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O tipo de linguagem usado no Mensageiro Instantâneo

Capítulo 3. O Mensageiro Instantâneo

3. O tipo de linguagem usado no Mensageiro Instantâneo

Cada época tem tido a sua forma própria de comunicação: as primeiras formas de comunicação foram os gestos e os sons, a pintura rupestre, que remonta à pré-história, a linguagem dos tambores, os sinais de fumo, os sinais com panos ou bandeiras, mais recentemente apareceram o rádio, o telefone, o telégrafo, a televisão e, nos últimos tempos, as formas de comunicação através da Internet e dos telemóveis.

Na Idade Média, eram as imagens esculpidas nas catedrais que nos transmitiam o saber, mas Gutemberg alterou o estado das coisas com a invenção da imprensa. Posteriormente, o cinema e a televisão deram a primazia à imagem no nosso quotidiano, mas actualmente, a Internet fez a escrita voltar a ser o elemento principal da comunicação. (Cardoso, 2003) Segundo este mesmo autor, “A Internet representa uma espécie de vingança da escrita face às imagens.” (p. 80) O autor explicita esta ideia dizendo que, na segunda metade do século XX, a imagem através da televisão dominou a comunicação. Para além de Marshall

McLuhan, autor do conceito de aldeia global, outros, que comungam da mesma linha de pensamento, enalteceram o sucesso da imagem e a forma como, através dela, face à proximidade dos acontecimentos, se construiu um planeta semelhante a uma aldeia. (Cardoso, 2003)

Umberto Eco, no seu texto “Da Internet a Gutemberg”, diz que a Internet representa “o regresso da escrita ao topo da pirâmide comunicativa”. (Cardoso, 2003, p. 80)

Também Cardoso, que não exclui o predomínio da imagem nem a sua relevância no futuro com o aumento da capacidade da banda de transmissão, acredita que a escrita será o elemento de comunicação por excelência da Internet.

Embora na sociedade actual, no nosso dia-a-dia, ainda se leia mais do que se escreve, se comunique essencialmente através da oralidade, quer seja face a face, através do telefone ou do telemóvel, a escrita, com o aparecimento da Internet, passou a desempenhar, de facto, um papel fundamental. Na comunicação mediada através da Internet, escrevemos se queremos comunicar com os outros. No entanto, convém referir que esta escrita é diferente, é uma escrita oralizada em que se escreve como se fala.

Escrever como se fala exige rapidez e agilidade, o que nos obriga a que recorramos à inclusão de abreviaturas e, sendo o Inglês a língua mais usada na Internet, utilizamos letras, palavras e acrónimos ingleses.

Actualmente, assiste-se à adopção e à utilização normal de palavras como print screen, caps lock, enter, delete, copy, past, download e à criação de verbos como delitar e printar. Estas expressões, por vezes, são entendidas por pessoas que até usam muito pouco o computador e, por vezes, são empregadas por utilizadores que sabem que correspondem a uma certa funcionalidade informática, mas sem que saibam claramente o seu significado, isto é, nem todos aqueles que utilizam as referidas expressões dominam a língua inglesa. (Almeida, 2004) O facto de o Inglês se ter imposto como língua universal na Internet, tem levado alguns autores a reflectirem sobre este assunto; alguns defendem acerrimamente a sua língua, todavia, outros não são tão radicais. De facto, uma língua é uma estrutura viva em evolução,

que vai fazendo incorporações e se vai renovando. No entanto, como referido por Almeida (2004), “Há que cuidar da sua continuidade como língua própria”. (p. 52)

Refere ainda este autor que “O futuro da ortografia no decorrer do século XXI, a linguagem escrita e a sua dinâmica, por decorrência das novas tecnologias, promoverá o nascimento de uma “neografia” derivada dos novos dispositivos de comunicação.” (p. 53) Assim, acreditamos que, a nível global, novos códigos linguísticos serão institucionalizados e uma nova ortografia será aceite. A Internet imporá uma nova forma de comunicar que irá influenciar e, por sua vez, sofrerá também a influência de outras formas de comunicação actuais, como acontece, por exemplo, com as mensagens escritas dos telemóveis ou SMS. Estes novos códigos serão absorvidos e passarão a fazer parte do nosso quotidiano. A assimilação de novos vocábulos é já evidente e indiscutível nesta nova época, como resultado das tecnologias de informação e comunicação.

