• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 3 – ASPECTOS GERAIS DO PCP

3.6 O relacionamento entre os PEGEMs e aspectos importantes do controle da produção

Os modelos de relacionamento ligando os PEGEMs e aspectos importantes do Controle da Produção foram assim definidos por GODINHO (2004):

§ Os níveis de repetitividade dos sistemas de produção discretos; § As formas de resposta à demanda;

§ Os Sistemas de Coordenação de Ordens de Produção e Compras (SICOPROCs);

§ Os sistemas de programação da produção com capacidade finita.

O modelo de relacionamento entre os PEGEMs e os níveis de repetitividade dos sistemas de produção discretos foram discutidos em primeiro lugar. Referente a esta relação tem que a Manufatura em Massa Atual (MMA) está relacionada ao nível de repetitividade produção em massa, uma vez que este PEGEM tem como objetivo ganhador de pedidos a produtividade e, portanto trabalha com altos volumes de produção, nenhuma

diversidade e baixa / média diferenciação, que é exatamente o caso deste nível de repetitividade. A Manufatura Enxuta (ME) também pode trabalhar com o nível de repetitividade Produção em Massa, porém o foco deste paradigma é, sem dúvida, os sistemas repetitivos, uma vez que a ME, tendo como objetivo qualificador a flexibilidade de curto prazo, deseja uma alta diferenciação, permitindo também ao menos uma pequena diversidade. Porém a ME não é adequada para tratar alta diversidade. A Manufatura Responsiva (MR) é o paradigma mais adequado para tratar a diversidade, uma vez que o objetivo responsividade engloba a variedade 2 (alta variedade de coisas distintas) como objetivo ganhador de pedidos. Portanto a MR está intimamente ligada ao nível de repetitividade semi-repetitiva a qual envolve uma média diversidade e uma alta diferenciação. Apesar de acreditar que o ambiente semi-repetitivo seja o ideal para a MR, também é possível que, em casos específicos, a MR trabalhe em ambientes repetitivos e não repetitivos. Os PEGEMs Customização em Massa (CM) e Manufatura Ágil (MA) também estão relacionados a níveis baixíssimos de repetitividade (sistemas semi-repetitivos, não repetitivos e grandes projetos), uma vez que os objetivos buscados por estes dois PEGEMs (customabilidade e agilidade respectivamente) só podem ser alcançados em ambientes com baixos graus de repetitividade. Dentre estes três ambientes de produção o mais provável é que a Customização em Massa e a Manufatura Ágil trabalhem em ambientes não repetitivos, uma vez que é exatamente nestes ambientes que o nível de diversidade dos produtos é o mais alto. Com relação aos grandes

projetos ele também pode ser um ambiente possível para estes dois paradigmas, porém não necessariamente um ambiente de grande projeto indica a existência de uma Customização em Massa ou de uma Manufatura Ágil.

A figura 10 mostra estes relacionamentos entre os níveis de repetitividade de sistemas de produção discretos e os PEGEMs. GODINHO (2004) ilustra com uma linha mais grossa os níveis de repetitividade mais prováveis para cada PEGEM.

Ainda na figura 10 pode-se observar o relacionamento entre os PEGEMs e as formas de resposta dos sistemas de produção à demanda. A MMA está totalmente relacionada à política Make to Stock, uma vez que neste paradigma produz-se inteiramente para estoque. Com relação à ME, apesar da literatura associar bastante este paradigma à produção puxada e ao intuito de reduzir estoques e combater desperdícios, acredita-se que este paradigma na verdade é bastante com produção para estoque; é claro que estes níveis de estoque devem ser em nível bem menor que a MMA uma vez que a pequena diversidade e a diferenciação maior que na MMA leve a uma necessidade de se reduzir os estoques de produtos finais; em alguns casos também as políticas Assembly to Order e Make to Order 1 podem ser utilizadas de forma a tentar obter uma redução dos níveis de estoque no ambiente da ME. A MR, associada à alta variedade de produtos, deve utilizar bastante de políticas Assembly to Order e Make to Order (1 e 2), pois a

política de produção para estoque em sistemas com alta diversidade é muito custosa.

Níveis de Repetitividade

Produção em

Massa Repetitivo Semi-Repetitivo Não Repetitivo

Grandes Projetos PEGEMs: Manuaftura em Massa Atual Manufatura Enxuta Manufatura Responsiva

Customização em Massa e Manufatura Ágil

Formas de resposta à demanda:

Make to stock Assembly to order Make to order 1 Make to order 2 Engineering to order

Figura 10: A relação entre os PEGEMs, níveis de repetitividade dos sistemas de produção discretos e estratégias de resposta à demanda.

