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O tratamento da memória pela narrativa de Eduardo Sacheri

No documento – PósGraduação em Letras Neolatinas (páginas 101-148)

Detalhes de uma sala de trabalho ou dos corredores de um arquivo. Nomes de ruas cruzadas durante uma vida. Horários precisos de entrada de um inquérito. A memória de um anúncio de morte. A memória de um amor entre desconhecidos que ecoa em um já conhecido amor. Pretextos que amparam um desejo antigo. Imagens, lugares, datas certeiras ou estimadas, frases ditas por um amigo. A captura e a soltura de um culpado. A penalidade por mãos inimagináveis. Uma punição perpétua. Uma autopunição perpétua.

Beatriz Sarlo (2005) reflete sobre uma característica inerente e incontrolável do passado: ainda que se queira reprimi-lo ou deixá-lo restrito ao espaço do ontem, o mesmo “sigue allí, lejano y próximo, acechando el presente como el recuerdo que irrumpe en el momento menos pensado, o como la nube insidiosa que rodea el hecho que no se quiere o no se puede recordar.”133 (SARLO, 2005, p.9). A autora o compara a um aroma que chega sem que se queira ou espere, daí que optar por não recordar é o mesmo que “proponerse no percibir un olor, porque el recuerdo, como el olor, asalta, incluso cuando no es convocado.”134 (SARLO, 2005, p.9). Nesta medida, em La pregunta de sus ojos, o passado surge como este “olor que asalta” e que impulsiona o personagem narrador Benjamín Miguel Chaparro a querer capturá- lo através da arte e organizá-lo em forma de palavras.

De acordo com Sarlo, recordar e entender são ações que caminham juntas. Se entender se apresenta como mais importante que recordar, o ato de recordar se mostra imprescindível para que se chegue a algum tipo de entendimento. Recordar, nesta medida, surge como caminho de organização e entendimento de um passado “soberano e incontrolable” que sempre “se hace presente”135. (SARLO, 2005, p.10). E é justamente a partir do tempo presente que este passado é recordado e, assim, entendido. Em La pregunta de sus ojos, entender os caminhos que conduziram um homem a fazer justiças com suas próprias mãos requer recordar a história de vida

133 Em português: “segue ali, distante e próximo, espreitando o presente como a lembrança que irrompe no momento menos pensado, ou como a nuvem insidiosa que rodea o fato que não se quer ou não se pode recordar.” (SARLO, 2005, p.9). (N. do T.)

134 Em português: “propor-se a não perceber um cheiro, porque a recordação, como o aroma, acomete inclusive quando não é convocada.” (SARLO, 2005, p.9). (N. do T.)

deste mesmo homem. É a partir do ato de memória de um personagem que o leitor tem acesso a histórias de vida que se imbricam ao redor de uma morte. E é também na rememoração destes momentos de vida que somos levados a refletir temas como o tratamento da memória pela literatura.

No que concerne ao diálogo entre literatura e este passado que “se hace presente” do qual nos fala Sarlo, Márcio Seligmann-Silva136 (2012) afirma que

a relação do passado com o presente e a necessidade de refletirmos criticamente sobre as experiências e vivências individuais e coletivas, a partir das quais se constroem os relatos sobre o passado, são preocupações que não se limitam ao âmbito profissional de historiadores, mas que estão presentes nos estudos literários, artísticos e culturais, perpassando linguagens e mídias diversas. (SELIGMANN-SILVA et al., 2012, p.9)

Com base nas palavras de Seligmann-Silva, confirmamos que o passado também pode ser recordado (e entendido) pelo discurso artístico. Como explica o autor, a abordagem do passado não se restringe ao campo da disciplina História, mas encontra possibilidades de realização a partir de diálogos interdisciplinares com os Estudos Literários, Filosóficos, Culturais, em Artes Plásticas, Visuais e Inter- Semióticos (2012, p.9). O tratamento da memória pela Literatura, nesta medida, se justifica quando refletimos o discurso literário enquanto instrumento que também é capaz de dialogar com o passado a partir do viés ficcional.

