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O TERCIÁRIO E A REAFIRMAÇÃO DA CENTRALIDADE

Mapa 06: Equipamentos de saúde presentes em Mossoró e região

3 A CONSTRUÇÃO DA CENTRALIDADE URBANORREGIONAL

3.3 O TERCIÁRIO E A REAFIRMAÇÃO DA CENTRALIDADE

A partir da década de 1970, com a crise das agroindústrias e a mecanização da salinicultura, a cidade de Mossoró começou a se reestruturar do ponto de vista econômico e espacial, deixando de ser um centro produtor e exportador de matérias-

primas para se configurar como um espaço prestador de serviço, que passava a terceirizar suas atividades locais (FELIPE, 1982; PINHEIRO, 2007; ROCHA, 2009).

A prestação de serviços e a atividade comercial já existiam nos períodos anteriores da economia urbana de Mossoró, entretanto “[...] o seu conteúdo e suas funções estavam voltadas especificadamente para a manutenção da máquina de circulação e distribuição dos produtos de exportação [...]” (FELIPE, 1988, p. 17). É somente a partir da década citada que as atividades terciárias, comércio e serviços, voltaram-se para a sustentação da dinâmica econômica e espacial dessa cidade.

É importante destacar que a partir de 1970, com a substituição do modo de produção fordista pelo regime de acumulação flexível (ou toyotismo) 41, ocorreram diversas alterações (na escala mundial) nos padrões sociais, culturais, econômicos, trabalhistas, espaciais e ideológicos, isso porque foram criados novos moldes de produção, de consumo, de “necessidades” (transformações culturais).

O território brasileiro logo foi incorporado a essa nova divisão internacional do trabalho. Como consequência dessa integração, intensificou-se a urbanização no Brasil e a importância de algumas cidades; configurou-se um novo panorama urbano nesse país, “[...] no qual, paralelamente, há um fenômeno de metropolização e de desmetropolização [...], com o surgimento de vários centros urbanos de porte médio que ganham cada vez mais importância regional e nacional” (COUTO, 2010, p. 02).

Tais transformações desencadearam mudanças no perfil dos serviços e do comércio, tornando-os mais complexos e dinâmicos; fizeram com que a economia terciária assumisse um papel de destaque no processo geral de desenvolvimento urbano do Brasil (SANTOS, 1993).Couto (2010) citando Oliveira (1988) assinala que a expansão do setor terciário faz parte do modo de acumulação urbano adequado à expansão do sistema capitalista no Brasil.

Assim, partindo-se da perspectiva que cada lugar é produto de uma razão global e local, convivendo dialeticamente (SANTOS, 2006), pode-se ressaltar que a redefinição econômica de Mossoró (fim da década de 1960) se configurou com um “reflexo” das transformações ocorridas no sistema econômico e produtivo mundial ou na divisão social, territorial e internacional do trabalho.

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O fordismo estava calcado na rigidez produtiva. O regime de acumulação flexível tem como fundamento básico, uma maior flexibilidade dos processos, produtos, padrões de consumo, mercados e da organização do trabalho. Como resultado dessas alterações produtivas tem-se a emergência de novos setores produtivos, novas modalidades de serviços financeiros e de mercados (inovação comercial, tecnológica e organizacional) (HARVEY, 2008).

No período citado, como já elucidado anteriormente, Mossoró já apresentava alguns equipamentos e serviços urbanos (heranças acumuladas da especialização econômica vigente entre 1930 e 1970) de destaque no cenário regional, tais como a presença de estabelecimentos bancários, originados para atender as relações comerciais do período agroindustrial, além de espaços educacionais e de saúde e uma atividade comercial já reconsolida (FELIPE, 1980).

