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O SERVIÇO SOCIAL EUROPEU (ESPANHA) E O ESPAÇO EUROPEU DE

No documento DOUTORADO EM SERVIÇO SOCIAL SÃO PAULO 2010 (páginas 94-105)

2. AS DIRETRIZES CURRICULARES DO CURSO DE SERVIÇO SOCIAL

2.4 O SERVIÇO SOCIAL EUROPEU (ESPANHA) E O ESPAÇO EUROPEU DE

A apresentação deste item objetiva ilustrar como docentes, estudantes e profissio- nais da Espanha construíram o ―Livro Branco‖ que é a diretriz para os cursos de Serviço So- cial, no sentido de adaptá-lo às exigências do EEES. Não se tem intenção de comparar à reali- dade dos cursos de Serviço Social da Europa/Espanha à realidade brasileira, pois como disse o professor Antonio Cappi (INEP 2006, p. 214) no evento sobre ―modelos institucionais de E- ducação Superior‖:

O Protocolo de Bolonha não pode, simplesmente, ser o modelo do ensino superior para um país continental, como o nosso, em que na educação superior ingressa todo tipo de aluno. Há alunos superdotados (ou melhor, supertreinados), escolhidos em processos de seleção disputadíssimos. É o que acontece nos cursos mais concorridos das universidades federais, públicas e gratuitas e em alguns cursos de universidades privadas. Há, porém, alunos oriundos de ensino básico deficiente, que mal sabem ler e escrever e que passaram no vestibular por falta de candidatos com quem competir numa seleção.

Outro ponto que também deve ser considerado é o processo de adaptação da Es- panha ao EEES. Este processo tem sido realizado, segundo Bolivar (2009), de maneira acríti- ca e adotando integralmente as referências do projeto Tuning22.

Na Espanha, a Agência Nacional de Avaliação da Qualidade e da Creditação (ANE- CA), encarregada de orientar e supervisionar o processo, desde o primeiro momento, adotou (e impôs em suas respectivas convocatórias) um modelo único de proposta baseado as competências, de acordo com a formulação que o Tuning havia realizado. (p. 103).

O projeto Tuning utiliza uma metodologia indutiva na seleção de competências de cada perfil profissional, que é realizada por meio de questionários aplicados a profissionais, estudantes e empregadores, partindo do ponto de vista empírico para a formulação de um ran- king de competências. Esta proposta é a mesma adotada pelo Tuning América Latina que já envolveu no projeto 182 universidades latino-americanas com oito áreas de conhecimento: arquitetura, direito, enfermagem física, geologia, engenharia, medicina e química. O serviço social ainda não foi chamado para participar do projeto.

A Declaração de Bolonha (1999) estabeleceu que até 2010, deva ser consolidado o Espaço Europeu de Educação Superior, que visa a uma maior empregabilidade dos cidadãos, mobilidade dos estudantes, professores, pesquisadores, pessoal administrativo europeu, au- mentando a competitividade internacional dos sistemas de ensino superior.

No intuito de concretizar o EEES, é preciso que as estruturas educativas dos dife- rentes países sejam passíveis de comparação tornando possível o reconhecimento de cursos concluídos em outros países. A comparação respeitará a diversidade. Então, a comparação será baseada em um modelo flexível, que reconheça os conhecimentos básicos transmitidos por outros sistemas e a qualidade de outras instituições.

Para a adequação a ANECA23 – Agencia Nacional de Evaluación de La Calidad y Acreditación – fez convocação de ajuda para a elaboração do Livro Branco em que é dese- nhado o plano de estudos e títulos de graduação. A convocatória exigia a participação do mai-

22 Em inglês a expressão tune significa sintonizar uma determinada frequência de rádio. O termo também é utili-

zado para descrever afinação de instrumentos de uma orquestra. O Projeto Tuning se propõe a articular pessoas e instituições do campo da Educação, fomentando estudos e debates sobre as estruturas educativas e conteúdos no âmbito do Ensino Superior. Não se propõe a realizar a unificação de currículos, e sim a apoiar as instituições de ensino e pessoas vinculadas a elas, a identificar aspectos comuns e referências em seus programas. O Projeto TUNING AMÉRICA LATINA acontece desde 2004, com a participação MEC/INEP e de universidades brasilei- ras. Informações estão disponíveis no site http://tuning.unideusto.org/tuningal/index.php.

or número de universidades possível. Antes da edição, os Livros Brancos de cada curso são avaliados por uma comissão do Programa de Convergência Europea da ANECA.