Já a CM e MA, além de estarem relacionadas a formas de gestão da demanda voltadas à alta diversidade (políticas Assembly to Order e Make to

Order 1 e 2), também estão associadas à política Engineering to Order, uma

vez que, muitas vezes, nestes paradigmas, o projeto também é feito sob encomenda.

A proposta de relacionamento entre os PEGEMs e os SICOPROCs é mostrada na tabela 6. Esta tabela traz os SICOPROCs mais adequados para cada PEGEM. Esta tabela foi elaborada a partir da junção da figura 9 e da tabela 3. Aos SICOPROCs tratados por MACCARTHY & FERNANDES (2000), foram incluídos outros SICOPROCs importantes, tais como CONWIP H.

PEGEMs SICOPROCs que podem ser utilizados

Manufatura em Massa Atual

Planilhas

Manufatura Enxuta Kanban, PBC (ou SPBC)

Manufatura Responsiva PBC (ou SPBC), OPT, CONWIP H, sistema de alocação de carga por encomenda.

Customização em Massa MRP, PERT/CPM, PBC (ou SPBC), OPT, sistema de alocação de carga por encomenda, sistemas especiais ou adaptados para tratar customização.

Manufatura Ágil MRP, PERT/CPM, PBC (ou SPBC), OPT sistema de alocação de carga por encomenda, sistemas especiais ou adaptados para tratar características da Manufatura Ágil, como, por exemplo, empresas virtuais.

Tabela 5: A relação entre os PEGEMs e os SICOPROCs.

Como se pode observa na tabela 5, a MMA tem como SICOPROC ideal uma simples planilha para controlar a taxa de produção, uma vez que esta é suficiente para tratar o altíssimo grau de repetitividade deste paradigma. A ME, por trabalhar também em sistemas repetitivos tem no

Kanban e no PBC sistemas ideais (para MACCARTHY & FERNANDES,

2000, o Kanban e o PBC são sistemas ideais para a manufatura repetitiva). A MR está relacionada aos níveis de repetitividade desde o repetitivo até o não repetitivo. Portanto de acordo com a metodologia daqueles dois autores poderia se utilizar os seguintes SICOPROCs: o Kanban (para sistemas repetitivos), o PBC e o OPT (para sistemas semi-repetitivos) e o MRP (para sistemas não-repetitivos). Destes sistemas, acredita-se que somente o PBC e o OPT estejam realmente relacionados à MR. A razão para se excluir o

Kanban da MR é que este sistema só seria responsivo em situações muito

específicas: o tempo de setup desprezível, baixa diversidade de itens e demanda estável. Estas condições são muito raras em um ambiente de MR, o qual será provavelmente um ambiente semi-repetitivo. Caso se tratar de um ambiente repetitivo apresentará com certeza altíssima diferenciação e, portanto dificilmente será passível a utilização do Kanban. Portanto ao invés de se utilizar o Kanban em ambientes repetitivos com alta diferenciação (dentro da MR) sugere-se que seja utilizado o CONWIP H o qual, será de acordo com SPEARMAN et al (1990), mais adequada para tratar de uma maior variedade que o Kanban. Além disso, o CONWIP H tende a ser mais responsivo que o CONWIP EC, pois trabalha baseado em um programa

mestre o qual deve utilizar algoritmos de programação os quais conferem responsividade ao sistema (HERER & MASIN, 1997; mostram um algoritmo para a geração do MPS para sistemas CONWIP). Já com relação ao MRP, não foi incluído este sistema na MR por se acreditar que este sistema, apesar de ser adequado para sistemas não repetitivos, não tenha potencial para trazer responsividade ao sistema de produção. Caso o ambiente de produção na MR apresente características não repetitivas sugere-se que seja utilizado o sistema de alocação de carga por encomenda, o qual de acordo com FERNANDES (2003b) é um sistema aplicáve l em sistemas não repetitivos e tem potencial para trazer responsividade aos sistemas de produção. Finalmente, com relação à CM e à MA, associadas a sistemas semi-repetitivos, não repetitivos e grandes projetos temos que o PBC, o OPT, o MRP e o PERT/CPM são sistemas adequados, além é claro também do sistema de alocação de cargas sob encomenda.

