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PARTE II DEMOCRACIA, COMUNICAÇÃO E ESPAÇO PÚBLICO

4 A S RÁDIOS ASSOCIATIVAS NA F RANÇA E AS RÁDIOS COMUNITÁRIAS NO B RASIL : ESTUDO DE CASOS

4.1 Rádios associativas na França: história e legislação

4.1.1 O quadro normativo e a regulamentação das rádios livres francesas

No quadro de políticas públicas de comunicação concernente ao funcionamento das rádios locais privadas na França destacam-se cinco medidas fundamentais: 1) a lei de 9 de novembro de 1981 que autoriza a extinção do monopólio estatal sobre as rádios locais privadas; 2) a lei do audiovisual de 29 de julho de 1982 que descentraliza o sistema audiovisual francês e permitiu a autorização de estações privadas de proximidade; 3) a criação do Fundo de Suporte à Expressão Radiofônica – FSER; 4) a promulgação da lei de 1º. de Agosto de 1984 que autoriza as rádios associativas a se beneficiarem de publicidade e 5) a criação do Conselho Superior do Audiovisual – CSA, em 1989. Ainda em 1981, o senador socialista G. Delfau fez aprovar uma emenda autorizando as rádios privadas a fins não lucrativos utilizarem recursos publicitários no limite de 20% da sua receita total a se beneficiarem do FSER.

Na França não há uma lei específica que disponha sobre rádios locais não lucrativas, mas uma lei geral que trata de todo o setor audiovisual, a chamada Lei de Liberdade de Comunicação (2000-719, de 1º de agosto de 2000)51, mais precisamente seus artigos 28 e 80. Esse documento teve origem na Lei de Liberdade de Comunicação (82-652) e sofreu três alterações para adequar a legislação às novas demandas e necessidades sociais e de ordem técnica até chegar à versão atual de 2000.

51 A nova lei de 2000 também estabelece um novo espaço para as televisões locais. O documento abre a possibilidade para as coletividades locais administrarem a gestão do canal de acordo com objetivos e meios claros e contratuais e para as associações sem fins lucrativos criar televisões de proximidade. O governo se comprometeu a incentivar o desenvolvimento de televisões cidadãs de proximidade. (www.culture.gouv.fr/culture)

As leis de 1982 e 1984: o fim do monopólio estatal sobre o sistema de radiodifusão francês

A lei de 9 de novembro de 1981 foi consagrada como o marco da liberdade de comunicação audiovisual na França, mas somente com a lei de 29 de julho de 1982, houve, de fato, a quebra do monopólio do Estado sobre o setor audiovisual francês. Essa mudança no quadro normativo que disciplina a radiodifusão francesa possibilitou que associações, regidas pela lei de 190152, demandassem uma freqüência de rádio para funcionar na categoria de rádio privada local. A legislação de 1982, a princípio, proibia essas mídias de captar recursos publicitários e de difundirem mensagens pagas.

A lei 84/742 de 1º. de agosto de 1984 permite o acesso das rádios locais privadas sem fins lucrativos à publicidade comercial, revogando assim as leis de novembro de 1981 e de julho de 1982. Então, as rádios locais privadas podem ser enquadradas em três estatutos jurídicos, segundo seu financiamento: a) o estatuto associativo sem recursos advindos da publicidade; nesse caso podem apelar para subvenções e ao fundo de ajuda a essas rádios (FSER); b) o estatuto associativo com recursos à publicidade e c) estatuto da sociedade matriculada com registro de comércio, com a necessidade nesse caso de declarar à Haute Autorité a intenção de recorrer ao financiamento publicitário (artigos 81 e 81.2 da lei de 1982).

Na lei francesa do audiovisual não se utiliza o termo “radiodifusão comunitária”, como nos países de tradição legal anglo-saxônica, para se referir às rádios locais não-comerciais, mas sim o conceito de rádio associativa. Essas rádios são consideradas por lei um serviço privado, assim como as rádios comerciais de vocação local independente (B); as rádios comerciais de vocação local afiliada (C); as rádios comerciais de vocação nacional e temáticas (D) e as rádios comerciais de vocação nacional generalistas (E).

