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O site da Associação Brasileira do Déficit de Atenção

CAPÍTULO I – A CONSTRUÇÃO HISTÓRICA DA RITALINA

CAPÍTULO 2 – A VIDA VIRTUAL DOS SUJEITOS TDAH

2.1 O site da Associação Brasileira do Déficit de Atenção

Ao pesquisar a palavra TDAH no buscador Google, os três primeiros resultados remetem ao site da ABDA. O primeiro deles é um texto que define o que é TDAH, argumenta que não há nenhuma controvérsia sobre sua existência, aponta os principais sintomas, causas e a prevalência. O segundo resultado é o próprio site oficial da ABDA e o terceiro um texto assinado por essa associação que trata do déficit de atenção sem hiperatividade. Considerando

65 Lista das associações de TDAH ao redor do mundo: http://www.tdah.org.br/br/a-abda/associacoes-de-pais-e-

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que ao pesquisar sobre o transtorno nessa ferramenta de busca – que, ressalte-se, é uma das principais no mundo – encontramos resultados majoritariamente associados a links do site dessa associação, é possível pensar que a ABDA tem um forte controle sobre as informações acerca dessa condição. Apesar de ser um endereço eletrônico de uma associação específica, ele aparenta ser um tipo de site oficial do Transtorno do Déficit de Atenção e/ou Hiperatividade no Brasil, tendo em vista que o seu endereço oficial é tdah.org.br.

Essa presença disseminada do conteúdo do site na rede parece ter sido produzida conscientemente pela organização, considerando um de seus objetivos que é ser uma referência na América Latina na divulgação do TDAH. Segundo o site, ele já é uma referência nacional na web e possui um amplo acesso que, segundo a ABDA, é em média de 200 mil visitas mensais. Há ainda uma página do Facebook da associação com 183.846 curtidas na qual são postados diariamente charges, frases motivacionais, indicações de livros, além do conteúdo do site oficial. Em vista disso, a ABDA é um dos mais importantes meios de comunicação e mediação entre a produção acadêmica e psiquiátrica sobre o TDAH e o público em geral (ITABORAHY, 2007). Portanto, é importante refletir sobre essas questões ao observar de forma meticulosa esse espaço virtual, que pode também ser considerado como uma das maiores forças de proteção dos interesses das pessoas com TDAH no Brasil.

Foi assim que, desde o início da minha pesquisa, o site da ABDA aparecia nas buscas realizadas sobre o TDAH. Por volta do final de 2015, centrei-me, de fato, no website e passei a ler o seu conteúdo, também acompanhando a página do Facebook que replicava todas as novas postagens publicadas no site. Dessa forma, tive contato com os principais eventos em que a ABDA estava envolvida, li os artigos que foram publicados e soube quando a associação era mencionada na mídia. Notei a abordagem teórica que associação seguia e os principais sujeitos que falavam em nome dela. Portanto, houve um período de imersão nesse endereço eletrônico que durou um pouco mais da metade do mestrado, e logo nas primeiras versões escritas do trabalho utilizei trechos do conteúdo para pensar sobre o déficit de atenção. O material veiculado nesse espaço virtual é particularmente interessante para pensar a abordagem da psiquiatria sobre o transtorno, tendo em vista que não é escrito com o linguajar hermético das pesquisas dessa área, mas é direcionado para o público leigo e mais direto em suas colocações.

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A página inicial do sítio da ABDA apresenta um design básico. O logo da associação está na parte superior-esquerda do cabeçalho e no lado direito estão os links para as páginas no Facebook, Twitter, Google Plus e Youtube. Logo abaixo há um menu principal apresentando as categorias que filtram o conteúdo disponível, variando entre informações sobre a instituição, a definição do déficit, textos da associação, dicas para os portadores, venda de produtos (livros e camisetas), lista de profissionais para atendimento no Brasil, o fórum de discussão e um espaço para efetuar doações. Mais abaixo há uma sequência de imagens passando automaticamente e apresentando um conteúdo variado, como: algumas matérias em destaque; convites para a participação em pesquisas sobre TDAH; venda de um livro de autoria de Paulo Mattos; divulgação do fórum que acontece no site; e de cursos e eventos em que a associação está envolvida. Em seguida, estão os textos postados mais recentemente e quase no rodapé os apoios e parcerias que financiam a ABDA. Em uma aba da lateral direita há a carta de esclarecimento sobre o TDAH com as opções em português, inglês e espanhol, uma enquete sobre as profissões menos preparadas para lidar com o transtorno e um link para fazer doações.

