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O TERCIÁRIO E A DINÂMICA URBANORREGIONAL

Mapa 06: Equipamentos de saúde presentes em Mossoró e região

4 A CENTRALIDADE REGIONAL DE MOSSORÓ REAFIRMADA

4.1 O TERCIÁRIO E A DINÂMICA URBANORREGIONAL

Quando se trata de compreender a centralidade de uma cidade dentro de um arranjo regional, é necessário considerar que existe um conjunto de elementos, ou variáveis, que sustentam e manifestam esse processo, que permitem a construção de uma abordagem análitica dessa temática espacial. Dentre esses elementos estão à dinâmica espacial, econômica e populacional desse espaço urbano, bem como, a disponibilidade de bens e de serviços presentes nesse lugar.

Tais variáveis adjetivam o centro, qualificam um espaço central. Entretanto, elas por si só, ou consideradas de forma isolada, não expressam a centralidade em sua totalidade, isso porque, essa virtualidade, essa força de coesão é revelada por aquilo que se movimenta pelo território, ou seja, pelos fluxos que escoam pelo espaço, estando ligada à dimensão temporal da realidade (SPOSITO, 2001). Nesse

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A pesquisa foi realizada entre 2016 e 2017 com os seguintes segmentos: a) taxistas que trafegam de outras localidades para a cidade de Mossoró; b) consumidores que vem junto com esses taxistas; c) motoristas de ônibus escolares (os formulários utilizados durante a pesquisa estão presentes nos apêndices A, B e C). Ela foi desenvolvida de modo (com a finalidade de) a complementar e atualizar alguns dados. Foram entrevistadas em média, 30 pessoas por segmento citado. Reforça-se que essa investigação não definiu um número específico de pessoas a serem entrevistados (uma amostra), uma vez que, a mesma foi realizada a partir de uma “amostragem por saturação” – tipo de estudo em que o pesquisador “fecha” determinado grupo quando, depois das informações coletadas com certo de número de indivíduos, se verifica que os dados colhidos são suficientes para atingir o objetivo da pesquisa; e novas entrevistas representariam apenas mais repetiçoes em seu conteúdo.

sentido, é importante ressaltar que os fluxos permitem a apreensão da centralidade - eles se constituem como uma variável de análise desse processo; a discussão sobre centralidade deve ser desenvolvida a partir da compreensão (e análise) das relações que existem entre a localização espacial (as características e/ou as funções da cidade) e os fluxos que ela produz e consegue manter/sustentar (ibid).

Diante dessas proposições, reforça-se que a cidade de Mossoró apresenta uma conjuntura espacial, populacional e econômica que a coloca em um patamar de destaque na região, qualificando-a como um lugar central; a diversidade de serviços e comércios (bens) disponíveis nessa urbe permite que a mesma venha ocupando, historicamente e espacialmente, um lugar de evidência diante de tantos outros espaços urbanos. Entretanto, para compreender a centralidade dessa cidade, é preciso ir além desse cenário espacial - já elucidado nas primeiras seções dessa dissertação; é necessário investigar e analisar os fluxos que fluem por essa cidade, que expressam categoricamente sua centralidade urbanorregional.

Frente a tais necessidades, construir-se-á um exame analítico dos fluxos que convergem em direção à cidade de Mossoró. Para tanto, serão utilizados os dados e as informações obtidos através da pesquisa realizada pela FECOMERCIO/RN sobre a População Flutuante de Mossoró (em 2015). Esse estudo foi desenvolvido com o objetivo de construir um perfil da população flutuante de Mossoró 52; a metodologia empregada seguiu a técnica de observação direta (técnica survey de opinião), com a aplicação de questionário semiestruturado (instrumento de investigação) em locais pré-estabelecidos frequentados por esse público alvo 53 (FECOMERCIO/RN, 2015).

Do universo de informações encontradas nessa pesquisa, foram selecionadas as variáveis que estão diretamente relacionadas aos fluxos que confluem em direção a Mossoró, e que permitem o desvelamento da centralidade urbanorregional dessa cidade. Dentre essas informações destacam-se: origem e a motivação dos fluxos, o

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A ideia da pesquisa partiu do interesse em conhecer esse grande número de pessoas que circulam na cidade, pessoas que ficam temporariamente, mas que desfrutam da infraestrutura da cidade utilizam os serviços municipais, frequentam universidades, faculdades, trabalham e procuram oportunidades de emprego no município e que ajudam a desenvolver a economia local. A coleta dos dados aconteceu entre os dias 06 e 08 de maio de 2015 (FECOMERCIO/RN, 2015).