A comissão de avaliação para o desenho do curso do Serviço Social foi coordena- da pelo professor Octavio Vásquez Aguado, da Universidade de Huelva. O grupo de trabalho era misto com a participação de professores e alunos de 32 Universidades Espanholas e a par- ticipação de profissionais através do Consejo General de Diplomados em Trabajo Social y Assistentes Sociales. Durante seis meses, a comissão realizou vários eventos, entre eles um grande seminário de trabalho com a participação de mais de 30 colégios profissionais existen- tes na Espanha. Na União Européia, não há uma norma para a profissão de assistente social.

Para a elaboração do Livro Branco em Trabalho Social24, foi realizada uma análi- se macro e micro da situação dos estudos em trabalho social. Na Europa, foram analisados os cursos de 27 países25 com o objetivo de conhecer o programa e a formação de graduação dos profissionais de trabalho social no Espaço Europeu de Educação Superior. Verificou-se que todos os países introduziram as mudanças na educação superior por exigência da convergên- cia europeia, inclusive na titulação de trabalho Social. A estrutura de educação superior dos países é heterogênea, consequentemente a formação em trabalho social difere muito nos paí- ses pesquisados. De forma geral, os créditos ECTS não estão implantados, o que dificulta as comparações.

Em relação à denominação mais comum adotada nos diferentes países é de Traba- lho Social, com exceção dos países que mantêm a denominação relacionada com a assistência social (parte francesa da Bélgica, Itália, França, Portugal e Romênia, na Alemanha pode haver dupla titulação: Trabalho Social/ Pedagogia Social). Nos países europeus, há uma diversidade na formação. Em relação à duração dos cursos na maioria dos países é de três anos, mas exis- tem ainda alguns com a duração de quatro anos (Alemanha, Áustria, Eslovênia, Chipre, Ho- landa, Hungria, Letônia, Malta, Portugal, Reino Unido/Escócia e Romênia).

Em todos os países estudados para a elaboração do livro Branco, a formação em Trabalho Social se integra na educação superior em 57,7% em universidades e 42,3% em ins- tituições de ensino superior não universitária, mas que estão integradas ao sistema de educa- ção superior dos respectivos países. O estudo conclui que a formação em trabalho Social deve

24 No desenvolvimento deste item se utilizará trabalho social no lugar de serviço social, por ser a tradução mais

adequada para a profissão na Espanha e na maioria dos países da Europa.

25 Os países pesquisados foram: Alemanha, Áustria, Bélgica,Chipre, Dinamarca, Eslováquia, Eslovênia, Estônia,

Finlândia, França, Grécia, Holanda, Hungria, Irlanda, Itália, Letônia, Lituânia, Luxemburgo, Malta, Noruega, Polônia, Portugal, República Checa, Suécia, Reino Unido, Romênia.

integrar a vertente acadêmica, com sólida base científica e com uma formação prática que assegure a aquisição das competências instrumentais específicas da formação profissional.

O objetivo de todos os programas estudados é a qualificação de Trabalhadores Sociais, entendendo trabalho social de acordo com a definição profissional adotada interna- cionalmente:

O exercício da profissão de assistente social ou trabalhador social promove a mu- dança social, a resolução de problemas no contexto das relações humanas e a capa- cidade e empenhamento das pessoas na melhoria do "bem – estar". Aplicando teori- as de comportamento humano e dos sistemas sociais, o trabalho social focaliza a sua intervenção no relacionamento das pessoas com o meio que as rodeia. Os princípios de direitos humanos e justiça social são elementos fundamentais para o trabalho so- cial. (INTERNATIONAL FEDERATION OF SOCIAL WORKERS, 2005).