Como exemplo de tais heranças, Rocha (2009, p. 56) aponta alguns espaços educacionais, originados no momento agroindustrial de Mossoró, que serviram de base para a reconfiguração econômica e espacial dessa urbe, a saber:

De sua parte, a cidade de Mossoró, que já tinha um Serviço de Educação com capacidade de servir uma região, consolida esse setor com a criação dos Cursos superiores de Economia e de Serviço Social, que vão se tornar o embrião da Fundação Universidade Regional do Rio Grande do Norte – FURN -, vinculada a Prefeitura Municipal, posteriormente transformada na Universidade Estadual do Rio Grande do Norte – UERN -, em 1968 [...] outra estrutura de Ensino Superior, criada nesse período foi a Escola Superior de Agricultura de Mossoró – ESAM -, que juntamente com a FURN, viabilizam a oferta desses serviços para vários Municípios do Oeste Potiguar e do Médio e Baixo Jaguaribe, no Ceará [...].

A autora citada ainda reforça que essa estrutura de serviços e equipamentos urbanos presentes em Mossoró, juntamente com as riquezas acumuladas durante a sua fase agroindustrial, habilitou esse centro urbano a ser um espaço prestador de serviço (ROCHA, 2009).

As políticas públicas também se configuraram como elemento de destaque no processo de redefinição econômica de Mossoró, isso porque elas custearam as obras e a oferta de serviços que foram disponibilizados à população mossoroense (e regional) (OLIVEIRA, 2014). O objetivo principal dessas políticas era amenizar as tensões desencadeadas pelo desemprego estrutural, resultado das mudanças no sistema produtivo, e reinserir a cidade de Mossoró nas dinâmicas economias e espaciais do momento (PINHEIRO, 2007).

A função de “vender” serviços e mercadorias foi consolidada facilmente em Mossoró por dois motivos principais: primeiro, pela influência histórica (empório e agroindustrial) dessa urbe sobre a região; segundo, pelo déficit de serviços e de comércio nos centros urbanos circunvizinhos a Mossoró, gerando uma relação de “dependência” terciária (FELIPE, 1980; 1982). Destaca-se que essa realidade, esse

déficit terciário, perdura até os dias atuais, podendo ser observada a partir das informações expostasna primeira seção desse trabalho - distribuição dos serviços e da atividade comercial em Mossoró e região.

Outra ação importante no processo de redefinição econômica de Mossoró foi a sua inserção (em 1976) no Programa Nacional de Desenvolvimento Urbano para Cidades de Porte Médio. Essa política urbana foi responsável pela composição de parte expressiva dos serviços estruturais recebidos nessa cidade; pela construção do terminal rodoviário, de alguns conjuntos habitacionais, além da ampliação de serviços bancários e assistências (OLIVEIRA, 2012, 2014) 42.

Sobre esse período e a ação das políticas públicas na configuração urbana e terciária da cidade de Mossoró, Pinheiro (2007, p. 211) destaca:

Nesse momento, se instalam na cidade agentes financeiros como a COHAB [Companhia de Habitação], para a construção habitacionais de baixa renda; a Caixa Econômica Federal, para o financiamento de moradia para as classes média e alta, através do SFH [Sistema Financeiro de Habitação]; e o BNH que, além do financiamento de moradias, investiu nos serviços básicos, como rede de esgoto e saneamento. A SUDENE [Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste] também concede incentivos fiscais para a implantação de grandes indústrias em Mossoró, além da modernização das indústrias existentes. [...] A construção dos conjuntos habitacionais desenvolve rapidamente o segmento da construção civil, provocando o surgimento de escritórios prestadores de serviço, cerâmicas, fábricas de mosaicos, de esquadrias, entre outros serviços.

Essa ação estatal gerou novos espaços de serviços, ampliou os existentes, revitalizou e deu “poder” à cidade de Mossoró, ampliando e criando um mercado de trabalho, tanto interno como externo (mobilidade na força de trabalho regional, que agora caminha em direção à cidade) (FELIPE, 1988). Nesse contexto, é importante frisar que os empregos criados através dos serviços presentes em Mossoró geraram a circulação monetária (capital, salário) nessa cidade e criaram as condições ideias para a ampliação da atividade comercial (FELIPE, 1982; 1988).