Em La pregunta de sus ojos, o passado “se hace presente” a partir de personagens que se encontram enredados a fatos que os impedem de seguirem com suas vidas sem que este passado constantemente ressurja e os interpele. Nesta medida, vemos que este passado se faz presente a partir do impacto pela morte da jovem, que atua de modo distinto em Benjamín Chaparro e no viúvo Morales, aqui já analisados no capítulo referente aos personagens. Chaparro sofre com o bloqueio amoroso que lhe submete a décadas de silêncio, de idas e vindas de um amor que o sufoca e o faz sofrer calado. A vida de Morales, por sua vez, mantém-se estagnada, posto que o personagem tem sua morte simbólica consolidada com a morte de sua esposa Liliana.

Agora bem, Morales sofre pela perda de sua mulher e Benjamín porque nunca teve aquela a quem ama. Dois homens que tentam seguir com suas vidas

marcadas pela dor da perda: do que tiveram ou do que desejaram ter. E, diante desta dor, os personagens posicionam-se de modo diverso: o convívio perpétuo com um passado que não pode ser esquecido e a organização deste passado através da escritura. Se Morales demonstra por vezes ter recalcado a sua dor, suas ações revelam um homem obcecado por encontrar ao culpado pela morte de sua mulher. Ao final descobrimos que, de fato, sua vida não avançou. Pelo contrário, desde as buscas incansáveis nos terminais de trens até a prisão do assassino por conta própria, entendemos que, com a morte de Liliana, Morales também encontra a sua própria morte:

– Disculpe, don – me acerqué sonriendo. Siempre me produce una cierta turbación entrar a un negocio en el que no tengo intenciones de comprar nada–. Ando buscando a un muchacho que suele parar acá, alguna que otra tardecita. Es medio rubión. Bastante pálido. Un tipo alto, flaco. Usa un bigotito recto.

El gordo me miró. Supongo que para regentear un bar en el Once una de las competencias necesarias es distinguir rápidamente a los locos y a los estafadores. Pareció descartar en silencio que yo estuviese incluido en alguna de las dos categorías. Asintió levemente y miró el mostrador, como iniciando una búsqueda en la memoria.

– Ah – dijo de repente. – Ya sé. Usted lo busca al Muerto.

No me sorprendió que caracterizara a Morales de ese modo. No había ni asomo de burla en su voz. Era sencillamente una caracterización objetiva construida a partir de ciertos signos evidentes. Un cliente que viene todas las semanas, pide lo mismo, paga con cambio y se pasa dos horas en silencio, inmóvil, mirando hacia fuera, puede resultar bastante parecido a un cadáver o a un fantasma. Por eso no sentí que hubiera de mi parte una traición, o un sarcasmo, o una exageración cuando le contesté que sí.137 (SACHERI, 2010, pp.181-182)

Não só Isidoro tem sua vida encarcerada até seus últimos momentos de vida. Com a prisão do assassino de sua mulher, Morales também se apresenta ao leitor

137 Em português:

“– Desculpe, moço – disse eu e me aproximei sorrindo. Sempre me produz certa perturbação isso de entrar numa loja na qual não tenho intenção de comprar nada. – Estou procurando um rapaz que costuma parar aqui, um ou outro final de tarde. É meio louro. Bastante pálido. Um tipo alto, magro. Usa um bigodinho reto.

O gordo me encarou. Imagino que, para gerenciar um bar no Once, uma das habilidades necessárias seja distinguir rapidamente os malucos e os caloteiros. Ele pareceu descartar, em silêncio, que eu me incluísse em alguma das duas categorias. Fez que sim levemente o olhou para o balcão, como se iniciasse uma busca na memória.

– Ah – disse de repente. – Já sei. O senhor está procurando o Morto.

Não me surpreendeu que ele caracterizasse Morales desse modo. Não havia nenhum indício de gozação em sua voz. Era simplesmente uma caracterização objetiva, construída com base em certos sinais evidentes. Um cliente que vem todas as semanas, pede a mesma coisa, paga com dinheiro trocado e passa duas horas em silêncio, imóvel, olhando para fora, por ficar bastante parecido com um cadáver ou um fantasma. Por isso, não senti que houvesse de minha parte uma traição, ou um sarcasmo, ou um exagero, quando respondi que sim.” (SACHERI, 2011, p.119).

como uma vítima perpétua das decisões que toma, quando decide transportar seu passado de dor para dentro de sua própria casa, para seu presente, para o resto de seus dias: “¿No pasaba el tiempo, para este hombre? ¿Todo era un eterno presente que se sumaba a los anteriores?”138 (SACHERI, 2010, p.288).