No entanto, as emissoras associativas, embora sejam privadas, têm caráter não comercial. A legislação francesa enquadra esses meios de comunicação na categoria (A) de serviços privados não-comerciais. Suas programações de interesse local, fora publicidade, devem apresentar um mínimo de quatro horas por dia de difusão de conteúdos próprios entre 6h e 22h. Para o resto do tempo, elas podem, eventualmente, recorrer a um fornecedor de programas

52 A Lei de 1º. de Julho de 1901 regulamenta a criação e funcionamento de associações na França. Essa lei ratifica o direito civil e político do cidadão francês de se associar a seus concidadãos para empreendimentos cívicos, políticos, sociais, culturais. De acordo com o artigo 1º. do documento, “A associação é a convenção pela qual duas ou mais pessoas colocam em comum de uma maneira permanente seus conhecimentos ou sua atividade com o objetivo de compartilhar benefícios. Ela é regida quanto a sua validade, por princípios gerais do direito aplicável aos contratos e obrigações”.

identificado na condição de que este pertença à categoria A e que o empréstimo seja gratuito; ao serviço público como a Radio France International-RFI- ou a bancos de programas, como o mais importante deles na França, o Banque d’Échanges et Productions Radiophoniques – l’EPRA53.

Em geral, as rádios associativas que fazem uso das emissões do EPRA desenvolvem produções radiofônicas de proximidade à destinação de populações saídas de processos migratórios ou em direção às populações sensíveis a esse tema.

Em contrapartida, além de cumprirem as determinações enquanto empresas não lucrativas, essas emissoras estão sujeitas, assim como todo sistema de radiodifusão francês, à obrigatoriedade de veicular um percentual mínimo54 de exibição de conteúdos como músicas, que

representem a cultura nacional e as diversidades étnicas do país. Os dois órgãos públicos que garantem o desempenho do sistema audiovisual francês são: o Ministério da Cultura e das Comunicações55 e o Conselho Superior do Audiovisual (CSA). Esse último conta também com a estrutura dos chamados Comitês Técnicos Radiofônicos – CTR56, instalados em 12 regiões da França Metropolitana e nos territórios franceses do além mar.

A solicitação para explorar o serviço de rádio associativa pode ser feita por associações, fundações que declarem suas intenções e objetivos, de acordo com o previsto na lei e as orientações do CSA. As rádios podem operar em um raio de 15 a 30 km de extensão.

Em relação às rádios locais privadas, o Conselho implementa uma política pública de comunicação voltada para a garantia da salvaguarda do pluralismo de expressões sócio-culturais,

53 Trata-se de uma associação regida pela lei de julho de 1901 cujo objetivo é a manutenção de um banco de programas radiofônicos em favor da integração na França das populações de imigrados ou saídos de processos migratórios no conjunto do setor radiofônico.

54 No caso das rádios, a Lei que trata da liberdade de comunicação audiovisual de 2000 permite flexibilizar as quotas de canções francofônicas impostas aos radiodifusores. Desde 1994, as rádios devem difundir 40% de músicas francofonas e, sobre estas quotas, 20% de novos talentos. Esta quota permanece para as rádios de caráter generalista, mas é diferente para as rádios especializadas que valorizam o patrimônio cultural, para estas o percentual é fixado em 60% de canções francesas, sendo 10% de novas produções e para as emissoras jovens, as quotas ficam em 35%, mas com 25% para novos artistas. (Lei 2000-719).

55 O Ministério, entre outras missões, é o órgão responsável pela regulamentação (elabora leis) da exploração de serviços de radiodifusão na França. A regulação e liberação das concessões são algumas das atribuições do CSA. 56 Conforme o artigo 29-1 da lei de 30 de setembro de 1986 modificada, os comitês técnicos radiofônicos – CTR – asseguram a instrução das demandas de autorizações de acordo com o artigo 29 e a observação da execução das obrigações que elas contraem. Esses comitês são responsáveis pela avaliação dos dossiês de demanda de exploração de freqüências de rádios que concernem ao seu domínio. As operadoras autorizadas para a prestação do serviço radiofônico devem avisar ao CTR de sua região as eventuais mudanças de endereço, de nome, de programas, de lugar de emissão, as modificações de capital ou autorização temporária. Os comitês analisam os relatórios de atividades e as contas dos serviços radiofônicos de sua área, procedendo às escutas de programas, recebem os operadores ou podem também visitá-los.

da promoção do desenvolvimento local, luta contra a exclusão, diversificação dos operadores e proíbe o abuso de posição dominante como as práticas que entravam a livre concorrência.

