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1.10 Pórticos da formação do júri

1.10.4 O reconhecimento do júri

A origem próxima da instituição do júri ocorreu como decorrência das

deliberações registradas no IV Concílio de Latrão, o maior concílio ecumênico da

Idade Média, convocado pelo Papa I

NOCÊNCIO

III, através da Bula Vineam Domini

Sabaoth, de 10 de abril de 1213

231

. Em 1.º de novembro de 1215 tem início os

227 “Ao cidadão romano investido de poderes pela República, chamado Quaesitor, incumbia o exercício de

determinados direitos e deveres na condução do processo” (BARROS, 1997, p. 28).

228 “Julgado o réu, a absolvição acarretava sanção contra o acusador que agira temerária ou caluniosamente”

(ALMEIDA, 1973, p. 47, grifo do autor).

229“Essas características todas levam-nos à crença de que, em razão de tão expressivas coincidências, é nas

quaestiones perpetuae [...] que se encontra o embrião da instituição do júri brasileiro. [...] Tudo a mostrar,

enfim, que, mediata e imediatamente que seja, as quaestiones perpetuae do processo penal acusatório romano

se colocam como a celula mater da instituição do júri nacional” (TUCCI, 1999, p. 22-25).

230“Era, entretanto, muito diferente o júri romano. O traço de identidade – a faculdade de recusar alguns

juízes – justificava-se por esta forma: eram, em Roma, recusados juízes que, ou vendiam abertamente seus votos, ou vendiam-nos a tão alto preço que o recusador não podia pagar” (AZEVEDO, 1958, p. 178).

231 Em sentido contrário “certamente a figura pode ser dada como nascida na Inglaterra, a partir de

trabalhos desse concílio numa tentativa da Igreja de resolver graves problemas

internos, apresentando uma nova organização jurídica e reafirmando sua

hegemonia

232

.

A forma e estrutura empregadas na redação dos 70 (setenta) cânones do IV

Concílio de Latrão indicam que a elaboração desses escritos ocorreu por

especialistas em direito canônico e romano. Boa parte dos cânones trata da justiça e

dos procedimentos que deveriam ser tomados na aplicação do direito eclesiástico. A

busca por uma unidade religiosa, combatente da heresia e das demais crenças, levou

o concílio a abolir a prática das ordálias

233

, prática considerada cruel para o

julgamento dos acusados

234

.

Banida a forma de julgamento estribada nos juízos de Deus, havia a

necessidade de substituir esse procedimento por outro pautado em critérios mais

lógicos e racionais. Movida por essa necessidade, a Inglaterra

235

, sob forte influência

religiosa, desenvolveu uma nova sistemática de julgamento baseada na lembrança

dos 12 (doze) apóstolos

236

que, orientados pelo Espírito Santo, pronunciavam o

amor e a justiça. Era a concreta visualização do júri, forma de julgamento que se

propagou para outros países da Europa e da América

237

.

232Cf. BOLTON, Brenda. A reforma na Idade Média. Lisboa: Edições 70, 1985, p. 126-127.

233“Em 1215, o quarto Concílio de Latrão aboliu as ordálias, forma cruel de julgamento de Deus. Parece

atroz à nossa sensibilidade, parece absurdo ao nosso espírito de homens sensatos, ou que tal nos julgamos, – que se pudesse acreditar na manifestação do julgamento de Deus através da prova dos elementos. E que não houvesse outro meio de o acusado provar a sua inocência” (AZEVEDO, 1958, p. 178).

234Cf. SIQUEIRA FILHO, 1980, p. 147.

235 O júri “recebeu os primeiros traços da sua forma definitiva no solo britânico, depois da conquista

normanda, sob HENRIQUE II, extinguindo-se na França, de onde fora transplantado nos seus mais

grosseiros rudimentos com as Capitulares [...], na média idade inglesa é que ele revestiu a imagem, sob que

a era moderna o adotou” (BARBOSA, 1950, p. 28, grifo do autor).

“Os rudimentos do Jury na Inglaterra datam do reino de HENRIQUE II, nas constituições de Claredon (1164) e de Northampton (1174)” (MELLO, 1893, p. 11).