– Pobre tipo.

Las dos palabras que pronunció Báez flotaron un segundo sobre la mesa hasta que se evaporaron y volvió el silencio. No contesté, pero entendía sin lugar para el equívoco de quién estaba hablando el policía. No hablaba de Romano, ni de Gómez, ni de él, ni de mí. Hablaba de Ricardo Morales, que de lleno o de rebote, de primera o de segunda, por h o por b, girara como girase la perinola, terminaba siempre inmolado como una víctima perpetua.139 (SACHERI, 2010, p.214)

Por sua vez, Chaparro se utiliza do literário como mecanismo de ordenamento de fatos que já integram a sua própria história. Como já dito, em La pregunta de sus

ojos, o ato de recordar se efetiva a partir da escritura deste personagem, quem, após

aposentar-se como pró-secretário de uma Secretaria de Instrução de Buenos Aires, decide contar a história de vidas que se cruzam em um romance. É também Beatriz Sarlo quem afirma que

el tiempo pasado es ineliminable, un perseguidor que esclaviza o libera, su irrupción en el presente es comprensible en la medida en que se lo organice mediante los procedimientos de narración y, por ellos, de una ideología que ponga de manifiesto un continuum significativo e interpretable de tiempo.140 (SARLO, 2005, p.13).

O caminho encontrado por Chaparro para organizar este tempo passado que não pode ser eliminado também se baseia em procedimentos de narração, tal como coloca Sarlo no fragmento citado. Como constantemente afirmamos neste estudo,

138 Em português: “O tempo não passava para aquele homem? Tudo era um eterno presente que se somava aos anteriores?” (SACHERI, 2011, p.190).

139 Em português: “– Pobre homem.

As duas palavras que Báez pronunciou flutuaram um segundo sobre a mesa até se evaporarem, e o silêncio voltou. Não respondi, mas sem sombra de dúvida, entendi de quem o policial estava falando. Não era de Romano, nem de Gómez, nem dele mesmo, nem de mim. Ele falava de Ricardo Morales, o qual, em cheio ou por ricochete, de primeira ou de segunda, por isto ou por aquilo, girasse como girasse a carrapeta, sempre acabava imolado como uma vítima perpétua.” (SACHERI, 2011, pp. 140-141)

140 Em português: “O tempo passado é ineliminável, um perseguidor que escraviza ou libera, sua irrupção no presente é compreensível na medida em que seja organizado mediante procedimentos de narração e, por eles, de uma ideologia que coloque em xeque um continuum significativo e interpretável de tempo.” (SARLO, 2005, p.13) (N. do T.)

Chaparro almeja escrever um romance e é este o instrumento que utiliza para recordar e entender o seu passado e o das vidas que o rodeiam.

Sarlo fala de modalidades não acadêmicas na escritura da história, baseadas não em regras do método da disciplina histórica (SARLO, 2005, p.14), mas nos sentidos comuns do presente, como aquela modalidade que “atiende las creencias de su público y se orienta en función de ellas.”141 (SARLO, 2005, p.15). Benjamín Chaparro é símbolo dessa voz do homem comum que se alça e estrutura um relato histórico a partir de seu próprio ponto de vista, daquilo que vivenciou ou que presenciou na vida de pessoas próximas. Homens comuns que “no sólo seguían itinerarios sociales trazados sino que protagonizaban negociaciones, transgresiones y variantes.”142 (SARLO, 2005, p.18).

É a partir deste destaque dado a “la rememoración de la experiencia” (SARLO, 2005, p.21) que ganham espaço os discursos em primeira pessoa como forma privilegiada para a apresentação de pontos de vista, caminho que revigora o viés subjetivo dos discursos sobre o passado. Como aponta a autora, “[...] la historia oral y el testimonio han devuelto la confianza a esa primera persona que narra su vida (privada, pública, afectiva, política), para conservar el recuerdo o para reparar una identidad lastimada.”143 (SARLO, 2005, p.22).