A pesquisa também identificou que os programas utilizam os propósitos do Traba- lho Social reconhecido pela Associação Internacional de Escolas de Trabalho Social (AI- ETS)26:

 Facilitar a inclusão dos grupos de pessoas marginalizadas, socialmente excluí- das, despossuídas, vulneráveis e em risco;

 Dirigir e defender as barreiras, iniquidades, desigualdades e injustiças que exis- tem na sociedade;

 Assistir e mobilizar indivíduos, famílias, grupos e comunidades para aumentar seu bem estar e capacidade para solucionar problemas;

 Fomentar o comprometimento das pessoas na defesa de assuntos pertinentes, internacionalmente, nacionalmente, regionalmente e localmente;

 Defender a formulação e implementação de políticas coerentes com os princí- pios éticos da profissão;

 Defender as mudanças das condições estruturais que mantém as pessoas em condições marginais, despossuídas e vulneráveis;

 Trabalhar para a proteção de pessoas que não estão em condições de fazê-lo por si mesmas, por exemplo, crianças que necessitam de cuidados e pessoas que sofrem de doenças mentais ou deficiência mental, dentro dos parâmetros de uma legislação aceitável e eticamente.

26 O documento: Estándares globales de calificación para la educación y capacitación en Trabajo Social, está disponível em espanhol no site: http://www.ifsw.org/cm_data/GQSSWET_es.pdf .

As instituições pesquisadas também recorrem às considerações do ―Conselho de Ministros de Trabalho Social da Europa‖ que reconhece o papel do trabalho social como pro- fissão, qualificando como investimento no bem estar futuro da Europa e recomendando que a formação seja de acordo com sua natureza profissional, que requer o mais alto nível de res- ponsabilidade em torno das decisões, maturidade e elevado nível de competência, portanto, requer uma formação profissional adequada.

Os programas analisados apresentam algumas características comuns em relação ao perfil formativo: uma formação básica geral, fundamentalmente em ciências aplicadas, psicologia e direito; uma formação específica em trabalho social (teoria e prática) e formação para poder atuar diante das novas realidades como a convergência educativa europeia, as so- ciedades multiculturais e a internacionalização do trabalho social.

De acordo com o Livro Branco, a nova realidade de convergência europeia em torno da educação, títulos e perfis profissionais, a formação profissional se converte no prin- cipal componente da formação técnica universitária. A formação do trabalhador social tem passado por muitas modificações ao longo da história, especialmente a partir da década de 1990 com as transformações tecnológicas, econômicas e sociais que geram mudanças nos conteúdos, métodos e formas sociais de trabalho.

Se tradicionalmente se adquiria uma formação para toda a vida, na atualidade a formação está presente ao longo de toda a vida, se antes o trabalhador social era formado para ser polivalente, hoje deve ser formado também para a especialização.

O conceito de competência adotado no Livro Branco tem o enfoque holista, em que a competência profissional mobiliza uma série de atributos para trabalhar exitosamente em diferentes contextos e com diferentes situações emergenciais. Os conhecimentos se com- binam com habilidades e percepção ética dos resultados do trabalho, com a capacidade de comunicar e entender os pontos de vista dos companheiros de profissão e dos usuá- rios/clientes, habilidade de negociar e fazer intercâmbio de informações.

O perfil profissional é a descrição de competências e habilidades necessárias para o desempenho de uma profissão e das condições para o desenvolvimento profissional. O do- cumento entende que o trabalhador social é um profissional da ação social que tem uma com- preensão ampla das estruturas e processos sociais, das mudanças sociais e do comportamento humano, que lhe capacitam para:

 Intervir em situações sociais que vivem indivíduos, famílias, grupos, orga- nizações e comunidades, assistindo, manejando conflitos e exercendo me- diação;

 Participar na formulação de políticas sociais;

 Contribuir na cidadania ativa, mediante o empoderamento e a garantia de direitos sociais;

Todos eles têm o objetivo de contribuir, em conjunto com outros profissionais da ação social para:

 A integração social de pessoas, famílias, grupos, organizações e comuni- dades;

 A constituição de uma sociedade coesa;

 O desenvolvimento da qualidade de vida e bem estar.

A comissão definiu as seguintes competências profissionais para o trabalhador so- cial:

1. Capacidade para trabalhar e avaliar de maneira conjunta com pessoas, fa- mílias, grupos, organizações e comunidades, suas necessidades e circuns- tâncias.

2. Planejar, implementar, revisar e avaliar a prática do trabalho social com pessoas, famílias, grupos, organizações e comunidades e com outros pro- fissionais.

3. Apoiar as pessoas para que sejam capazes de manifestar as necessidades, ponto de vista e circunstâncias.

4. Atuar para a resolução das situações de risco com os usuários/clientes as- sim como, para riscos próprios e dos colegas de profissão.

5. Administrar e ser responsável, com supervisão e apoio, da própria prática Profissional dentro da organização, (trata da administração e responsabili- dade do próprio trabalho).

