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3.3 O DESENVOLVIMENTO DO SETOR PÚBLICO ESTADUAL PARANAENSE

3.3.3 O Setor Público Estadual em Ajuste entre 1990-1994: a Influência

O período aqui analisado abrange o último ano do governador Álvaro Dias e o mandato do governador Roberto Requião (1991-1994). O governador eleito enfrenta duas questões: por um lado, a situação fiscal e financeira do estado, em virtude do endividamento interno e das medidas para reequilibrar as contas e, por outro, o fortalecimento dos argumentos favoráveis ao ajuste neoliberal que só não ganhavam mais corpo em decorrência dos problemas de instabilidade interna, que afastavam o país das possíveis vantagens oferecidas pela finança global. Collor de Mello, com a agenda que divulgou assim que assumiu, teve o pioneirismo de colocar novas questões, pautadas pela falta de competitividade e atraso da indústria de bens de consumo durável e pela necessidade de se aderir às condições globais de abertura recomendadas pelas autoridades dos organismos oficiais de financiamento. Essa marca a favor da abertura não envolve considerações sobre as vantagens ou desvantagens sociais da abertura irrestrita. Trata-se de uma restauração de um discurso levado a acentuar os efeitos favoráveis da abertura para fundar um mercado mais competitivo e auto-realizador de bem-estar.

A situação fiscal e financeira do estado leva o governo a implementar uma gestão marcada pela austeridade e, simultaneamente, voltada aos setores mais desprotegidos da população. Em relação à segunda questão, os aparelhos públicos tendem a internalizar discussões sobre os setores econômicos mais sensíveis à exposição internacional. Trata- se de realizar um ajuste e um esforço para manter a governabilidade estadual a partir de uma estrutura de aparelhos públicos e funções dadas. Durante esse ciclo de governo o

ajuste fiscal é realizado enquanto o governo demonstra resistência para entrar na guerra fiscal. Note-se que, nesse momento, o ajuste não passava por um redesenho profundo do setor público estadual. Documento interno da Secretaria de Estado de Planejamento e Coordenação Geral, preparado para o Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão

(INFORMAÇÕES ... , 2004), aponta as principais mudanças de natureza institucional

ocorridas no organograma geral do Poder Executivo do setor público estadual em anos escolhidos: 1991, 1993, 1995, 1997, 1999, 2001 e 2003. Nesse documento, constata-se que as mudanças mais importantes, no campo institucional, ocorreram a partir de 1995. Essas informações excluem os órgãos do Poder Legislativo, do Poder Judiciário e do Tribunal de Contas do Estado. O levantamento abrange a administração direta (unidades de assessoramento e apoio direto ao governador, secretarias de Estado – de natureza instrumental ou substantiva – e órgãos de regime especial) e a administração indireta (autarquias, empresas públicas, sociedades de economia mista e fundações).

Entre 1991 e 1993, o setor público sob controle do poder executivo estadual manteve relativamente inalterada a sua estrutura organizacional. Esse quadro de relativa permanência de estruturas coincide com um esforço consistente de reequilibrar as contas públicas estaduais. Segundo Tavares (1994, p.II-3), em diagnóstico da economia e das finanças públicas paranaenses para o BID, existia, nessa época, um número elevado de secretarias com uma tendência de “pulverizar” as responsabilidades pelas atribuições governamentais e muitas entidades da administração descentralizada, com destaque para as instituições de ensino, embora sem peso desproporcional nas despesas orçamentárias. Mesmo admitindo esses fatores negativos, o autor afirma: “A análise da organização da administração estadual indica que o Estado do Paraná tem uma estrutura administrativa relativamente bem dimensionada para as atividades desenvolvidas”.

No campo das funções públicas, Tavares (1994, p.II-10) encontra um viés da administração estadual em prol de atividades ligadas à infra-estrutura, pesquisa e apoio

à agropecuária e ao meio ambiente. Segundo o autor, isso se explicaria pela especialização produtiva do estado em atividades de base agrícola combinada com preocupações crescentes em relação à preservação do meio ambiente. Vale ressaltar que, nesses anos, o governo estadual e as cooperativas comandaram a realização de estudos e pesquisas focados nos possíveis impactos, na agricultura do Paraná, de uma integração comercial no âmbito do Mercosul. Tratou-se de esforço pioneiro na confron- tação das bases produtivas da Argentina e do Uruguai com a do Paraná e Brasil.

Para encerrar a análise sobre esses anos iniciais da década de noventa, convém citar dois parágrafos conclusivos do referido diagnóstico.

(...) é importante enfatizar que não tem sido observada extinção, liquidação ou fusão de entidades com o objetivo de reduzir e enxugar a máquina pública do Estado. Ou seja, não se observa no Estado do Paraná o mesmo processo que ocorreu no governo federal no ano de 1991, quando foi promovida uma ampla reforma administrativa visando inclusive resultados fiscais. Também não foi verificado nenhum movimento pré-determinado da administração para transferir funções ou atribuições para os governos municipais, numa tentativa de se desonerar de competências típicas dos governos locais ou como contrapartida dos resultados da reforma tributária da Constituição de 1988.

Do mesmo modo, também não tem havido qualquer movimento da administração no sentido da privatização de suas empresas, financeiras ou não-financeiras. Recentemente têm sido mencionadas operações de venda de ações da COPEL para investidores estrangeiros. Essas operações, contudo, objetivam a capitalização da empresa e não a transferência do seu controle para a iniciativa privada” (p.13).

Vale dizer, a essa altura dos acontecimentos, sob uma grave crise do Estado brasileiro, o Paraná apresentava – em condições extremamente difíceis de austeridade – relativamente coesos e orgânicos os aparelhos públicos construídos em anos de autoritarismo e adaptados às condições políticas impostas pelo avanço do processo de democratização. É possível afirmar que, no estado do Paraná, entre 1991 e 1994, o

governo estadual executou uma política de desenvolvimento defensiva48, que buscou

48Ver a esse respeito Cano (1993), que desenvolve as linhas de uma estratégia de

realizar ajustes para equilibrar as contas, focar as ações públicas no campo social, num

cenário de queda acentuada da capacidade de investir, e, de alguma forma, intentou

frear nos frágeis limites estaduais a avalanche das idéias neoliberais daqueles que

propugnavam um rápido alinhamento às novas condições internacionais.

Essa formatação do setor público estadual, no entanto, já vinha sendo gradativamente submetida à gestão financeira da Secretaria de Estado da Fazenda desde o final dos oitenta, sendo que sua capacidade de planejamento estratégico encontrava-se fragilizada, fundamentalmente pela dificuldade de obter recursos para financiamento de longo prazo.