Surge também como incontornável, que uma vez aplicadas as regras da integração, passamos a usar como nossas as palavras mais variadas oriundas de outras partes do mundo. Habituamo-nos à sua funcionalidade e tomamo-las como se fossem heterogéneas ao nosso vocabulário. O mesmo se passa relativamente à forma como escrevemos determinado vocábulo, seja ele oriundo da língua materna ou importado. Grafamos a palavra de certa maneira e assim recebemos o seu significado imediato conceptualizado, obedecendo correctamente às regras gramaticais impostas. (Almeida, 2004, p. 57)

Uma das crítica que é apresentada à interacção mediada pela Internet, nomeadamente à que é feita através dos Chats e do Messenger, por inexistência de indicadores verbais comparativamente com a interacção face a face, é que é reduzida ou praticamente inexistente a expressividade deste meio de comunicação.

No entanto, esta dificuldade referida por alguns críticos já foi ultrapassada, já não faz qualquer sentido com a introdução dos emoticons, que são uma forma de comunicação paralinguística, usada normalmente nos mensageiros instantâneos. O nome "emoticon" resulta da junção da contracção do inglês emotion + icon.

De acordo com a Wikipédia, um emoticon, por vezes chamado smiley é: “uma sequência de caracteres tipográficos, tais como: :), ou ^-^ e :-); ou, também, uma imagem (…), que

traduzem ou querem transmitir o estado psicológico, emotivo, de quem os emprega, por meio de ícones ilustrativos de uma expressão facial.”

Baym define emoticons como sendo: “graphic icons built out of punctuation marks, are the most famous kind of new expressive cue.” (Marcelo, 2001, p. 99) De acordo com este autor estes icons ”são uma nova forma de expressar informação não verbal, porquanto se definem como a representação da expressão facial de uma pessoa que transmite informação sobre o seu estado de ânimo.” (p. 99)

A origem dos smileys e emoticons, como ainda dos acrónimos e abreviaturas, é anterior ao surgimento da Internet; eles foram desenvolvidos pelo serviço secreto de um país do sudoeste europeu em 1979, para que apenas pessoas altamente treinadas na arte de decifrar pudessem compreendê-los. (Benedito, 2002)

A técnica básica deste sistema criptográfico baseava-se na rotação a 270 graus dos caracteres digitados, tornando-os praticamente impossíveis de serem lidos por aqueles que não conheciam esta arte. Com o fim da Guerra Fria, o uso militar dos emoticons tornou-se obsoleto e hoje só é preciso muita criatividade e um pouco de paciência para entendê-los. (Benedito, 2002, p.125)

A autora atrás mencionada explica que é devido ao pouco espaço disponível para guardar as mensagens e assim optimizar os recursos, não interferindo com a compreensão da mensagem, que nos telemóveis se usam abreviaturas (os estranhos usos do k, do h, do x). Os utilizadores dos Chats (inclusive do Messenger) usam essas abreviaturas essencialmente por razões de rapidez, mas também pela lei do menor esforço, de sedução, de ser moda, etc. Para além dos smileys, há também ícones designados por winks (piscadelas) no Windows Live Messenger que podem ser enviados individualmente ou enviados com uma mensagem de texto. Para introduzir um smiley numa mensagem e enviá-lo para outro utilizador, o smiley deverá ser escolhido da lista disponibilizada pela aplicação ou então deve ser escrito directamente na mensagem. Para escolher um smiley da lista global, o utilizador de um mensageiro deverá primeiro pressionar o botão de “seleccionar emoticons”, situado na barra de ferramentas e, após surgir a lista, escolher o que mais lhe convier. Se pretender escrevê-lo directamente no texto da mensagem, o utilizador pode colocar o ponteiro do rato em cima do ícone e ver a sua representação gráfica para reproduzir o smiley pretendido.

Apresentamos de seguida uma lista de smileys muito usada no Messenger.

Smile :-) or :) Open-mouthed :-D or :d

Surprised :-O or :o Tongue out :-P or :p

Wink ;-) or ;) Sad :-( or :(

Confused :-S or :s Disappointed :-| or :|

Crying :'( Embarrassed :-$ or :$

Hot (H) or (h) Angry :-@ or :@

Angel (A) or (a) Devil (6)

Don't tell anyone :-# Baring teeth 8o|

Nerd 8-| Sarcastic ^o)

Secret telling :-* Sick +o(

I don't know :^) Thinking *-)

Party <:o) Eye-rolling 8-)

Sleepy |-) Coffee cup (C) or (c)

Thumbs up (Y) or (y) Thumbs down (N) or (n)

Beer mug (B) or (b) Martini glass (D) or (d)

Girl (X) or (x) Boy (Z) or (z)

