pedagógica

A supervisão em Portugal durante muitos anos foi pensada, sobretudo, por referência ao professor em formação inicial e à sua interação pedagógica em contexto de sala de aula.

A escola atual “exige” que lhe seja atribuída uma dimensão mais abrangente e se pense a supervisão como uma ferramenta significativa de apoio, de reflexão e de acompanhamento dos professores, ou seja, ensinar os professores a ensinar deve ser o objetivo principal de toda a supervisão pedagógica que se deve desenvolver ao longo de todo o percurso profissional.

Para além da dimensão pessoal, surge também a dimensão coletiva associada à melhoria do ambiente e da qualidade da organização escolar em todas as suas vertentes, o que pressupõe uma corresponsabilização de todos os agentes educativos pelo ensino que praticam, mas também pela formação e pela educação que desenvolvem.

Todas as situações de supervisão se devem caraterizar por relações interpessoais dinâmicas, encorajantes e facilitadoras da aprendizagem que conduzam a processos de desenvolvimento e de melhoria tanto a nível pessoal como da própria organização.

Todos estes processos supervisivos requerem supervisores experientes, qualificados e altamente empenhados com a sua função de fomentar, de apoiar, de orientar, de monitorizar todas as etapas do processo, implementando para o efeito o(s) modelo(s) e estilo(s) supervisivo(s) que consideram ir ao encontro das necessidades e especificidades de cada organização escolar.