236 “Nascido na Inglaterra, depois que o concílio de Latrão aboliu as ordálias e os juízos de Deus, êle guarda

até hoje a sua origem mística, muito embora ao ser criado, retratasse o espírito prático e clarividente dos anglo-saxões” (MARQUES, José Frederico. A Instituição do Júri. São Paulo: Saraiva, 1963, v. I, p. 3).

O júri instituído no Brasil para julgar os crimes de abuso de imprensa reuniu-se “pela primeira vez, a 25 de junho de 1825, no Rio de Janeiro, para julgar o crime de injúrias expressas” (FRANCO, Ary Azevedo. O Júri e a Constituição Federal de 1946. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1956, p. 12).

237O novo modelo assumido para o julgamento baseava-se “na lembrança dos doze apóstolos, que haviam

recebido a visita do Espírito Santo, quando doze homens de consciência pura se reuniam sob a invocação divina, a verdade infalìvelmente se encontrava entre êles. Desta crença nasceu o júri” (AZEVEDO, 1958, p. 179).

Na constituição desse tribunal no ordenamento inglês

238

, previu-se a atuação

de dois órgãos colegiados nesse procedimento

239

. Após a comunicação oficial da

causa e da realização das medidas preliminares, o magistrado encaminhava a

acusação para ser apreciada pelo Grande Júri.

Esse segundo conselho – Grande Júri – formava-se por um número de

jurados entre 12 (doze) a 23 (vinte e três), sorteados dentre os cidadãos ingleses de

notória idoneidade e intelecção mínima, que deveriam decidir acerca da

admissibilidade acusatória, servindo à nação como fiscais da atuação acusatória pela

qual o indiciado era levado a julgamento

240

.

Admitida a acusação pelo Grande Júri, formalmente o indiciado tornava-se

réu e a causa era encaminhada para o Pequeno Júri, formado por 12 (doze)

integrantes, cidadãos ingleses possuidores de propriedades rurais que tinham a

incumbência de analisar o mérito da causa

241

. Dessa forma, com a atuação de dois

conselhos de jurados firmava-se o rito do júri no ordenamento inglês

242

.

238 “Entretanto, a propagação do Tribunal Popular pelo mundo ocidental teve início, perdurando até hoje, em

1215, com o seguinte preceito: ‘Ninguém poderá ser detido, preso ou despojado de seus bens, costumes e liberdades, senão em virtude de julgamento de seus pares, segundo as leis do país’” (NUCCI, 2008, p. 42, grifo

do autor).

239“O júri inglês, aliás, se desdobra em grande júri, que decide sobre a formação da culpa, e pequeno júri, que

profere o julgamento definitivo” (GRECO FILHO, 2009, p. 388, grifo do autor).

240“O Grande Jury he formado de Cidadãos escolhidos entre os maiores proprietarios de terras livres, e os

homens mais grados, que o Xerife inscrevera na sua relação, segundo os elementos que os Constables lhe

fornecerão. [...] Depois do juramento, o Juiz que preside a sessão faz o relatorio dos differentes pontos da materia, e os jurados retirão-se ao seo gabinete para examinar os documentos, e deliberar. [...] Se doze membros do Jury levantão as mãos direitas em abono da accusação, o Presidente escreve nas costas do auto della: accusação bem fundada, quando não, escreve: accusação não fundada” (AIGNAN, 1824, p. 88-90,

grifo do autor).

“Adotando o júri, as nações contemporâneas admitiram o número doze, não por arremedilho fútil, ou servil, da imaginação saxonia, mas porque êsse número, nem muito amplo, nem muito estreito... assegurava razoàvelmente as vantagens de uma deliberação coletiva no julgamento, e dificultava as pressões da corrupção e da fôrça” (MARQUES, 1955, p. 56).

241“Os doze Jurados, logo que entrão em exercicio, prestão cada hum de per si o Juramento seguinte: Juro de

bem, e sinceramente pronunciar nesta causa, de haver-me com franquesa e verdade entre o nosso Soberano Senhor o Rey, e o preso, que está na Barra, confiado á minha authoridade; e de proferir Verdict

conforme á verdade, e segundo as provas que me forem exhibidas. Ao passo que cada hum acaba de dar o seo juramento, o Juiz o convida a lançar os olhos sobre o Réo, para que a sua alma pentre de toda a compaixão, e indulgência, que forem compativeis com os seos deveres” (AIGNAN, 1824, p. 94).