6. Demonstrar competência profissional no exercício do trabalho social. (atu- alização do conhecimento, dos marcos legais, políticos e procedimentos). Cada um destes âmbitos profissionais se concretiza em realizações profissionais e critérios de realização que ajudam a concretizar o conjunto de competências profissionais que os trabalhadores sociais devem adquirir. O documento apresenta um quadro (anexo1) com a unidade de competência, realizações profissionais e critérios de realização, que facilita a visu- alização e identificação de como se desenvolve cada competência.

A comissão de elaboração do Livro Branco fez a valoração das competências ge- néricas definidas pelo projeto Tuning, entrevistando professores, profissionais, egressos e

alunos. Utilizou uma tabela com pontuação para as competências genéricas27. A escala da pontuação era de um a quatro, sendo ―um‖ o valor mais baixo. De acordo com os entrevista- dos, a ordenação das competências é a seguinte:

1. Resolução de problemas

2. Habilidades nas relações interpessoais 3. Capacidade de organização e planejamento 4. Trabalho em equipe de caráter interdisciplinar 5. Capacidade de análise e síntese

6. Compromisso ético 7. Trabalho em equipe 8. Tomar decisões 9. Raciocínio crítico

10. Reconhecer a diversidade e multiculturalidade 11. Adaptação às novas situações

12. Capacidade de gestão de informação 13. Iniciativa e espírito empreendedor 14. Motivação para a qualidade 15. Criatividade

16. Conhecimentos de outras culturas e costumes 17. Conhecimento de língua estrangeira

18. Aprendizagem autônoma

19. Conhecimento de informática relativo ao âmbito de estudo 20. Trabalhar em um contexto internacional

21. Liderança

22. Sensibilidade para temas relacionados ao meio ambiente

As competências específicas da formação profissional do trabalhador social que foram classificas em seis grandes grupos segundo sua natureza, foram redefinidas em 25 competências específicas que diferenciam o trabalho social de outras disciplinas. Estas com- petências foram submetidas para as considerações de estudantes, professores, egressos, profis- sionais e responsáveis de entidades empregadoras.

1. Atuar com pessoas, famílias, grupos, organizações e comunidades para conseguir mudanças, promover o desenvolvimento dos mesmos e melho-

27 A tabela está disponível no site do Tuning América Latina, no endereço:

rar as condições de vida através da utilização de métodos e modelos de trabalho social.

2. Intervir com pessoas, famílias, grupos, organizações e comunidades para ajudá-los a tomar decisões fundamentadas a respeito de suas necessidades, circunstância, riscos, opções preferenciais e recursos.

3. Promover o crescimento, desenvolvimento e independência das pessoas identificando as oportunidades para formar e criar grupos, utilizando os programas e as dinâmicas de grupo para o crescimento individual e o for- talecimento das habilidades.

4. Responder a situações de crises valorando a urgência de situações, plane- jando e desenvolvendo ações para fazer o enfrentamento das mesmas e a- valiar os resultados.

5. Avaliar as necessidades e opções possíveis para orientar uma estratégia de intervenção.

6. Trabalhar de maneira eficaz dentro do sistema de redes e equipes interdis- ciplinares e multiorganizacionais com o propósito de colaborar no estabe- lecimento de fins, objetivos e tempo de duração.

7. Administrar e ser responsável por seu próprio trabalho, definindo priorida- des e avaliando a eficácia do seu programa de trabalho.

8. Desenhar, implementar e avaliar projetos de intervenção social.

9. Investigar, analisar, avaliar e utilizar o conhecimento atual das melhores práticas do trabalho social para revisar e atualizar os próprios conhecimen- tos sobre o contexto do trabalho.

10. Apoiar o desenvolvimento de redes para fazer frente às necessidades e tra- balhar a favor dos resultados planejados, verificando com as pessoas as re- des de apoio que podem acessar e desenvolver.

11. Estabelecer relações profissionais com objetivo de identificar a forma mais adequada de intervenção.

12. Preparar, produzir, implementar e avaliar os planos de intervenção com os usuários e os colegas de trabalho, negociando o fornecimento de serviços que devem ser empregados e avaliando a eficácia dos planos de interven- ção com as pessoas.

