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2.2 Os questionários dos professores de Sociologia de Santa Catarina

2.2.3 Condições de trabalho

2.2.3.1 O que trazem os relatórios sobre os professores da região de Florianópolis

Relacionado aos professores de Sociologia da região de Florianópolis, Coan (2007), através de Souza (2004) revela as dificuldades apresentadas pelos professores no Iº seminário de Sociologia do ensino médio do Estado, realizado em 2002:

[...] falta de bibliografia para apoio pedagógico; o reduzido número de aulas; a falta de professores habilitados; a necessária formação continuada; cursos de capacitação de professores. (p.88)

Em Florianópolis e São José -, pelo tipo de pesquisa realizada de observação nas escolas do trabalho do professor de Sociologia, das condições materiais das escolas oferecidas, entre outros, realizada pelas estudantes da UFSC, puderam detectar questões mais pontuais.

Segundo relatórios elaborados, relacionado aos recursos materiais oferecidos ao professor identificam-se questões comuns a todas as escolas como a falta de livros didáticos para os alunos, bibliotecas com falta de livros de pesquisa para os alunos e professores, com exceção de uma escola que tem melhores condições materiais de trabalho ao professor.

Das oito escolas constatam-se diferenças significativas relacionado à estrutura física, número de alunos que comportam contextos que estão inseridas, a comunicação ou relação da escola com a comunidade, a gestão, refletindo diretamente no trabalho do professor em sala de aula. Outrossim, as informações contidas nestes relatórios além dos dados serem colhidas através de entrevistas, às observações pessoais dos licenciandos da UFSC nas escolas trouxeram informações mais pormenorizadas sobre as condições materiais e de trabalho oferecidas ao professor, que não foi possível pelos questionários preenchidos via e-mail.

Da formação inicial dos professores, cinco são formados em Ciências Sociais, um em Pedagogia, dois em Filosofia e um, os professores da escola não sabiam informar.

O entrevistado 01, habilitado há 20 anos (1987), licenciatura curta, com carga horária na escola de 10horas/aula, cinco turmas, período noturno, trabalha durante o dia com administração de recursos humanos – secretaria de educação à distância da UFSC -. Segundo o relatório de pesquisa, reclama da falta de tempo para preparação das aulas, pois trabalha nos três turnos, só tem o período do almoço para fazê-lo, como também da impossibilidade de participar de cursos de formação e capacitação, de preparação teórica e atualização do professor. Considera sua remuneração péssima como professora, por isso trabalha com a “área administrativa [...] que [...] remunera mais”, e coloca que “Meu trabalho como professora acaba sendo por amor à camisa, [...]” (PERONDI et al, 2007, p.anexo 7).

Licenciado e bacharelado (1991), o entrevistado 02 trabalha 10horas/aula na escola, têm cinco turmas nos períodos matutino, vespertino e noturno de 2º e 3º anos, e trabalha 40 horas na secretaria da educação do Estado, exercendo uma jornada de trabalho de 50horas por semana. O planejamento de suas aulas ocorre geralmente nos finais de semana. Reclama da

falta de bibliografias dentro da escola, de vídeos e acervos de filmes, como também da falta de cursos de capacitação e de atualização voltado para o ensino da Sociologia, para poder reciclar. Não adota livro didático em suas aulas. O professor considera o salário “muito baixo”, mas coloca que não justifica fazer “um trabalho de qualquer jeito... na sala, todos os profissionais têm várias opções e estar em sala de aula considero uma responsabilidade muito grande, [...] influencia bastante, mas ele não pode justificar a atuação do professor, [...]” (Marsico et al, 2007, p. .s/nº, em anexos).

O entrevistado 03 professor de Sociologia, tem contrato de ACT, carga horária de 10horas/aula, com 08 aulas, é formado desde 2001, está quatro anos atuando no magistério. Leciona também em outra escola estadual– 40 horas/aulas -, no centro de Florianópolis, onde é efetivo do Estado. Na escola pesquisada está a três meses, e reclama que não recebeu o salário ainda, que está em torno de R$ 800,00, menos do que um aluno dele que trabalha na Comcap e recebe R$ 900,00 de salário. Possui atualmente, juntando as duas escolas, em torno de 500 alunos, 17 turmas. Considera sua remuneração insuficiente, almeja passar em algum concurso público. (CARIDÁ et al, 2008)

Segundo observação e análise pelos licenciandos da UFSC, pelas condições de trabalho oferecidas ao professor, concluem que um problema freqüente nas instituições de ensino do Estado é a complementação de carga horária realizada pelos professores e que não conseguem a qualidade requerida nas escolas a que se propõe, como é o caso deste último professor. Neste caso, as escolas possuem uma distância relativamente grande para locomoção dificultando sua chegada. O fato de ser ACT e não ter recebido ainda, causa desmotivação para o professor. (CARIDÁ et al, 2008)

Na escola central de Florianópolis, os dois professores de Sociologia entrevistados, o entrevistado 04 habilitado em CSO, mestre em Sociologia política, é efetivo 40 horas/aulas. O entrevistado 05, pedagogo desde 1981 -, e especialização em Andragogia – educação para adultos, pela ESAG, tem carga horário de 40 horas/aula, é efetivo.

