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PRECATÓRIA

2.7 O PSICÓLOGO ASSISTENTE TÉCNICO

Da mesma forma que o juiz nomeia o perito psicólogo para dirimir as questões trazidas às Varas da Infância e da Juventude ou às Varas de Família e Sucessões dos Foros Regionais e dos Tribunais estaduais, as partes podem indicar seu psicólogo assistente técnico, profissional igualmente habilitado, de sua confiança, para exercer funções idênticas às do perito, e para auxiliá-las no esclarecimento e

defesa dos seus interesses no litígio. O assistente técnico também pode servir de consultor da parte, esclarecendo ou interpretando os fatos da causa, para corroborar as alegações da parte ou para melhor elucidar o juiz acerca de tais fatos (AMARAL SANTOS, 2012). A fundamentação legal para a atuação do assistente técnico está prevista no art. 465, § 1º, II, do novo CPC/201521, a saber:

“Art. 465 – novo CPC/2015. O juiz nomeará perito especializado no objeto da perícia e fixará de imediato o prazo para a entrega do laudo.

§ 1º Incumbe às partes, dentro de 15 (quinze) dias contados da intimação do despacho de nomeação do perito:

(...)

II – indicar assistente técnico; (...)”

O § 1º do art. 466 do novo CPC/2015 preceitua que os assistentes técnicos são de confiança da parte, não estando sujeitos à suspeição ou impedimento, como ocorre com o perito judicial, a saber:

“Art. 466 – novo CPC/2015. O perito cumprirá escrupulosamente o encargo que lhe foi cometido, independentemente de termo de compromisso.

§ 1º Os assistentes técnicos são de confiança da parte e não estão sujeitos a impedimento ou suspeição.22

Ora, se o assistente técnico é de confiança da parte e não está sujeito a suspeição ou impedimento, é somente à parte que o contratou que ele deve prestar assessoria e esclarecimentos de seus atos23, podendo formular livremente seu convencimento e apresentá-lo ao perito, com a

possibilidade de que este concorde ou não, porém, dentro do compromisso genérico com a Justiça previsto no art. 37824do mesmo Diploma Legal, a saber:

“Art. 378 – novo CPC/2015. Ninguém se exime do dever de colaborar com o Poder Judiciário para o descobrimento da verdade.”

Inclusive, é também este o entendimento do próprio Conselho Regional de Psicologia do Estado de São Paulo, conforme se observa no Ofício nº 605/2011: para embasar seu posicionamento como Assistente Técnico da parte, não é necessário que o profissional entreviste a parte contrária e filhos (se a parte contratante não tem acesso aos filhos, por impedimentos judiciais (ex.: medidas protetivas por um alegado abuso sexual) ou atos arbitrários do outro genitor (atos de Alienação Parental), em decorrência das atribuições legais da função (definidas pelo art. 465, § 1º, II, a art. 477 do novo CPC – Lei nº 13.105/2015 – e Resolução nº 08/2010 do Conselho Federal de Psicologia) e, por se tratar de um documento técnico – que exprime uma opinião técnica – acerca de outro documento técnico (um laudo pericial ou relatório de avaliação psicológica), não há obrigatoriedade do Assistente Técnico entrevistar a criança, não sendo possível, portanto, qualquer questionamento ético ou processual de tal atuação, a saber:

Ofício ADP nº 605/11

São Paulo, 1º de novembro de 2011. Poder Judiciário do Estado do Paraná

Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra Mulher e de Crimes contra Criança e Adolescente 6aVara Criminal Comarca de Londrina PR

Escrivã da 6aVara Criminal

Ref.: Ofício nº 2.879/2011 – F-asrm Autos no2010.6111-6

Excelentíssima Senhora,

Em resposta ao ofício acima referenciado, solicitando providências acerca da conduta da Psicóloga Denise Maria Perissini, CRP

06/38483, temos a dizer que, após análise do documento,

entendemos que a profissional citada elaborou Parecer de acordo com o disposto na resolução CFP nº 007/2003 e, tratando-se de parecer técnico, não há obrigatoriedade de contato com a criança. Quanto ao fato de ter elaborado parecer sem requisição judicial e mediante paga, entendemos que a psicóloga exerceu a função de

Assistente Técnica, podendo ser contratada nessa condição por uma das partes, conforme Resolução CFP no008/2010.

