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4. CONTRATOS

4.3. Contratação de uma Obra

4.3.3. O tratamento ao risco

O setor da construção civil é tido como um dos setores mais dinâmicos, arriscados, desafiadores e ao mesmo tempo rentáveis. Como qualquer outro setor de atividade econômica, a indústria da construção civil é exposta a uma série de riscos.

O risco é inerente à implantação de todos os novos empreendimentos de construção civil e pode ser assumido pelo contratante, ou transferido ou assumido por outra parte mediante uma compensação justa.

O princípio para se determinar se um risco deve ser transferido é a analise de se a parte receptora do risco possui a competência não só para recebê-lo como também o conhecimento para mitigá-lo e minimizá-lo.

Usualmente, considera-se entre os riscos mais comuns de um empreendimento de construção civil aquele relacionado ao desvio de custo, isto é, o projeto excede o seu orçamento e pode colocar em perigo a rentabilidade desejada do empreendimento. Isto pode ocorrer por diversas causas e entre elas a natureza do projeto e pelo próprio arranjo e relacionamento entre as partes do contrato. Há também o risco financeiro isto é, o fluxo de caixa ou o financiamento admitido na formação do preço pode ocorrer de forma diferente.

Outro está relacionado com o prazo isto é, a duração da fase de obra é diferente daquela considerada em seu planejamento que pode ser altamente prejudicial para a qualidade do empreendimento desejada.

Há outro risco também, que é relacionado à fase de projeto do empreendimento que pode apresentar falhas ou não atender às necessidades do seu proprietário provocando modificações ao longo das fases sobrepostas de implantação do empreendimento.

Há ainda o risco de aumento de escopo, que pode ocorrer caso não tenha havido uma correta interpretação dos requisitos do contratante em relação ao seu projeto.

Vários autores afirmam que a correta alocação de riscos é que regerá o sucesso de uma contratação.

Ricardino (2009), por exemplo, diz que:

“o acordo entre as partes contratantes e contratadas deve ser equilibrado, isto é, deve pautar-se por uma política clara e coerente de distribuição do risco, criando uma base firme para a resolução das controvérsias que possivelmente ocorrerão ao longo da execução do empreendimento.”

Outros afirmam que a escolha do contrato, envolve inevitavelmente a alocação dos riscos. Os maiores problemas se iniciam em casos quando os riscos são inadequadamente transferidos para uma parte que não tem a devida competência para lidar com ele.

Uma alocação de riscos inadequada pode resultar no descumprimento do contrato por uma das partes, e conseqüentemente na quebra do mesmo, o que romperá a relação contratual inicialmente desejada.

Muitas vezes a simples escolha por um contrato típico pode forçar tanto o contratado ou o contratante a suportar a maior parte do risco, e este pode não estar preparado para tal. Este fato pode ser também um grande causador de reivindicações

As diferentes tipologias de contratos possuem vantagens. Há várias variações que repartem os riscos de construção para a parte que melhor pode gerir e controlar os riscos.

Portanto, existem evidências de que a seleção do sistema contratual raramente considera um amplo espectro de fatores e respectiva alocação dos riscos, razão pela qual muitas vezes se emprega o sistema tradicional ou se repete o que comumente é aplicado no mercado.

Conforme já mencionado anteriormente, autores argumentam que a alocação de riscos representa um aspecto estratégico na contratação e organização do empreendimento e desta forma, portanto, se faz necessário o emprego de combinações de modalidades contratuais, os quais podem ser aplicados inclusive em fases distintas de um mesmo empreendimento. Um dos processos preferidos para se evitar disputas é o de escrever clausulas dentro de um contrato que elucidem e quantifiquem o risco para a “outra parte”. Essa “outra parte” é usualmente o Contratado e é normalmente o contratante ou o seu representante que escreve o contrato (HARTMANN 1994), enfraquecendo, portanto o equilíbrio mencionado.

Segundo Rahman (2004) os arranjos contratuais clássicos normalmente determinam de forma clara e definitiva a alocação de riscos (e responsabilidades e encargos) entre as partes interessadas. Porém, ele continua todos os riscos e incertezas não são previsíveis e quantificados no início, e este pode ser um dos principais problemas também.

Os riscos previsíveis, por outro lado, podem se modificar e alavancar outros, requerendo consideráveis ajustes durante a execução do projeto.

Desta forma, portanto, para qualquer empreendimento, é essencial que cada parte/participante esteja consciente dos riscos que serão assumidos ou que serão esperados que sejam assumidos, para que eles possam se preparar para tal, e possam realizar de forma eficiente o gerenciamento destes.

A preferência pela alocação dos riscos, forma de transferência e ações para mitigá-los e prevení-los deve ser totalmente considerada ao longo de uma contratação e será o fator

determinante na escolha da estratégia contratual e consequente modalidade contratual a ser adotada para determinado empreendimento.

Porém, para a contratação de obras de super e hipermercado, a abordagem em relação à alocação dos riscos isoladamente, não poderá mitigar o risco de incidência de reivindicações. Este fator pode ser um motivo para aumento do valor do contrato, e em se tratando de um empreendimento tão sensível ao aumento do investimento inicial, não é solução, justamente pelos aspectos já abordados no presente trabalho.

O que deve ser buscado é o correto entendimento sobre os principais motivos capazes de levar à incidência de reivindicações e entender como a estratégia contratual e a modalidade selecionada, dentro do sistema proposto, podem contribuir para que estas incidências sejam mais bem controladas e minimizadas.

As pesquisas que se desenvolvem neste sentido cada vez mais deixam a clareza de que estratégias contratuais inovadoras e corretamente adequadas às características específicas de cada empreendimento podem trazer resultados bastante satisfatórios tanto para contratante como para contratado.