13. Utilização da mediação como estratégia de intervenção destina na resolu- ção alternativa de conflitos.

14. Contribuir na promoção e melhoria da prática do trabalho social, partici- pando no desenvolvimento e análise das políticas que se implementam. 15. Analisar e sistematizar a informação que proporciona o trabalho como co-

tidiano, como suporte para rever e melhorar as estratégias profissionais que devem responder as situações sociais emergentes.

16. Estabelecer e atuar na resolução de situações de risco por meio de identifi- cação prévia e definição da natureza dos mesmos.

17. Trabalhar com comportamentos que representem riscos para o usuário, i- dentificando e avaliando as situações circunstâncias que configura tal comportamento e elaborando estratégias de modificação dos mesmos. 18. Defender pessoas, famílias, grupos, organizações e comunidades e atuar

em seu nome se a situação requerer.

19. Preparar e participar nas reuniões de tomada de decisões para defender os interesses das pessoas, famílias, grupos, organizações e comunidades. 20. Administrar conflitos, dilemas e problemas éticos complexos, identifican-

do-os, desenhando estratégias de superação e refletindo sobre seus resulta- dos.

21. Contribuir na administração de recursos e serviços, colaborando com os procedimentos implicados em sua obtenção, supervisionando sua eficácia e assegurando sua qualidade.

22. Administrar, apresentar, compartilhar histórias e informes sociais, man- tendo-os completos, fiéis, acessíveis e atualizados como garantia da toma- da de decisões e valores profissionais.

23. Trabalhar dentro de padrões acordados para o exercício do trabalho social e assegurar o próprio desenvolvimento profissional utilizando a assertivi- dade profissional para justificar as próprias decisões, refletindo critica- mente sobre as mesmas.

24. Estabelecer, minimizar e administrar os riscos para si mesmo e para os co- legas por meio de planejamento, revisão e seguindo as ações para minimi- zar o estresse e o risco.

25. Administrar e dirigir entidades de bem estar social.

A formação do trabalhador social, de acordo com o Livro Branco, deve ser uma formação integral que atenda tanto aos conteúdos disciplinares, competências profissionais e

atitudes que contribuam para gerar profissionais que não só sejam capazes de fazer, mas que conheçam a realidade em que trabalham e sejam capazes de analisá-la criticamente. O livro propõe uma estrutura geral para a formação em trabalho social no Espaço Europeu de Educa- ção Superior, com conteúdos comuns obrigatórios com 35% das matérias, conteúdos instru- mentais e conteúdos específicos de cada universidade, propõem que os cursos tenham 240 créditos ECTS, sendo 156 específicos e 84 próprios das universidades. Ao final, apresenta um quadro resumo que contém a denominação das matérias, uma relação de conteúdos e as com- petências gerais e específicas a que respondem.

O Livro Branco traz a produção coletiva dos profissionais, estudantes, professores e empregadores da organização do curso de trabalho social, que conteúdos e competências são necessárias para desenvolver profissionais para a nova realidade do século XXI, a realidade do Espaço Europeu de Educação Superior e das possibilidades de mobilidades dos cidadãos europeus.

A educação superior europeia está passando por modificações, por isso é necessá- rio o esforço do todos os envolvidos no processo. Processo que não é homogêneo. Durante o período de Estágio de Doutorado no Exterior - PDEE – na Universidade Autônoma de Barce- lona, foi possível acompanhar o movimento de estudantes e professores contrários às novas diretrizes. Em várias universidades da Europa, houve manifestações, inclusive na Universida- de de Barcelona com a presença da polícia no sentido de reprimir as manifestações.

A Associação de Profissionais de Serviço Social de Portugal (APSS, 2006) se manifestou em relação ao processo de Bolonha, considerando que são necessários quatro anos (240 ECTS) para garantir a formação desejada de licenciatura em Serviço Social, e que a for- mação de graduação ―deverá conceder uma particular atenção à componente do estágio (ou estágios) supervisionado, e a outras instâncias formativas que favoreçam contato dos estudan- tes com a realidade social e profissional‖. Teme-se que a redução da carga horária interfira na qualidade da formação e consequentemente na empregabilidade. Para Cruz (2004), Três anos poderão formar um cientista social generalista, mas sem as competências dadas pelos quatro anos, com reflexos no reconhecimento pelo mercado da valia profissional desses cientistas sociais.

A implementação do paradigma educativo, da aprendizagem centrada no estudan-

No documento DOUTORADO EM SERVIÇO SOCIAL SÃO PAULO 2010 (páginas 94-105)