Left hug ({) Right hug (})

Vampire bat :-[ or :[ Birthday cake (^)

Red heart (L) or (l) Broken heart (U) or (u)

Red lips (K) or (k) Gift with a bow (G) or (g)

Red rose (F) or (f) Wilted rose (W) or

(w)

Camera (P) or (p) Filmstrip (~)

Cat face (@) Dog face (&)

Telephone receiver (T) or (t) Light bulb (I) or (i)

Note (8) Sleeping half-moon (S)

Star (*) E-mail (E) or (e)

Clock (O) or (o) MSN Messenger icon (M) or

(m)

Snail (sn) Black Sheep (bah)

Plate (pl) Bowl (||)

Pizza (pi) Soccer ball (so)

Auto (au) Airplane (ap)

Umbrella (um) Island with a palm

tree

(ip)

Computer (co) Mobile Phone (mp)

Stormy cloud (st) Lightning (li)

Money (mo)

É nossa opinião que, recorrendo a estes códigos emocionais que pretendem transmitir os nossos sentimentos, a linguagem utilizada na Internet não é tão fria como alguns supõem, para além de que, embora não se veja, normalmente até se sabe quem está do outro lado do Messenger.

A este respeito, Almeida (2004) refere:

Associado à emergência desta nova linguagem está aquilo que conhecemos por emoticons ou formas de exprimir sensações e sentimentos; são sinais que formam por si só uma nova linguagem. Estes símbolos compostos permitem-nos comunicar aos demais aquilo que sentimos ou pensamos de forma mais emotiva, mais quente, mais afável, em suma, mais pictórica. (p. 62)

Assim, os emoticons são um complemento da linguagem ortográfica, uma espécie de auxílio que, conjuntamente com a escrita, dão significado a uma expressão instantânea do utilizador.

Para além dos emoticons, também na Internet são usadas abreviaturas, que são imensas, inventadas continuamente e que mudam consoante a língua. A título de exemplo, vejamos algumas abreviaturas que são usadas na Língua Portuguesa e outras inglesas, mas que são entendidas por quase todos os cibernautas.

ddtcls De onde teclas? Bfds Bom fim-de-semana Bjs Beijos Lx Lisboa c/o Como c/ Com

Ily Amo-te (do Inglês I love you)

Msm Mesmo Msg Mensagem K Quê Obg Obrigado Pq Porque Qq Qualquer

rotfl Rebola-se no chão de riso (do inglês rolling on the floor laughing)

Tb Também

Tks Obrigado (do inglês Thanks)

Lol A rir alto (do inglês laughing out loud) Ok Tudo bem (do inglês Okay)

Esta linguagem usada na Internet impõe-se por razões de ordem prática. Os seus utilizadores desenvolveram, ao longo do tempo, esta linguagem específica, para retirarem o máximo proveito dos serviços da Internet como chats, emails, fóruns de discussão e Messenger, que exigem velocidade de escrita. Qualquer um que aceda à Internet depara com esta linguagem cibernética, que está em contínua evolução e contando sempre com o surgimento de novas palavras.

Assim, com estas novas formas de comunicação, qualquer língua, independentemente da nacionalidade, é afectada. A rapidez exigida por estas formas de comunicar, obriga-nos a procurar, a inventar e a aplicar novas formas de nos expressarmos. Porém, os códigos que vão surgindo são unanimemente claros e explícitos. Quando somos confrontados com algumas dessas expressões, de imediato apreendemos o seu conteúdo e compreendemos o seu significado. (Almeida, 2004)

No entanto, o uso da língua tal como a conhecemos não desaparece, coexistindo com estes novos códigos; e quem desconhece estas novas formas de linguagem pode sentir-se excluído na Internet.

Relativamente ao seu livro “Dicionário da Internet e do Telemóvel”, Joviana Benedito, no site da Editora Centro Atlântico, refere num artigo:

“Apesar de existirem na Internet muitas listas de smileys, acrónimos e abreviaturas em muitas línguas, o "dicionário" que agora se apresenta é a publicação mais actualizada e adaptada ao mundo lusófono, porque, para além de uma lista de caracteres e símbolos mais correntes em português, inglês, francês e espanhol, sintetiza as normas consensuais e outras, para que qualquer novo utilizador possa aprender e ser original a enviar mensagens no TLM ou na Internet.”

