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UM OLHAR TEÓRICO-EMPÍRICO DA CENTRALIDADE

Mapa 06: Equipamentos de saúde presentes em Mossoró e região

4 A CENTRALIDADE REGIONAL DE MOSSORÓ REAFIRMADA

4.2 UM OLHAR TEÓRICO-EMPÍRICO DA CENTRALIDADE

As cidades, enquanto espaços de produção, circulação e consumo, podem ser observadas como um elemento dotado de complexidade, que atrai para si tudo o que nasce, seja da natureza ou do trabalho humano, centraliza criações, não existe sem troca, sem aproximações, sem proximidades, isto é, sem relações (LEFEBVRE, 1999). Nessa perspectiva, as cidades devem ser vistas como um sistema urbano que está inserido em um conjunto de cidades (BRIAN BERRY, 1964 apud SILVA, 2010), ou seja, elas são como “pontos” no espaço, com “performaces” próprias, que estão em constante relação, configurando redes.

Sousa (2015) aponta que “[...] as relações econômicas, demográfica, políticas e culturais estabelecidas pelas cidades entre si num quadro regional [...]” (p. 82) auxiliam na constituição desse sistema urbano; as funções desenvolvidas por cada centro nesse agrupamento urbano é diferente, de modo que, esses papéis “[...] irão determinar a criação de um sistema hierárquico, no qual o lugar central exercerá o [...] comando em relação aos demais [...]” (ibid).

Tem-se assim, sistemas urbanos hierárquicos. O domínio desse sistema está nas “mãos” dos centros dotados de maior diversidade e concentração de atividades econômicas; dos espaços urbanos que possuem maior disponibilidade (distribuição) de serviços em relação aos lugares adjacentes. Nessa linha de pensamento, frisa-se que “[...] é através desta posição hierárquica e das relações de complementaridade e dependência que o lugar central exerce [dentro de um sistema], que a centralidade urbana se afirma” (SOUSA, 2015, p. 82, grifos nossos).

Lugares centrais e centralidade – termos diferentes, todavia complementares e indissociáveis; fundamentais para a conformação das redes. A primeira expressão designa o espaço, a área, o lugar, a morfologia, a materialidade; a segunda se refere à capacidade de polarização e atração, é uma força, um processo, algo imaterial, não palpável, contudo, perceptível. Há uma relação direta entre esses termos, isso porque, um não pode ser compreendido sem o outro; eles são atributos mútuos.

França (2012, p. 70) mostra, objetivamente, as confluências desses termos, explicando que “[...] aquelas cidades que desempenham importantes funções na rede urbana em que se inserem são denominadas de lugares centrais ou localidades centrais, ou seja, são dotadas de centralidade [...]”. A referida autora ainda frisa que

a centralidade urbana “[...] resulta da capacidade de polarização de alguns centros nas redes [...] se expressa por meio da diversidade e da especialização em bens e serviços do centro urbano principal [...]” (ibid), de modo que, quanto maior a oferta de serviços (de funcões urbanas) desse centro (do lugar central), maior o seu nível de centralidade.

Nessa mesma linha de raciocínio, Whitacker (2007) aponta que a centralidade está relacionada tanto a situação locacional como a convergência dos fluxos, ou seja, percebe-se essa força de coesão a partir do lugar, da cidade, por exemplo, e de suas funções e dos fluxos irradiam por esse espaço; e reforça também que “[...] a dinâmica de concentração e dispersão cria e recria centralidades que irão ocupar e valorar diferentemente e diferencialmente territórios no tecido urbano e na dimensão da rede urbana [...]” (WHITACKER, 2007, p. 01).