242“Na Inglaterra, de resto, o caracter dos habitantes, pouco inclinados á sympathia pelos criminosos, duros

mesmo, e impiedosos para toda transgressão da lei, torna o jury ainda possivel, lá, sem dizer que elle está organizado de uma maneira inteiramente diferente dos outros paizes do continente, porque elle não é chamado a julgar senão os accusados que querem sustentar sua innocencia completa, ou, o que dá no mesmo, aquelles contra os quaes não ha senão indicios” (REZENDE, Astolpho. Nos domínios da criminologia. Rio de Janeiro: Companhia Brasil Editora, 1939, v. I, p. 625).

O modelo do Tribunal do Júri estabelecido na Inglaterra foi adotado pelos

Estados Unidos da América no século XVII. A instituição foi contemplada no

contexto da Carta Régia outorgada aos primeiros imigrantes que tiveram a

incumbência de efetuar a colonização das terras americanas

243

.

Com isso foi o Tribunal do Júri adotado como modelo de julgamento para

todas as infrações penais nos Estados Unidos, sendo historicamente reconhecido

pelo povo americano como um dos símbolos mais caros à liberdade

244

, um dos

baluartes do exercício da cidadania e um paradigma de preservação das liberdades

civis

245

.

E também foi firmado no ordenamento norte-americano com base no

funcionamento de dois colegiados de jurados. Ao Grande Júri, composto de 24

(vinte e quatro) cidadãos de bom nível intelectual, era atribuída a análise da

admissibilidade acusatória, ao passo que ao Pequeno Júri, formado de 12 (doze)

cidadãos da classe média, reservava-se a análise do mérito da causa

246

.

Com os acontecimentos que se sucederam na França, entre 05 de maio de

1789 e 09 de novembro de 1799, o quadro político e social dessa nação sofreu uma

profunda mudança. Com os reflexos da independência norte-americana, ocorrida

em 1776, eclodiu a Revolução Francesa em meio a um instável quadro

socioeconômico que revelava a elevada desigualdade social, altos índices de

243“O Júri foi uma das instituições mais antigas das colônias inglesas na América do Norte [...]. A patente

dada, em 1629, aos colonos de Plymouth, os pais da América atual, assegurava-lhes entre ‘as livres liberdades do livre povo inglês’ [...], santificadas quase na mesma linguagem da Magna Carta quatro séculos antes, o julgamento pelo júri. Já então se reputava, entre os americanos, uma das leis fundamentais [...] se poderia observar a relação, invariável em toda parte, entre o júri e a liberdade; porque essa derrogação à generalidade americana tinha a sua causa na feição teocrática, de que se revestia ali a sociedade colonial: prescindiu-se no júri em razão de não se lhe encontrar apoio nas leis de Moisés. [...] ‘o julgamento geral de todas as causas pelo júri se achava tão universalmente, estabelecido nas colônias como na metrópole’” (BARBOSA, 1950, p. 28-29).

244 Cf. TUCCI, 1999, p. 29.

245“Nesse sentido, o Tribunal do Júri tem a característica ideológica, no sistema norte-americano, de ser um

instrumento de materialização da Justiça, preservando o ideal de tornar o processo criminal, na sociedade, o hábil instrumento para se chegar à solução justa no âmbito do controle jurídico-penal, no qual se projetam o exercício da cidadania e a segurança dos cidadãos com zelo às liberdades civis e aos direitos humanos” (OLIVEIRA, Edmundo. O Tribunal do Júri na administração da justiça criminal nos Estados Unidos. In: TUCCI, Rogério Lauria (Coord.). Tribunal do Júri: estudo sobre a mais democrática instituição jurídica brasileira. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999, p. 100).

tributação às classes menos favorecidas, desemprego generalizado pelo país e

exploração do trabalho humano

247

.

Sob o pavilhão do Iluminismo

248

o considerado terceiro estado – o povo e a

burguesia – rumou para a deposição da monarquia e a instituição de um governo

democrático. A lei passou a ser considerada como a única expressão autêntica da

vontade geral do povo, o comando legítimo do novo Estado

249

.