Neste seu dicionário, Benedito (2003, p.193) dá então a conhecer as normas para digitar de forma mais rápida, que a seguir se apresentam:

- Economizar caracteres; - Cortar as vogais quase todas; - Aproveitar o som dos vocábulos;

- Empregar muitos sons onomatopaicos como ronc, miau, quá - Servir-se de todos os signos do teclado;

- Usar maiúsculas só em abreviaturas e acrónimos, pois noutras situações significa que se está a gritar;

- Usar o h para acentuação, abreviaturas e acrónimos; - Não usar acentos;

- Usar x em vez de ch; - Usar k em vez de qu;

- Para os meses, usar as antigas abreviaturas: Jan, Fev, Mar, … - Para os nomes das disciplinas também: Port, Fr, Ing, Mat, …

Para além destas normas, a autora refere ainda que o jovem poder criar outras e que tudo é admitido nas mensagens escritas, desde que todos compreendam o seu significado.

Também para escrever de forma rápida em Português, a mesma autora apresenta, entre muitas, as abreviaturas, siglas e acrónimos que a seguir se demonstram, mas começa por definir abreviaturas e acrónimos da forma que se descreve a seguir:

“Abreviaturas são representações de uma palavra ou expressão com menos letras do que a sua grafia normal. Acrónimos são as siglas formadas pelas letras iniciais de vários vocábulos, pronunciados de forma contínua, como uma palavra normal e não soletrada. Exemplo: Fao, Unesco por oposição a CGTP OU UGT, siglas que se soletram.” (Benedito, 2003, p. 195/205)

De acordo com a autora citada, apresentamos as seguintes abreviaturas:

- menos

$ dinheiro, riqueza, “massa” e afins

@ t escrevo-te um mail + mais +/- mais ou menos + trd mais tarde = mente igualmente = igual 1 mnt um minuto 1mmt um momento 2 tu

6 (< ci/si) Exemplo: 6nema

7D semana

BI bilhete de identidade

Bjs beijos

bm d bom dia

b trd boa tarde

b nte boa noite

dnd donde

dp depois

FDS fim-de-semana

Conforme Benedito (2003), relativamente a simbologia, apresentamos, entre outros, alguns smileys e emoticons de sorrisos e risos de várias culturas:

:’ -~) chorar de alegria

^ F ^ feliz

) : - ) : - ) : - ) gargalhada ruidosa e grosseira

:- ) ha ha

| - ) he he

:-)))) mt feliz

: ))))))) mt mt feliz

(hmmm)Ooo .. :- ) pensamentos felizes

^*_*^ retribuir sorriso

(^_^)/~~ rindo e dizendo adeus com um lenço

:-D rindo mt

(^O^) rindo mt

:- )))) rir às gargalhadas

(^_^;) rir contendo o nervosismo

\ \/ / saudação vulcânica “) sorriso : ]]] sorriso [‘.’] sorriso [‘_’] sorriso :-( )=() sorriso aberto ( ^ – ^ ) sorriso asiático <^ – ^> sorriso chinês <-.-> sorriso com sono

:-7 sorriso torto

Carmo (2004) começa com a frase que a seguir se transcreve, o seu artigo “A Língua portuguesa na Internet”, publicado no site Janus Online, Espaço Online de Relações Exteriores:

“Ola :) o q keres fazer? Qd mto ver aquele filme LOL q estreou a smn passd. Diz ASAP bjs.” (p. 1)

E pergunta a autora: “Será isto que a Internet está a fazer à língua portuguesa?” (p.1) A este respeito refere ainda:

Isto e muito mais. Se em 1999 a língua portuguesa apresentava um atraso de mais de 400 mil conceitos em relação às línguas dominantes, segundo o Eurodicautom (sistema de tratamento electrónico de terminologia multilingue da Comissão Europeia), a massificação da comunicação digital veio alterar vertiginosamente esta situação. Para o bem e para o mal. O português do Brasil revela há muito uma dinâmica muito superior ao de Portugal na adopção de neologismos que reflectem diferentes realidades, incorporando sobretudo

expressões do inglês. Porém, a banalização do correio electrónico ou do serviço de mensagens escritas (sms) veio acelerar em grande escala este movimento no pequeno quadrado onde supostamente se fala o “português de lei”. (Carmo, 2004, p. 2)

O exemplo apresentado por Carmo traduz apenas uma ínfima parte dos códigos que constituem a enorme lista de expressões que são usadas na Internet actualmente.

De facto, o número de mensagens provenientes da comunicação on-line tem aumentado desmesuradamente e a linguagem usada é composta por abreviatura em Português e em Inglês, siglas, acrónimos e símbolos gráficos e cada vez mais se verifica uma apropriação crescente desses códigos pelos utilizadores da Internet, normalmente pelos mais jovens, para comunicar.