Condensando as ideias expostas, frisa-se que cada cidade é única, singular, é diferente, histórica, econômica, política e socialmente; cada centro urbano possue níves de desenvolvimento espaciais e produtivos distintos. Consequentemente, os intercâmbios que existem “[...] entre eles são espacialmente desiguais, dada a oferta de bens e serviços que os dotam, ou não, de centralidade. Se há graus diferentes de especialização das cidades no território, a sua atuação na rede é também diferente” (FRANÇA, 2012, p. 72). Assim, existem urbes que possuem uma maior importância na rede urbana e há, concomitantemente, aquelas que interagem e se comunicam com os espaços mais dinâmicos, procurando bens e serviços imprescindíveis a sua reprodução (ibid).

Nos estudos que versam sobre as redes urbanas, as cidades são analisadas de acordo com as relações de dependência, de complementaridade, de polarização e de subordinação que elas estabelecem entre si (FRANÇA, 2012); investigam-se as urbes em função do seu tamanho e de sua dinâmica (relações) com (na) a região.

A inquietação de se compreender tais relações é pretérita na Geografia. No ano de 1826, por exemplo, Von Thünen, ao desenhar pioneiramente o seu modelo econômico-espacial, prôpos um espaço, denominado de Estado isolado, organizado a partir de uma única cidade central; Paul Vidal de La Blache, dentro do contexto da Geografia Possibilista, chegou a reconhcer que as cidades e as estradas criavam um espaço regional (SILVA, 2010); Pierre George, ainda na ebulição da corrente possibilista, também se dedicou as pesquisas sobre a rede urbana francesa; David Clark tratou das temáticas “localização” e “sistema urbano” em sua obra “Introdução

à Geografia Urbana” (1991); e Brian J. Berry desenvolveu pesquisas relacionadas à evolução do sistema urbano dos Estados Unidos e aprofundou a discussão sobre a tipologia funcional das cidades desse país (1960) (SILVA; MACÊDO, 2009).

Como expostos acima, os estudos científicos sobre os sistemas urbanos têm se constituído em uma importante tradição no âmbito da ciência geográfica; são incontáveis as pesquisas que buscam compreender os porquês das conexões entre as cidades dentro de uma malha urbanarregional. Entretanto, apesar das inúmeras discussões erguidas entorno dessa temática, uma das maiores contribuições para a teoria e aplicação urbanorregional na Geografia foi dada pelo geográfo alemã Walter Christaller em 1933 através da Teoria das Localidades Centrais (TLC), como já se indicou anteriormente (SILVA; MACÊDO, 2009; SILVA, 2010; ARAÚJO, 2016).

De forma intrépeda, Christaller propõe a Teoria das Localidades Centrais em sua tese denominada de “Os lugares centrais da Alemanha do Sul” (1933). Nesse trabalho, ele procurou demonstrar que a distruibuição das cidades pelo espaço (pela região) não era desordenada, todavia, existia uma regularidade e uma hierarquia na disposição desses centros, sendo que, essa ordem estava diretamente relacionada à função econômica que determinados lugares desempenham em relação a outros (CHRISTALLER, 1981). Em síntese, a TLC indica que existem princípios gerais que regulam o número, o tamanho e a distribuição dos núcleos de povoamento, sejam eles, grandes, médias e pequenas cidades, ou até minúsculos núcleos semirrurais60. O aparente desequilíbrio espacial observado por Christaller entre as cidades do sul da Alemanha foi a elemento chave que o motivou a procurar os princípios que regeria ou explicaria aquele arranjo espacial 61. Ele buscou nas diferenças espaciais (no número, no tamanho e na distribuição das cidades), uma explicação para as nuances urbanas encontradas em um espaço regional; procurou essa explicação através das atividades e das leis econômicas, uma vez que, era impossível explicar

60 “[...] todo território possui um ‘princípio de organização’, que depende da oferta de bens e serviços

por parte dos aglomerados urbanos [...]” (CONTEL, 2010, p. 15).