Com uma estrutura terciária crescente, Mossoró reafirma sua condição de centro regional, atraindo pessoas da região que buscam os serviços e as formas comerciais oferecidos nessa cidade (OLIVEIRA, 2014). Em outras palavras, destaca-

42 De acordo com Rocha (2005) “[...] o Programa de Cidades de Porte Médio foi um marco, tendo em

vista que, com os recursos desde, foi implementado o planejamento urbano local, de modo que as cidades contempladas [Natal e Mossoró] passaram a contar com vários equipamentos urbanos até então inexistentes, proporcionando melhores condições de vida às suas populações” (p. 184).

se que esse setor da economia surge como uma redefinição, uma especialização econômica necessária e vital para as cidades chamadas de centro regional, “[...] a ponto de ser essa atividade a força regionalizadora dos atuais ‘centros regionais’, no momento em que o centro prestador de serviços conjuga em torno de si outros espaços, outras cidade” (FELIPE, 1988, p. 16).

A partir da década de 1980, Mossoró assumiu “novos papéis” na Divisão Internacional do Trabalho, isso porque, além das atividades terciárias, essa cidade tornou-se exportadora de petróleo, centralizou a produção salineira e se inseriu na produção do agronegócio - da fruticultura irrigada (ELIAS; PEQUENO, 2010).

Como forma de elucidar a importância dessas “economias” para a dinâmica urbana, econômica e regional de Mossoró, estão descritos a seguir algumas de suas principais características.

A economia do sal sempre esteve presente na dinâmica urbana e econômica de Mossoró. Porém, entre as décadas de 1960 e 1970, essa atividade se fortaleceu em virtude da internacionalização e mecanização do seu processo produtivo. Essas alterações técnicas aumentaram a produtividade nas salinas e colocaram esse mineral no patamar dos principais produtos exportados de Mossoró e do Rio Grande do Norte, sendo que essa realidade é manifestada até os dias atuais (gráfico 09).

A exploração do petróleo em Mossoró foi iniciada no fim da década de 1970. O aparecimento dessa atividade extrativa fez crescer o número de espaços, de infraestruturas urbanas nessa cidade a fim de atender as necessidades e aos serviços básicos de apoio a produção de petróleo.

Santos (2009, p. 104) assinala que a exploração desse recurso mineral atraiu empresas de portes e especificações diversas com o objetivo de “[...] fornecer bens e serviços terceirizados à economia petrolífera”; a introdução dessas unidades produtivas ao aparelho urbano de Mossoró contribuiu historicamente para aumentar o predomínio do terciário na estrutura econômica dessa cidade, isso porque a exploração petrolífera trouxe “[...] um volume de investimentos sem precedentes, sendo responsável pela indução de uma nova dinâmica na economia de Mossoró, bem como atração de importantes fluxos migratórios [...]” (ibid).

Aponta-se ainda, a importância dos royalties 43 do petróleo para a cidade de Mossoró, uma vez que, a entrada desse capital dinamizou a economia desse centro

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É uma palavra de origem inglesa que significa regalia ou privilégio. Consiste em uma quantia que é paga por alguém ao proprietário pelo direito de usar, explorar ou comercializar um produto, obra,

urbano (mais capital circulando) e ampliou o seu espaço intraurbano (financiamento de obras/infraestruturas públicas). Em síntese, afirma-se que a economia petrolífera em Mossoró construiu uma “nova” realidade econômica nesse centro urbano, “[...] com vários desmembramentos para uma ampla área sob a influência de Mossoró, sendo esse o município no qual a reestruturação urbana se processa de forma mais intensa e complexa [...]” (ELIAS; PEQUENO, 2010, p. 189).

A implantação da fruticultura irrigada em Mossoró data da década de 1980. O desenvolvimento dessa atividade está vinculado ao processo de modernização produtiva do setor primário, à consolidação dos polos dinâmicos de agricultura irrigada no Nordeste e a inserção de tecnologias custeadas pela iniciativa privada e com o apoio do Estado.