(...)

Apresentamos votos de cordiais saudações. Atenciosamente,

Carla Biancha Angelucci

Presidente do CRP– 6aRegião

MAIA NETO (1997) entende que: “[...]

O assistente técnico é o auxiliar da parte,25aquele que tem por obrigação, concordar, criticar

ou complementar o laudo do perito oficial, através de seu parecer, cabendo ao Juiz, pelo princípio do livre convencimento, analisar seus argumentos, podendo fundamentar sua decisão neste parecer.

[...]”

Inclusive, no mesmo artigo, o referido autor transcreve um Acórdão do 2º Tribunal de Alçada Cível do Estado de São Paulo, nos seguintes termos:

“[...]

3.2 –Eo assistente técnico, sem nenhum compromisso com a Justiça – a não ser aquele genérico previsto no art. 339 do CPC – fica adstrito à instância da parte a que presta assessoria.26Se esta não é cientificada do oferecimento do laudo, não tem como providenciar a

manifestação do assistente. [...]”

SILVA MELO [s.d.] esclarece que: “[...]

[...] Da mesma importância do mister atribuído ao Perito Oficial, nomeado pelo Juízo, reveste-se a função do Perito Assistente, o qual possibilita que se instaure o contraditório na matéria técnica, para que não reine absoluto o entendimento do Perito nomeado peço Juízo, que deve ter a mesma postura de imparcialidade do Juiz que o nomeou.

[...] A indicação de Perito Assistente Técnico é de fundamental importância para dar segurança e eficiência à produção da prova pericial, cabendo-lhe fazer a interface de comunicação com o Perito Oficial [...].

O principal trabalho do Perito Assistente não é, como acham muitos, elaborar um laudo divergente ou uma crítica ao laudo oficial,mas sim diligenciar durante a realização da perícia no sentido de evidenciar ao Perito Oficial os aspectos de interesse ao esclarecimento da matéria fática sob uma ótica geral e mais especificamente sob a ótica da parte que o contratou.27

[...]”

Assim entende a jurisprudência28:

“Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios Órgão: 5ª Turma Cível

Processo: Agravo de Instrumento 20090020093000AGI Agravante(s): Formatus Móveis LTDA.

Agravado(s): Banco do Brasil S/A

Relator: Desembargador Luciano Vasconcellos Acórdão nº 375.337

AGRAVO DE INSTRUMENTO – LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA – PROVA PERICIAL – QUALIDADE – ASSISTENTE TÉCNICO – FUNÇÃO – PREQUESTIONAMENTO – CUMPRIMENTO DA EXIGÊNCIA – CONCESSÃO DE LIMINAR – IMPROCEDÊNCIA DO RECURSO – POSSIBILIDADE – DECISÃO MANTIDA.

[...]”

“2) – Sendo o assistente de livre nomeação da parte, de sua confiança, sobre o qual não recaem as regras de impedimento e suspeição, possível divergência dele com o perito oficial não impede se tenha a perícia como boa.

[...]

Assistente técnico tem a única finalidade de assessorar a parte que o indicou, não estando as conclusões do juízo a ele vinculadas”.29

Ensina Marcus Vinícius Rios Gonçalves: “11.5. Assistentes técnicos

O perito é auxiliar do juízo, e os assistentes técnicos são auxiliares da parte, contratados por ela em virtude da confiança que neles deposita. Por isso, a eles não se aplicam as regras sobre impedimento ou suspeição. (In Novo Curso de Direito Processual Civil, Editora Saraiva, São Paulo, 2006, 3ª edição, Volume 1, pág. 462)”.

