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3 A ABORDAGEM METODOLÓGICA

3.5 OS INSTRUMENTOS DE PESQUISA

Ao buscar estabelecer parâmetros de condução e avaliação dos dados a serem coletados, optamos por uma abordagem de aspectos qualitativos, mas buscando sempre o bom uso das informações quantitativas, evidenciando a postura de Boaventura (2004, p.56), quando lembra que “há quem não aceite a dicotomia quantitativo versus qualitativo”. Para ele, em ciências sociais, sobretudo em

educação, esta abordagem mais ampla facilita a obtenção direta de dados complexos, contextualizados em seu próprio ambiente natural. Neste tipo de pesquisa, “os investigadores, interessando-se mais pelo processo do que pelos resultados, examinam dados de maneira indutiva e privilegiam o significado”, conforme Robert Bogdan e Savi Biklen (apud BOAVENTURA, 2004, p.56).

Com relação ao controle sobre eventos comportamentais, Yin (2001, p.27) lembra que o estudo de caso “é a estratégia escolhida ao se examinarem acontecimentos contemporâneos, mas quando não se podem manipular comportamentos relevantes”. Para tanto, dispõe de duas fontes de evidência que não podem ser usadas nas pesquisas históricas, que são a observação direta e as entrevistas. Recursos que buscamos utilizar em boa medida, a partir da larga experiência profissional adquirida no exercício do jornalismo diário. Neste sentido, lembramos que as entrevistas realmente costumam envolver relações sociais bem mais amplas que a técnica costuma abarcar, mostrando-se – contudo – adeqüadas e úteis no levantamento dos conhecimentos, memórias e expectativas, bem como dos sentimentos, desejos e convicções de cada indivíduo pesquisado, mas igualmente a propósito de suas razões, explicações, justificativas e pareceres sobre o tema proposto.

A pesquisa em educação vale-se com freqüência do diálogo multidisciplinar na solução de vários dos seus problemas em relação a referências e instrumentos como os de pesquisa de campo. Em geral, utiliza para isso as entrevistas e os questionários. Antes mesmo de optar por um destes instrumentos, é necessário levar em consideração que não faz sentido contrapor métodos quantitativos com qualitativos, pois a questão está realmente em selecionar os meios mais adequados ao problema que se deseja investigar, até mesmo buscando combinar abordagens

distintas para o mesmo objeto, valendo-se das características mais apropriadas em cada uma delas.

O recurso da entrevista foi escolhido, portanto, por adequar-se melhor ao perfil dos pesquisados, abrindo mão da maior rapidez e facilidade de aplicação dos questionários, em troca de uma condução mais personalizada, que inclusive não exigia anonimato, distanciamento ou maior qualificação nas respostas. As perguntas, por seu turno, procuraram limitar-se a fatos, mesmo quando abordaram as avaliações individuais sobre os eventuais sucessos e avanços obtidos com o projeto. Estas avaliações foram tratadas da maneira mais objetiva possível, buscando validar os relatos com a justificação técnica e a descrição dos procedimentos e critérios de classificação dos resultados. Foi possível, também, aplicar uma combinação específica de questões tanto para professores quanto para diretores ou coordenadores pedagógicos. Foram igualmente considerados aspectos como maior ou menor tempo, disposição e entusiasmo dedicados ao projeto. Tal flexibilidade seria muito difícil de viabilizar com o uso de questionários ou formulários. Com isso, foi possível manter o foco sobre o tema específico, conservando um perfil totalmente estruturado, ou seja, as entrevistas foram realizadas a partir de uma relação fixa de perguntas básicas (modelo em apêndice), aproveitando, neste caso, as melhores características da técnica de formulário.

O tipo de pergunta utilizado foi escolhido com a intenção de estabelecer relação entre o maior número possível de variáveis que interferem na definição do problema. Outros aspectos foram igualmente observados neste momento. As questões foram formuladas previamente, de maneira direta e limitando-se a aspectos estritamente relevantes ao assunto, adeqüadas aos conhecimentos e experiências dos entrevistados e com o cuidado de não sugerir respostas ou não

suscitar dubiedades, vaidades, resistências ou má interpretação. Neste sentido, foi de considerável valia a experiência de mais de 20 anos de jornalismo diário, na condução técnica de entrevistas pessoais. Uma pré-testagem também validou a eficácia dos instrumentos em relação aos objetivos propostos. O método que adotamos também se mostrou o mais indicado para lidar com questões contextuais, como sugere Yin (2001, p.34) ao afirmar que “certos trabalhos da área jornalística podem ser qualificados como estudo de caso”.

De maneira geral, um projeto de pesquisa exige o desenvolvimento de uma estrutura teórica que não apenas auxilie na definição do objeto a ser pesquisado e na coleta adeqüada de dados, mas, conforme destaca o autor (YIN, 2001, p.54), que possa também tornar-se o veículo principal para a generalização dos resultados. Para aumentar a validade do constructo, ele recomenda utilizar várias fontes de evidência, que devem ser encadeadas e submeter o rascunho do relatório à revisão por parte de informantes-chave. É preciso, ainda, certificar-se de que as descobertas realizadas são generalizáveis além do estudo imediato. O indicado, nestes casos, seria tentar generalizar as descobertas para uma teoria. Finalmente, o projeto deve ter confiabilidade, o que se consegue a partir de cuidados específicos com a documentação levantada e o desenvolvimento de um banco de dados (YIN, 2001, 57-60).

A coleta de evidências deveria, portanto, se valer de fontes distintas, entre documentos e artefatos, observações diretas e entrevistas. Com o cuidado de observar alguns princípios básicos, como buscar fontes de evidência diversas, encadeadas explicitamente a partir das questões apresentadas, dos dados coletados e das conclusões a que se chegou. Pois, conforme indica Yin (2001, p.180-185), um bom estudo de caso deve ser significativo, completo, considerar

perspectivas alternativas, apresentar evidências suficientes e ser elaborado de maneira atraente. Por conta disso, também na elaboração dos relatórios de estudos de caso é possível encontrarmos um grau de formalidade pouco menor que em outras modalidades de pesquisa. A tendência atual indica o sentido de formatar a apresentação dos resultados do estudo de forma semelhante a dos demais relatórios de pesquisa, com a apresentação do problema, metodologia utilizada, resultados verificados e conclusões alcançadas. “É uma forma de demonstrar que o estudo de caso constitui procedimento científico e não tem propósitos literários” (GIL, 2002, p.142).