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Foram realizadas 400 (quatrocentas) entrevistas da população de interesse. A aleatorização da amostra foi planejada sobre a cobertura geográfica do município. As entrevistas foram realizadas em pontos estratégicos, o que permitiu maximizar as observações colhidas de visitantes de diferentes cidades (FECOMERCIO/RN, 2015).

perfil socioeconômico dessa população, os gastos realizados na cidade, a avaliação dos serviços ofertados, os meios, a frequência e o tempo de deslocamentos.

O primeiro elemento a ser destacado é a origem do fluxo que se direcionam a cidade de Mossoró. De acordo com as informações da FECOMERCIO/RN (2015), foram registradas durante o período de realização da pesquisa, pessoas advindas de quarenta e quatro localidades (ou munícipios) diferentes. Desse total, trinta são municípios do Rio Grande do Norte, e dentre estes, merecem destaque, pelo volume expressivo de pessoas presentes na cidade de Mossoró, os municípios de Serra do Mel (25,5%), Governador Dix-Sept Rosado (19,5%), Grossos (10,8%), Caraúbas (5,8%), Areia Branca (4,8%), Apodi (3,3%), Tibau (2,8) e Natal (2,3%). Ressalta-se também a presença de pessoas oriundas de outros estados nordestinos, tais como: Ceará, Paraíba, Sergipe, Alagoas e Piauí (quadro 09) (FECOMERCIO/RN, 2015).

Quadro 09: Origem dos fluxos (população flutuante) em Mossoró

ORIGEM UF % ORIGEM UF % Serra do Mel RN 25,5 Martins RN 0,5 Governador D. S. R 19,5 Umarizal 0,5 Grossos 10,8 Bodó 0,3 Caraubas 5,8 Itajá 0,3

Areia Branca 4,8 Janduís 0,3

Apodi 3,3 Riacho de Santana 0,3

Tibau 2,8 Upanema 0,3

Natal 2,3 Quixeré

CE

1,3

Felipe Guerra 1,8 Fortaleza 1,0

Messias Targino 1,8 Icapuí 1,0

Patu 1,8 Aracati 0,5

Alexandria 1,5 Limoeiro 0,5

Frutoso Gomes 1,0 Russas 0,5

Paraú 1,0 Aracaju SE 0,3

Porto do Mangue 1,0 São Bento

PB

0,5

Antonio Martins 0,8 Cajazeiras 0,5

Assú 0,8 João Pessoa 0,3

Baraúnas 0,8 Maceio AL 0,3

Olho D’agua dos B. 0,8 Recife PE 0,3

Pau dos Ferros 0,8 Teresina PI 0,3

Rodolfo Fernandes 0,8 Campanema PR 0,3

Triunfo Potiguar 0,8 Não respondeu 0,3

Itau 0,5 Total 100,0

Fazendo uma análise comparativa entre as informações apresentadas no quadro 09 e a região de influência da cidade de Mossoró, exposta no quadro 04 e no mapa 02 (na primeira seção desse trabalho), percebe-se que a abragência espacial dos fluxos populacionais que chegam à urbe mossoroense ultrapassa o espaço delimitado pelo estudo do Regic (2008). Nesse contexto, destacam-se, por exemplo, pessoas advindas de Pau dos Ferros, Riacho de Santana, Alexandria, Bodó e Pau dos Ferros (Rio Grande do Norte), São Bento e Cajazeiras (Paraíba), Icapuí Russas, Aracati, Limoneiro e Quixeré (Ceará) (FECOMERCIO/RN, 2015) – cidades que não compõem oficialmente a região de influência Mossoró.

Além disso, constatou-se também, a partir da pesquisa de campo realizada junto aos taxistas que trafegam em direção a Mossoró (que fazem a “linha” de outras localidades para a essa cidade), a presença de fluxos populacionais provinientes de Caicó, Luiz Gomes, Lucrécia, Porta Alegre, Encanto, Serrinha dos Pintos, Currais Novos, São Francisco do Oeste, Santana dos Matos, Água Nova, Marcelino Vieira, João Dias, Pilões, Tenente Ananais, Macau e Guamaré (municípios do Rio Grande do Norte), Belém do Brejo do Cruz, Sousa, Brejo Cruz, Pombal, Catolé do Rocha (municípios da Paraíba).

