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Os personagens e sua dimensão oculta

No documento – PósGraduação em Letras Neolatinas (páginas 52-60)

2.2 Os personagens de La pregunta de sus ojos

2.2.2 Os personagens e sua dimensão oculta

Partindo ao que Robert McKee (2004) chama de análise da verdadeira personalidade – e que aqui optamos por chamar de dimensão oculta dos personagens, nossa leitura segue baseando-se no que afirma o autor:

El verdadero carácter se desvela a través de las opciones que elige cada ser humano bajo presión: cuanto mayor sea la presión, más profunda será la revelación y más adecuada resultará la elección que hagamos de la naturaleza esencial del personaje.59 (MCKEE, 2004, p.132)

O autor explica que sob a superficial caracterização de um personagem se encontra uma dimensão que só conseguimos alcançar a partir das decisões que o personagem toma quando se encontra em uma situação de pressão. Na busca por satisfazer os desejos que o movem, um personagem sempre decide por determinados caminhos e atua de acordo com seus princípios, mas é, segundo McKee, tão só em uma situação de crise, de pressão intensa que este personagem

58 Em português:

“– E por que lhe ocorreu que Gómez podia estar nessa lista?

Dessa vez foi Morales quem demorou um instante para responder, como se a pergunta o pegasse de surpresa. Finalmente falou, com uma careta irônica.

– Quer que eu lhe diga a verdade? Pela simples aplicação do princípio existencial que governa minha vida.

–...

– Tudo o que puder dar errado vai dar errado. E sua consequência natural. Tudo o que parece correr bem vai para o caralho mais cedo ou mais tarde.” (SACHERI, 2011, p.143).

59 Em português: “O verdadeiro caráter se desvela através das opções que elege cada ser humano sob pressão: quanto maior seja a pressão, mais profunda será a revelação e mais adequada resultará a escolha que façamos da natureza essencial do personagem” (MCKEE, 2004, p.132) (N. do T.)

revela-se a si mesmo em toda sua profundidade e essência. Como aqui já sinalizamos, é o sentido depreendido das ações de um personagem, em contraste com aquilo que é dito, por ele mesmo ou por outros personagens, o que nos fornece a chave de acesso a um determinado ser ficcional em toda sua complexidade. E é a partir do colocado por McKee que partiremos à nossa leitura do que vislumbramos como a dimensão oculta do protagonista de La pregunta de sus ojos.

Vimos que, em sua caracterização, Benjamín Chaparro se descreve, por ocasião da escritura de seu próprio romance, como um homem previsível, introspectivo e cheio de receios. Considerando este objetivo nosso de refletir a dimensão oculta de um personagem e pensando em categorias mais estanques de classificação, algumas questões vêm à tona com respeito ao objeto foco de nossa leitura: poderíamos definir Benjamín Chaparro como um personagem forte e com coragem ou, antes, como um personagem fraco e temeroso? Como herói da narrativa, é realmente um ser de esperados sentimentos nobres?

Para além dos momentos em que se acovarda diante dos rumos da investigação e de quando pensa em desistir porque duvida sobre a relevância em ajudar ou não ao viúvo Ricardo Morales, Chaparro passa por situações que servem de amparo à leitura aqui realizada. Assim, com vistas a analisar esta dimensão oculta de que nos fala Robert McKee, para este capítulo selecionamos um episódio da obra que consideramos como uma situação de grande pressão a Chaparro e que, por isso, julgamos como uma importante ocasião de tensão para que o personagem se desvele através de suas próprias decisões:

– ¿Pero no hay otra salida que rajar como un prófugo? –no me resignaba a quedarme sin vida de un día para otro.

Báez me miró un rato, tal vez esperando que me diera cuenta solo. No fue el caso, de manera que terminó explicándomelo.

– ¿Sabe qué pasa, Benjamín? La única manera de asegurarse de que Romano se deje de joderlo es enterarlo de la verdad. Yo puedo pactar un encuentro, si usted quiere. Pero para eso tengo que decirle a Romano que el que le amasijó a su amiguito no fue usted sino Ricardo Morales. – Hizo una pausa, antes de concluir la idea–. Si usted quiere, lo hacemos.

“Mierda”, pensé. No podía hacer eso, la puta madre. No podía. – Tiene razón –acepté–. Dejemos las cosas como están.60 (SACHERI, 2010, p.265)

60 Em português:

“– Mas eu não tenho outra saída a não ser sair correndo como um fugitivo? – Não me resignava a ficar sem vida de um dia para outro.