No Rio Grande do Norte, o polo Açu-Mossoró é reconhecido como uma das áreas de modernização mais intensa do estado, como também da região Nordeste44, exportando frutas tropicais para os Estados Unidos, para a Comunidade Econômica Europeia e países membros do MERCOSUL (PINHEIRO, 2007; SANTOS, 2009).

Rocha (2009) enfatiza que o desenvolvimento dessa atividade na região de influência de Mossoró atraiu diversos agentes sociais – tais como, trabalhadores do campo, empresários, comerciantes, estudantes, profissionais especializados, entre outros – de diferentes porções do território norte-rio-grandense, como também de estados vizinhos, como do Ceará e da Paraíba, dinamizando ainda mais a economia da urbe mossoroense.

É importante destacar a relevância histórica da empresa MAISA (Mossoró Agroindústria S/A), espaço agrário e produtivo criado na década de 1960 que esteve à frente da atividade frutícola no Rio Grande do Norte por mais de duas décadas, alcançando projeção nacional e internacional na produção/beneficiamento de frutas. Com o encerramento das atividades produtivas da MAISA 45, empresas nacionais e internacionais, tais como a Nolem, a Agrícola Famosa/Intermelon, a Potyfrutas e a Delmonte ocuparam toda a região mossoroense, dinamizando ainda mais o quadro econômico e urbano da cidade de Mossoró, visto que criou um ramo especializado terreno. No caso aos royalties de petróleo, consiste no dinheiro pago pela Petrobras aos proprietários de terra e aos municípios pela extração e exploração do petróleo e do gás.

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Do total das áreas irrigadas no estado do RN, 90% está localizada no polo Açu-Mossoró; a fruticultura irrigada desenvolvida em Mossoró é a sexta maior do país.

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Com o surgimento e a implantação do Plano Real, que conduziu a paridade entre o real e o dólar, a empresa mergulhou em uma crise, registrando sua falência no ano de 2003. Nesse mesmo ano, as terras da Maisa foram invadidas por membros do MST, sendo desapropriadas (Reforma Agrária).

(espaços comerciais voltados para a venda de produtos agrários, aparecimento de pousadas e escritórios interligados a fruticultura irrigada) no terciário voltado para atender as necessidades dessa atividade (PINHEIRO, 2007; SANTOS, 2009).

Essa atividade ocupa atualmente, o segundo lugar no campo das exportações mossoroense, perdendo apenas para a exportação da castanha de caju46. Dentre os principais produtos irrigados exportados de Mossoró, destacam-se a melancia e o melão (gráfico 09) 47.

Gráfico 09: Principais produtos exportados de Mossoró, em 2013

Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC, 2013). A salinicultura, a exploração de petróleo e a fruticultura irrigada “sustentam” até hoje a dinâmica econômica e urbana da cidade de Mossoró, complementam e fortalecem a atividade terciária dessa urbe e permitem que esse espaço urbano se mantenha como um centro polarizador, como uma centralidade urbanorregional, isso porque, a partir da difusão dos circuitos espaciais (produtivos) dessas atividades, Mossoró intensificou seu papel de pólo de atração e concentração populacional com característica marcante “[...] de uma diversificação tanto de serviços, quanto de produção de insumos, concentrando também maior fluxo monetário [...]” (SANTOS, 2009, p. 105). Sobre tais atividades, Oliveira (2014, p. 58) reforça:

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O município de Serra do Mel, vizinho a Mossoró, apresenta a maior produção de caju (de castanha) do Rio Grande do Norte. Entretando, o beneficiamento e a exportação desse fruto são realizados em Mossoró, dando a essa cidade, o destaque nas exportações (gráfico 09).