Ao considerar os dados da região de influência de Mossoró (REGIC, 2008), os resultados da pesquisa da FECOMERCIO/RN (2015) e as informações obtidas por meio da investigação de campo, percebe-se que a urbe mossoroense possue uma área de convergência de fluxos que ultrapassa os moldes da Regic e abrange outros territórios urbanos para além do espaço regional e estadual. Justapondo-se esses dados, aponta-se também que são aproximandamente 60 municípios norte- rio-grandenses (incluindo a capital do estado) que possuem relação direta com Mossoró, além de mais 20 localidades interestaduais, incluindo algumas capitais, tais como Fortaleza (CE) e João Pessoa (PB).

Esse cenário espacial evidencia a “força” de atração da cidade de Mossoró, a sua capacidade de polarização e comunicação com outros centros urbanos (tanto a nível intra como interestadual); demonstra o papel desempenhado por esse espaço urbano na região – sua centralidade urbanorregional, pautada na oferta terciária.

O segundo elemento a ser destacado em relação à população flutuante de Mossoró é o seu perfil socioeconômico. De acordo com os dados da Federação do Comércio do estado do RN (2015), mais 90% dos entrevistados são pessoas com “baixo e médio” poder aquisitivo, ou seja, apresentam uma renda mensal inferior a

cinco salários minímos. Especificando esseas informações, enfatiza-se que, do total de entrevistados, 45,3% recebem até um sálario minímo por mês; 47,5% ganham mensalmente entre dois e cinco sálarios; e somente 2,8% recebem mais de cinco sálarios minímos ao mês. Essa conjutura econômica está exposta no gráfico abaixo.

Gráfico 10: Renda média da população flutuante de Mossoró

Fonte: FECOMERCIO/RN (2015).

Ainda em relação ao perfil socioeconômico das pessoas que buscam a cidade de Mossoró, destaca-se que esse fluxo populacional é constituído principalmente por trabalhadores do campo (18%), motoristas (14%), donas de casa (7,8%), autônomos (7%), professores (6,8%), estudantes (6,3%), taxistas (4,5%), comerciantes (3%), aposentados (3%), empregadas domésticas (2,8%) e vendedores (2%). As demais ocupações apresentaram valores inferiores a 2% 54 (FECOMERCIO/RN, 2015).

Em relação ao nível de escolaridade dessas pessoas, aponta-se que do total de entrevistados, 48,2% possuem ensino médio, 37,9% tem ensino fundamental e 12,3% possuem o ensino superior. Além disso, 1,5% apresentam pós-graduação e 0,5% são analfabetos (ibid) 55.

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Informações complementares sobre o perfil socioeconômico da população fluante de Mossoró: 51% das pessoas entrevistas são do sexo masculino; 55,4% possuem idade igual ou superior a 35 anos (faixa etária predominante) (FECOMERCIO/RN, 2015, p. 4).

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O perfil socioeconômico construído a partir da pesquisa de campo mostrou um cenário semelhante ao apresentado pelo estudo da FECOMERCIO/RN (2015).

45,3% 47,5% 2,3% 0,5% 4,5% 0,0% 10,0% 20,0% 30,0% 40,0% 50,0% Até 1 salário 2 - 5 salários 5 - 8 salários > que 8 salários Não respondeu

Para compreender os fluxos populacionais que se direcionam a Mossoró, é preciso reconhecer que fatores (razões) atuam na conformação desses movimentos. Sendo assim, a terceira variável analisada sobre a população flutuante de Mossoró é a motivação dos fluxos.

Em conformidade com as informações da FECOMERCIO/RN (2015), destaca- se que, das quatrocentas pessoas entrevistadas, 35,8% apontaram como a principal razão das “visitas” à cidade de Mossoró, a necessidade de fazer compras – ou seja, majoritariamente, os fluxos que chegam a esse centro urbano são “induzidos” pela atividade comercial presente nesse espaço. Além disso, ressalta-se que 33,3% da população flutuante de Mossoró vêm a essa cidade para realização de negócios ou a trabalho; 15,8% para utilização de serviços públicos e privados de saúde; 7,8% para realização de serviços bancários e correios; 7,5% buscam a cidade por causa dos estudos, dos centros de ensino presentes em Mossoró (escolas, universidades, faculdades) (gráfico 11).

Gráfico 11: Motivação dos fluxos em direção a Mossoró

Fonte: FECOMERCIO/RN (2015) 56.

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Questionamentos com múltiplas escolhas/respostas.