Igualmente ensina Alexandre Freitas Câmara:

“Nunca é demais se afirmar que o assistente técnico é um auxiliar da parte, e não do juízo, o que levou o legislador, na elaboração da Lei nº 8455/92, a excluí-lo do rol das pessoas sujeitas às hipóteses de impedimento e suspeição (art. 422 do CPC). (In Lições de Direito Processual Civil, Editora Lumen Juris, Rio de Janeiro, 2005, 12ª edição, Volume I, págs. 428/429)”.

Este também o pensamento do TJDF:

“Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios

PERÍCIA. IDONEIDADE E IMPARCIALIDADE. ASSISTENTE TÉCNICO. INDICAÇÃO. INÉRCIA. OBRIGATORIEDADE DE NOMEAÇÃO. CERCEAMENTO DE DEFESA.

INEXISTÊNCIA. LAUDO PERICIAL. VINCULAÇÃO DO JUIZ. SENTENÇA.

CONTRADIÇÃO. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. PRECLUSÃO. RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA. DANOS MORAL E MATERIAL. ARTRITE SÉPTICA. RECIDIVA. LESÃO PERMANENTE. FOCO INFECCIOSO DENTÁRIO. CAUSA PRIMÁRIA. ERRO MÉDICO. NEXO DE CAUSALIDADE. AUSÊNCIA. IMPROCEDÊNCIA.I – Gozando o perito do juízo de idoneidade e imparcialidade, constitui-se a figura do assistente técnico em mero assessor da parte, não havendo, pois, obrigatoriedade, mas tão somente faculdade em indicá-lo, razão pela qual não se insere esse expert no rol de isenções previstas na Lei de Assistência Judiciária (art. 3º), não se constituindo isso em malferimento dos princípios da isonomia ou da ampla defesa.

[...]

(APC 20010111188369, Relator Nívio Geraldo Gonçalves, 1ª Turma Cível, julgado em 09.05.2005,DJ 28.06.2005 p. 108)”.

AMARAL SANTOS (2012, p. 474-475) também preceitua que:

“a) No sistema do Código de Processo Civil, ao lado do perito, de nomeação do juiz, se institui a figura do assistente técnico30 da parte. Na realidade, os assistentes técnicos não são senão

peritos indicados pelas partes,31 porquanto exercem funções idênticas às dos peritos. A distinção

entre perito e assistente técnico está na nomenclatura e emerge do sujeito processual que o nomeia: aquele é nomeado pelo juiz (Cód. Proc. Civil, art. 421); este é o perito indicado pela parte (Cód. Proc. Civil, art. 421, § 1º, nº 1).

Por outro lado, os assistentes técnicos não se sujeitam às restrições do art. 138 do Código de Processo Civil ou às sanções do art. 424, parágrafo único, tendo, ainda, prazo diverso para apresentação de seus pareceres (Cód. Proc. Civil, art. 433, parágrafo único).

b)Por vezes, se socorre a parte extrajudicialmente de técnicos para ilustrá-la sobre fatos da causa, quer para o fim de melhor certificá-los, esclarecê-los, pedindo-lhes parecer escrito, de que se utiliza para corroborar suas alegações, quer para o fim de melhor elucidar o juiz a respeito dos mesmos fatos. Nesses casos, o técnico funciona como consultor da parte e o seu parecer equivale ao de uma perícia extrajudicial e assemelha-se ao parecer emitido por jurisconsulto sobre questões jurídicas discutidas no processo”.32

E, por fim, mas não sem importância, é imprescindível mencionar a Resolução nº 08/201033, do

Conselho Federal de Psicologia, que assim dispõe acerca da relação entre o Perito e o Assistente Técnico:

“Resolução CFP nº 008/2010

Dispõe sobre a atuação do psicólogo como perito e assistente técnico no Poder Judiciário. [...]