Quanto aos testemunhos e à valorização dos discursos em primeira pessoa, Beatriz Sarlo também afirma que

la memoria ha sido el deber de la Argentina posterior a la dictadura militar y lo es en la mayoría de los países de América Latina. El testimonio hizo posible la condena del terrorismo de estado; la idea del “nunca más” se sostiene en que sabemos a qué nos referimos cuando deseamos que eso no se repita. Como instrumento jurídico y como modo de reconstrucción del pasado, allí donde otras fuentes fueron destruidas por los responsables, los actos de memoria fueron una pieza central de la transición democrática […].144 (SARLO, 2005. p.24).

141 Em português: “atende as crenças de seu público e se orienta em função delas.” (SARLO, 2005, p.15). (N. do T.)

142 Em português: “não só seguiam itinerários sociais traçados mas que protagonizavam negociações, transgressões e variantes.” (SARLO, 2005, p.18). (N. do T.)

143 Em português: “[...] a história oral e o testemunho devolveram a confiança a essa primeira pessoa que narra sua vida (privada, pública, afetiva, política), para conservar a memória ou para reparar uma identidade lastimada.” (SARLO, 2005, p.22). (N. do T.)

144 Em português: “a memória foi o dever de uma Argentina posterior à ditadura militar e é na maioria dos países da América Latina. O testemunho tornou possível a condenação do terrorismo de estado; a ideia do “nunca mais” se sustenta no fato de que sabemos a que nos referimos quando desejamos que isso não se repita. Como instrumento jurídico e como modo de reconstrução do passado, ali onde outras fontes foram destruídas pelos responsáveis, os atos de memória foram uma peça central da transição democrática […].” (SARLO, 2005. p.24). (N. do T.)

Quando da leitura de sua dimensão oculta no capítulo referente aos personagens, vimos que Chaparro não consegue esquecer-se dos fatos que o marcaram de forma a seguir com sua vida com algum padrão de normalidade, ainda que o tente e que os demais recriminem sua postura. Reagir a este passado através do recalque e do esquecimento já não é mais possível e, por isso, o caminho que encontra é o processamento simbólico de seu passado através de uma antiga máquina de escrever. Sua necessidade de voltar-se para o ontem a fim de reconstruir os caminhos da memória demonstra que seu passado só pode ser compreendido quando verbalizado, razão pela qual a literatura surge como instrumento que lhe permite ao indivíduo avançar e retomar sua vida depois de um acerto de contas com sua própria história.

De repente [Benjamín Chaparro] se sobresalta. El tren avanza, ruidoso, entre los paredones lúgubres que se levantan a los costados de las vías entre Caballito y Once. ¿En qué ha estado pensando la última media hora? No puede recordarlo. ¿En Morales? ¿En Gómez? No. Ellos ya descansan. Llamativamente, desde que ha contado todo, ya no lo asaltan, no lo perturban, no lo increpan a cada rato.145 (SACHERI, 2010, p. 313 – Capítulo “Devolución”).

O fragmento mostra-se fundamental para a leitura dos significados do romance que aqui nos propomos realizar. Chaparro utiliza o literário como ferramenta de entendimento e organização de seu passado e dos fatos que de alguma forma afetaram sua própria história de vida. O passado, enquanto emaranhado de momentos e recordações mescladas e confusas, ganha linearidade, sequenciamento, lógica interna, a partir do ato de escritura. É tão só através desta segurança organizacional conferida pela escritura de algo que lhe parecia perturbador, assim como observamos no fragmento supracitado, que Chaparro se sente livre, desprendido, numa soltura que lhe chegou “desde que ha contado todo”. Nesta medida, a máquina de escrever que Chaparro utiliza para contar a história de Morales é simbólica em La pregunta de sus ojos, pois permite que um pro-secretário aposentado se invista de seu papel de escritor e, assim, assuma a responsabilidade de organização da memória de vidas outras que se cruzaram com