35,8% 33,3% 15,8% 7,8% 7,5% 2,8% 0,5% 0,5% 0,3% 0,3% 0,8% 0,0% 5,0% 10,0% 15,0% 20,0% 25,0% 30,0% 35,0% 40,0% Compras Negócio ou Trabalho Serviços de saúde Bancos/correios Educação Visita a parentes Transporte de pessoas Passagem pela cidade Passeio

Visita ao shopping Outros motivos

Além das razões citadas, foram destacadas também: visita a parentes (2,8%), transporte de pessoas (0,5%), passagem pela cidade (0,5%), passeio (0,3%), visitas ao shopping (0,3%) e outros motivos (0,8%) (FECOMERCIO/RN, 2015) (gráfico 11).

A pesquisa de campo desenvolvida com os taxistas e consumidores (fluxos) mostrou um cenário símile ao exposto no gráfico anterior. Nesse contexto, enfatiza- se que mais de 80% dos taxistas entrevistados apontaram que deixam os seus clientes no centro da cidade de Mossoró, precisamente em sua área comercial. Além disso, eles destacaram que aproximadamente 30% dos seus passageiros ficam em espaços relacionados à prestação de serviços, tais como hospitais, clínicas médicas, bancos e repartições públicas. Paralelamente, e convergindo com as informações obtidas com os taxistas, os passageiros entrevistados apontaram que “buscam” a cidade de Mossoró em função das atividades comerciais (82%) e dos serviços (33%) presentes nessa urbe 57.

É importante fazer algumas observações nos dados relacionados à educação (gráfico 11): as pessoas que estudam em Mossoró vêm para essa cidade utilizando, principalmente, os transportes públicos estudantis; se direcionam especificadamente para os polos de ensino superior (universidades, faculdades) presentes nesse centro urbano (elucidados na primeira seção desse estudo). Tais fatos justificam os valores pouco expressivos apresentados no gráfico e nas informações anteriores.

Contudo, cabe ressaltar que essa população estudantil faz parte dos fluxos que alimentam e evidenciam a centralidade urbanorregional de Mossoró, visto que, chegam diariamente nessa cidade, vans e ônibus escolares de diversas partes do estado do Rio Grande do Norte (Governador Dix-Sept Rosado, Apodi, Serra do Mel, Areia Branca, Caraubás, Upanema, Baraúnas, Felipe Guerra, Tibau, Assú, Grossos) e do Ceará (Limoeiro do Norte, Aracati, Icapuí, Russas, Itaiçaba) 58, conduzindo uma quantidade significativa de estudantes – fato constatado pela relação entre o número de veículos identificados durante a pesquisa de campo, à quantidade de alunos possíveis por transporte e a frequência das viagens (todos os dias, manhã e noite).

Nesse contexto, reforça-se que a existência de instituições de ensino superior em cidades médias, a exemplo de Mossoró, significa a entrada de uma importante variável na dinâmica socioespacial local e regional, uma vez que, elas estimulam o desenvolvimento regional, “[...] criam novas possibilidades de ação, produção e

57

Observação: Questionamentos com múltiplas escolhas/respostas.

58

realização nas cidades em que se instalam [...]” e “[...] constituem fatos de atração de atividades modernas, pois tem um forte tributo educacional e tecnológico especializado [...]” (SOARES et al, 2010, p. 217).

As informações apresentadas demonstram que o setor terciário da cidade de Mossoró é um dos principais elementos indutores dos fluxos que afluem para essa urbe; evidenciam a importância da atividade comércial e da prestação de serviços para a conformação da centralidade regional de Mossoró, visto que, a centralidade, enquanto adjetivo do que é central, está ligada à aptidão que alguns espaços e/ou elementos urbanos têm de promover e estimular fluxos de troca (TOURINHO, 2006). É importante ressaltar que os fluxos, compreendido como os movimentos dos homens e de suas criações no espaço, são impulsionados especialmente em razão da divisão territorial do trabalho, das diferenças espaciais e produtivas que há entre os lugares. Nesse sentido, reforça-se que a concentração de comércio e de serviços em Mossoró e a rarefação dessas atividades nos espaços circunvizinhos (cenários expostos na primeira seção dessa dissertação) são vetores que proporcionam os fluxos descritos anteriormente e que explicam a conformação da cidade de Mossoró como um “nó” central diante desse emaranhado urbano.