Os dois professores consideram sua remuneração muito baixa, pouca valorização profissional, e a escola que trabalham exige bastante do professor com turmas em média de 40 estudantes por sala no diurno, e com turmas de 25 estudantes no período noturno. O entrevistado 05 deixou a empresa onde trabalhava, que era mais bem remunerado, para se aposentar como professor. É contra a greve de professores, pois acredita que não resolve ir para as ruas, somente através da conscientização da comunidade escolar, pais e alunos. (ARAÚJO et al, 2005)

Segundo relatório dos licenciandos da UFSC, de abril de 2006, o entrevistado 06 de uma escola central, possui carga horária de 10 horas/aulas, têm cinco turmas. Trabalha em outra escola estadual com 20 horas/aula, é efetivo em ambas escolas. (ANDRADE et al, 2006) O entrevistado 07, habilitado, desde 1990, pela UFSC, tem carga horária de 10 horas aula em Sociologia e completa carga de 20 horas que é efetiva no Estado, com o ensino religioso. Por conta da baixa remuneração não consegue dedicar-se exclusivamente ao magistério. Está se dedicando para passar mestrado da UFSC.

O entrevistado 08, filósofo, atua no magistério há nove anos. Trabalha em três escolas para totalizar 40 horas/aulas, pois a remuneração é baixa de professor, e nesta escola faz somente 10 horas/aulas. (DORNELES et al, 2007)

Os próximos entrevistados – 09, 10 e 11 -, são de uma escola no município de São José. Os três professores são efetivos em Sociologia. O professor titular da disciplina, é habilitado na área, pela UFSC, desde 1991, licenciando-se em 2001 e está a quatro anos lecionando a disciplina, tem uma carga horária de 40 horas/aula cheia, ou melhor, dá 34horas/aula nesta escola e mais 6 horas/aula em outra escola estadual de bairro próximo ao centro de Florianópolis, recebendo oito aulas excedentes63. Não considera boa sua remuneração, pois têm 500 alunos, trabalha muito, complementa sua remuneração com outra atividade que não o magistério. O deslocamento para as escolas também é bem difícil. O entrevistado 10 é titular das aulas de Filosofia e ministra algumas aulas de Sociologia no período noturno e Sociologia da Educação para o Magistério, se formou na UFSC, em 1997 – licenciatura e bacharelado -, e já leciona a onze anos, e por último, o entrevistado 11, é professor é formado também na UFSC, não souberam informar sobre a formação desse professor.

Sobre as condições materiais de trabalho dos professores de Sociologia das escolas a maioria encontra condições satisfatórias para trabalhar com seus alunos, com exceção de duas escolas que estão numa situação mais prejudicada. Ambas as escolas ocupam no período noturno o espaço de uma escola que é de responsabilidade da prefeitura, e não têm a disposição espaços, como biblioteca, sala de informática entre outros, como também de materiais didáticos, pois é comum ser de uso exclusivo da escola municipal, ou têm restrições no uso64.

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Aulas excedentes são as que ultrapassam a carga horária do professor, recebendo 5% - sobre o salário base -, a mais em seus vencimentos.

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Um fator citado, segundo os relatórios de pesquisa dos licenciandos da UFSC, que vem comprometendo a qualidade do trabalho dos professores, conforme relatos tanto de direções, grupo pedagógico e professores é a quantidade de horas/aulas dadas pelos professores na rede de ensino do Estado, isto acarreta uma sobrecarga de trabalho e um stress geral desses trabalhadores. Outra constatação observada nos depoimentos e condições de trabalho é a quantidade de escolas abarcada por alguns professores, que lhes obriga a deslocamentos, citado pelos entrevistado 03, 09 e 06. Quando não são das escolas são deslocamentos a outros trabalhos, para compensar a baixa remuneração do Estado. Dos nove entrevistados sobre a remuneração, oito consideram a remuneração muito baixa, o que ocasiona a busca de outras escolas e a outros trabalhos para compensar. A maioria tem uma carga horária cheia, de 40 horas/aulas, ou que excede chegando até a 60 horas/aulas. Com exceção de dois professores que têm carga horária de 10 horas/aulas e completam seus ganhos em outros trabalhos. A preparação das aulas, segundo alguns depoimentos dados, se realiza durante o horário de almoço ou finais de semana.