Como a troca de mensagens deve ser agilizada, criou-se a Netiqueta, que são normas de etiqueta (comportamento) que devem ser respeitadas no ciberespaço. Essas regras reflectem normas gerais de bom senso para a convivência dos milhões de utilizadores da rede.

O receio de que este tipo de linguagem venha adulterar a Língua Portuguesa causa reacções entre os especialistas: há, por um lado, aqueles que defendem que a adopção deste tipo de linguagem leva a uma descaracterização preocupante da língua, conduzindo inevitavelmente à perda significativa da identidade linguística. Estes especialistas fazem sentir as suas preocupações quanto a esta forma de comunicação digital, vendo-a como uma forma de corrupção linguística. Por outro lado, há outros que acreditam que a linguagem usada na Internet não corrompe a língua, e, pelo contrário, faz com que novos vocábulos passem a incorporá-la, o que constitui somente mais uma forma de a utilizar. (Carmo, 2004)

A este respeito Benedito (2002) exprime que se trata de:

uma forma geral de interactividade que tem detractores e defensores. Para os primeiros o Chat é negativo porque não se tem em atenção a utilização da língua padrão nem se aprofunda tema nenhum. Para os segundos, o Chat é um meio facilitador das relações sociais que propicia a criatividade colectiva. (p. 12)

É opinião de Benedito que o Chat é um fenómeno que se encontra em expansão que nem a força daqueles que o censuram conseguirá parar.

Num estudo recente, de Moreira (2006), denominado “Você Fala “Chatês”?” – Chats e SMS: Possibilidades de Utilização de Novos Media na Aprendizagem da Língua Materna – em que a autora questiona como algumas das novas tecnologias da comunicação, nomeadamente os telemóveis, os Chats e os programas de Mensagens Instantâneas podem ter influência no uso da língua materna e na correcta aprendizagem das suas normas por parte dos jovens utilizadores. A autora tentou perceber esta nova forma de comunicação, tendo acabado por classificá-la como sendo um código híbrido, já que resulta da junção de particularidades da língua materna com características muito específicas: os smileys, os emoticons, as abreviaturas, os acrónimos e as siglas. A autora é da opinião que este tipo de linguagem não põe em risco o conhecimento e o domínio da língua materna, mas que é um factor que contribui para a permanente adaptabilidade e transformação da mesma. Relativamente aos chats, considera que estes desempenham na sociedade um papel social, sendo um elemento de integração dos jovens no seu grupo de pertença.

Segundo a autora, os utilizadores destas formas de comunicação revelam uma grande criatividade, grande capacidade de síntese e facilidade de introdução de vários níveis da língua no próprio “Chatês”. (Moreira, 2006)

Não podemos deixar de corroborar a opinião das autoras atrás referidas (Benedito e Moreira), que reiteramos, mas não sendo linguistas, deixamos estas questões para os especialistas da língua, já que não é objectivo deste estudo abordar este tema de forma exaustiva.

Não podemos, no entanto, deixar de referir que esta nova forma de comunicação fez com que os jovens, nos tempos que correm, voltassem a escrever, voltassem a dar a primazia à escrita, embora estejamos perante um novo tipo de escrita, uma escrita diferente, uma escrita oralizada.

Convém ainda referir que este tipo de linguagem usado no Messenger está a entrar cada vez mais na Escola actual e até na sala de aula, sobretudo nos trabalhos escritos, nos apontamentos e até nos testes.

escrita em estilo cibernético na sala de aula acontecem muito. Explica a autora que se trata de um fenómeno recente que surgiu há quatro ou cinco anos. Segundo Branco, este fenómeno que se estende um pouco por todo o mundo, tem como causa o facto de, nos tempos actuais, não se praticar muito a escrita, actualmente não se escreve muito e a comunicação é mais imediata. (Macedo e Julião, 2006)

Em contexto educativo, é então de salientar que alguns alunos não conseguem libertar-se desta forma de linguagem cibernética, “Internautês”, expressão usada por alguns autores para denominarem este novo tipo de linguagem, sendo, em nossa opinião, a sua utilização em contexto educativo aceitável para tirar apontamentos, mas nunca em testes escritos. O importante, em nosso entender, será não adoptar uma atitude negativa perante este tipo de linguagem e consciencializar os alunos para o facto de que ela constitui uma variante da língua que tem contextos de aplicação próprios, devendo o emissor saber distinguir os contextos em que se pode usar essa variedade da língua ou a língua padrão.