Entretanto, ressalta-se que esse perfil terciário de Mossoró só começou a ser consolidado significativamente a partir da década de 1970. Até esse período, a força de atração (polarização) da urbe mossoroense estava correlacionada a sua função de Empório Comercial (até 1920-1930) e ao seu perfil Agroindustrial (até 1970); pós 1970, com o crescimento do comércio e dos serviços, a cidade de Mossoró passou a redefinir a sua função espacial e produtiva e a reafirmar a sua posição como espaço de destaque na região – agora como uma área prestadora de serviços. Constata-se assim que, o setor terciário de Mossoró vem dinamizando a economia urbana dessa cidade, permitindo que a mesma se reafirme, histórica e espacialmente, como uma centralidade regional.

Os fluxos interurbanos, ao mesmo tempo em que envolve a movimentação de pessoas, abrangem também a circulação de produtos e o uso e consumo do espaço. Fale-se assim, de uma Mobilidade do Consumo (GHIZZO, 2012) 59, compreendidada como o deslocamento que um indivíduo realiza de seu habitat (casa ou cidade, por exemplo) até outro lugar com a intenção de comprar e/ou consumir mercadorias.

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Noção elaborada por Ghizzo (2006) em sua dissertação de Mestrado intitulada “A mobilidade do consumo na cidade de Maringá-PR: o ensaio de uma noção”.

Essa movimentação ocorre de modo espontâneo, é uma decisão subjetiva, motivada por razões espaciais, econômicas, sociais e culturais (ibid).

Do ponto de vista da escala regional, a mobilidade do consumo é legitimizada pela heterogeniedade da oferta de bens e serviços existentes entre a cidade-pólo e as cidades-periféricas. Nesse sentido, a superioridade das atividades terciárias nas cidades-pólos é um fator preponderante no momento do consumidor escolher se vai ou não se deslocar de sua cidade de origem para efetuar sua compra, ocasionando o consumo (GHIZZO; ROCHA, 2016); “[...] a propaganda, a diversidade de produtos, o preço, o lazer, a diferenciação dos lugares e a sensação de pertecimento a cidade- polo são alguns fatores que legitimam este processo.” (ibid, p.319).

Os referidos autores ainda reforçam que a mobilidade do consumo, seja ela intra ou interurbana, se configura como processo social que se estabele no espaço, “[...] demandado por um consumo material (de mercadorias) ou imaterial (de serviços e sensações). Desta imbricação, além do consumo de mercadorias, pode-se ocorrer, também, o consumo do espaço” (GHIZZO; ROCHA, 2016, p.319).

Com base nessa relação fluxos-consumo, serão apresentados e analisados mais dois elementos correlacionados à população fluante de Mossoró, a saber: os

gastos realizados e a frequência dos fluxos que chegam a Mossoró.

Inicialmente, e em consonância com os dados da FECOMERCIO/RN (2015), aponta-se que 57,8% das pessoas pesquisadas gastavam até R$100,00 reais por visitas (viagens) realizadas a Mossoró; 16,8% e 13,3% dos entrevistados gastavam, respectivamente, valores intermediários entre R$101-R$200 e R$201-R$500 reais; e 12,3% assinalaram que “desembolsavam” mais de R$500,00 em consumo na cidade – informações expostas no gráfico 12.

O consumo realizado por essa população mostra-se, em primeira instância, pouco expressivo. Entretanto, é necessário considerar que esse volume de gastos é proporcional ao perfil socioeconômico da população flutuante da cidade de Mossoró; a quantidade de entrevistados é apenas uma amostra dentro de um universo maior; os fluxos populacionais que se direcionam a esse espaço urbano apresentam uma frequência (gráfico 13) que potencializam esses gastos/consumo.

Considerando que a maior parte população fluante que chega à Mossoró – 41,5% dos entrevistados (gráfico 13) – faz essa viagem mais de cinco vezes ao mês, e gastam ou consomem os produtos e os serviços presentes nessa urbe, mesmo

que em pequenas quantidades (e/ou valores), é possivel inferir que há um volume significativo de capital regional circulando nesse centro urbano.

Gráfico 12: Gastos da população flutuante em Mossoró

Fonte: FECOMERCIO/RN (2015).

Gráfico 13: Frequência mensal da população flutuante em Mossoró

Fonte: FECOMERCIO/RN (2015).

