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10. A imputação do dever de realização do recall

10.2 O recall administrativo

Uma das características mais marcantes do Código de Defesa de Consumidor é o fato de ser um microsistema jurídico, pois contém regras de cunho processual, administrativo e penal, ou seja, da mesma forma que prevê a aplicação de sanções judiciais aos que descumprem suas normas, também traz consigo nos artigos 55 a 60, um rol inteiro de sanções administrativas.

Dentre tais sanções, merecedora de destaque a prevista no art. 56, in verbis: “Art. 56. As infrações das normas de defesa do consumidor ficam sujeitas, conforme o caso, às seguintes sanções administrativas, sem prejuízo das de natureza civil, penal e das definidas em normas específicas: I - multa; II - apreensão do produto; III - inutilização do produto; IV - cassação do registro do produto junto ao órgão competente; V - proibição de fabricação do produto; VI - suspensão de fornecimento de produtos ou serviço; VII - suspensão temporária de atividade; VIII - revogação de concessão ou permissão de uso; IX - cassação de licença do estabelecimento ou de atividade; X - interdição, total ou parcial, de estabelecimento, de obra ou de atividade; XI - intervenção administrativa; XII - imposição de contrapropaganda”.

Nossa atenção ao supracitado art. 56, deve-se principalmente a força normativa do mesmo, visto que estabelce sanções administrativas que vão desde multa até a interdição ou intervenção no estabelecimento ou atividade do fornecedor, passando pela apreensão do produto, revogação de concessão ou cassação de licença de funcionamento, conforme a gravidade da infração.

Em verdade, não apenas o art. 56, mas todos os demais dispositivos contidos no Cápituo VII – Das Sanções Administrativas, são de altíssima relevância no sentido de possibilitar um maior controle pelos Órgãos da Adminstração Pública Direta e Indereta, do cumprimento das normas do Código de Defesa do Consumidor.

Com efeito, sem prejuizo de nosso entendimento quanto ao dever legal dos Órgãos Públicos em realizar o recall, acreditamos que o mesmo encontra-se num grau de subsidiariedade em relação ao mesmo dever imposto aos fornecederes dos produtos e serviços que possam acarretar riscos à saude e a segunraça dos consumdiores.

Noutras palavras, caso a Administração Pública, direta ou indireta, consiga através de seus procedimentos administrativos impor ao fornecedor – que colocou no mercado de consumo produto ou serviço comprovadamente viciado – a prática do recall, diga-se, na exata forma que alcançando os objetivos principiológicos da Lei 8.078/90, visto que a norma lhe concede meios para isso, desnecessária será sua efetivação pelos Órgãos Públicos.

Interessante também destacarmos que como no procedimento judicial, o CDC também possibilita em sede administrativa a cautelaridade dos efeitos da decisão, visando com isso a proteção maior do consumidor, conforme estipulado no parágrafo único do citado art. 56, vejamos: “As sanções previstas neste artigo serão aplicadas pela autoridade administrativa, no âmbito de sua atribuição, podendo ser aplicadas cumulativamente, inclusive por medida cautelar, antecedente ou incidente de procedimento administrativo”.

Sobre a aplicação das sanções previstas no CDC, comenta Zelmo Denari143:

“Tratando-se de produtos e serviços defeituosos sujeitos à vigilância sanitária ou qualquer forma de fiscalização governamental, cumpre a autoridade administrativa aplicar as sanções administrativas previstas no código de defesa do consumidor, podendo consistir na apreensão ou inutilização do produto, na cassação do registro, na proibição de fabricação, suspensão do fornecimento e etc. Nos casos de produtos farmacêuticos ou alimentares a vigilância sanitária procede ao recolhimento do produto, quando é informada a respeito de sua nocividade, ainda que posteriormente à concessão

da licença. (cf. art. 7º da Lei 6.360, de 23 de setembro de 1976, a art. 3º do DL nº 785 de 25 de agosto de 1979)”.

Claudia Lima Marques144 também teceu importantes comentários sobre o tema, senão vejamos:

“A sanção administrativa de retirada dos produtos proibidos de serem introduzidos e mantidos no mercado está, porém, implícita nos arts. 9º e 10 do CDC (assim concorda Denari p. 153), não tendo assim o recall sofrido prejuízo pelo veto. A prática deste mais de 10 anos de CDC e a regulamentação pelos decretos acabou suprindo esta prática e hoje o recall administrativo (chamado de ‘voluntário’, pois a termo de compromisso coma empresa) ordenando após o processo no Ministério da Justiça (DPDC/SDE), já está assentado e é praticado com grande seriedade e cooperação das empresas, após denúncia de consumidores ou associações, ou após processo iniciado ex-officio pelo DPDC/SDE. Note- se que segundo os arts. 9º e 10, a informação é obrigatória e não exonera o fornecedor ‘da adoção de outras medidas cabíveis em cada caso concreto’, dentre elas a retirada do produto ou a cessação do serviço, voluntária ou administrativa. Observe-se que em matéria de vigilância sanitária também existem outros tipos de recall previstos. Assim, o art. 6º da Lei 6.360/1976 se aplica ao caso de que ‘como medida de segurança sanitária e a vistas de razões fundamentadas do órgão competente, poderá o Ministério da Saúde, a qualquer momento, suspender a fabricação e venda de qualquer produto

que trata esta Lei, que, embora registrado, se torne suspeito de ter efeitos nocivos à saúde humana’”.

Assim, ratificando nosso entendimento quanto à responsabilidade da Administração Pública com relação ao exercício do recall, consoante do disposto no § 3º, ao art. 10 do CDC, sua maior atuação em prol da efetivação do recall sem dúvida nenhuma está concentrada apuração da denúncia, verificação dos fatos, processamento e autuação dos fornecedores que expõe os consumidores a acidentes de consumo, compelindo-os por sua vez, a praticar o recall.