Báez me encarou um tempinho, talvez esperando que eu compreendesse sozinho. Não foi o caso, de modo que ele acabou me explicando.

Em uma pequena recuperação da trama da obra a nosso leitor, importa sinalizar que depois de conseguir sua liberdade graças a um jogo de vingança contra Chaparro, Isidoro Gómez, o assassino confesso de Liliana, desaparece sem deixar sinais de seu paradeiro. Pedro Romano, o responsável pela libertação do assassino, acredita que seu protegido tenha sido morto pelo próprio Chaparro como uma espécie de resposta ou contra-ataque pela libertação de Isidoro da prisão. Como consequência desta suposta revanche, Chaparro tem seu apartamento destruído, com a ameaça de que retornariam para que esta dívida de morte fosse paga. Diante disto, a Benjamín Chaparro lhe cabe escolher entre entregar o viúvo Ricardo Morales como suposto assassino de Isidoro Gómez ou seguir sendo acusado de matar Isidoro e, por conseguinte, continuar como foragido de um crime que não cometeu.

Diante de uma situação de intensa pressão, como nos coloca Robert McKee (2004), o personagem, ainda que temeroso e titubeante ao longo da narrativa no que se refere a seguir ou não o caminho em busca do criminoso, decide por fim manter- se ao lado do viúvo Morales e assume os riscos de pagar por um crime que não é seu. Desta forma, através destas situações de pressão, entendemos neste estudo que, ao revelar-se a si mesmo em sua dimensão oculta, o personagem manifesta toda a sua potencialidade moral. No mais, compreendemos que este processo de desvelamento de uma dimensão oculta do personagem é verificável tanto pelo leitor quanto pelo próprio personagem, que passa a perceber-se a si mesmo a partir de um processo de autoconhecimento, de leitura própria de seu caráter. Nesta medida, o episódio antes analisado nos permite por em prática a concepção sobre o personagem de Robert McKee e comprovar que, de fato, em um personagem sempre “hay una naturaleza oculta que espera escondida detrás de una fachada de rasgos.”61 (MCKEE, 2004, p.134).

O episódio antes descrito em que Chaparro revela, de acordo com nossa leitura, o que seria sua dimensão oculta tem relação uma vez mais com as reflexões – Sabe o que acontece, Benjamín? A única maneira de garantir que Romano pare de persegui-lo é contar a ele a verdade. Posso marcar um encontro, se o senhor quiser. Mas, para tanto, tenho que dizer a Romano que quem detonou o amiguinho dele não foi o senhor, mas Ricardo Morales. – Fez uma pausa, antes de concluir a ideia. – Se quiser, faremos isso.

– ‘Merda’, pensei. Eu não podia fazer aquilo, caralho. Não podia.

– Tem razão – concordei. –Vamos deixar as coisas como estão.” (SACHERI, 2011, p.175- 176)

61 Em português: “há uma natureza oculta que espera escondida atrás de uma fachada de traços.” (MCKEE, 2004, p.134).(N. do T.)

levantadas pelo crítico literário espanhol Garrido Dominguéz (2007) sobre a construção de um personagem. O autor amplia o próprio conceito de “caracterização”, ao afirmar que

La tarea de dotar al personaje de identidad se realiza de forma gradual y, de hecho, no se consuma hasta que el escritor pone el punto final. Esta afirmación puede resultar exagerada si el término caracterización se interpreta en un sentido restrictivo –esto es, como simple presentación del personaje, generalmente, en los comienzos del relato–, pero en modo alguno lo es si se tiene en cuenta que no son sólo las cualidades o atributos lo que define a un agente, sino también su conducta.62 (GARRIDO DOMINGUÉZ, 2007, p.77)

Diante do que postula Garrido Dominguéz com relação à importância da conduta, podemos afirmar que também em La pregunta de sus ojos a identidade de um personagem está para além de suas “cualidades o atributos” e engloba as decisões que este personagem toma em situações de tensão ao longo da trama, como aqui já foi apontado através de Robert McKee.