Analisando as informações dispostas no gráfico 13, constata-se que há uma regularidade nos fluxos populacionais que se dirigem a Mossoró. Tais movimentos, contínuos e intensos, evidenciam a importância desse centro urbano enquanto um espaço de atração e polarização dos fluxos regionais; mostra, em consonância com as informações anteriores, a importância das funções (atividades) urbanas presentes

43,5% 14,3% 16,8% 13,3% 12,3% Gastam até R$ 50 Gastam entre R$51 e R$100 Gastam entre R$101 e R$200 Gastam entre R$201 e R$500 Gastam acima de R$500 20,5% 15,0% 9,8% 8,0% 5,3% 41,5% 0,0% 5,0% 10,0% 15,0% 20,0% 25,0% 30,0% 35,0% 40,0% 45,0% Uma vez Duas vezes Três vezes Quatro vezes Cinco vezes

nesse espaço como elemento indutor dessa mobilidade, isso porque, a direção e a intensidade dos fluxos sinalizam os fixos/espaços (as cidades, por exemplo) dotados de maior centralidade (CARVALHO, 2014).

A pesquisa de campo mostrou um quadro correlato ao gráfico exposto. Do total de consumidores (clientes dos taxistas) entrevistados, 10% assinalaram que vem a Mossoró diariamente; 22% e 25% apontaram, respectivamente, que viajam quinzenalmente e semanalmente para esse centro urbano; 40% declararam que se direcionam a essa cidade uma vez ao mês; e 3% dos entrevistados enfatizaram que fazem essa visita de forma esporádica, sem terem indicado a que se devia a referida visita (gráfico 14). Nesse contexto, reforça-se que mais de 80% dos consumidores entrevistados apontaram que se dirigem à Mossoró em função de suas atividades comerciais e dos seus serviços (mais de 30%) (informação citada anteriormente).

Gráfico 14: Frequência dos fluxos populacionais em Mossoró

Fonte: Pesquisa de campo realizada com os clientes dos taxistas (2016-2017).

Concomitantemente, a investigação de campo desenvolvida com os taxistas também demonstrou um cenário que potencializa os dados presentes no gráfico 13 e reforça a influência da urbe mossoroense no espaço regional, isso porque, quando indagados sobre a jornada de trabalho (frequência das viagens), 85% dos taxistas pesquisados declararam que vem a cidade de Mossoró de segunda a sábado, 10% de segunda a sexta e 5% em dias específicos (conforme gráfico 15). Diante dessas informações, destaca-se que grande parte dos entrevistados apontou que fazem em média duas viagens ao dia para essa cidade (75%), transportando passageiros.

10,0% 22,0% 25,0% 40,0% 3,0% 0,0% 5,0% 10,0% 15,0% 20,0% 25,0% 30,0% 35,0% 40,0% 45,0% Diariamente Quinzenalmente Semanalmente Mensalmente Esporadicamente

Gráfico 15: Frequência das viagens dos taxistas à Mossoró

Fonte: Pesquisa de campo realizada com os taxistas (2016-2017).

Por meio da justaposição dos dados do gráfico 13 e das informações obtidas através do estudo de campo (gráficos 14 e 15), é possível inferir, pela intensidade e periodicidade de seus fluxos que fluem para Mossoró, que essa cidade se conforma perenemente como uma centralidade, uma vez que, esse processo é redefinido continuamente, “[...] inclusive em escalas temporais de curto prazo, pelos fluxos que se desenham através da circulação das pessoas, das mercadorias, das informações, das idéias e dos valores [...]” (PEREIRA, 2001, p. 39).

Fazendo uma breve discussão sobre os movimentos que ocorrem no espaço geográfico, Milton Santos (1997) enfatiza que antes da difusão dos transportes e das comunicações e da intensificação da divisão social e territorial do trabalho, a maioria das regiões produzia quase tudo de que necessitava para sua reprodução. Com o advento de tais transformações e processos, os lugares passaram a se especializar funcionalmente, estimulando a intensificação dos movimentos e a possibilidade crescente das trocas entre eles.

Nesse sentido, o referido autor ainda acentua:

Quanto maior a inserção da ciência e tecnologia, mais um lugar se especializa, mais aumenta o número, intensidade e qualidade dos fluxos que chegam e saem de uma área [...] A diminuição relativa dos preços dos transportes, sua qualidade, diversidade e quantidade, cria uma tendência ao aumento de movimento. O número de produtos, mercadorias e pessoas circulando cresce enormemente, e como conseqüência a importância das trocas é cada vez maior, pois elas não apenas se avolumam como se diversificam (ibid, p. 18).