61

Na mesma região vemos grandes e pequenas cidades de todas as categorias, uma categoria ao lado da outra. Algumas vezes elas se aglomeram em certas regiões numa maneira improvável e aparentemente sem sentido. Algumas vezes há vastas regiões em que nem um único lugar merece a designação de cidade, ou mesmo de mercado. Afirma-se usualmente que a conexão entre a cidade e atividade profissional de seus habitantes não é casual, mas antes será baseada na natureza de ambas (CHRISTALLER, 1981, p. 02). A partir dessas “irregularidades espaciais” Christaller (1981) fez as seguintes indagações (que o levaram a formular a sua teoria/tese): [...] porque há, então, grandes e pequenas cidades, e porque estão elas distribuídas tão irregularmente? [...] como podemos encontrar uma explicação geral para os tamanhos, o número e a distribuição das cidades? Como podemos descobrir as leis? (ibid, p. 02-03).

o ordenamento e a hierarquia dos centros urbanos em uma determinada região com base apenas nas condições geográfica do lugar (CHRISTALLER, 1981). Destarte, enfatiza-se que essa teoria promoveu uma aproximação dos princípios geográficos as leis econômicas, ou seja, uma leitura geográfica sobre a problemática urbano e regional a partir de olhares econômicos.

A hipótese central dessa teoria foi construída partindo-se da ideia de que a rede urbana se constituia por meio das “[...] zonas de influência econômica das localidades, cuja centralidade [força de coesão] seria determinada pelo nível de complexidade dos produtos e serviços ali ofertados e [...] a partir do alcance desses mercados” (DEOLINDO, 2014, p. 02). Desta forma, os centros urbanos, sejam eles grandes, pequenos ou médios, eram considerados como localidades centrais, uma vez que, estavam dotadas de funções centrais, “[...] de atividades econômicas de distribuição de bens e serviços para uma população que reside nos núcleos em que ficam no raio de influência da cidade [...]” (SILVA; MACÊDO, 2009, p. 10) e cujas dimensões “[...] variariam segundo os produtos e os serviços ofertados [...]” (BRAGA, 1999, p. 02). Em outras palavras, quanto maior a disponibilidade de serviços e bens em determinada cidade, maior seria a sua capacidade de polarização, sua força de atração, sua zona de influência ou sua centralidade.

A Teoria das Localidades Centrais ecou de forma audaciosa nos ambientes acadêmicos e institucionais, sendo também criticada por aqueles que se propõem a discutir a dinâmica urbanarregional.Corrêa (1997), por exemplo, dedica um capítulo 62 de seu livro “Trajetórias Geográficas” para tecer críticas em relação ao perfil rígido e positivista da TLC e apontar algumas lacunas e “imperfeições” dessa teoria. De modo símile, Milton Santos (2003) também propõe uma revisão da TLC em seu livro “Economia Espacial” 63, destacando que é necessário compreender o “hexágono de Christaller” (elemento da TLC) de forma diferenciada, levando em consideração os dois circuitos na economia urbana nos países subdesenvolvidos.

Apesar das diversas críticas construídas em relação à TLC, pertinentes em sua maioria, a Teoria das Localidades Centrais é um “suporte” teórico basilar nos estudos e nas investigações urbanorregionais. Souza (2005), por exemplo, diz que a leitura da TLC deve ser obrigatória para todos aqueles que desejam aprofundar seus conhecimentos teóricos sobre a rede urbana; Santos (2003), mesmo propondo uma

62 Título do capítulo: “Repensando a Teoria das Localidades Centrais” (CORREA, 1997). 63 Título do capítulo: “Uma revisão da Teoria dos Lugares Centrais” (SANTOS, 2003).

revisão dessa teoria no que se refere às estruturas sociais, destaca que a mesma é válida para explicar a existência dos grandes concentraçoes urbanas; e Valbuena (2013, p. 70) assinala que a TLC é uma “[...] referencia obligada para los teóricos de la economía espacial como mecanismo eficiente para explicar el comportamiento en la vida real de las ciudades [...]” (grifos nossos).

