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Sugestões para dentro e fora da sala de aula

2.3 O JORNAL EM SALA DE AULA

2.3.4 Sugestões para dentro e fora da sala de aula

Alguns exercícios podem ser sugeridos para desenvolvimento em sala de aula, a exemplo das leituras de notícias com interpretação dos fatos abordados; a

confecção dos jornais laboratórios da turma ou mesmo da escola; a seleção de reportagens atuais que despertem maior interesse (a turma deve, inclusive ser convidada a explicar os motivos da escolha) para ser reelaborada a partir de textos e conteúdos dos próprios alunos ou ainda a transformação de um texto didático do conteúdo formal das diversas disciplinas em notícia, aproveitando para mostrar que, em vários casos, a reportagem de hoje estará nos livros didáticos (principalmente de história) do futuro.

Tudo isso pode ser trabalhado pelo professor contando com o auxílio de um jornal que sequer precisa ser a edição do dia. O educador pode sugerir, por exemplo, que as notícias, em suas mais variadas formas e conteúdos, sejam analisadas criticamente, a partir do desafio de identificar os distintos lados envolvidos em uma questão qualquer. Os alunos podem, então, incorporar os papéis citados no texto, expor, explorar e até mesmo extrapolar as versões de cada um, a partir de argumentos lógicos e coerentes. É possível, também, identificar as fontes e origens (redação local, sucursais, correspondente, agência de notícias, release) de uma notícia apresentada em recorte e tentar responder a qual editoria pertence (cidade, interior, nacional, internacional, esporte, polícia, economia, política, informática etc). Pode localizar geograficamente o fato, verificar o grau de objetividade e isenção do seu autor, identificar opiniões ou possíveis julgamentos de valor emitidos no texto.

Um exercício interessante, destinado a estudantes um pouco mais velhos, consiste em levá-los a listar, individualmente ou em grupo, as coisas que compraram, os temas que debateram, as idéias com que concordaram ou discordaram na última semana. Tudo anotado, basta realizar uma pesquisa entre os principais jornais disponíveis para conseguir amplo material de discussão sobre a

autonomia que cada um acredita que possui em suas ações cotidianas, nas escolhas que faz, nos assuntos que elege para ocupar-se. O professor pode mostrar exemplares antigos e atuais de um mesmo jornal a fim de verificar as variações que ocorrem com a evolução da língua, a escolha – a pauta, em linguagem de redação – dos assuntos mostrando as prioridades políticas, os modismos, as preocupações e as preferências culturais de cada época, assim como a liberalização dos costumes ou ainda as variações de medidas e referências econômicas, tudo registrado a partir da constante sofisticação dos recursos gráficos e fotográficos.

Comparar uma mesma notícia (ou somente os títulos delas) publicada em jornais diferentes é um modo muito eficiente de exercitar a contextualização, a identificação e interpretação do posicionamento político dos veículos de comunicação, abrindo espaço para questões ligadas à ética, neutralidade e subjetividade. Assim também será possível destacar os possíveis usos das funções da linguagem (referencial, emotiva, explicativa, apelativa, poética, irônica, persuasiva etc) a partir das intenções, do tipo ou mesmo do estilo de cada veículo de comunicação. Nestes casos, poderá pedir que seus alunos reescrevam os títulos ou as matérias usando outras funções de linguagem ou ainda sugerir variações sobre o mesmo tema com a utilização de uma linguagem mais formal, mais coloquial e finalmente popular, bem como lançando mão de termos técnicos especializados, depois gírias, jargões e dialetos de grupos e segmentos sociais. É importante acrescentar, ao final de tais exercícios, uma discussão sobre a carga ideológica e de preconceitos embutida nos domínios da palavra, bem como os seus usos políticos e culturais.

Em outra atividade, o professor escolhe uma notícia de jornal com tema polêmico e pede aos estudantes que a refaçam sob o ponto de vista dos vários

lados envolvidos no assunto, estimulando-os a advogar em defesa de cada um, percebendo as mudanças no discurso a partir de determinada posição assumida. Pode também selecionar uma notícia, de preferência curta, destacando o título e pedindo à classe que escreva novos títulos para ela, que depois serão comparados ao original, a fim de perceber as intenções do jornal em contraposição ao que pensou cada aluno sobre o tema. Uma série de outros exercícios pode ser proposta, envolvendo a dramatização de notícias, produção de tabelas e infográficos, oficinas de serviços, desenvolvimento de pesquisas e jogos de ludicidade e leitura os mais variados, como jornal-teatro, vídeo-jornal, transformar notícia em poema ou música etc.

Por sua vez, os editoriais, artigos e colunas assinadas serão lidos e analisados com base nos fatos que lhe sustentam os argumentos. O estudante deve identificar o caráter do texto, se de motivação econômica, política, cultural, ecológica etc. O vocabulário utilizado denotará o emprego de determinada classe de palavras, os neologismos e jargões, as siglas e estrangeirismos que desnudam, por si próprios, um posicionamento. Será convidado, então, a responder se concorda ou não com o que está proposto. Nestes editoriais, bem como nos artigos, resenhas e colunas assinadas, é expressa a opinião do próprio veículo ou do profissional que produziu o texto, o que ocorre com uma freqüência em geral insuspeita, pois está muito presente em grande parte da atividade jornalística, inclusive na produção das reportagens. Aos escrevê-las, no esforço de selecionar, apurar, aprofundar, interpretar e explicar os fatos, o jornalista, por mais objetivo e profissional que seja, simplesmente não consegue desvencilhar-se daquilo que ele é, do que pensa e acredita, ou seja, da sua opinião pessoal. Que acaba transposta ao noticiário, de maneira explícita ou não. Com as cartas dos leitores ocorre processo semelhante,

com o levantamento das opiniões manifestadas, das críticas ou elogios, reclamações, provocações e sugestões que costumam motivar tais mensagens. Trata-se de material fértil para instaurar e alimentar amplos debates em sala, oportunidade que terá o mestre para esclarecer sobre as regras cidadãs para o embate produtivo de idéias, inclusive com o possível encaminhamento de nova correspondência sobre o tema ao periódico, desta vez assinada pela própria turma.

A leitura e legitimação de todo este material opinativo veiculado diariamente pela grande imprensa depende, em última análise, da credibilidade que o leitor concede – ou melhor dizendo, empresta – ao veículo. O termo emprestar é melhor utilizado neste caso, já que o público tem a prerrogativa de tomá-la de volta assim que o desejar. É o exercício deste poder que o educador tem como ensinar desde cedo em sala de aula, esclarecendo aos seus alunos, por exemplo, que a própria maneira como um texto é redigido acaba sugerindo ao leitor uma determinada tomada de posição. O noticiário, em sua abordagem específica e continuada sobre qualquer tema, tem a capacidade de influenciar a opinião pública. Até mesmo colocando em pauta certos assuntos em detrimento de outros, talvez até mais urgentes para a comunidade em questão, mas pouco explorados ou mesmo ignorados porque não interessam e são, por conseguinte, esquecidos pela mídia. O professor, então, tem a oportunidade de explicar aos seus alunos que aquele que escreve o faz com a intenção de convencer o leitor sobre o seu ponto de vista.