CONSIDERANDO que os assistentes técnicos são de confiança da parte para assessorá-la e garantir o direito ao contraditório, não sujeitos a impedimento ou suspeição legais;34

[...]

intervenção em referencial teórico, técnico e metodológico respaldados na ciência Psicológica, na ética e na legislação profissional, garantindo como princípio fundamental o bem-estar de todos os sujeitos envolvidos;

[...]

Art. 8º O assistente técnico, profissional capacitado para questionar tecnicamente a análise e as conclusões realizadas pelo psicólogo perito, restringirá sua análise ao estudo psicológico resultante da perícia, elaborando quesitos35 que venham a esclarecer pontos não

contemplados ou contraditórios, identificados a partir de criteriosa análise.

Parágrafo único. Para desenvolver sua função, o assistente técnico poderá ouvir pessoas envolvidas, solicitar documentos em poder das partes, entre outros meios (Art. 429, Código de Processo Civil)”.

Porém, uma vez que o assistente técnico é um consultor e conselheiro da parte, a compreensão de suas responsabilidades está relacionada diretamente com os interesses de um dos lados, tornando seu lugar no processo ambíguo e parcial e, portanto, não é visto com bons olhos por aqueles que buscam uma verdade imparcial e incontestável. Mas deve-se considerar que essa verdade absolutamente isenta de tendências é impossível, e por isso, o assistente técnico deve ser visto como um profissional que busca tornar mais próxima a verdade, pois a partir da avaliação de mais de um técnico é possível avaliar e esclarecer as várias facetas que um só incidente pode ter no caso em questão, e orientar a decisão do juiz (SILVA e COSTA, III Congresso Ibero-Americano de Psicologia Jurídica, 1999).

O assistente técnico pode ser nomeado por apenas uma das partes, através de uma petição, proposta pelo advogado, requerendo ao juiz a nomeação e indicando o nome completo do psicólogo, número de inscrição no Conselho Regional de Psicologia, endereço (com CEP) e justificativa plausível e fundamentada para a nomeação. No entanto, sua participação no processo pode ser impugnada pelo advogado da parte contrária (que não desejar nomear também seu assistente técnico), se este entender que o perito seja suficientemente capaz de atuar no processo, através de manifestação nos autos (cota) ou outra maneira de apresentar argumentos contrários à nomeação. Tanto a nomeação quanto a apresentação de argumentos contrários à nomeação devem obedecer aos prazos legais. Do mesmo modo, como será visto adiante, o juiz também poderá indeferir o pedido de indicação de assistente técnico, sob variadas alegações. Se isso acontecer (o que é raro), o advogado da parte que efetivamente desejar a participação de assistente técnico deverá apresentar recurso alegando cerceamento de defesa e violação aos princípios constitucionais do contraditório e da ampla defesa, o que suspende temporariamente o andamento do processo para discussão em instância superior (Tribunal de Justiça do Estado), até que a questão seja sanada.

O assistente técnico poderá pedir à parte e/ou a seu advogado cópias das peças principais do processo, para que possa realizar leituras da situação e conhecer o caso, a fim de avaliar a conveniência em aceitar o caso ou, em caso afirmativo, quais os procedimentos que poderá realizar ao longo do processo.

MAIA NETO (1997, cit.), em texto divulgado na Internet sob o título O assistente técnico no Código de Processo Civil, afirma que o assistente técnico é o auxiliar da parte que tem por obrigação acatar, criticar ou complementar o laudo do perito oficial, através de seu parecer, cabendo ao juiz, pelo princípio do livre convencimento, analisar seus argumentos, podendo fundamentar sua decisão também nesse parecer.

processos judiciais apresentado no III Congresso Ibero-Americano de Psicologia Jurídica, comparam as funções do perito e do assistente técnico da seguinte maneira:

“O perito:

1.A função do perito existe sem o assistente técnico, contudo o inverso não é verdadeiro. 2.O perito tem a função de auxiliar o juiz em suas decisões.