Entre as várias categorias do menu principal, uma das primeiras é denominada de ―Sobre o TDAH‖ e apresenta informações como: a definição do transtorno; questionários que auxiliam o diagnóstico; como é feito o tratamento; depoimentos pessoais; projetos de lei que interessam aos portadores; e as perguntas mais frequentes respondidas (FAQ). Esses textos têm como fundamento a produção científica sobre o transtorno, porém se detendo na produção de psiquiatras e neurologistas que demonstram que se trata de uma disfunção orgânica. Os principais pesquisadores citados nas referências fazem parte do conselho científico da associação, sendo mencionados principalmente os psiquiatras Paulo Mattos e Luís Rohde.

Na definição do transtorno é enfatizado o seu caráter neurobiológico, com causas genéticas e que frequentemente acompanham os indivíduos por toda a vida. As características diagnósticas são baseadas no texto do DSM 5 que descreve o transtorno como um padrão persistente de desatenção e/ou hiperatividade que podem ser observados desde a infância (APA, 2013). Embora o texto do manual aponte a importância desses sintomas estarem presentes em dois ou mais ambientes, essa exigência não está presente na definição da ABDA. Além disso, o texto da associação argumenta que fatores culturais, como as diversas

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práticas entre diferentes sociedades, não produzem influência sobre o transtorno. A discrepância na quantificação dos diagnósticos entre países como França e EUA é atribuída a metodologias diferenciadas entre os estudos que produziram as estatísticas e não à quantidade objetiva de pessoas com TDAH (ROHDE etal, 2014).

Nessa seção há ainda uma descrição das principais causas do transtorno associadas a determinadas pesquisas científicas. Nesse sentido, algumas alterações no funcionamento do cérebro são apontadas como as principais causas do comportamento diferenciado dos sujeitos com o déficit, que estão localizadas principalmente na região frontal desse órgão. Os neurotransmissores apresentariam um comportamento defeituoso em comparação com um cérebro saudável. Dessa forma, esses sujeitos teriam dificuldades em capacidades reguladas pelos neurônios como prestar atenção, memória, autocontrole, organização e planejamento. Em vista disso, o tratamento medicamentoso seria utilizado para equilibrar esses níveis desregulados na produção neuronal.

Esta definição do transtorno deixa clara a filiação teórica da ABDA com a psiquiatria biológica e podemos notar nesse texto a presença de posições reducionistas próprias a essa corrente. É frequente a declaração do monopólio desta área quanto a discorrer sobre as condições biológicas e os processos de adoecimento, desconsiderando a possibilidade de outras abordagens teóricas produzirem considerações também sobre este aspecto da existência humana. De acordo com Aguiar:

A psiquiatria biológica traz como pressuposto central a ideia de que ‗o cérebro é o órgão da mente‘ e tem como característica principal a afirmação dos métodos e do vocabulário médico como os únicos legítimos na investigação e descrição dos transtornos mentais, de modo que, segundo Tissot, não haveria mesmo nenhuma outra psiquiatria possível: ‗a adição de biológico‘ à psiquiatria deveria constituir um pleonasmo. (AGUIAR, 2004, p.20).

Até mesmo as terapias psicossociais passam por uma reformulação e só são consideradas nos termos da psiquiatria hegemônica. Dessa forma, na seção do site da ABDA sobre o tratamento, é declarado que ele deve ser multimodal, através do uso de medicamentos, psicoterapia, técnicas para lidar com os sintomas e em alguns casos com a fonoaudiologia. Porém, a única psicoterapia que defende possuir evidências científicas quanto a resultados positivos para o TDAH é a cognitivo-comportamental, onde é possível utilizar programas de

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treino em habilidades sociais. Sobre a psicanálise, por exemplo, alega-se que não existem pesquisas demonstrando benefícios para este tipo de problema (MATTOS, 2005). É notável, neste caso, como a perspectiva da neurociência atualmente autoriza (ou não) e explica como operam algumas práticas terapêuticas ―psi‖ (AZIZE, 2010).