Segundo dados dos Comitês Técnicos Radiofônicos regionais, existem 54757 (dados do CSA de 31 de dezembro de 2003) rádios associativas em funcionamento na França, o que representa 24,9% do total das freqüências autorizadas pelo CSA.

Os CTR’s funcionam como braços regionais do CSA, realizando um trabalho de fiscalização e controle dos conteúdos e comportamentos das rádios associativas que estão sob a sua responsabilidade. Para exercer essa tarefa, uma convenção assinada entre a emissora autorizada pelo Conselho Superior e o Comitê Técnico prevê que cada rádio deve depositar a cada ano um relatório de atividades, constando prestação de contas, estado financeiro do estabelecimento, assim como as atividades culturais, projetos desenvolvidos naquele ano pelo veículo de comunicação e a grade de programação atualizada. Além desse procedimento, o CTR acompanha a programação das rádios por amostra de emissões de rádios associativas, para verificar se as emissoras essas cumprem com as orientações em relação à qualidade de conteúdo, conforme previsto na lei. São interditadas emissões que façam apologia à discriminação, tributo ao sectarismo, incentivos ao comportamento racista, à intolerância a diferenças culturais e práticas religiosas e ofensas a pessoas físicas ou jurídicas.

O financiamento das emissoras associativas

Com a legalização do funcionamento das rádios livres francesas, como rádios de associações, a partir de 1982, surgem mecanismos públicos para a subvenção desse sistema de comunicação. As fontes de recursos são objeto de debates públicos na esfera política e entre os órgãos representativos das rádios livres francesas. A polêmica torna-se ainda mais inflamada quando se trata da interdição, em um primeiro momento, e da limitação, em meados de 1980, da publicidade como fonte de receita dos operadores do serviço. Até hoje não há um consenso sobre o assunto, mesmo entre os dirigentes das rádios associativas.

De acordo com a legislação de 1982, essas rádios são elegíveis a fundos de financiamento que apóiam a expressão radiofônica, como o Fundo de Suporte à Emissão Radiofônica – FSER - criado pelo governo. Os recursos do fundo podem ser destinados à manutenção da emissora,

57 O CSA mantém CRT´s em doze regiões da França: Toulouse, Rennes, Poitiers, Bordeaux, Nancy, Clermont- Ferrand, Lille, Lyon, Paris e Marseille.

compra e renovação de equipamentos técnicos e instalações. O FSER é mantido por uma taxa parafiscal sobre as receitas publicitárias das rádios e televisões privadas comerciais. Mas, para que as rádios locais privadas que se beneficiam de verbas publicitárias recebam a ajuda do Fundo, elas devem obedecer ao dispositivo da lei 86-1067 de 30 de setembro de 1986 que limita em menos de 20% a publicidade sobre o total de receita da rádio.

O fundo de ajuda à expressão radiofônica propõe quatro categorias de subvenções às rádios locais sem fins lucrativos: 1) para instalações da emissora; 2) para funcionamento; 3) para o aumento dos recursos de funcionamento e 4) para compra de equipamentos. As demandas pelos recursos do FSER são examinadas pelo secretariado de gestão permanente do Fundo e em seguida são apreciadas por uma comissão58, formada inclusive por representantes do movimento das rádios associativas francesas.

Os recursos do FSER representam uma fonte fundamental da receita de funcionamento das rádios associativas. Atualmente, a subvenção para manutenção da rádio local do tipo associativa está limitada em 40 mil Euros por ano. De acordo com a comissão do FSER, as rádios que desenvolvem projetos de “alta” qualidade podem ser contempladas com mais recursos em função de critérios específicos59 que remetem à atuação exemplar de mídia associativa conforme determina a lei.

