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Papel do professor na educação: Uma questão multifacetada

A abordagem sobre o papel do professor na educação é multifaceta ao considerarmos os seus diversos papéis no ensino e na educação em geral, razão pela qual não pretendemos neste artigo esgotar a questão, antes ape- nas levantar algumas questões que podem permitir melhor (re)significar o seu papel e responsabilidade na educação. Para o efeito, nos limitaremos a anali- sar o papel do professor no ensino, do ponto de vista didáctico-metodológico, na relação com os alunos e, neste sentido, no desenvolvimento da aprendiza- gem. De seguida, nos centraremos sobre o desafio que se coloca ao professor no sentido de agir como um agente de transformação da educação, tendo em conta as políticas educacionais de momento.

Tradicionalmente o papel do professor é de quem ensina. De uma forma reducionista poderia pensar-se que ensinar é apenas “transmitir conheci-

mentos”. Nesse processo de ensino-aprendizagem visto como transmissão

da matéria aos alunos, realização de exercícios repetidos, memorização de definições e fórmulas, o professor "passa" a matéria, os alunos escutam, praticam o que foi transmitido em exercícios de classe ou tarefas de casa e decoram tudo para a prova (Libâneo, 1994, p.78). Contudo, conclui-se hoje que, por diversas razões, o professor deve ir para além de quem apenas “transmite” a matéria ou o conhecimento. Na verdade, o professor também aprende enquanto ensina e o aluno enquanto aprende, também ensina. E como diz Libaneo (ibid: p.79), “devemos entender o processo de ensino co- mo conjunto de actividades organizadas do professor e dos alunos, visando alcançar determinados resultados, tendo como ponto de partida o nível actual de conhecimentos, experiências e de desenvolvimento mental dos alu- nos".

Poderíamos dizer que o professor de Biologia é o responsável pela trans- missão dos conceitos, princípios e métodos que fazem parte da tradição cultu- ral de sua disciplina. Não haveria maiores problemas se estivéssemos ainda imersos numa tradição cultural oral. Mas, na actualidade, como as informa- ções já estão nos manuais, nos vídeos, nas revistas e nos computadores, o professor de Biologia, como transmissor de conhecimentos, é pouco eficiente,

Daniel D. Nivagara

senão inútil. Um computador pessoal com acesso a internet é o símbolo da re- volução na estrutura e distribuição dos saberes entre os homens. O difícil ago- ra não é chegar até ao conhecimento, é reconhecê-lo, distinguir a informação no meio de todos os ruídos que brilham diante de nossos olhos. Assim o pro- fessor deve propiciar ao aluno oportunidades planificadas que favoreçam o desenvolvimento de suas capacidades, habilidades e atitudes, que o transfor- mem num cidadão. Esta dimensão, a dimensão política do nosso fazer docen- te, deve ser resgatada para justificar a existência do professor enquanto cate- goria profissional. Decorrente disso, ao falarmos do papel do professor, ao pretendemos interrogar-nos sobre o que constitui a essência da sua profissão, sobre o que significa afinal ser professor, vemos que ele “é o orientador do ensino”. Deve ser fonte de estímulo que leve o aluno a reagir para que se pro- cesse a aprendizagem. É dever do professor procurar entender os seus alunos. O contrário é muito mais difícil ou mesmo impossível. O professor deve distri- buir seus estímulos, adequadamente entre seus alunos, de maneira que os leve a trabalhar segundo as suas particularidades e possibilidades" (Nerici, 1991, p.19).

A lógica deste pensamento reflecte a ideia de que o professor existe por- que existem os alunos. A sua actividade está, assim, centrada sobre o aluno que ele deve apoiar na tarefa de se fazer pessoa, para quem deve ser um fa- cilitador da aprendizagem. O professor existe, porque existe o aluno; e consi- derando a relação intrínseca entre ensinar e aprender, diz-se que não há ensino se não houver aprendizagem; o ensino existe para motivar a aprendi- zagem, orientá-la, dirigi-la; ele é o factor de estimulação intelectual. A tarefa do professor, o seu resultado, apenas tem expressão enquanto houver resulta- dos de aprendizagem mensuráveis e valorizáveis, de acordo com as orienta- ções curriculares e do sistema de ensino em geral.