A Revolução Francesa é considerada como o acontecimento que marca o

início da Idade Contemporânea proclamando a tríade universal da liberdade, igualdade

e fraternidade, atribuída ao filósofo J

EAN

-J

ACQUES

R

OUSSEAU250

. Esse movimento é

analisado historicamente em quatro distintas fases

251

: a Assembleia Constituinte; a

Assembleia Legislativa; a Convenção e o Diretório.

Uma das principais medidas assentadas pela Assembleia Constituinte

francesa foi a organização na estrutura da justiça. Corolário dessa providência foi

247Cf. HUMBERMAM, Leo. História da riqueza do homem. 21 ed. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos,

1986, p. 149-150.

248“Na realidade, o grande mérito dos iluministas, mais do que contribuir e por em prática idéias novas e

originais, foi concorrer para ordenar, depurar, aclarar e desenvolver a herança recebida daqueles pensadores e, nesse processo de reelaboração, dar surgimento a uma nova perspectiva à própria filosofia, libertando-a dos sistemas metafísicos fechados e auto-suficientes do século anterior e dos axiomas definidos e imutáveis que a caracterizam até então” (SILVA, Edson Pereira Belo da. Tribunal do Júri – ampliação de sua competência para julgar os crimes dolosos com evento morte. São Paulo: Iglu, 2006, p. 24-25).

249“Com a Revolução Francesa, por conseguinte, surge uma realidade histórica de cuja importância muitas

vezes nos olvidamos: o Direito nacional, um Direito único para cada Nação, Direito este perante o qual todos são iguais. O princípio da igualdade perante a lei pressupõe um outro: o da existência de um único Direito

para todos que habitam num mesmo território” (REALE, 1995, p. 152, grifo do autor).

250 O filósofo, escritor, músico e político suíço JEAN-JACQUES ROUSSEAU (1712-1778) defendeu que a

liberdade natural é caracterizada pelas ações tomadas pelo indivíduo com o fito de satisfazer seus instintos, suas necessidades, devendo viver em harmonia e completude com a natureza. O modelo de Estado proposto por ROUSSEAU no Contrato Social assegura a liberdade de cada indivíduo através da

independência individual e da livre participação política. Nesse sentido: NISBET, Robert. Os filósofos sociais.

Brasília: Universidade de Brasília, 1982, p. 09-26; ROLLAND, Romain. O pensamento vivo de ROUSSEAU. São Paulo: Livraria Martins, 1960, p. 18-44.

251 A Assembleia Constituinte ocorreu entre 09 de julho de 1789 e 30 de setembro de 1791. A fase da

Assembleia Legislativa ocorreu entre 08 de outubro de 1791 e 07 de setembro de 1792. A Convenção Nacional francesa, dominada pelos jacobinos, funcionou entre 20 de setembro de 1792 até 26 de outubro de 1795. Teve como principal mote a preparação de uma nova Carta Política para a França após o movimento contra-revolucionário liderado pelo Rei LUÍS XVI durante a Revolução Francesa. O Diretório

existiu entre 1795 e 1799 constituindo a aliança entre a burguesia e o exército. Esse movimento foi responsável pela nova Constituição francesa após o golpe de Estado preparado pela burguesia e denominado de Reação Termidoriana. O Diretório sofreu severa oposição dos jacobinos e dos radicais defensores do sistema igualitário. Nesse sentido: HOBSBAWM, Eric J. A Era das Revoluções: 1789-1848. 18

editado o decreto de 30 de abril de 1790 adotando o júri criminal como um dos

órgãos do Poder Judiciário daquela nação

252

. Contudo, pela forma como foi

albergado no ordenamento francês, o júri recebeu contorno essencialmente

político

253

.

Não obstante a isso, pode-se notar que o modelo francês adotado para o

Tribunal do Júri conservou o formalismo e a mítica pelo qual a instituição foi

concebida em solo inglês, principalmente ao se observar a estrutura dos dois juízos

que compunham o procedimento: o júri de acusação – que analisava a

admissibilidade acusatória – e o júri de julgamento – que analisava o mérito da

causa

254

.

