3.2. Como se articulam as seções no capítulo
3.2.2. O texto 'Experimentação'
A seção “Experimentação: Faça você mesmo” apresenta um conjunto de atividades
sugeridas ao estudante, que devem ser realizadas individual ou coletivamente. Essas
atividades, segundo os autores, oportunizam ao estudante desenvolver a habilidade de
organizar os trabalhos e os resultados do experimento, que devem ser anotados para a
produção de um relatório.
O texto da experimentação, diferentemente dos demais, apresenta uma característica
peculiar: inicia-se apresentando o que será feito; em seguida, apresenta a lista de
materiais que devem ser previamente preparados; e, finalmente, indica os passos para a
execução da tarefa. A atividade de leitura, realizada na instância do texto principal,
coloca-se como condição para que se realize a atividade de experimentação. Uma
orientação no Manual do Professor, sugere que na sala de aula, o professor cumpra o
papel de integrar esse texto com a atividade de experimentação. Nesse Manual (p. 10),
os autores sugerem, ainda, que a atividade experimental, quando relacionada à teoria,
deve auxiliar a “compreensão e a incorporação do conceito”. O fato de que os
experimentos sempre são apresentados no final do capítulo, após a exposição da
“teoria” no texto principal, demonstra que a função deles é sempre ilustrativa e nunca,
investigativa. Ou seja, os experimentos servem para comprovar algo já visto na teoria e
nunca, para gerar discussões que podem levar a elaborações teóricas. Há, portanto, uma
visão de ciências implícita nessa maneira de apresentar o experimento.
Veja-se um trecho do texto da experimentação relativa ao Capítulo 1 – “O papel dos
* César da Silva Júnior, Sezar Sasson, Paulo Sérgio Bedaque Santos. Ciências: entendendo a natureza: o homem no ambiente. 7ª série. São Paulo: Saraiva, 1999, p.45
* César da Silva Júnior, Sezar Sasson, Paulo Sérgio Bedaque Santos. Ciências: entendendo a natureza: o homem no ambiente. 7ª série. São Paulo: Saraiva, 1999, p.46
O texto dessa seção organiza-se em etapas: a) assunto a ser tratado e objetivos; b)
materiais – como prepará-los; c) método e teste – como executar a atividade; d)
resultados; e) conclusões – a partir de questões de orientação. Os objetivos estabelecem
uma ligação do experimento com o conhecimento científico escolar abordado no texto
principal do capítulo. São propostos num discurso interativo, que busca diálogo com o
leitor – “Nesta série de experimentos, você irá verificar...”
Os enunciadores desse texto são os autores – cujo “nós” (autores) não aparece. Sabe-se,
porém, que todo enunciado implica um enunciador, em relação ao qual é definido o
“você”. O co-enunciador é “você” – o leitor. Quanto à ação “irá verificar”, o tempo
verbal indica uma atividade futura ou convida para sua realização. As duas frases
seguintes – “... usaremos uma solução alcoólica de iodo, de cor amarronzada. Essa
solução, quando misturada a um material que contenha amido, fica roxa...” –
apresentam traços do discurso teórico-expositivo, referenciado por marcadores de um
tipo anafórico na forma de dêiticos intratextuais – “essa solução” – e uma densidade
léxica – “solução alcoólica de iodo”/“amido” e o verbo - “usaremos” no tempo futuro.
A fusão do discurso interativo com o discurso teórico, nesse trecho, evidencia o estatuto
híbrido que permeia o texto experimental de Biologia do livro didático de Ciências.
Nas orientações para as etapas b e c – respectivamente, de preparação do material e de
execução do teste –, os verbos explicitam as instruções para a realização do
experimento. Freqüentemente, esses verbos estão na voz ativa e no modo imperativo –
“coloque”, “tome”, “deixe”, “anote”. As orientações para análise dos resultados e
conclusões são genéricas, com base em questões orientadoras.
Martin (1993) esclarece que essa organização textual do experimento é do tipo
método científico empírico. Esse modelo textual é comum às sugestões de experimentos
da coleção. Algumas imagens integram o texto do experimento, indicando como realizar
algumas etapas do teste e os resultados a serem observados – no caso, a mudança de cor.
Analisando-se textos dessa seção em outras unidades, verifica-se que não é comum a
presença de imagens.
Essas imagens, quando presentes no texto experimental, são usadas para orientar etapas
do teste – como, por exemplo, observar cores das soluções de teste controle e montagem
de modelos, entre outros. Caracteriza-se esse tipo de imagem como “organizadoras de
tarefas”.
* César da Silva Júnior, Sezar Sasson, Paulo Sérgio Bedaque Santos. Ciências: entendendo a natureza: o homem no ambiente. 7ª série. São Paulo: Saraiva, 1999, p.45
O volume da 7a série da coleção da Saraiva apresenta-se constituído de 20 capítulos. A
seção “Experimentação: Faça você mesmo” está presente em 50% deles. Não é,
portanto, uma seção comum a todos os capítulos.
A análise do experimento como um todo mostra que, apesar dessa estrutura
aparentemente interativa, não há espaço para o estudante dialogar com os resultados do
previsível – a de que os alimentos possuem amido. Esse significado, que já havia sido
proposto no texto principal, é agora “provado” por meio de um experimento. Para obter
essa “prova”, o aluno deve seguir atentamente as etapas descritas. Não há nenhuma
possibilidade de variações ou de diálogo com esse resultado. Assim sendo, o que se
destaca é uma visão implícita de Ciências como um conjunto de verdades que podem
ser provadas pelos fatos.
A coleção da Ática não apresenta uma seção dedicada a atividades de experimentação,
como acontece na da Saraiva. É uma prática pouco explorada na coleção. Localizei, no
Caderno de Atividades para a 6a série, sugestões de observação de características
externas e de comportamento de alguns seres vivos, orientações para a montagem de um
aquário e de um terrário e apenas uma sugestão de observação de processo celular – a
fermentação. Assim, não há como analisar e comparar essa seção nas duas coleções nem
tampouco como caracterizar qual o significado que os autores da coleção da Ática dão a
esse tipo de atividade no processo de ensino/aprendizagem dos conceitos científicos. No
item “Estratégias Gerais”, no Manual do Professor dessa coleção, os autores destacam a
importância das experiências no desenvolvimento da habilidade de raciocínio e a
possibilidade de se motivar os estudantes para o aprendizado, quando se aplicam os
conteúdos em situações cotidianas. Sugerem a preparação da atividade experimental
pelo professor, cuidados e comportamento dos estudantes no laboratório, técnicas de
trabalho e procedimentos em caso de acidentes. Entretanto não apresentam sugestões
dessas atividades no livro do aluno.