Assim como a CHADD, a ABDA participa das discussões públicas que envolvem o TDAH, opinando sobre a legislação atual e elaborando proposta de mudanças. Ela comenta as principais notícias que têm repercussão na mídia, por vezes corrigindo alguns erros nas matérias ou fazendo até mesmo críticas agressivas. Esses debates têm a intenção de defender os interesses das pessoas com déficit de atenção e preservar a concepção psiquiátrica do transtorno. Em algumas situações, a associação ganha o direito de resposta sobre informações divulgadas que são consideradas inadequadas. Isso aconteceu, por exemplo, quando houve uma entrevista com a médica Ana Beatriz Barbosa Silva no ―Programa do Jô‖ defendendo o TDAH como um traço de personalidade. Posteriormente, o psiquiatra Paulo Mattos concedeu uma entrevista, no mesmo programa, defendendo a concepção neurológica do transtorno e rebatendo, assim, o que havia sido dito pelo outro entrevistado.

Um dos principais embates travados pelas organizações de pacientes é combater o discurso de que o TDAH não existe. A ABDA se dedica com afinco nesse debate de forma que já na seção inicial do site, onde há um espaço com as principais matérias veiculadas, há uma chamada para um texto cujo título é: ―TDAH, uma doença inventada?‖.

Figura 06 - Imagem retirada da página inicial da ABDA Fonte: tdah.org.br, acesso em 15 de dezembro de 2016.

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A ABDA nega qualquer controvérsia nesse sentido, defendendo que existem consensos internacionais publicados pelos mais renomados médicos e psicólogos a esse respeito, e que, inclusive, a Organização Mundial de Saúde (OMS) atesta a existência do transtorno. Segundo a ABDA, aqueles que insistem na não existência do TDAH não possuem a formação científica adequada para emitir uma declaração desse tipo. Nesse sentido, os principais argumentos usados pela associação em resposta aos críticos do TDAH consistem em referenciar instituições como a AMA66, além da própria OMS, afirmando que há uma extensa produção científica que valida a existência do transtorno. Em contrapartida, a ABDA ainda busca desqualificar os próprios críticos alegando que não se tratam de cientistas, que não estão vinculados a importantes grupos de pesquisas, não publicam em periódicos e nem fundamentam suas afirmações em pesquisas, entre outros. É o que podemos acompanhar na seção ―O que é o TDAH‖ quando a ABDA responde à seguinte pergunta:

Por que algumas pessoas insistem que o TDAH não existe?

Pelas mais variadas razões, desde inocência e falta de formação científica até mesmo má-fé. Alguns chegam a afirmar que ―o TDAH não existe‖, é uma ―invenção‖ médica ou da indústria farmacêutica para terem lucros com o tratamento. No primeiro caso se incluem todos aqueles profissionais que nunca publicaram qualquer pesquisa demonstrando o que eles afirmam categoricamente e não fazem parte de nenhum grupo científico. Quando questionados, falam em ―experiência pessoal‖ ou então relatam casos que somente eles conhecem porque nunca foram publicados em revistas especializadas. Muitos escrevem livros ou têm sítios na Internet, mas nunca apresentaram seus ―resultados‖ em congressos ou publicaram em revistas científicas, para que os demais possam julgar a veracidade do que dizem. (Retirado de <http://www.tdah.org.br/br/sobre-tdah/o-que-e-o-tdah.html>, acesso em 15 de dezembro de 2016)

Desse modo, esse grupo defende a ideia de que só pode ser considerado aquilo que passa pelos critérios de produção de verdade do regime científico, ao passo que se posiciona de forma intransigente frente às opiniões baseadas em experiências pessoais, que não são vistas como válidas. Mais ainda, acaba posicionando a ampla produção nas ciências humanas sobre os aspectos sociais e culturais dos processos de adoecimento e das noções de saúde como meras opiniões pessoais. Assim, as pesquisas materializadas numa longa lista de livros e artigos, produzidas desde os anos setenta, em áreas como sociologia, psicologia e educação

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Associação Médica Americana (American Medical Association), ou AMA, fundada em 1847, é a maior associação de médicos e de estudantes de medicina nos Estados Unidos. Em 2011, a AMA tinha 217.490 membros.

Fonte: Wikipédia (https://pt.wikipedia.org/wiki/Associa%C3%A7%C3%A3o_M%C3%A9dica_Americana.) Acesso em 01 de janeiro de 2016.

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são menosprezadas e silenciadas quanto à produção e reflexões sobre o transtorno. Também psiquiatras que publicaram alguns livros contra o uso indevido de Ritalina, como Lawrence Diller, Peter Breggin e Fred Baughman, tornam-se fontes não confiáveis por não publicarem no que a ABDA considera por periódicos especializados ou congressos científicos.