Tudo isto faz-nos crer que a actividade e, por conseguinte, o papel do professor, é muito dificil, o que justifica a evidência de que, na actualidade, o verdadeiro professor é aquele que realmente ama o que faz e consegue des- pertar no aluno a vontade de conhecer, o amor ao conhecimento. E isso se faz convencendo o aluno das vantagens da curiosidade, as vantagens de apren- der, de saber, de ler, para que possa ser um multiplicador da sua própria aprendizagem. O construtivismo, a pedagogia activa, o ensino diferenciado, o atendimento às necessidades especiais, a promoção do sucesso escolar dos alunos, o desenvolvimento da aprendizagem significativa e todos referenciais teóricos e práticos da actualidade que acentuam a importância do “aprender” e do “aluno” no processo de ensino-aprendizagem, corroboram num aspecto essencial: o ensino centrado no aluno, sem que isso signifique menor papel do

Papel do professor no desenvolvimento da educação

professor, mas antes pelo contrário, o professor deve ser mais um organizador das situações de aprendizagem.

De acordo com esta ideia, o aluno é o principal actor no processo educa- cional quando se trata de aprender, e isso significa que o professor deve preo- cupar-se em desenvolver mais as capacidades e habilidades dos alunos, in- cluindo as suas atitudes, convicções e comportamento. Pelo que, muitos autores reconhecem que a qualidade da educação, particularmente a “educa-

cao de qualidade entendida como sendo aquela que se consegue quando os alunos aprendem o que devem aprender no fim de um determinado nível (de estudos), isto é, quando superam com êxito o que está estabelecido nos planos e programas curriculares” (Diaz, 2002, p.7), depende sobretudo da activida-

de do professor.

Nunca é demais insistir na importância da qualidade do ensino e, por- tanto, dos professores. É no estadio inicial da educação básica que se for- mam, no essencial, as atitudes da criança em relação ao estudo, assim co- mo a imagem que faz de si mesma. Quanto maiores forem as dificuldades que o aluno tiver de ultrapassar – pobreza, meio social difícil, doenças físi- cas – mais se exige do professor. Para ser eficaz terá de recorrer a compe- tências pedagógicas muito diversas e a qualidades humanas como a auto- ridade, empatia, paciência e humildade. Se o primeiro professor que a criança ou o adulto encontra na vida tiver uma formação deficiente ou se revelar pouco motivado, são as próprias fundações sobre as quais se irão construir as futuras aprendizagens que ficarão pouco sólidas (Delors, 1996, p.136).

Cabe ao professor o papel principal da escola. O “trabalho docente”, entendido como actividade pedagógica do professor, busca: “i) asseguar aos alunos o domínio mais seguro e duradoiro possível dos conhecimentos científicos; ii) criar as condições e os meios para que os alunos desenvol- vam capacidades intelectuais de modo que dominem métodos de estudo e de trabalho intelectual visando a sua autonomia no processo de aprendiza- gem e independência de pensamento; iii) orientar as tarefas de ensino pa- ra os objectivos educativos de formação da personalidade, isto é, ajudar os alunos a escolherem um caminho na vida, a terem atitudes e convicções que norteiam suas opções diante dos problemas e situações da vida real” (Libaneo, 1990, p.71). Como que a corroborar com o que dissemos acima, Saches (2009, p.99), citando uma visão dos professores como detentores do papel de facilitadores de aprendizagem, diz que “nós professores do Seculo XXI, temos um papel de apoio facilitando a aprendizagem dos nos- sos alunos, ouvindo-os, bem como as suas necessidades, e fornecendo es-

Daniel D. Nivagara

tratégias, ferramentas, competências e recursos para que a aprendizagem aconteça”.

O reconhecimento destes postulados leva-nos a acreditar que não pode haver melhoria da qualidade de educação sem que, primeiro, os próprios professores assumam tal evidência; segundo, devem ser-lhes dadas as condi- ções de trabalho apropriadas, com recursos didáctivos e situação laboral que os motive para maior envolvimento e responsabilização pela educação e, par- ticularmente, pelo processo de ensino-aprendizagem. Eis porque Delors (1996, p.131) conclui que, para melhorar a qualidade da educação, é preci- so antes de mais melhorar o recrutamento, formação, estatuto social e condi- ções de trabalho dos professores, pois estes só poderão responder ao que de- les se espera se possuirem os conhecimentos e competências, as qualidades pessoais, as possibilidades profissionais e a motivação requeridas.

O professsor, formação da personalidade do aluno