3.Não cabe ao perito fazer interpretações ou aconselhamentos às partes (embora o psicólogo possa conversar com as partes).

4.O assistente técnico é contratado pelas partes, o perito é da confiança do juiz. 5.O perito não tem nenhuma ligação com as partes e seus advogados.

O assistente técnico:

1.É contratado pela parte, para auxiliá-la e ao seu advogado naquilo que ela acredita estar certa. 2.A defesa do advogado estará pautada no parecer que o assistente técnico fizer do laudo do perito. 3.Poderá fazer interpretações e sugestões ao seu cliente, não correndo riscos de ter seu trabalho mal interpretado ou manipulado pelas partes ou por seus advogados.

4.É importante que o assistente técnico conheça bem a função do perito, para saber o que deve esperar do trabalho desse profissional e como seu trabalho deverá encaminhar-se.”

A indicação do assistente técnico está disposta no art. 465, § 1º, II, do novo CPC/2015 e deve ocorrer no prazo de 15 dias contados da intimação do despacho de nomeação do perito, conforme mencionado anteriormente.

Para SHINE e RAMOS (1994), o assistente técnico é um psicólogo autônomo, contratado e pago pela parte que quer reafirmar a defesa específica da sua causa. Para os autores, a função do assistente técnico é contestar o trabalho do psicólogo judicial (perito), desqualificando quaisquer afirmações que contrariem os interesses de seu cliente. Por esse motivo, muitos psicólogos judiciais estabelecem um relacionamento reservado e distante com os psicólogos assistentes técnicos, por considerá-los uma “ameaça” [sic] à valorização do trabalho pericial diante do juiz, uma figura de autoridade, perfeccionista e determinante da ordem.

Com o devido respeito e profunda admiração a esses eminentes profissionais é preciso mencionar uma ressalva: nem sempre o assistente técnico denigre o trabalho do perito. Há casos em que o parecer do assistente técnico é concordante com o laudo pericial, especialmente se este contiver objetivos claros e definidos, procedimentos éticos e conclusões coerentes.

Além disso, o trabalho conjunto do perito e do(s) assistente(s) técnico(s) pode contribuir para esclarecer a situação apresentada, pois as discussões podem favorecer a troca de informações necessárias ao bom desempenho profissional de ambos, e acima de tudo, compreender a dinâmica familiar e buscar a melhor solução para os conflitos. Qualquer sentimento de persecutoriedade ou “ameaça” (como foi mencionado) só servirá para prejudicar o desempenho profissional e não trará benefício algum para o caso apresentado.

Conforme afirmam SILVA e COSTA (1999, p. 258):

“As atribuições inerentes à posição de assistente técnico em um processo judicial, em contraposição às do perito, vêm ao longo da História se definindo. Como o assistente técnico é uma pessoa indicada pelas partes e de sua confiança, seu papel e suas verdadeiras responsabilidades foram, muitas vezes, mal compreendidas. Uma vez que sua origem encontra-se na indicação de uma das partes, a compreensão de suas responsabilidades já se encontra em relação direta com os interesses de

um dos lados, tornando seu lugar na justiça ambíguo. Perante aqueles que buscam a verdade, a pessoa do assistente técnico não pode mesmo ser vista com bons olhos, conceituando-se como verdade algo incontestável e de caráter imparcial. Contudo, paradoxalmente, a figura do assistente técnico existe com o fito de tornar mais próxima a verdade, podendo-se, pela avaliação de mais de um técnico e pela adoção de diferentes linhas e ângulos de trabalho, clarear as variadas facetas que um só incidente pode ter e dar novas diretrizes à apreciação do juiz.”

