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O professsor, formação da personalidade do aluno e o desenvolvimento da sociedade

A educação é um dos factores principais que condicionam o desenvolvi- mento da personalidade; isso é verdade independentemente do tipo ou moda- lidade da educação. Quer se trate da educação, formal, informal, não-formal, esta desempenha papel de realce no desenvolvimento do potencial e das for- cas físicas, intelectuais e emocionais do indivíduo. A actividade do professor é multilateral e difícil, ela exige profundos conhecimentos científicos nos diversos ramos, alto poder e competência pedagógica, altas qualidades político-mo- rais, força de vontade e de carácter, humanidade e delicadeza. Conteúdo, ob- jectivo e transcendência da actividade do professor para a sociedade fazem da profissão do professor uma das mais belas, conforme diz Pelikan (1983, p.143). Mas esta profissão não somente é bela, como tambem exige grande

sentido de responsabilidade, face ao compromisso que deve ter diante das crianças (alunos) e da sociedade.

O professor, no dizer ainda de Pelikan (ibib: p.143) educa simultanea- mente dúzias [senão, centenas] e dirige o seu desenvolvimento, crianças com capacidades diferentes, tendências, aptidões e habilidades, com noções de moral, qualidades de vontade e carácter diferentes. O professor deve juntar todas estas crianças num mesmo colectivo, turma ou escola, e desenvolver as suas aptidões, a personalidade destas.

Mas não se trata de desenvolver qualquer personalidade; o professor, orientando-se nos princípios pedagógicos e curriculares, deverá proporcionar

Papel do professor no desenvolvimento da educação

oportunidades de aprendizagem e de educação que formem personalidades simultaneamente úteis aos indivíduos que pretende educar e a sociedade, den- tro do seu dinamismo cultural, económico, político, tecnológico, etc; mas so- bretudo num dinamismo progressivamente instável e variável, devido aos avanços constantes nos vários domínios de saber e, por conseguinte, no ordenamento e evolução dos contextos sociais. O professor, nesse sentido, pe- dagogo fiel à causa da educação, “vê em cada um dos seus educandos uma personalidade em vias de desenvolvimento, que tem de ser tratada cuidadosa- mente” (Pelikan, 1983, p.143).

A sociedade confia, assim, ao professor a nova geração crescente, ano após ano, esperando deste professor uma responsabilidade extraordinária em fazer esta nova geração de capital inestimável para o progresso da mesma sociedade. Visto desta maneira, o professor é a ponte mais importante da passagem do mundo infantil para o mundo adulto, pois junto com os pais, os professores são responsaveis pelo encorajamento ao crescimento e indepen- dência das crianças. Portanto, o professor tem aí o cerne da sua função so- cial, promovendo a personalidade e não assumindo o mero papel de “trans-

missor de conhecimento”.

Por outro lado, o crescimento económico moderno precisa, para ter chan- ce no mercado competetivo e qualitativo, essencialmente manejado pelo domí- nio tecnológico, de trabalhadores dotados de competências básicas conside- ráveis. A acumulação de capital depende sempre mais da educação, ciência e tecnologia, sobretudo da qualidade educativa das populações. A educação, para além da sua função tradicionalmente reconhecida de bem em si e de ins- trumentação eficaz da cidadania, assume papel decisivo de formação básica adequada, universalizada, na condição de património fundamental da nação (Demo, 1994, p.101). Nesta linha, Cabrito (2002, p.47) diz que vários estu- dos longitudinais e transversais vieram iluminar esta relação entre a educação e a economia, no sentido de estabelecer uma relação directa entre os níveis de qualificação, de produtividade e de produção.

As investigações, segundo Cabrito (ibib: p.47), tentam explicitar o papel da educação no crescimento económico, tendo contribuido para revelar que os maiores níveis de produtividade surgiam associados a maiores níveis de instrução, em conformidade com o que se esperaria, tendo em atenção os pressupostos em que assenta a “teoria do capital humano”. Os resultados da investigação mostram que os diferentes níveis de instrução se repercu- tem, directamente e de forma desigual, no processo produtivo, evidenciando que as despesas realizadas em processos formativos constituem um bom in- vestimento.