Segundo Catherine Mohr (1998), os três quartos de recursos financeiros das rádios associativas provêm de concursos públicos e de doações privadas. Além da ajuda garantida pelo Estado, a subvenção ao setor de radiodifusão associativa vem de fontes públicas que são alocadas por coletividades locais ou provém do Fundo de Ação Social. Outras formas de subvenções são provenientes de organismos privados, entre os quais constam instituições religiosas, ações filantrópicas, cotas pagas pelos membros das associações que administram o serviço de radiodifusão. As receitas publicitárias representam, em média, 4% dos recursos financeiros disponíveis. Assim, para sobreviverem em seus meios sociais, as rádios associativas buscam parceiros institucionais. Os atores institucionais que gravitam em torno dessas mídias são

58 A comissão do FSER é uma instância autônoma. Ela não é uma autoridade independente, nem um serviço do Ministério das Comunicações. Esta comissão é composta de um presidente, membro do Conselho de Estado, de quatro representantes das rádios associativas; de dois representantes dos recursos publicitários assim como de três membros cujas opiniões são consultados pelos: controlador do Estado, agente contábil do Instituto Nacional do audiovisual, representantes do Conselho Superior do Audiovisual.

numerosos (FSER, Ong’s, Igrejas, templos, federações regionais). Desde 1983, o Fundo de Ação Social ajuda essas rádios lhes fornecendo os recursos iniciais para seu funcionamento.

As rádios associativas que desenvolvem projetos de integração e de combate à discriminação podem contar ainda com o financiamento do Fundo de Ação e de Suporte para a Integração e a Luta contra as Discriminações– FASILD e da Direção da População e da Migração – DPM. Essas entidades públicas apóiam projetos e manifestações culturais implementados por associações e coletividades locais sem fins lucrativos. O fundo DPM financia iniciativas que tratem da memória e dos arquivos sobre a imigração na França (publicações, sites de Internet, espaços para atividades culturais, científicas e associativas). Assim, “As rádios associativas são apoiadas pelo FASILD por serem consideradas meios de informação e difusão que valorizam culturas originárias de processo migratórios. Essas rádios traduzem a diversidade cultural do local e do território”, explica em entrevista Fadela Benrabia60, diretora do FASILD da região Nord- Pas-de-Calais. Segundo a diretora do FASILD, a mídia oficial francesa não oferece espaço na sua programação à questão da luta contra a discriminação, que mereceria mais atenção já que se trata de práticas comuns na sociedade francesa. Nesse sentido, a diretora da entidade considera que as rádios associativas exercem um papel cultural e social importante, por se traduzirem em espaços abertos aos debates e às reflexões sobre temas relativos ao fenômeno da discriminação de pessoas saídas de imigração e sobre a memória dos territórios, suas histórias e diversidades culturais. “Essas rádios, através de seus programas, de sua grade de programação trabalham sobre a mestiçagem da sociedade francesa”, observa a diretora do FASILD.

As rádios financiadas hoje pelo FASILD, independente de sua data de criação, se inscrevem largamente na lógica que podemos caracterizar de atores do desenvolvimento social local. Nesse sentido, os mais velhos passam de toda maneira de um projeto freqüentemente militante e organizado ao redor de combates específicos a um projeto mais largo tanto em termos de públicos visados como de conteúdos de emissões. (LATAULADE, FROISSART e MELAS, 2002, p. 13).

Lataude, Froissart e Melas (2002), em pesquisa realizada sobre o vínculo das rádios associativas francesas com o desenvolvimento sociocultural local, destacam as mudanças em termos de projeto radiofônico e objetivos pelas quais as emissoras associativas foram levadas a

60 Entrevista realizada pela pesquisadora com Fadela Benrabia, diretora do FASILD da região Nord-Pas-de-Calais, em junho de 2005, na sede regional da entidade, na cidade de Lille.

admitir diante das transformações em termos de comportamento e perfil social de seus ouvintes. O engajamento militante movido por causas social, política ou cultural não se traduz mais hoje como o motor para o funcionamento do setor das rádios associativas na França. No entanto, essas mídias ainda se constituem em espaços para expressão de diferenças, sejam elas em termos de opiniões, vontades, reivindicações, denúncias, reconhecimento, entre outras motivações.

Pascal Ricaud (2003), em pesquisa recente sobre o papel sócio-cultural das emissoras associativas em três províncias da região da Aquitânia, na França, sob influência do país Basco, atribui a esses meios de comunicação um papel fundamental no fortalecimento da identidade basca de forma diferenciada em cada uma das comunidades onde atuam. Segundo Ricaud, essas rádios ainda cumprem missão educativa e ajudam a formar redes de solidariedade. De acordo com Ricaud, toda rádio comunitária, de expressão basca, bretanha, catalã, sem esquecer as comunidades imigradas, não existiria se a sua diferença não fosse demarcada, fazendo entender suas reivindicações, falar dos problemas com os quais se confrontam língua e cultura.