47

Informações obtidas no Site da Prefeitura de Mossoró: www.prefeiturademossoro.com.br/

0,00 2.000.000,00 4.000.000,00 6.000.000,00 8.000.000,00 10.000.000,00 12.000.000,00 14.000.000,00 16.000.000,00

A intensificação produtiva destas atividades proporciona estímulos a econômica local o que viabiliza, também, o aumento da demanda pelo diversos e variados serviços que se agregam ao seu espaço. No presente esta demanda tem alcance regional, considerando, principalmente as especialidades disponíveis dos mesmos. Também tem destaque o consumo produtivo por parte dos empreendimentos de produção, assim como o consuptivo. Tais movimentos favorece o aquecimento do comercio e dos serviços em geral, dotando a cidade de uma referência de atividade econômica que tem alcance regional.

Como apontado no decorrer dessa última subseção, as atividades terciárias vem “alicercando”, desde a década de 1970, a centralidade urbano e regional de Mossoró. Como forma de mostrar a relação entre essas atividades e a centralidade de Mossoró na região a partir do período citado, será exposta e analisada a posição ocupada por essa cidade nos estudos realizados pelo IBGE (Região de Influência das Cidades - REGIC) acerca da hierarquia urbana do Brasil. É importante destacar que um dos principais elementos investigados nesses estudos são a quantidade, a diversidade e a oferta de serviços e comércio encontrados nas cidades – variáveis que dão base a nossa pesquisa.

Desde 1966, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE, realiza estudos para delimitar a área de influência das cidades sobre a malha urbana brasileira (centralidade e hierarquia da rede urbana do Brasil). A metodologia utilizada nesses estudos se fundamentava nas propostas de pesquisa desenvolvida por Michel Rochefort, cujo objetivo era “[...] identificar os centros polarizadores da rede urbana, a dimensão da área de influência desses centros e os fluxos que se estabeleciam nessas áreas [...]” (REGIC, 2008, p. 129), tomando por base, a distribuição dos bens (industriais, comerciais) e dos serviços, tais como os de administração, educação, saúde, entre outros.

A Divisão do Brasil em regiões funcionais urbanas, publicada pelo IBGE em 1972, concluiu a linha de estudos iniciados por esse órgão no ano 1966. Com base nos indicadores de relacionamentos urbanos obtidos da pesquisa realizada no ano de 1966 48, foram estabelecidos quatro níveis de centros urbanos e outros subníveis.

48 Três etapas levaram à classificação dos níveis hierárquicos dos centros urbanos e à delimitação de

suas áreas de influência. Na primeira, somou-se o número de pontos obtidos por cada centro em cada um dos setores (fluxos agrícolas, distribuição de bens e serviços à economia e à população) e o total geral. Na segunda, estabeleceu-se uma hierarquia em função dos totais em cada matriz. Finalmente, na terceira etapa, a hierarquia e a subordinação dos centros foram definidas pelo agrupamento das matrizes segundo a dominância de relações com cidades metropolitanas – as nove Regiões Metropolitanas previamente definidas – e mais a cidade de Goiânia, devido à sua extensa área de atuação e a seu forte relacionamento com São Paulo e Rio de Janeiro (REGIC, 2008, p. 129).

Nessa divisão regional, Mossoró já se apresentava como um centro de destaque na região, como um espaço polarizador. Dos níveis hierárquicos estabelecidos nessa pesquisa, a urbe mossoroense ocupava o sexto nivel, classificando-se como um centro regional do tipo B (Quadro 08). Com base nessa classificação, frisa-se que Mossoró influenciava 46 municípios de diferentes dimensões e níveis hierárquicos, porém atuava somente sobre os municípios contíguos a sua área; estando sobre a influência de Recife (REGIC, 2008; OLIVEIRA, 2012).

A pesquisa da rede urbana brasileira foi retomada pelo IBGE no ano de 1978, e seus resultados foram publicados como Regiões de Influência das Cidades no ano de 1987. A base teórica desse estudo foi a Teoria das Localidades Centrais (TLC) formulada por Walter Christaller (1933), cuja ideia central permeia o entendimento de que a centralidade de um lugar está diretamente ligada à distribuição de bens e serviços que esse espaço oferece para a população (REGIC, 2008).

