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O Programa de Avaliação do Livro Didático (PNLD) para a EJA é uma continuidade do sistema de avaliação de obras didáticas, já existente no Brasil. Políticas, no cenário nacional brasileiro, voltadas para o livro didático existem desde 1929, quando foi criado o órgão Instituto Nacional do Livro (INL), instituído para legislar sobre a política do livro didático. Essa política vem sendo aperfeiçoada e, em agosto de 1985, foi instituído, a partir do decreto nº 91.542 de 19/08/1985, o Plano Nacional do Livro Didático.

O decreto marca um avanço para essa política por estabelecer as características do plano que são: a centralização da gestão, aquisição e distribuição de livros didáticos, o uso exclusivo de recursos federais, a indicação do livro didático pelos professores, a distribuição gratuita de livros didáticos para estudantes e professores e sua reutilização. Posteriormente, em 1996, começou o processo de avaliação pedagógica dos livros para o PNLD de 1997. Nesse período, essa política passa aos comandos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) em parceria com o Ministério da Educação (MEC). Em 2002, o PNLD ampliou o atendimento aos portadores de deficiência visual e, em 2004, fez ampliar o atendimento aos portadores de necessidades especiais. Ainda em 2004 foi criado o Programa Nacional do Livro Didático para o Ensino Médio (PNLEM), que distribui gratuitamente livros didáticos para todos os alunos do Ensino Médio e professores da rede pública de ensino.

Em 2007, a Educação de Jovens e Adultos foi contemplada com a criação do Programa Nacional do Livro Didático para Jovens e Adultos (PNLA- EJA), criado para atender os estudantes do Programa Brasil Alfabetizado (PBA). Em 2009 e 2010, o Programa ampliou seu universo e passou a atender não só os alunos do PBA, mas também os estudantes de turmas regulares de alfabetização na Educação de Jovens e Adultos das redes públicas de ensino. Em 2010, o PNLA foi incorporado a um novo programa o Programa Nacional do Livro Didático para a Educação de Jovens e Adultos. Este, por sua vez, agregou um universo de estudantes bem mais amplificado, abarcando todos os alunos do 1º ao 9º ano do Ensino Fundamental de Jovens e Adultos.

Essa política pública foi um avanço importante para a Educação voltada para jovens e adultos, principalmente porque as obras até então destinadas a esse alunado, conforme o Guia do Livro Didático (BRASIL, 2010), por vezes, se caracterizava como uma “mera redução de conteúdos da educação básica regular e por propostas inadequadas sob a perspectiva didático-pedagógica, pois alheias às diretrizes educacionais formuladas para a EJA” (p. 15).

O PNLD-EJA surgiu, então, pela necessidade de atender jovens e adultos, respeitando suas características e diversidades. Como seria então esse processo de avaliação do livro didático? Quais critérios seriam adotados?

Bittencourt (2004) apud Mello (2010) chama atenção para a complexidade envolvida na análise de livros didáticos, que deve levar em conta ser o livro didático um objeto cultural e uma obra complexa, pois se caracteriza pelo envolvimento de diversos sujeitos, desde a sua produção, passando por sua circulação e o consumo final. E destaca quatro aspectos básicos a serem considerados numa análise:

A identificação dos valores e da ideologia de que é portadora a obra didática; a forma pela qual ele se apresenta (capa, materiais anexos, qualidade do papel e das reproduções, a quantidade e disposição das ilustrações na página, a identificação dos agentes que aturaram em sua produção, a apresentação gráfica e etc.); a forma de explicitação e organização dos conteúdos escolares; e a articulação entre a informação e aprendizagem, ou seja, a concepção de conhecimento expressa no livro por meio dos conteúdos pedagógicos ou do método de aprendizagem. (BITTENCOURT, 2004 apud MELLO, 2010, p. 182).

Quanto à análise dos livros didáticos por parte do PNLD EJA, um dos primeiros passos dados nesse processo, segundo Freitas (2011), foi a publicação de um Edital, em setembro de 2009, convocando os editores a inscreverem obras didáticas destinadas à Educação de Jovens e Adultos, a serem avaliadas e selecionadas para as redes públicas de ensino. Para esse processo, foi estabelecida uma parceria entre o MEC e a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

Com relação ao segundo segmento da EJA, correspondente aos anos finais do ensino fundamental (6º ao 9º ano), as coleções didáticas poderiam ser organizadas em:

1 - Quatro volumes, um para cada ano, do 6º ao 9º ano do ensino fundamental, abrangendo todos os componentes curriculares mínimos (língua portuguesa; matemática;

história; geografia; artes; ciências; língua estrangeira moderna), podendo ser disciplinar ou interdisciplinar;

2 - em sete volumes disciplinares, um para cada componente curricular mínimo abrangendo do 6º ao 9º ano do ensino fundamental;

3- volumes temáticos interdisciplinares envolvendo os componentes curriculares mínimos.

Outra exigência do edital para a inscrição das coleções didáticas era a de que elas fossem compostas, obrigatoriamente, de um exemplar do livro do aluno e um exemplar do manual do educador. Além disso, consta no Edital que:

O manual do educador não pode ser uma cópia do livro do aluno com os exercícios resolvidos. É necessário que ofereça orientação teórico--metodológica e de articulação dos conteúdos do livro entre si e com outras áreas do conhecimento; ofereça, também discussão sobre a proposta de avaliação da aprendizagem, leituras e informações adicionais ao livro do aluno, bibliografia, bem como sugestões de leituras que contribuam para a formação e atualização do educador. (BRASIL, 2009, p. 4).