145 Em português: “De repente [Benjamín Chaparro] se sobressalta. O trem avança, ruidoso, entre os paredões lúgubres que se erguem nas laterais da via férrea entre Caballito e Once. Em que esteve pensando na última meia hora? Não consegue se lembrar. Em Morales? Em Gómez? Não. Eles já estão descansando. Curiosamente, desde que contou tudo, já não o assaltam, não o perturbam, não o censuram a cada momento.” (SACHERI, 2011, p. 208).

a sua. O projeto antigo de escrever um livro ganha concretude quando o personagem finalmente compreende que é tão só pelo caminho da escritura que o desalinhado, desconexo, ganha uma dimensão compositiva mais coerente e, por isso, mais clara e compreensível para quem carregava por tanto tempo o peso de um passado que lhe parecia tão nebuloso e sufocante.

Nesta linha de leitura, a busca pela verdade que ancora a narrativa e sobre a qual constantemente nos referimos neste estudo tem relação direta com a auto investidura de Chaparro como escritor. A verdade não implica somente saber o que de fato ocorreu ao assassino da jovem, uma vez que a carta de Morales se encarrega de esclarecer estas pendências da história a Chaparro, mas, antes, envolve também a preocupação constante de trazer a verdade impressa naquilo que se diz sobre este passado.

Deja los elementos del mate sobre el escritorio y se encamina hasta el aparador de la sala. Sabe que las cartas están en el segundo cajón, cada una en su sobre. No están amarillentas porque no son tan antiguas. Y aunque no ha vuelto a leerlas, cree recordarlas con exactitud, casi hasta sus textuales palabras. Pero no quiere falsear la verdad que tienen en las manos. Por eso las sacará de allí para llevárselas al escritorio. Para citarlas todas las veces que lo considere necesario.

“¿Por qué semejante prurito de exactitud?”, se pregunta. Porque sí, es su primera respuesta. Porque en ellas se esconde la verdad, o la propia palabra de Ricardo Morales que en este caso es la última verdad, se contesta luego. Porque así, con las pruebas documentales en la mano, citando lo que haya que citar, es como ha trabajado cuarenta años en Tribunales, agrega. Y esa otra respuesta también es verdadera.146 (SACHERI, 2010, p.281-282 – Capítulo “Más dudas”).

A despeito de contar uma história partindo da aceitação de sua imprecisão intrínseca, Chaparro não se contenta em trazer a seu leitor uma versão própria dos fatos. Ainda que tenha consciência da subjetividade que atravessa sua narração, o personagem-autor continuamente assume sua inquietude por encontrar a verdade e ser fiel a ela em seu processo de escritura.

146 Em português: “Deixa os utensílios do mate sobre a escrivaninha e se dirige até o aparador da sala. Sabe que as cartas estão na segunda gaveta, cada uma em seu envelope. Não estão muito amareladas porque não são assim tão antigas. E, embora não as tenha relido, ele acredita recordá- las com exatidão, quase nas palavras textuais. Mas não quer falsear a verdade que tem nas mãos. Por isso irá tirá-las dali e leva-las para a escrivaninha. Para citá-las sempre que considerar necessário.

‘Por que semelhante escrúpulo de exatidão?’, se pergunta. Porque sim, é sai primeira resposta. Porque nelas se esconde a verdade, ou a própria palavra de Ricardo Morales, que neste caso é a última verdade, responde-se em seguida. Porque assim, com as provas documentais na mão, citando o que for preciso citar, é como ele trabalhou por quarenta anos em Tribunales, acrescenta. E essa outra resposta também é verdadeira.” (SACHERI, 2011, p.186).

La mitad de Chaparro que odia la incertidumbre, y que anhela hasta la desesperación concluir con eso, opina que es perfecto llegar hasta aquí: mal que mal ha conseguido contar lo que se había propuesto, y el tono que encontró para hacerlo le da la impresión de ser el adecuado. Los personajes que ha creado se parecen insólitamente a los seres de carne y hueso que él conoció, y esos personajes han dicho y hecho, mal que mal, las cosas que esos seres reales hicieron y dijeron. Esa mitad cautelosa de Chaparro sospecha que, si se extiende más, todo se irá al diablo, y la historia se

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