Como o perito nem sempre dispõe, na prática, dos meios e do tempo necessários para realizar um estudo mais aprofundado da dinâmica familiar, suas conclusões acabam sendo uma solução de compromisso entre o que seria adequado e desejável enquanto estudo técnico, e o que é possível realizar no contexto da perícia. Nesse caso, são os assistentes técnicos quem efetivamente aprofundam as questões familiares mais importantes, podendo elucidar o mecanismo inconsciente que embasa o conflito familiar em pauta, e têm a possibilidade de esclarecê-lo para a parte, situando-lhe a real situação do conflito, por terem mais tempo e maior disponibilidade de contato com seus respectivos clientes e com cada ramo da família, com o objetivo de reforçar ou contraditar as conclusões da perícia judicial, o que amplia a base técnica sobre a qual o juiz formulará seu convencimento.

Em contrapartida, há casos em que o perito, apesar da confiança depositada pelo juiz, utiliza-se de métodos inadequados ou procedimentos contrários à ética profissional (como será visto adiante), ou ainda com redação pericial obscura, confusa ou incoerente, trazendo conclusões ilógicas e incompatíveis. O assistente técnico, por dever ético, tem a obrigação não apenas de criticar o laudo nessas condições, como também de formalizar denúncia contra o perito que esteja dessa forma vilipendiando o exercício profissional da Psicologia.

Segundo SHINE e RAMOS (1999, cit.), o perito transfere para o assistente técnico os sentimentos de persecutoriedade sentidos em relação à própria figura do juiz, uma vez que a autoridade judiciária pode ser facilmente depositária de ansiedades do superego ligadas à perfeição, cumprimento de ordem, medo de punição por falhas etc. O assistente técnico, por ser autônomo e independente da hierarquia judiciária, possui uma amplitude maior de trabalho, podendo “fiscalizar” a atuação do perito, o que é visto com reserva e distância.

Mas, na realidade, a relação que deve existir entre o perito e os assistentes técnicos é de colaboração, pautada no respeito pessoal e profissional e nos princípios éticos que norteiam a Psicologia. É importante destacar que o Judiciário (através dos operadores do Direito: juiz promotores e principalmente os advogados) mantém o clima adversarial do confronto dos interesses de cada uma das partes, transformando-os em um impasse (lógica binária: “autor X réu”, “certo X errado”, “culpado X inocente”). Ocorre que os profissionais de Psicologia chamados ao juízo não devem reproduzir o clima adversarial dos seus clientes, e muito menos revertê-lo à figura do perito. É fundamental que os conflitos naturais entre profissionais que exercem papéis diversos, como é o caso dos Assistentes Técnicos e Peritos Judiciais, não se transformem em impasses, pondo em risco os avanços obtidos quanto ao valor destes profissionais. Por esse motivo, a nomeação destes profissionais pode, na realidade, em muito colaborar para o fortalecimento e devida consideração dos pareceres e laudos dos profissionais da Psicologia nos processos judiciais. Conforme ensina GROENINGA (2006):

“A relação entre o Assistente Técnico e o Perito deve ser de colaboração, pautada na ética e no conhecimento técnico, o que não quer dizer que eles devam necessariamente concordar. Dada sua posição privilegiada em termos de carga de trabalho e acesso às partes, o Assistente Técnico pode ter

condições de trazer material que Perito não tinha conhecimento. Ou ainda, esse pode na discussão do caso, contribuir com uma interpretação que some àquela do Perito; [...]. Assim, acredito que é fundamental que se imprima uma dinâmica de colaboração entre os profissionais da Psicologia. Lamentavelmente, muitas vezes, se observa quase que uma imitação caricata da dinâmica entre os advogados e o juiz. Penso ser fundamental que o Perito, que ocupa uma posição de poder legitimada pelo sistema, possa colaborar de maneira aberta com o trabalho do Assistente Técnico, e cabe refletir não só a respeito da postura do Assistente Técnico como também de que forma poderia este ser