• Nenhum resultado encontrado

2.3 O JORNAL EM SALA DE AULA

2.3.2 O professor no processo

Aos professores, o veículo impresso oferece também a possibilidade de atualização cultural e metodológica. Todavia, será muito difícil para ele ensinar coisas que não vivencia pessoalmente. Ou seja, o educador não vai conseguir despertar entre os seus alunos o gosto pela leitura regular de jornais se ele mesmo não desenvolver esta prática. Principalmente porque a fim de promover uma análise crítica do conteúdo jornalístico, que em última análise é o nosso objetivo pedagógico, ele deve levar em consideração dois aspectos básicos, que são a necessidade de conhecer os sistemas e suportes do texto produzido pela imprensa em si, além de não se deixar levar pelo mito da objetividade construído em torno do relato jornalístico.

No primeiro caso, trata de identificar todo o trajeto que a informação percorre entre o fato original e a versão publicada ou veiculada na mídia. Já a mitificação da verdade transmitida através do texto escrito, está ligada às próprias origens do ato de escrever, que era praticado apenas por iniciados, que tratavam de guardar esta fonte de poder a fim de manter os privilégios conquistados. De todo modo, não há

sentido em falar de verdade jornalística, em neutralidade ou imparcialidade, uma vez que nem os jornalistas que produziram a versão do fato e nem os leitores, que selecionam o que querem ler e depois interpretam a notícia a partir de suas experiências individuais, seus objetivos e suas visões de mundo, são efetivamente neutros.

Os programas de jornal na escola podem oferecer atividades que proponham não somente a contextualização de conteúdos, mas também uma avaliação dos próprios critérios de noticiabilidade. Pode-se, por exemplo, propor que os mestres, individualmente ou em grupo, façam um levantamento dos temas colocados à discussão entre colegas, conhecidos e familiares em determinada semana ou mês, destacando as idéias com as quais concordaram ou discordaram. Depois, apresenta-se o desafio de cada um tentar identificar de onde recebeu as informações que o levaram a pensar o que pensou, achar o que achou, concordar com o que concordou. A discussão final pode levar a debates proveitosos sobre o tema da autonomia do pensamento e do poder de influência da mídia na opinião pública.

No trabalho com jornal em sala de aula, Costa (1997, p.33) aponta três etapas distintas, desde a familiarização até o entendimento e a crítica. O que pode acontecer com alunos de qualquer série, desde que o professor saiba adequar o nível de dificuldade, o modo de abordagem e a espécie de assunto escolhido. Para ela, ao apresentar o jornal em sala de aula, é preciso explorar inicialmente a sua estrutura editorial, os cadernos e suplementos, as seções diárias ou semanais, as páginas de serviços e os classificados. A partir de então, é recomendável mostrar o que é uma notícia curta, uma reportagem mais elaborada, os artigos, cartas do leitor e editorial, bem como a diferença entre o que é anúncio publicitário do conteúdo

jornalístico, entretenimento e de serviço. Também é possível, neste ponto, comparar a estrutura e o formato de dois periódicos distintos, melhor ainda se for o caso de mostrar um veículo da grande imprensa contra um outro menor, regional ou local. Uma das primeiras atividades a serem trabalhadas pode ser localizar um conteúdo desejado a partir dos índices e do formato específico dos jornais, destacando sua importância para futuras pesquisas.

Por sua vez, Faria (1999, p.19-21) traça um roteiro de planejamento pedagógico que envolve fases progressivas que devem ser iniciadas a partir dos primeiros contatos com o veículo, ou seja, conhecer um jornal, visitar o jornal e aprofundar a sua análise e prática. Neste sentido, aponta três níveis de abordagem, entre texto, imagem e diagramação, que devem estar presentes sempre no trabalho com o jornal em sala de aula. Em determinados momentos, a depender da turma, do curso, série, ou disciplina, apenas um dos elementos pode estar presente, mas é importante que não se perca de vista o contexto em que os alunos se encontram.

Com relação ao papel do professor neste processo, três pontos básicos devem ser observados. Primeiro, é preciso incitar os alunos a formular hipóteses sobre o trabalho a ser desenvolvido, lembrando que, no decorrer das atividades, elas podem ser verificadas. Depois, o professor deve sugerir perguntas que levem a uma análise aprofundada daquilo que vai sendo realizado, sempre com o cuidado de evitar conduzir as conclusões. E por fim, levar os alunos a buscar indícios que comprovem suas hipóteses ou evidenciem aquilo que estão procurando no jornal. Sobre a avaliação dos trabalhos, defende que seja contínua, compartilhada e extensiva às próprias estratégias didáticas utilizadas.

Para usar o periódico impressos como ferramenta pedagógica, é preciso levar em conta os objetivos pretendidos, o que vai variar em razão do curso ou da

disciplina com a qual se esteja trabalhando, bem como a idade dos alunos, o tipo de classe e o tempo disponível para as atividades. Neste aspecto, é necessário bastante cuidado para não cansar a turma ou torná-la dispersa e sem uma definição clara dos objetivos a serem alcançados.

Bem administradas, as atividades podem incluir até mesmo classes de séries iniciais, onde os alunos ainda não dominam a escrita. Nestes casos, o professor deve buscar que a turma levante e classifique informações, a fim de produzir conceitos básicos, tomando para si a tarefa de escrever e anotar estas idéias. Assim, estará promovendo o uso funcional da escrita, adequado e auxiliar ao processo de letramento. O que, portanto, vale igualmente para as turmas de adultos, onde a questão da contextualização dos conteúdos cresce em importância.