De acordo com o Regic (2008, p. 129), essa pesquisa investigou:

[...] para bens e serviços de baixa complexidade, o município de procedência das pessoas que procuram cada uma das cidades pesquisadas; e para bens e serviços de média a elevada complexidade, a que cidades os moradores das cidades pesquisadas usualmente recorrem. Estas informações foram trabalhadas para definir os níveis hierárquicos, a área de influência das cidades e as relações de subordinação entre os centros.

Tomando por base tais aspectos teóricos e metodológicos, foram definidos cinco níveis de atuação hierárquica para as cidades do Brasil, a saber: metrópoles regionais, centro submetropolitanos, capital regional, centro subregional, centro de zona. Nesse estudo, Mossoró ocupou o terceiro nivel de centralidade em uma escala que ia de um (valor mínimo de centralidade) a cinco (valor máximo de centralidade), sendo classificada como uma Capital Regional (Quadro 08).

A organização rede urbana brasileira foi investigada novamente pelo IBGE em 1993. O estudo denominado Regiões de Influência das Cidades 1993, publicado em 2000, focava “[...] o papel das redes para viabilizar a circulação e a comunicação, fundamentais para a organização de um espaço onde os elementos fixos interagem pelo intercâmbio de fluxos” (REGIC, 2008, p. 131).

Para a classificação dessa rede urbana (níveis de centralidade dos espaços urbanos) utilizou-se critérios como a intensidade dos fluxos, a extensão espacial da

área de influência de cada cidade, e a disponibilidade de equipamentos funcionais; definindo-se oito níveis de centralidade: máximo, muito forte, forte, forte para médio, médio, médio para fraco, fraco e muito fraco (Quadro 08).

Nesse contexto hierárquico, Mossoró foi indicada como um centro regional com centralidade “forte para médio”, ocupando o quarto nível de centralidade. Além disso, foram identificados 64 municípios que estavam sobre a influência dessa urbe, distribuídos entre os territórios (estados) do Rio Grande do Norte, da Paraíba e do Ceará (IBGE, 2008; OLIVEIRA, 2012).

No estudo mais recente da IBGE sobre a Região de Influencias das Cidades (REGIC, 2008), já exposto e discutido na seção anterior desse trabalho, Mossoró foi classificada como uma Capital Regional do Tipo C, exercendo influência sobre 39 municípios do Rio Grande do Norte (quadro 04 e mapa 02 – primeira seção).

O quadro 08 mostra a distribuição dos níveis hierárquicos da rede urbana do Brasil entre as décadas de 1970 e 2000, e específica, na parte destacada (colorida) desse quadro, a classificação (ou o patamar) hierárquica da cidade de Mossoró em cada um desses estudos (realizados pelo IBGE).

É importante enfatizar que o comércio e os serviços foram elementos-chave no processo de definição da hierarquia urbana do Brasil, ao longo dos estudos realizados pelo IBGE. Nesse contexto, o fato da cidade de Mossoró se destacar no “cenário” regional, no decorrer dessas pesquisas, mostra que o terciário dessa urbe foi fundamental para a sua reafirmação enquanto centralidade urbanorregional, principalmente a partir da década de 1970.

Quadro 08: Níveis Hierárquicos da Rede Urbana Brasileira

1972 1978 1993 2007

Grande Metrópole Nacional Metrópoles

Regionais,

. Máximo Grande Metrópole Nacional

Metrópole Nacional Muito Forte Metrópole Nacional

Centro Metropolitano Regional Centro

Submetropolitanos

Forte Metrópole

Centro Macro Regional Centro Regional A

Centro Regional A Capital

Regional

Forte Para Médio Centro Regional B

Centro Regional B Médio Centro Regional C

Centro Subregional A Centro

Subregional

Médio Para Fraco Centro Subregional A

Centro Subregional B Fraco Centro Subregional B