Segundo o entrevistado 02, a baixa remuneração não justifica uma má atuação do professor em sala, pois existem outras possibilidades de trabalho. O que abre a possibilidade

de concebê-lo como um trabalho vocacionado. Essa percepção de trabalho vocacionado percebe-se em outros depoimentos, que está no magistério por “amor à camisa”, depoimento entrevistado 01 (Perondi et al, 2007, p.11); do entrevistado 05, veio para o magistério para terminar sua vida profissional no magistério, deixando salário bem melhor que ganhava antes (Araújo et al, 2005). O entrevistado 05 se diz contra a greve, mas já está para se aposentar e até o momento tinha outro trabalho que era muito melhor remunerado (ARAÚJO et al, 2005). Neste sentido a pesquisa empírica, junto aos professores de Sociologia de todo o Estado, trouxe um percentual significativo de professores – de 63% e 62% -, que concebem o trabalho docente como vocação, fechando com depoimentos de alguns professores de Florianópolis, conforme visto.

Visto as condições sócio-econômicas, de formação e de trabalho dos professores de Sociologia do Estado e região de Florianópolis, no próximo capítulo será analisado como está o trabalho desse professor em sala de aula, como também o que pensam os educandos sobre as aulas de Sociologia.

O TRABALHO DO PROFESSOR DE SOCIOLOGIA EM SALA DE AULA

[...] a prática pedagógica em sua complexidade exige, ao mesmo tempo, o domínio dos conteúdos inerentes à área do conhecimento específico, bem como o domínio didático, que se refere aos métodos e técnicas adequados à efetivação do processo ensino-aprendizagem. [...] ensinar exige certo domínio teórico, prático presente na relação indissociável conteúdo-forma. (SOARES, 2008, p.22).

Segundo as Orientações Curriculares para o Ensino Médio (OCEM) (2008) “as pesquisas sobre o ensino de Sociologia ainda são bastante incipientes, contando-se cerca de dez títulos, entre artigos, dissertações e teses, o número de investigações efetuadas nos últimos vinte anos” (pág.104). E, relacionado ao que abordam a maioria deles, seus temas giram em torno da institucionalização da disciplina no ensino médio; poucos tentam discutir os conteúdos, as metodologias e os recursos do ensino.

A falta de pesquisas nessa área tem sido atribuída à intermitência da presença da disciplina no ensino médio, o que provocou desinteresse dos pesquisadores. Essa intermitência da sociologia no currículo de ensino médio deve-se, em grande medida, às expectativas e avaliações dos governos acerca de suas possibilidades didáticas e de seus conteúdos na formação intelectual e política dos jovens.

Outros estudos indicam que a ausência ou presença da sociologia no currículo de ensino médio está vinculada a contextos autoritários e democráticos, respectivamente, tendo em vista a potencialidade desta disciplina no que se refere a propiciar uma formação crítica da realidade social. Como assinala Jinkings (2007), citando Peter Berger, “a perspectiva sociológica pode ser compreendida como um processo de ‘ver além das fachadas das estruturas sociais’, de ‘furar a cortina de fumaça das versões oficiais da realidade’, essencialmente crítico e desmistificador” (pág.8).

Como também, como é colocado por alguns autores, a Sociologia nem sempre teve um caráter crítico e transformador, “funcionando muitas vezes como um discurso conservador, integrador e até cívico – como aparece nos primeiros manuais da disciplina”. Os autores

lembram de como a Sociologia chegou ao Brasil de “mãos dadas com o positivismo”. (OCEM, 2008, p.105)

Hoje com a aprovação da Lei 11.684, em 03 de junho de 2008, da obrigatoriedade do ensino da Sociologia em todas as escolas de ensino médio no Brasil, o ensino desta disciplina tem sido alvo de inúmeras discussões acerca do conteúdo a ser trabalhado com os educandos, em que período ou fase, objetivos de formação, como também de formação desses professores, entre outras questões inerentes a sua implementação nas escolas. Neste período, surgiu uma série de trabalhos, publicados e apresentados em Congressos65.

Das questões que cercam a implementação da disciplina de Sociologia, algumas já foram anteriormente trabalhadas, por isso neste capítulo tentaremos mostrar, segundo a pesquisa empírica, como está o trabalho do professor de Sociologia em sala de aula. Para tanto, coletamos dados na pesquisa de campo com os 52 questionários dos professores de Sociologia do estado de SC, como também buscamos numa segunda etapa mostrar através de oito relatórios de pesquisa elaborados pelos estudantes da UFSC, na disciplina de Metodologia do Ensino de Ciências Sociais, ministrada pela professora Drª Nise Jinkings, em períodos variados, como estão se dando as aulas dos professores de Sociologia em escolas dos municípios de Florianópolis (maioria delas) e de São José, segundo observação de aulas, coleta de dados e depoimentos de alunos.

Tenta-se abarcar nesse delineamento da prática docente com a disciplina de sociologia, as metodologias de ensino utilizadas, os conteúdos desenvolvidos por esses professores, o aparato pedagógico que dispõem para seu trabalho em sala, como também através da observação dos estudantes da UFSC, mostrar a estrutura física das escolas que são oferecidas para o trabalho do professor de Sociologia, e, o que os alunos pensam sobre as aulas de Sociologia. Neste último, limitar-se-á aos relatórios da região de Florianópolis.