Nessa direção, outra forma de minorar as críticas é através da invisibilização destes discursos contrários à concepção neurobiológica do TDAH, como é possível ver em:

―Não existe controvérsia sobre a existência do TDAH? Não, nenhuma. Existe inclusive um Consenso Internacional publicado pelos mais renomados médicos e psicólogos de todo o mundo a este respeito‖.67

.

Afirmar que não existe controvérsia é negar, conforme mencionamos, uma ampla bibliografia produzida que se coloca de modo contrário ao discurso oficial sobre o TDAH e que produziu sólidos argumentos no que se refere à própria existência do transtorno, mas também ao alto índice de diagnósticos e ao consumo dos fármacos.

Quando as críticas ao discurso oficial da psiquiatria parecem surtir certos efeitos objetivos em políticas públicas, a ABDA radicaliza a sua oposição, chegando até mesmo a associar os discursos contrários a atividades ilícitas ou ao preconceito com portadores de doenças mentais. Esse tipo de situação ocorreu em 2014 quando a Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo publicou uma portaria regulamentando a prescrição de metilfenidato, de forma que, a partir de então, tornou-se necessária a avaliação de uma equipe multidisciplinar para o tratamento farmacológico ser aprovado. O texto da portaria aponta que transtornos como o TDAH têm sido considerados controversos por muitos estudiosos, já que é difícil a distinção entre os casos do déficit e ―problemas escolares decorrentes de modelos pedagógicos inadequados ao contexto social das crianças, de questões familiares cada vez mais complexas e do contexto sociocultural em que há competição, produção de estigmas e exclusão‖ (PREFEITURA DE SÃO PAULO, 2014).

Em uma carta pública68 em repúdio à decisão da prefeitura de São Paulo de restringir o escopo de decisão dos médicos sobre a prescrição de Ritalina, a ABDA afirma que esses protocolos disciplinares são ―pseudocientíficos‖ e ―demagógicos‖. Nesta nota, a associação

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Disponível em: http://www.tdah.org.br/sobre-tdah/o-que-e-o-tdah.html Acesso em: 01 de abril de 2016

68 A carta aberta pode ser consultada em: http://www.tdah.org.br/br/artigos/reportagens/item/1080-carta-aberta-

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discorda veementemente da ação da secretaria de saúde, declarando que ela exclui a população menos favorecida de ter acesso um tratamento considerado de primeira linha por qualquer diretriz científica nacional e internacional. Essa medida seria uma demonstração de discriminação sobre os portadores de transtornos mentais, denominada por eles de psicofobia. Em outra nota de esclarecimento69 sobre o TDAH, a ABDA afirma que considerar medicamentos como a ritalina ―perigosos‖ ou que tornam as crianças ―obedientes‖ pode ser considerado, em alguns casos, até mesmo uma afirmação criminosa, tendo em vista que se divulga ―informações erradas sobre saúde pública‖.

Existem outras atuações dessa associação para disseminar a teoria psiquiátrica e neurológica sobre o TDAH e isso acontece através de diversas formas. Existem algumas cartilhas como uma sobre as perguntas frequentes relacionadas ao transtorno, outra sobre os direitos dos portadores de TDAH e duas voltadas para profissionais de educação e alunos. Realizam ainda eventos como um Congresso Internacional bianual e um Simpósio para médicos (pediatras, neurologistas e psiquiatras, entre outros). E também oferecem cursos de capacitação para professores (rede pública e privada) e para psicólogos.

Porém, por mais que a psiquiatria biológica insista que o déficit de atenção se trata de uma disfunção no desenvolvimento neurológico, presente invariavelmente em diferentes culturas, a leitura dos sites de organizações como a ABDA torna difícil sustentar a redução a apenas o domínio biológico. Por exemplo, a lista de sintomas utilizada pela ABDA enumera uma série de condutas que tencionam na verdade o funcionamento de regras sociais e econômicas estabelecidas. Assim, o transtorno parece estar sempre relacionado a um tipo de desajuste com ambientes como o trabalho e a escola, e isso é mais nítido nas crianças, que obtém o diagnóstico pelo baixo rendimento e/ou mau comportamento nos estabelecimentos de ensino.

