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CAPÍTULO II. Fundamentação Teórica

2.8. O SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE

O Sistema Único de Saúde (SUS) foi criado pela Constituição Federal de 1988 para que toda a população brasileira tenha acesso ao atendimento público de saúde.

Anteriormente, a assistência médica estava a cargo do Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (INAMPS), ficando restrita aos empregados que contribuíssem com a previdência social; os demais eram atendidos apenas em serviços filantrópicos. Do Sistema Único de Saúde fazem parte os centros e postos de saúde, hospitais - incluindo os universitários, laboratórios, hemocentros (bancos de sangue), os serviços de Vigilância Sanitária, Vigilância Epidemiológica, Vigilância Ambiental, além de fundações e institutos de pesquisa, como a FIOCRUZ - Fundação Oswaldo Cruz e o Instituto Vital Brasil.

Segundo o Art. 4° da Constituição Federal constitui- o SUS: “o conjunto de ações e serviços de saúde, prestados por órgãos e instituições públicas federais, estaduais e municipais, da administração direta e indireta e das fundações mantidas pelo Poder Público”. Ainda dentro da Lei, são objetivos do Sistema Único de Saúde - SUS: I - a identificação e divulgação dos fatores condicionantes e determinantes da saúde; 11- a formulação de política de saúde destinada a promover, nos campos econômico e social, 111- assistência às pessoas por intermédio de ações de promoção, proteção e recuperação da saúde, com realização integrada das ações assistenciais e das atividades preventivas.

Segundo Rocha, 2005, a Constituição Federal de 1988 outorgou ao país o SUS determinando a integração de todos os múltiplos serviços públicos de saúde: previdenciários e de saúde pública. É interessante assinalar que se optou chamar o novo Sistema de Único, e não Nacional, certamente para enfatizar a importância conferida à unificação da saúde. Todavia, para realizar os preceitos constitucionais do SUS seriam necessárias outras medidas além da unificação, que foram sendo implantadas gradualmente, como redefinir os papéis e as relações entre órgãos em cada nível de governo, entre estados e governo federal bem como entre os municípios e os estados. Estas novas atribuições e vínculos passariam a ser construídos a partir de então, com avanços e recuos. A Lei 8080/1990 reuniu sob a estrutura jurídica do SUS todos os serviços públicos de saúde - municipais estaduais e federais - e os privados contratados ou conveniados no SUS, mas preservando os vínculos originais.

A importância dos sistemas integrados reside na sua capacidade superior em resolver problemas e atender às necessidades de saúde da população – superioridade esta decorrente da racionalidade implantada pela direção única que comanda dentro de uma

mesma lógica as ações de promoção, prevenção, diagnóstica e tratamento e reabilitação – conferindo ao conjunto elevado desempenho, demonstrável através de indicadores do nível de saúde da população - nível de macroeficiência nunca alcançado por outros modelos de saúde.

No Brasil, durante as três últimas décadas, podem ser identificadas duas comunidades de políticas exercendo forte influência sobre o processo de decisão política federal. Nos anos 70, a comunidade de política mais influente era formada por dirigentes públicos – do Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), depois do Instituto Nacional de Assistência Médica e Previdência Social (INAMPS) e do Ministério da Saúde – que tinham conexões com a indústria farmacêutica, com entidades de prestadores privados de serviços, empresas de medicina de grupo, e organizações de profissionais de saúde, particularmente da área médica, por meio do Conselho Federal de Medicina, conselhos, associações e sindicatos médicos estaduais. Essa articulação política determinou a consolidação e expansão de um modelo de organização de serviços de saúde cuja característica central era a provisão privada oferecida nos centros urbanos, financiada com recursos da previdência social, controlada por mecanismos frágeis de regulação. Durante os anos 80 e 90, a predominância dessa comunidade de política foi desafiada por uma comunidade que propôs e liderou a reforma do modelo consolidado na década anterior (Côrtes, 2009).

Na maioria dos países capitalistas centrais, até os anos 80, a situação era semelhante a esta. Desde o final da década de 70, com a aceleração da elevação dos custos da assistência à saúde, colocou-se em questão a eficiência dos sistemas de saúde levando muitos deles a promover, a partir dos anos 80, reformas sanitárias como forma de enfrentar os custos crescentes e a insatisfação da população.

Segundo Art. 198. da Constituição Federativa do Brasil, as ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada e constituem um sistema único, organizado de acordo com as seguintes diretrizes:I - descentralização, com direção única em cada esfera de governo; 11 - atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais; 111 - participação da comunidade.