Para a Customização em Massa os sistemas devem ser adaptados para tratar a customização ou então outros sistemas especiais devem ser utilizados. Para o caso específico da Manufatura Ágil, além dos SICOPROCs citados haverá também a necessidade da utilização de sistemas especiais voltados à MA, como por exemplo, capazes de tratar empresas virtuais. Nas palavras de GUNASEKARAN (1999): “somente os sistemas de Planejamento e Controle da Produção tradicionais não são suficientes para satisfazer as necessidades de planejamento e controle de uma Manufatura Ágil”.

Feita a análise da relação entre as PEGEMs e os SICOPROCs usados na manufatura de itens discretos na atualidade, uma última observação é válida referente a esta relação PEGEM-SICOPROC. Em muitos casos específicos a utilização de SICOPROCs híbridos tem potencial para melhorar a performance de tais sistemas, contribuindo para o atendimento dos objetivos estratégicos.

A proposta de relacionamento entre os PEGEMs e a classificação de sistemas de programação finita da produção proposta por CORREA et al (2001), complementada por mais dois aspectos propostos, é mostrada na tabela 6 esta tabela foi proposta por GODINHO (2004) a partir da relação entre o objetivo ganhador de pedidos de cada PEGEM com a classificação de sistemas de programação finita da produção. Somente foi excluído o grau de interação do usuário por acreditar que não há diferença entre os PEGEMs com relação a este fator.

Na tabela 6, a MMA, tendo na produtividade (e conseqüentemente baixíssima variedade) seu objetivo ganhador de pedidos, necessitará somente de um sistema de programação simples, utilizando somente uma planilha ou no máximo uma regra de liberação simples voltada à programação da produção. Neste caso a função objetiva a ser minimizada deve estar ligada ao objetivo custo, como por exemplo, o tempo médio de fluxo. O sistema deve estar ligado à resolução de um problema em ambiente de máquina única e flow-shop (ambas as situações podem ter máquinas em paralelo), arranjos característicos da MMA. Algumas diferenças se devem ao

maior grau de diferenciação da ME: o problema muitas vezes pode pedir soluções em ambientes flow-shop com máquinas em paralelo.

Manufatura em Massa Atual Manufatura Enxuta Manufatura Responsiva Customização em Massa Manufatura Ágil Quanto ao método de solução de problemas Regras de liberação Regras de liberação Todos os métodos Regras de liberação e modelos matemáticos heurísticos Regras de liberação e modelos matemáticos heurísticos Quanto à abrangência das decisões Programação da produção Programação da produção Programa mestre e Programação da produção Programação da produção Programação da produção Quanto à função objetivo Minimização do tempo médio de fluxo Minimização do tempo médio de fluxo Minimização do tempo máximo de atraso, do número de tarefas em atraso e do makespan Qualquer função objetivo Qualquer função objetivo Quanto ao tipo de padrão de fluxo Problemas em máquina única, máquinas em paralelo e flow shop Problemas em máquina única, máquinas em paralelo e flow shop e flow shop com máquinas em paralelo Problemas para todos os tipos de padrões de fluxo Problemas para todos os tipos de padrões de fluxo Problemas para todos os tipos de padrões de fluxo

Tabela 6: A relação entre os PEGEMs e uma classificação dos sistemas de programação com capacidade finita.

Fonte: GODINHO (2004).

Já os outros PEGEMs, com o aumento da variedade e complexidade necessitarão de sistemas de programação mais complexos. O destaque é para a MR, a qual, priorizando o tempo como seu principal objetivo ganhador

de pedidos, tem na programação uma atividade vital. Neste paradigma as funções objetivas estão ligadas à minimização do tempo e número de tarefas em atraso, bem como do makespan. Além disso, todos os métodos de solução de problemas relacionados a todos os tipos de padrão de fluxo podem ser utilizados. Outra observação com relação à MR é que neste paradigma também é necessária, em prol de uma maior responsividade, a utilização de um sistema de programação que realize também as funções de programa mestre de produção (MPS) e não somente programação da produção. A CM e a MA, com graus altíssimos de variedade, também necessitam de sistemas de programação para os mais diferentes padrões de fluxo, porém a complexidade deste método é o que diferencia a programação nestes paradigmas em relação à MR. Enquanto a MR, a tempo é o principal objetivo e, portanto não se poupam esforços (também em termos de custos) para se conseguir reduzi-lo, na CM e MA existem outros objetivos ganhadores de pedido (respectivamente customabilidade e agilidade). Portanto, métodos muito complexos, muitas vezes custosos demais, e que não contribuem para estes dois objetivos, tendem a ser descartados por estes dois paradigmas, o que não deve ocorrer na MR.