A atenção frente a uma conduta desconforme a determinadas expectativas sociais e a possibilidade do tratamento medicamentoso regularizar as pessoas diagnosticadas está presente em alguns textos de farmacologia e psiquiatria. Dessa forma, o Manual de Psicofarmacologia Clínica menciona o sintoma de ―relações sociais insatisfatórias‖ para caracterizar o TDAH, e descreve que o uso de estimulantes pode ―produzir uma organização

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Essa nota pode ser conferida em: http://www.tdah.org.br/br/artigos/reportagens/item/360-peticao-online-sobre- o-manifesto-de-esclarecimento-a-sociedade-sobre-o-tdah-o-seu-diagnostico-e-tratamento.html. Acesso 01 de janeiro de 2016.

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mais eficaz do comportamento‖ (2009, p.462). Inclusive em um boletim da ANVISA sobre o consumo de Metilfenidato podemos encontrar esse discurso já que segundo esse documento ―[...] o medicamento deve funcionar como um adjuvante no estabelecimento do equilíbrio comportamental do indivíduo, aliado a outras medidas, como educacionais, sociais e psicológicas‖ (ANVISA, 2012). Ou seja, essas drogas podem atuar conjuntamente a outros mecanismos para produzir a normalização do paciente em relação ao meio no qual ele se encontra.

De acordo com a definição da psiquiatria hegemônica, produto das teses da Associação Psiquiátrica Americana, ―um transtorno mental deve produzir sofrimento e incapacidade significativos o suficiente para perturbar atividades sociais e profissionais básicas‖ (APA, 2000). O TDAH se enquadra nessa ordem de patologias por produzir uma série de ―sintomas‖ que atacam relações sociais básicas como estudo, trabalho e relacionamentos amorosos. Segundo a ABDA, são sintomas que se encontram com grande frequência em adultos com TDAH:

 Instabilidade profissional

 Rendimento abaixo da capacidade intelectual

 Falta de foco e atenção

 Dificuldade de seguir rotinas

 Tédio

 Maior incidência de divórcios e separações conjugais

 Maior incidência de acidentes de trânsito

 Dificuldade de planejamento e execução das tarefas propostas

 Maior índice de desemprego

 Procrastinação

 Ansiedade diante das tarefas não estimulantes

 Maior índice de desistência em Universidades / evasão escolar

 Dificuldades nos relacionamentos; relacionamentos instáveis

 Frequente alteração de humor

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 Dificuldades para expressar suas ideias, colocar em prática o que está pensando/em sua cabeça

 Dificuldade para escutar e esperar a sua vez de falar

 Frequente busca por novas coisas que o estimulem; intolerância a situações monótonas e repetitivas

 Repetição frequente de erros, frequente falta de atenção com coisas simples 70.

Ao realizar a leitura desses comportamentos descritos acima para produzir o diagnóstico, o psiquiatra se encontra na função de intérprete do grau de ajustamento do paciente a certos costumes definidos histórica e socialmente. Mesmo que seja possível ou até frequente a existência de um desequilíbrio nos neurotransmissores, é complexo o discernimento entre as causas biológicas e passíveis de medicação e as que possuem outras origens. Os comportamentos listados pela ABDA também podem sugerir inconformidade frente a relações de trabalho capitalistas, descumprimento de regras de conduta socialmente definidas ou a não adaptação às formas como nos envolvemos sexual e afetivamente.

Por outro lado, os psiquiatras que defendem a objetividade em torno do transtorno, afirmam que o déficit de atenção e hiperatividade é uma das condições com mais evidências científicas até mesmo dentro de toda a medicina. Existem milhares de artigos em torno do assunto que acumularam um sólido conhecimento, e portanto há a descrição de quadros clínicos passíveis de serem diferenciados de comportamentos normais, como a presença dos sintomas desde a infância em pelo menos duas áreas diferentes (casa e escola, por exemplo). (ROHDE & MATTOS, 2011).

Porém, o rigor desses critérios não impede a existência de falsos diagnósticos, nem que o psiquiatra ou neurologista se contenha sempre em prescrever os estimulantes. A avaliação psiquiátrica envolve um encontro entre sujeitos humanos com suas diferenças, preconceitos e valores. O profissional médico não está isento de agir de acordo com seus fundamentos e é de fato impossível conter completamente a subjetividade e ser neutro. De acordo com o psiquiatra Peter Kramer, que é um entusiasta dos efeitos de psicofármacos, a

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