Seguindo essa linha de pensamento, Liberato (2008, p. 127) enfatiza que “[...] mesmo reconhecendo que o desenvolvimento regional constitui um objeto de estudo em profunda transformação na atualidade, não se pode considerar como adequados os procedimentos que propõem ruptura total com os conhecimentos acumulados [...]”, todavia, devido à complexidade da realidade, esses conhecimentos, a exemplo da TLC de Christaller, deverão ser sempre contextualizados.

O referido autor ainda reforça:

O conhecimento das teorias que deram e/ou dão sustentação à análise regional [por exemplo, a Teoria das Localidades Centrais] é de suma importância, na medida em que, assim procedendo, evidencia-se o nível de amadurecimento dos estudos da área, como também, talvez o mais importante, torna-se possível esclarecer as suas possibilidades e os seus limites explicativos (ibid, p. 127).

Dada a importância do trabalho de Walter Christaller à economia e aos estudos urbanorregionais, algumas das idéias centrais de sua teoria são úteis e podem auxiliar no entendimento do processo de regionalização e/ou na definição da rede urbana atualmente (CUNHA; SIMÕES; PAULA, 2005). Nesse sentido, enfatiza- se que é necessário, diante das simplificações e hipóteses restritivas do modelo christaleriano, uma interpretação não literal de seus resultados, procurando reter somente os conceitos-chave da TLC que permitem uma leitura hodierna dos estudos urbanorregionais (ibid).

Assim, diante da relevância e da recorrência teórica da tese de Christaller nos estudos urbanorregionais, propõe-se uma discussão dos principais conceitos da TLC que permitem uma explicação sistemática da centralidade urbanorregional da cidade de Mossoró. Ressalta-se que não se pretende fazer um debate aprofundado de todas as ideias de Christaller, contudo, busca-se realizar uma leitura da problemática proposta nesse trabalho a partir dos elementos-chave dessa teoria, sobrepondo-os a realidade estudada, a empíria.

A Teoria das Localidades Centrais foi desenvolvida de forma a complementar duas outras teorias locacionais já existentes nas primeiras décadas do século XX, a saber: a Teoria da Localização das Atividades Agropecuárias, elaborada por Von Thunen no ano de 1910; e a Teoria da Localização das Indústrias, formulada por Weber em 1929. Christaller “notou” que faltava um estudo teórico que tratasse da localização dos serviços, da ordem e da organização das cidades em um espaço regional, propondo então, no ano de 1933, a TLC (SILVA, 2010).

De acordo com Bradford e Kent (1987), a Teoria das Localidades Centrais foi construída com base em um conjunto de pressupostos, expressos explicitamente ou não, que simplificavam a realidade (quadro 10).

Esses pensamentos alicercaram a TLC e fundamentaram os seus principais conceitos, tais como os de centralidade, lugares, bens e serviços centrais, limiar e alcance de um bem central, hierarquia urbana e região de influência. Contudo, também geraram críticas e depreciações na academia em virtude da rigidez e da limitação de algumas de suas ideias. Por exemplo, não dar para considerar que há uma planície uniforme, sem limites, com igual facilidade de transporte em todas as direções (pressuposto 01 – quadro 10), uma vez que, os meios de locomoção são diversos e o acesso a eles é desigual entre as pessoas e os espaços. Além disso, reforça-se também que, dentro da lógica capitalista, as ações e os mecanismos sociais e econômicos conformam espaços diferenciados (CORRÊA, 1997), negando a possibilidade de configuração de uma homogeniedade espacial.

Mesmo se tratando de um modelo hipotético-dedutivo, é limitante analisar um espaço (intraurbano ou interurbano) considerando que a população está distribuída igualmente por todas as áreas (pressuposto 02) e que todas essas pessoas tem o mesmo poder de compra e/ou de acesso aos bens e serviços (pressuposto 08), pois não existe uma uniformidade na distribuição da população pela superfície terrestre, coexistindo assim, tanto vazios demográficos com áreas com elevadas densidades populacionais; são os fatores sociais, econômicos, naturais e políticos que definem essa organização e distribuição populacional entre os espaços. Semelhantemente, o poder de compra desses sujeitos é desigual, está diretamente relacionado à posição ou a condição de cada indivíduo na escala de estratificação social.