Compreende um dos maiores sistemas públicos de saúde do mundo. Ele abrange desde o simples atendimento ambulatorial até o transplante de órgãos, garantindo acesso

integral, universal e gratuito para toda a população do país. Integra também as ações e serviços de saúde prestados por órgãos e instituições públicas nas três esferas de governo, inclusive aquelas que atuam nas áreas de controle de qualidade, pesquisa e produção de insumos, medicamentos e equipamentos de diagnóstico e terapêutica. Sua direção é exercida, no âmbito da União, pelo Ministério da Saúde e, no âmbito dos estados e municípios, pelas respectivas secretarias de saúde ou órgãos equivalentes (Augusto & Costa, 2000).

Analisando os princípios norteadores do SUS e os 10 princípios da Qualidade descritos por Deming , percebe-se forte correlação entre eles, principalmente nos princípios 1, 5 e 6 da Qualidade, conforme demonstrado no quadro abaixo.

Quadro 11. Correlação entre Princípios da Qualidade e Princípios do SUS

Princípios da Qualidade (Deming) Princípios do SUS 1.Satisfação dos Clientes I. Universalidade de Acesso

III. Preservação da Autonomia das Pessoas IV. Igualdade (sem preconceitos e privilégios) V. Direito à Informação sobre sua Saúde VIII. Participação da comunidade 2. Gerência Participativa VIII. Participação da comunidade 3. Desenvolver Recursos Humanos

4. Constância de Propósitos X. Integração em nível executivo XI. Conjugação de recursos 5. Aperfeiçoamento Contínuo

6. Gerência de Processos Visão Sistêmica

VII. Utilização de epidemiologia (indicadores) XII. Capacidade de resolução dos serviços XIII. Organização dos Serviços (evitar duplicidade) II. Integralidade da Assistência

7. Delegação IX. Descentralização político-administrativa 8. Disseminação de informações VI. Divulgação de Informações

9. Garantia da qualidade 10. Não aceitação de erros

Fonte: Lima, 2007.

A utilização dos serviços de saúde é um comportamento complexo resultante de um conjunto de determinantes que incluem as características sociodemográficas e de saúde, a organização da oferta e o perfil epidemiológico, que podem levar a uma maior ou menor utilização dos serviços. Da mesma forma, a proximidade dos serviços e recursos oferecidos pelo SUS, a cobertura por planos de saúde privados, bem como as percepções do indivíduo referentes à sua saúde, podem influenciar a utilização dos serviços de saúde (Fernandes, Bertoldi & Barros, 2009).

As instituições de saúde pública, em especial, os hospitais, regra geral, arrastam questões relativas ao planejamento, sempre limitado, de sua capacidade de atendimento, contrastando com a procura excessiva por vagas, em razão das falhas oriundas do funcionamento da porta de entrada do SUS: os postos de atenção primária (Postos de Saúde) na linguagem do Sistema. Os hospitais públicos ou filantrópicos integrados à rede nacional do SUS enfrentam graves problemas de gestão, mesmo exercendo papel essencial à meta de universalização do atendimento médico-hospitalar, intentada pelo SUS, tarefa pouco influente na destinação dos recursos adicionais para a cobertura de seu custeio. No segundo momento, eles são vítimas da escassez de recursos financeiros, especialmente depois da extinção da Contribuição Provisória sobre Operações Financeiras (CPMF).

2.8.1. O SUS NO ESTADO DO MATO GROSSO

No âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) de Mato Groso foi criado o Modelo Lógico do Programa Estadual de Incentivo à Saúde da Família o qual padroniza o mecanismo de funcionamento do programa, ligando o processo aos resultados através de uma seqüência de passos, considerando ainda a interação dos efeitos de seus componentes com o impacto do programa. A base teórica proposta segue a abordagem para avaliação de programas do Centers for Disease Control and Prevention - CDC (1999). Estão incluídos no modelo lógico os insumos (inputs), as atividades, os produtos (outputs) e os efeitos de curto (produtos), médio (resultados) e longo prazo (outcomes) que contribuirão para a visualização do foco do estudo (Gattas, 2010).

O Modelo Lógico do Programa Estadual de Incentivo à Saúde da Família no Âmbito do SUS/MT foi construído tomando por base as informações disponíveis em documentos, portarias e materiais informativos sobre o programa e para entendê-lo melhor torna-se importante sua contextualização e descrição (Gattas, 2010). O desafio da descentralização e consolidação do SUS no estado de Mato Grosso fez com que o gestor estadual buscasse formas de estimular os gestores municipais a implantarem novas equipes da ESF (Estratégia da Saúde da Família) à época, os avanços na organização das ações e serviços locais perpassavam por implementação de estratégias que viessem a contribuir com o processo de mudança de modelo, objetivando garantir oferta de ações e serviços na atenção básica de saúde nos municípios (Gattas, 2010).

Devido a grande extensão territorial do Estado do Mato Grosso, tamanho do País Venezuela, a saúde torna-se precária principalmente devido a falta de recursos humanos, e a má distribuição de recursos estaduais, pois é composto por 141 cidades distribuídas em toda o território, onde as cidades mais próximas da capital são as mais beneficiadas.