Daniel D. Nivagara

De entre as investigações que tentaram demonstrar os efeitos do investi- mento na produção e no crescimento económico, destacam-se as realizadas por Denison (1962, 1967). Na sua análise longitudinal da evolução da eco- nomia norte-americana, este economista demonstrou que o aumento do pro- duto não é explicavel directamente pela quantidade dos factores da produ- ção utilizados-trabalho, terra e capital. Deste modo, uma parte significativa desse acréscimo só poderia ser explicado pela qualidade do trabalho, con- cretizada nas diferencas existentes no nível de qualificação académica e, portanto, da produtividade do factor trabalho (Cabrito, 2002, p.47). Nesta mesma ordem de acepção, Rodrigues (1982, p.113), diz que dessa forma tem a escola, enquanto agência da educação, papel preponderante no de- senvolvimento. Representa, ao mesmo tempo, capital fixo e capital humano, instrumento e agente de desenvolvimento. Não é fortuito o interesse pela educação revelado em todos os momentos pelos responsáveis pelos destinos da Nacão.

Os estados e toda sociedade reclamam constantemente por uma educa- ção promotora do desenvolvimento do capital humano e, diante disso, as re- formas educacionais sempre buscam tornar os sistemas de ensino cada vez mais eficazes do ponto de vista de alcançar a aprendizagem para os alunos: à educação é-lhe reconhecido o papel de desenvolvimento da personalidade dos indivíduos e, por essa via, também do desenvolvimento das sociedades enquanto nações organizadas e com uma ambição política de progresso nas diversas áreas da actividade e do ser humano.

Estamos num século em que, conforme diz Delors (1996, p.131), indiví- duos e poderes públicos consideraram a busca do conhecimento, não ape- nas como meio para alcançar um fim, mas como fim em si mesmo. Todos vão ser convidados a aproveitar as ocasiões de aprender que se lhes ofere- cerem ao longo da vida e terão possibilidade de o fazer. O que significa que se espera muito dos professores, que se irá exigir muito, pois depende deles, em grande parte, a concretização desta aspiração. A contribuição dos professores é fulcral para levar os jovens, não só a encarar o futuro com confiança, mas a construí-lo por si mesmos de maneira determinada e res- ponsável. É logo a partir dos ensino primário e secundário que a educação deve tentar vencer estes desafios: contribuir para o desenvolvimento, ajudar a compreender e, de algum modo, a assumir o papel determinante na for- mação de atitudes e favorecer a coesão social. Em virtude disso, “a compe- tência, o profissionalismo e a capacidade de entrega que exigimos aos pro- fessores fazem recair sobre eles uma pesada responsabilidade: é-lhes exigido muito e as necessidades a satisfazer parecem quase ilimitadas”,

Papel do professor no desenvolvimento da educação

sentencia Delors (1996, p.133). Para este autor (p.132), os professores e a escola encontram-se confrontados com novas tarefas: fazer da escola um lu- gar mais atraente para os alunos e fornecer-lhes as chaves duma compreen- são verdadeira da sociedade de informação. E, mais ainda, segundo Delors (ibid: p.132), os problemas da sociedade envolvente, por outro lado, não se deixam à porta da escola: pobreza, fome, violência, droga entram com os alunos nos estabelecimentos de ensino, quando até bem pouco tempo ainda ficavam de fora com as crianças não escolarizadas. Espera-se que os pro- fessores sejam capazes, não só de enfrentar estes problemas e esclarecer os alunos sobre um conjunto de questões sociais, desde o desenvolvimento da tolerância à regulação da natalidade, mas também que obtenham sucesso em áreas que pais, instituições religiosas e poderes públicos falharam, mui- tas vezes. Devem, ainda, encontrar o justo equilíbrio entre tradição e mo- dernidade, entre as ideias e atitudes próprias da criança e o conteúdo dos programas.