Quadro 10: Pressupostos da Teoria das Localidades Centrais

Pressuposto 01

Existência de uma planície uniforme e sem limites na qual há igual facilidade de transporte em todas as direcções; os custos do transporte são proporcionais a distâncias e há um único tipo de transporte.

Pressuposto 02 A população está igualmente distribuída por toda a área;

Pressuposto 03

Os lugares centrais (povoações) estão localizados nessa superfície para fornecer bens, serviços e funções administrativas á sua área de influência. São exemplo as lojas de equipamentos (bens), limpeza a seco (serviços) e os departamentos de planeamento urbano (funções. administrativas);

Pressuposto 04 Os consumidores deslocam-se ao lugar central mais próximo que forneça a função (bens ou serviços) que eles procuram. Minimizam a distância a percorrer;

Pressuposto 05

Os fornecedores destas funções agem como homens econômicos, isto é, tem como objectivo maximizar o lucro, localizando-se na planície de modo a obter o maior mercado possível. Uma vez que as pessoas se deslocam ao centro mais próximo (pressuposto 04), os fornecedores localizar-se-ão tão longe quanto possível uns dos outros de forma a maximizar as suas áreas de mercado;

Pressuposto 06

Os fornecedores procederão dessa forma, mas de maneira que nenhum consumidor fique a uma distância maior, em relação a uma dada função, do que aquela que está disposto a percorrer. Alguns lugares centrais oferecem muitas funções. São chamados centros de ordem superior. Outros, fornecendo menor número de funções, são centros de ordem inferior;

Pressuposto 07

Pressupõe-se que os centros de ordem superior fornecem certas funções (funções de ordem superior) que não são oferecidas pelos centros de ordem inferior. Fornecem também todas as funções (funções de ordem inferior) que são fornecidas pelos centros de ordem mais baixa que a deles;

Pressuposto 08 Todos os consumidores têm o mesmo rendimento e a mesma procura de bens e serviços

Fonte: Organizado pela autoria com base no texto de Bradford e Kent (1987, p. 18-19).

Como a própria nomenclatura diz, a Teoria das Localidades Centrais tem por base os conceitos de lugares centrais e centralidade. Como já apresentado ao longo dessa dissertação, a centralidade é compreendida como a importância relativa que determinado lugar possui em relação à região do seu entorno; está relacionada ao nível de oferta de funções centrais de uma cidade, tanto para si como para as áreas adjacentes; ela corresponde ao excedente de bens e de serviços por parte de uma localidade em comparação com as demais (CHRISTALLER, 1981; SILVA, 2010).

Breitbacach (1988) enfatiza que a centralidade está intimamente relacionada à função da cidade, que é a de se configurar como centro de uma região. A autora ainda ressalta que a definição de uma centralidade se faz não só pela sua posição geográfica (geométrica), mas, as suas funções e a sua capacidade de mover, de atrair fluxos para o seu centro interno, se definido assim, em um sentido abstrato.

Da concepção de centralidade “ergue-se”, conforme registra Tineu (2012), o conceito de lugares ou localidades centrais, sendo estes, sinônimos de uma área (um estabelecimento, uma rua, uma cidade) que oferta bens e serviços em relação ao seu entorno. Originalmente, Christaller (1981) caracteriza as localidades centrais como pontos no espaço nos quais os agentes econômicos se dirigem para efetivar ou suprir suas necessidades específicas; são os espaços que possuem uma maior disponibilidade e oferta de bens e serviços.

