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Marx (1985) entende como capacidade de trabalho ou força de trabalho o conjunto das faculdades físicas e mentais existentes no corpo e na personalidade viva de um ser humano, as quais ele põe em ação toda vez que produz valores-de-uso de qualquer espécie. Como também deve preencher certas condições, onde só pode aparecer como mercadoria no mercado enquanto for e por ser oferecida ou vendida como mercadoria pelo seu próprio possuidor, pela pessoa da qual ela é a força de trabalho. O possuidor da força de trabalho vende-a por tempo determinado, de escravo torna-se possuidor de uma mercadoria. E sempre possuidor da sua força de trabalho, consegue comprador provisoriamente.

Segundo Marx (1985, p.141-142), a determinação do valor da força de trabalho é como de qualquer outra mercadoria, pelo tempo de trabalho necessário à sua produção, e por conseqüência, à sua reprodução. Enquanto valor, a força de trabalho representa apenas determinada quantidade de trabalho social médio nela corporificado.

E a produção da força de trabalho pressupõe a existência viva do indivíduo. Para manter-se, precisa o indivíduo de certa soma de meios de subsistência.

[...] o homem como a máquina, se gasta e tem que ser substituído por outro homem. Além da soma de artigos de primeira necessidade exigidos para o seu próprio sustento, ele precisa de outra quantidade dos mesmos artigos para criar determinado número de filhos, que hão de substituí-lo no mercado de trabalho e perpetuar a raça de trabalhadores. [...] assim como diferem os custos de produção de força de trabalho de diferente qualidade, assim têm que diferir, também, os

valores das forças de trabalho, [...] e como distintas espécies de força de trabalho possuem distintos valores, ou exigem para a sua produção distintas quantidades de trabalho, necessariamente têm que ter preços distintos no mercado de trabalho. [...] o valor da força de trabalho é determinado pelo valor dos artigos de primeira necessidade exigidos para produzir, desenvolver, manter e perpetuar a força de trabalho. (MARX e ENGELS, Textos, v.III, s/d, p.359)

Uma advertência que fazem os autores está relacionada aos ciclos periódicos pelos quais passa a produção capitalista: ora passa por fases de prosperidade e crescimento econômico, ora enfrenta a superprodução, a crise e a estagnação, influenciando diretamente os preços das mercadorias e a taxa de lucro no mercado, e com isso o operário é atingido. Marx e Engels defendem a necessidade do operário discutir com o capitalista “em que proporção se torna necessário reduzir salários”, como também durante a fase de prosperidade onde o capitalista obtém lucros extraordinários, o operário precisa lutar por uma alta de salário.

Seria o cúmulo da loucura exigir que o operário, cujo salário se vê forçosamente afetado pelas fases adversas do ciclo, renunciasse ao direito de ser compensado durante as fases prósperas. [...] o operário assalariado [...] não tem outro recurso senão tentar impor, em alguns casos, um aumento de salário, ainda que seja apenas para compensar a baixa em outros casos. [...] a luta pelo aumento de salários vai sempre na pista de modificações anteriores e é o resultado necessário das modificações prévias operadas no volume de produção, nas forças produtivas do trabalho, no valor deste, no valor do dinheiro, na mior extensão ou intensidade do trabalho extorquido nas flutuações dos preços de mercado, que dependem das flutuações da oferta e da procura e se verificam em função das diversas fases do ciclo industrial. [...] é a reação dos operários contra a ação anterior do capital. (ibid, p.372-373)

Marx e Engels concluem:

O processo de consumo de força de trabalho é, ao mesmo tempo, o processo de produção de mercadoria e de valor excedente (mais-valia). O consumo da força de trabalho, como o de qualquer outra mercadoria, realiza-se fora do mercado, fora da esfera da circulação (ibid, p.205).

Como meio de trabalho Marx entende como aquilo que o trabalhador insere entre si mesmo e o objeto de trabalho e lhe serve para dirigir sua atividade sobre esse objeto. Em sentido lato como coloca o autor, são todas as condições materiais necessárias à realização do processo de trabalho.

Os meios de trabalho para Marx cumprem um papel fundamental para medir o desenvolvimento da força humana de trabalho, indicando as condições sociais em que se realiza o trabalho, como também distingue as diferentes épocas econômicas.

O processo de trabalho vai extinguir-se ao concluir-se o produto, que é um valor-de-uso, onde está incluído ai o trabalho, e, como coloca Marx observando todo o processo do ponto de vista do resultado, meio e objeto de trabalho são meios de produção, e o trabalho é trabalho produtivo. Como também coloca que os produtos destinados a servir de meio de produção não são apenas resultados, mas também condição do processo de trabalho. Marx salienta a importância do trabalho vivo sobre os meios, o produto e a matéria-prima.

O trabalho vivo tem de apoderar-se dessas coisas, de arrancá-las de sua inércia, de transformá-las de valores-de-uso reais e efetivos. O trabalho, com sua chama, delas se apropria, como se fossem partes do seu organismo, e de acordo com a finalidade que o move, lhes empresta vida para cumprirem suas funções; [...] O trabalho gasta seus elementos materiais, seu objeto e seus meios; consome-os. (p.217)

Marx, conceituando processo de trabalho, descreve-o como atividade dirigida com o fim de criar valores-de-uso, de apropriar os elementos naturais às necessidades humanas, sendo ele condição necessária de intercâmbio material entre o homem e natureza, é condição natural de todas as formas sociais.

Desde a análise de Marx, vários foram os processos de trabalho e mecanismos encontrados pelo capital para sua valorização, diversificados conforme país, regiões, culturas, resistência ou não da classe trabalhadora, desenvolvimento tecnológico, recursos naturais disponíveis, entre tantos outros elementos que possibilitaram maior ou menor controle da força de trabalho sobre sua atividade laboral. Nesse processo, confrontam-se historicamente duas classes antagônicas: de um lado, aquela proprietária privada dos instrumentos, dos meios de produção, representada pelo poder do Estado; de outro, a classe trabalhadora alienada pelo próprio trabalho, despojada dos meios de produção, cuja única propriedade é a força de trabalho que é obrigada a vender para sobreviver. Além de suprir suas necessidades, essa classe vai ser obrigada também a satisfazer a dos proprietários capitalistas, iniciando uma relação de exploração contínua, contraditória e antagônica entre as duas classes.