Com isso o processo penal francês ficou pavimentado sobre três distintas

fases, quais sejam: a instrução preparatória; o júri de acusação – composto de 8 (oito)

membros sorteados de uma lista de 30 (trinta) cidadãos; e a fase de debates diante de

um júri de julgamento – formado por 12 (doze) jurados sorteados de uma lista de 200

(duzentos) cidadãos. O voto de cada jurado era proclamado oralmente por cada

qual, sem a necessidade de motivação

255

. Paulatinamente houve uma restrição da

competência do júri na França e uma consequente alteração na sua forma e

estruturação.

252“Na França, a instituição do Jury data de 1791. Esta foi organizada pela Constituinte, tendo entretanto, a

sua origem no seculo de LUIZ XIV. [...] A differença existente entre os dois systemas é que: o Jury inglez reconhece certas leis em materia de provas, e não póde, quando condemna, entregar-se exclusivamente a intima convicção. O Jury francez, como o nosso, não admitte, que os jurados estejam adstrictos á regras jurídicas e a sua única lei è a convicção” (MELLO, 1893, p. 10-12).

253 Em princípio a França orientou-se pelo modelo do júri inglês, mas “conferiu-lhe caráter eminentemente

político, implicativo de modificações determinadas em decorrência das variações experimentadas em eventos dessa natureza. Adotou-se, então, desde logo, a publicidade dos debates, quer orais, quer escritos; a par da determinação de que o júri funcionaria nas causas criminais” (TUCCI, 1999, p. 30).

“Bebendo na fonte inglesa e na fonte americana a idéia das garantias individuais, a revolução francesa assimilou a grande instituição tutelar da justiça criminal, posto que lamentavelmente alterada pelas preocupações da democracia nascente, que, rejeitando o princípio inglês da capacidade [...] confundindo o jurado com o eleitor” (BARBOSA, 1950, p. 34-35).

“Como conta NOBILI, os acontecimentos políticos do período da Revolução Francesa e os imediatamente

posteriores; a ausência de uma consciência difusa, que tutelasse o Júri e as conquistas de 1779-1791; a falta de uma tradição cultural adequada, contribuíram para conturbar os lineamentos e a estrutura do novo sistema que substituía aquele do direito comum” (GRINOVER, 1982, p. 40).

254Cf. AZEVEDO, 1958, p. 179.

255 Uma importante distinção entre o modelo de júri inglês e o francês se faz notar “ao passo que a

condenação do acusado na Inglaterra dependia da unanimidade de votos dos jurados, a Constituinte Francesa de 1790 admitiu o resultado por maioria” (TUCCI, 1999, p. 30)

A partir daí percebe-se que o Tribunal do Júri foi adotado por um expressivo

rol de nações

256

, cada qual adaptando a estrutura dessa secular instituição às raízes

próprias de sua existência

257

, conformando os padrões de julgamento criminal às

necessidades repressivas e mantendo sempre atrelados à índole dessa instituição os

ideais de participação popular no julgamento de seus pares

258

.

256 Cf. ROMANO, Santi. Princípios de direito constitucional geral. Trad.: Maria Helena Diniz. São Paulo: RT, 1977,

p. 47-49.

257 “No decorrer dos tempos e transplante para outros lugares, o Júri foi tomando feições próprias,

apresentando peculiaridades características, e, conseqüentemente, diferenças marcantes nos diversos países. Assim, na Itália, foi substituído pelo escabinado, o mesmo sucedendo na França (l’echevinage), ou seja,

por um tribunal composto de juízes togados e jurados” (NORONHA, 1969, p. 258, grifo do autor). “No correr da história e nos diversos países, apresentou ele grandes variações de estrutura, como o

escabinado (tribunal misto, em que o juiz togado também vota), de origem germânica ou franca, e o assessorado, de origem italiana” (GRECO FILHO, 2009, p. 388, grifo do autor).

258 “A área geográfica do júri é, portanto, a da civilização moderna. Onde quer que ela aponte, ou desponte,

vereis, quase logo, com o cristianismo, a escola popular e o sistema representativo, a magistratura dos jurados” (BARBOSA, 1950, p. 43).

CAPÍTULO II

ANTECEDENTES NA FORMAÇÃO DO

PROCEDIMENTO DO JÚRI NO BRASIL