Dentro de uma malha urbana existem lugares centrais diversos, com níveis de centralidades diferentes, sendo possível identificar, lugares centrais de ordem mais elevada, de ordem mais baixa ou lugares centrais auxiliares. O que vai definir essa posição hierárquica é a “importância” de um lugar em relação à região-circundante. Assim sendo, as localidades centrais apresentam um “excendente de importância”, em contrapartida, os espaços adjacentes, ou o seu entorno, possuem um “defícit de importância” (CHRISTALLER, 1981).

Complementando as ideias expostas, Tineu (2012) reforça que nos lugares centrais, a densidade econômica, populacional e terciária é mais expressiva do que nas suas áreas circunvizinhas; e evidencia que “quanto menor for essa densidade menor sua concentração, tendendo a dispersão populacional e das atividades econômicas, o que caracteriza os lugares dispersos em contraste ao lugar central” (ibid, p. 03).

O excesso e o defícit de importância (ou de centralidade) existentes entre os lugares levou Christaller (1981) a formular o conceito de região complementar. Essa região foi definida como uma área que apresenta um déficit de importância, e que é contrabalanceada pelo excedente de centralidade das localidades centrais; segundo Silva (2010), a região complementar (ou região de influência urbana) é um espaço subordinado ao papel de um determinado lugar central de acordo com sua posição na hierarquia urbana.

Sobrepondo os conceitos de centralidade, lugar central e região de influência (ou complementar) a dinâmica urbana e regional de Mossoró, percebe-se que essa

cidade se constitui como um lugar central em virtude da concentração de bens e de serviços existentes nessa urbe. As informações apresentadas na primeira seção dessa dissertação mostram a urbe mossoroense como um espaço evidente, dotado de diversas funções urbanas. Essa visibilidade fica mais aparente quando olhamos e comparamos as condições urbanas das cidades circunvizinhas a Mossoró, uma vez que, a oferta das atividades terciárias nesses espaços é praticamente inexpressiva. Esses lugares formam, dentro da perspectiva da TLC, a região complementar ou a região de influência de Mossoró.

A importância da cidade de Mossoró em relação a sua região complementar é manifestada através da concentração populacional e econômica e por meio da oferta de bens e de serviços presentes nesse centro. Essa relevância espacial, chamada por Christaller de Centralidade, transcende os contornos intraurbanos de Mossoró; é exteriorizada pelos aspectos funcionais que adjetivam essa cidade enquanto lugar central; e evidenciada por meio dos fluxos que convergem, principalmente, de sua região de influência para o núcleo intraurbano dessa cidade.

Voltando à discussão dos conceitos-chave da TLC, Christaller (1981) afirma que a centralidade ultrapassa a ideia de posição geográfica central e se “sustenta”, principalmente, nas funções centrais de um lugar. Em outros termos, explica-se que a existência de uma localidade central “[...] é definida porque determinadas funções da cidade são exercidas por intermédio de atividades que têm necessidade de ter uma localização central [...]” (TINEU, 2012, p. 03). Dessa proposição, conforma-se outro conceito basilar da Teoria das Localidades Centrais: bens e serviços centrais – definido e explicado por Christaller (1981, p. 30) em sua tese da seguinte forma:

Os bens e serviços centrais são produzidos e oferecidos em uns poucos pontos necessariamente centrais a fim de serem consumidos em muitos pontos dispersos. Os bens e serviços dispersos são necessariamente produzidos e oferecidos em muitos pontos dispersos (ou em poucos pontos, mas não em pontos centrais), preferivelmente a fim de serem consumidos em poucos pontos).

Como a própria nomeclatura deixa explícita, os bens e serviços centrais estão relacionados às mercadorias (aos produtos) e/ou as atividades que são encontradas e ofertadas (e em alguns casos, produzidas) nas localidades centrais. Esses bens e serviços centrais apresentam uma “hierarquia”, sendo possível identificar bens de ordem elevada, que são oferecidos, majoritariarmente, nas localidades centrais de

primeira ordem; e bens centrais de ordem bem mais baixa, encontrados em lugares com baixo nível de centralidade (CHRISTALLER, 1981; SILVA, 2010; TINEU, 2012).