As instituições nacionais representativas das rádios associativas francesas

No quadro do movimento das rádios privadas locais não lucrativas na França existem duas entidades nacionais que se legitimaram como as mais importantes instâncias representativas das emissoras associativas francesas: o Sindicato Nacional de Rádios Livres – SNRL – e a Confederação Nacional de Rádios Associativas – CNRA. Essas estruturas foram criadas e organizadas em função das necessidades e de interesses das rádios de categoria A. De acordo com o vice-presidente do SNRL61, Gilbert Andruccioli, militante do movimento nacional das rádios livres na França desde a década de 1970,

A gente guardou o nome de rádios livres, porque nós fazemos uma comunicação livre, sem vínculos com poderes político, econômico ou religioso. A gente diz que agora essas rádios são menos vinculadas à militância política ou sindical (...) Hoje a gente percebe que as rádios associativas colocam no ar mais música em sua programação. Elas fazem emissões generalistas, muito variadas como todas as rádios.

O SNRL e a CNRA são interlocutores fundamentais, junto ao Estado, de parceiros institucionais do governo, do FSER, em favor das emissoras associativas. Mas as duas entidades

61 Entrevista concedida à pesquisadora durante a convenção nacional do Sindicato de Rádios Livres, em Paris, em junho de 2005.

não compartilham as mesmas idéias, apesar do pertencimento à mesma luta pela continuação e o desenvolvimento sustentável dessas mídias. Além do sindicato e do conselho, existem também federações regionais e nacionais, às vezes temáticas ou confessionais, que desempenham o papel de espaços representativos das rádios associativas de suas regiões.

Os dois órgãos nacionais optaram por caminhos distintos, em certa medida divergentes, como também por políticas de orientação diferentes, sobretudo naquilo que diz respeito a posições ideológicas. Mas quando se trata da questão do financiamento público do setor de rádios associativas o SNRL e o CNRA se unem em defesa da sobrevivência dessas emissoras. “Temos orientações diferentes, mas nos grandes combates nos comunicamos, sobretudo quando dos debates sobre o FSER”, diz René Lavergne62, presidente da Federação das Rádios Associativas do Norte da França- FRANF, membro do CNRA.

A questão do financiamento assume lugar privilegiado nos espaços de debate sobre a dinâmica do sistema associativo de radiocomunicação francês. Tanto o sindicato quanto o Conselho compartilham a preocupação sobre os critérios e as restrições das subvenções do Fundo de Suporte à Expressão Radiofônica. Para as duas entidades nacionais, as rádios associativas francesas cumprem missões de serviço público, sendo assim atores socioculturais importantes nas localidades onde atuam.

Da parte do CNRA, o ponto crítico do debate sobre o dispositivo do financiamento dessas rádios está nas receitas necessárias do FSER para sustentar a economia das rádios de categoria A na França. Muitas emissoras associativas sobrevivem dos recursos financeiros concedidos pelo fundo, não contando com nenhuma outra fonte sustentável de receita.

Para o SNRL, hoje, o que compromete o financiamento das rádios de categoria A é a deturpação do princípio de eqüidade no procedimento de concessão dos subsídios do FSER. O sindicato defende um quadro legal que garanta a subvenção daquelas rádios associativas independentes e engajadas em projetos de comunicação social de proximidade, exibindo em grande parte programas próprios. Segundo o vice-presidente do SNRL, Gilbert Andruccioli, representante das rádios associativas na Comissão do FSER e Emmanuel Bouttarin63, presidente do Sindicato, muitas rádios da categoria A, beneficiadas pelo fundo, difundem quase 20 horas por

62 Entrevista concedida à pesquisadora em abril de 2005, na sede da FRANF, em Lille.

63 Entrevistas concedidas à pesquisadora em junho de 2005, em Paris, durante o Congresso Nacional do Sindicato das Rádios Livres da França.

dia de conteúdos de redes nacionais de rádios, como as rádios diocesanas integradas à Rede Rádio Cristã na França, repetidoras da Rádio Vaticano. Para o sindicato, essas emissoras não têm