Quanto aos conteúdos envolvidos nos livros didáticos, o PNLD-EJA estabeleceu que as coleções e obras didáticas devessem envolver o conjunto de conteúdos correspondentes ao ensino fundamental na modalidade EJA, determinados na Base Nacional Comum, estabelecida pela LDB e suas alterações posteriores.

O processo avaliativo se deu em três etapas: triagem, pré-análise e avaliação pedagógica. A triagem atendeu a critérios técnicos relativos à estrutura editorial do livro, as duas outras etapas ficaram sob a responsabilidade da UFRN. A pré-análise refere-se à adequação das obras ao objeto e especificações do edital. A avaliação pedagógica considerou critérios eliminatórios comuns a todas as coleções e critérios eliminatórios específicos às áreas de conhecimento.

Os critérios eliminatórios comuns a todas as coleções são definidos por seis elementos:

 Respeito à legislação, às diretrizes e às normas oficias relativas à Educação Básica, e particularmente da EJA;

 Observância de princípios éticos necessários à construção da cidadania e ao convívio social republicano;

 Coerência e adequação da abordagem teórico-metodológica assumida pelo material didático, no que diz respeito à proposta didático-pedagógica explicitada e aos objetivos visados;

 Existência de Guia ou Manual de Orientações Didáticas que explicite e seja coerente com a proposta didático-pedagógica do material didático;

 Estrutura editorial e aspectos gráfico-editoriais adequados aos fins a que se propõem as obras (BRASIL, 2009, p.32).

Com relação ao respeito às legislações vigentes, primeiro elemento citado acima, o Edital cita diferentes documentos, dentre os quais destacamos:

 A constituição da República Federativa do Brasil; Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, com as respectivas alterações introduzidas pelas Leis nº 10.639/2003, nº11.274/2006, nº 11.525/2007 e nº 11.645/2008;

 Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos;  Resoluções e Pareceres do Conselho Nacional de Educação, em especial, o

Parecer CEB nº 11/2000, de 10/05/2000, a resolução CNE/CEB Nº 1 de 05/07/2000.

No que diz respeito ao terceiro elemento, o Edital chama a atenção quanto ao objeto de avaliação:

Por princípio, assegura-se na avaliação das obras didáticas, o respeito à diversidade de abordagens teórico-metodológica que caracterizam o campo da EJA. Dessa forma, o que será objeto de avaliação no livro didático é, principalmente, a coerência e a adequação teórico-

metodológicas entre as concepções e fundamentos teóricos que embasam a obra e sua concretização efetiva na seleção, organização e apresentação dos conteúdos e atividades de ensino-aprendizagem

(BRASIL, 2009, p. 34).

Na avaliação pedagógica, no que diz respeito critérios específicos eliminatório para o componente curricular Matemática, o edital indicava que seria excluída a coleção que:

 Apresentar erro ou indução a erro em conceitos, argumentação e procedimentos matemáticos, no livro do aluno, no manual do educador e, quando houver, no glossário;

 Deixar de incluir um dos campos da Matemática escolar, a saber, números e operações, álgebra, geometria, grandezas e medidas, e tratamento da informação;

 Der atenção apenas ao trambalho mecânico com procedimentos, em detrimento da exploração dos conceitos matemáticos e de sua utilidade para resolver problemas;

 Apresentar os conceitos com erro de encadeamento lógico, tais como: recorrer a conceitos ainda não definidos para introduzir outro conceito, utilizar-se de definições circulares, confundir tese com hipótese em demonstrações matemáticas;

 Deixar de propiciar o desenvolvimento, pelo aluno, de competências cognitivas básicas, como: observação, compreensão, argumentação, organização, análise, síntese, comunicação de ideias matemáticas, memorização;

 Supervalorizar o trabalho individual;

 Apresentar publicidade de produtos ou empresas. (BRASIL, 2009, p. 57).

Para a avaliação pedagógica foram envolvidos especialistas no campo da pedagogia e das diversas áreas de conhecimento relativas aos componentes curriculares da base nacional comum para o Ensino Fundamental. A seleção desses especialistas observou os seguintes critérios:

Pesquisador ou professor da área de conhecimento específico; experiência em trabalhos com livros didáticos; vínculos com o ensino básico; curso de pós-graduação (doutorado, preferencialmente); experiência com Educação de Jovens e Adultos. (BRASIL, 2010, p. 24).

Nesse processo avaliativo, foram analisadas 10 coleções voltadas para o segundo segmento do Ensino Fundamental (correspondente do 6º ao 9º ano), sendo que apenas duas foram aprovadas.

Em 2011, essas coleções foram distribuídas gratuitamente para as escolas, de acordo com suas escolhas. O Guia do Livro Didático deixa claro que, por meio das avaliações, ficou evidenciada a existência de diferentes graus de qualidade com relação às obras avaliadas; portanto, existem obras de boa qualidade e obras que, mesmo apresentando limitações, atenderam aos critérios de avaliação. Isso pode servir de alerta para os professores, gestores e equipe pedagógica, para que tenham uma postura mais reflexiva e criteriosa ao escolherem entre esses livros em suas escolas.

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