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2. Fundamentos do recall no ordenamento jurídico brasileiro

2.2 Fundamentos do recall na lei 8.078/90 – CDC

2.2.1 Princípios fundamentais do recall

2.2.1.6 Princípio da informação

Em continuidade ao estudo dos fundamentos do recall no CDC, passamos à interpretação do segundo e não menos importante princípio que embasa expressamente a prática do recall como instrumento de proteção e defesa do consumidor, disposto no inciso III do art. 6º, e que por sua vez complementa o disposto no inciso IV, do art. 4º da mesma Lei, conhecido como princípio da informação, in verbis:

“Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de consumo, atendidos os seguintes princípios40: (...) IV - educação e informação de fornecedores e consumidores, quanto aos seus direitos e deveres, com vistas à melhoria do mercado de consumo”;

“Art. 6º São direitos básicos do consumidor: III – a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade e preço, bem como sobre os riscos que apresentem;

O enfoque principal e fundamental do recall contido no princípio da informação está claramente exposto na parte final do inciso III do art. 6º supracitado, quando dispôs que é direito básico do consumidor a informação adequada sobre os diferentes produtos e serviços, bem como sobre os riscos que apresentem. (Destaques nossos).

Considerando que nas relações entre consumidor e fornecedor todo direito implica na contraprestação de um dever, é que nestes casos o fornecedor é indiscutivelmente o único que detém os dados fáticos e técnicos acerca da produção de determinado produto ou da realização daquele serviço, a este cabe o dever de informar o consumidor sobre os riscos que os mesmos possam vir a apresentar (levando em consideração a impossibilidade do fornecimento de produtos e serviços nocivos ou perigosos).

Mais uma vez identificamos a forte interação normativa entre o texto dos incisos supracitados e o do § 1º do art. 10, este interpretado por muitos como a fundamentação legal do recall. Entretanto, data máxima vênia, voltamos afirmar que ambos os dispositivos imputam o dever de informação e não de rechamada do consumidor, posto que a informação pode ser pura e simples sobre a nocividade ou a periculosidade daqueles produtos ou serviços, sem que o fornecedor assuma o dever de repará-las.

Apesar de não compartilharmos do entendimento de que o § 1º do art. 10 do CDC imputa ao fornecedor o dever de efetivação do recall, ou seja, de rechamar o consumidor no intuito de prevenir ou reparar os possíveis danos advindos daqueles produtos ou serviços, seria impossível negarmos que este dever de informação é o ponto de partida, e sem dúvida alguma um dos principais, senão o principal instrumento para efetivação da prática do recall pelos fornecedores.

Frise-se, entretanto, que a informação contida na mensagem partida do fornecedor com destino ao consumidor, seja no intuito de praticar-se o recall, ou apenas a título informativo sobre a nocividade ou periculosidade do produto ou serviço, deverá ser veiculada de forma adequada, clara, ostensiva, e em linguagem acessível, para que possa atingir, e ser devida e indistintamente entendida todos os consumidores.

Vale trazer á baila a lição de João Calvão da Silva41: “Mas dizer que as informações devem ser claras, precisas e sucintas, corresponde a afirmar que elas devem ser dadas obrigatoriamente no idioma das pessoas a que se destinaram os produtos, em linguagem simples e compreensível para o grande público – e não e formulações técnicas que só os especialistas entendem – e que devem esclarecer cabalmente o que fazer e o que não fazer quanto ao seu emprego, chamando atenção para o eventual perigo resultante do mau uso”.

Por ser um tema tão grandioso e interessante, o Princípio da Informação no CDC, é alvo constante de estudo por nossos doutrinadores, com destaque a obra produzida pelo mestre Alexandre David Malfatti42, intitulada O Direito de Informação no Código de Defesa do Consumidor, da qual nos identificamos principalmente na parte que trata da necessidade da clareza nas informações, em especial aquelas que dizem respeito aos riscos dos produtos e serviços, senão vejamos:

“A informação será adequada quando ajustada ao destinatário da mensagem: o consumidor. O artigo

41 Silva, João Calvão da. Responsabilidade civil do produtor, p. 660, Coimbra, Livraria Almedina

1990.

42 Malfatti, Alexandre David. O Direito de Informação no Código de Defesa do Consumidor,

6º, inciso III, do Código de Defesa do Consumidor reconhece em favor do consumidor – traduzindo um dever para o fornecedor – o direito de receber informações adequadas”.

E continua:

“A informação será clara, quando for facilmente percebida, compreendida, entendida e assimilada pelo consumidor. A clareza serve como instrumento de adequação da informação. O consumidor não pode ter dúvida de que está diante de uma mensagem do fornecedor. Além disso o consumidor deve ser capaz de decodificar a mensagem – informação – enviada pelo fornecedor”.

Consoante o escólio do autor, para o perfeito e integral cumprimento do dispositivo legal, não basta apenas que o fornecedor informe pura e simplesmente a periculosidade ou nocividade do produto ou serviço colocado no mercado de consumo, mas sim, fazê-la de forma que atinja a plenitude de seus consumidores, e que a referida mensagem seja incondicionalmente entendida por eles, caso contrário identificar-se-á uma transgressão ao princípio da informação previsto na Lei 8.078/90.

Para nós, o dever de informação previsto nos incisos tratados, é similar ao tratado no § 1º do art. 10 do CDC, e tem seu modo de efetivação delineado no § 2º do mesmo artigo, o qual deverá ser observado pelo fornecedor principalmente quando além de informar sobre a nocividade e a periculosidade dos produtos e serviços, decidir realizar o recall.

Sobre o tema, ensina Frederico da Costa Carvalho Neto43:

“No art. 10° proíbe a colocação de qualquer produto ou serviço que o fornecedor sabe ou devia saber ser nocivo à saúde ou segurança dos consumidores, criando a obrigação para o fornecedor que posteriormente a comercialização do produto ou prestação do serviço, descobrir qualquer problema ou potencial prejuízo à saúde ou segurança, de comunicar o fato aos consumidores através do recall.”