Dita análise a partir da conduta de um personagem, clamada por Garrido Dominguéz, também nos permite trazer a luz uma reflexão sobre a imagem construída por Chaparro sobre o viúvo da vítima. Como vimos em sua caracterização, Ricardo Agustín Morales surge na narrativa como um homem pacífico e até conformado com seu papel coadjuvante na vida. Sempre viveu sem sentir-se digno de grandes conquistas e não lhe parecia que o mundo pudesse ser distinto, razão pela qual lhe cabia unicamente resignar-se e condicionar-se ao lugar que lhe foi determinado:

Más adelante, cuando Morales se permitiera hablarme de sí mismo, me tocaría escucharlo describirse como un tipo anodino, grisáceo, con un destino propio de esa chatura. Morales se catalogaba sin compasión como ese hombre que transita la familia, las escuelas y los empleos sin dejar huella alguna en los otros. Nunca había tenido nada bueno, ni nada especial, y siempre le había parecido justo. Así hasta Liliana. Porque ella había sido las dos cosas. Enormemente, lo había sido.63 (SACHERI, 2010, p.24)

62 Em português: “A tarefa de dotar o personagem de identidade se realiza de forma gradual e, de fato, não está consumada até que o escritor coloque o ponto final. Esta afirmação pode parecer exagerada se o termo caracterização é interpretado em um sentido restritivo –isto é, como simples apresentação do personagem, geralmente, a início do relato–, mas de modo algum assim será se se tem em conta que não são só as qualidades ou atributos que definem a um agente, mas também a sua conduta”. (GARRIDO DOMINGUÉZ, 2007, p.77) (N. do T.)

63 Em português: “Mais adiante, quando Morales viesse a se permitir me falar de si mesmo, me caberia ouvi-lo se descrever como um tipo insignificante, apagado, com um destino próprio dessa platitude. Ele se catalogava sem compaixão como aquele homem que transita pela família, pelas

Caracterizado na obra como homem pacato e retraído, Morales parece reprimir uma dor que o consome desde o dia em que lhe foi anunciado o crime de Liliana:

A medida que transcurrían los minutos, y el interrogatorio de Báez se internaba en detalles que a Morales y a mí nos tenían sin cuidado, vi cómo la expresión del chico se iba vaciando, los rasgos se les distendían paulatinamente en una expresión neutra, y las lágrimas y el sudor que en un primer momento habían asomado a su piel se secaban definitivamente. Como si una vez frío, una vez vacante de emociones y sentimientos, una vez sentada la humareda del polvo de su vida hecha ruinas, Morales pudiera avizorar, más allá, en qué consistiría su futuro, y comprobara sin lugar para el equívoco que sí, que no había duda alguna, que su futuro era nada.64 (SACHERI, 2010, p.49)

Ao longo da narrativa, sentimos que Morales sofre gradualmente pelos muitos obstáculos com os quais se depara o caso da morte de sua mulher: a falta de pistas sobre o assassino; sua inesperada captura e sua posterior liberação da prisão de Devoto; a suposta e consequente desistência por encontrá-lo. A falta de perspectiva do personagem por encontrar justiça ao caso chega a tal ponto que, em conversa com Chaparro sobre a morte como caminho único de vingança, Morales afirma

– Y eso de matarlo... ¿qué quiere que le diga? Parece demasiado fácil, ¿no? Mire que tuve tiempo de pensarlo en esos años en los que buscaba en las terminales ferroviarias. ¿Y si lo encontraba entonces? ¿Qué hacer? ¿Cagarlo a tiros? Demasiado fácil. Demasiado rápido. ¿Cuánto dolor puede sentir un tipo al que acaban de vaciarle un cargador en el pecho? Sospecho que no mucho.65 (SACHERI, 2010, p.222)

Pelo modo como se posiciona Ricardo Morales sobre a morte como caminho de vingança, o leitor crê que o personagem seja incapaz de cometer algum crime e escolas e pelos empregos sem deixar nenhuma marca nos outros. Nunca tivera nada de bom, nem nada de especial, e isso sempre lhe parecera justo. Foi assim até Liliana aparecer. Porque ela havia sido as duas coisas. Enormemente.” (SACHERI, 2011, p.16)

64 Em português: “À medida que os minutos transcorriam, e que o interrogatório de Báez enveredava por detalhes aos quais nem Morales nem eu dávamos importância, vi a expressão do viúvo se esvaziar aos poucos, seus traços se distenderem paulatinamente em uma expressão neutra, e as lágrimas e o suor que num primeiro momento haviam assomado à sua pele secarem definitivamente. Como se, uma vez frio, uma vez esvaziado de emoções e sentimentos, uma vez assentada a nuvem de poeira de sua vida feita ruínas, Morales pudesse vislumbrar, mais além, em que consistiria seu futuro e comprovasse sem equívocos que sim, que não havia dúvida alguma, que seu futuro era nada.” (SACHERI, 2011, p.34)

65 Em português: “– Quanto a matá-lo… o que posso dizer? Parece muito fácil, não? Veja que eu tive tempo de pensar nisso durante os anos em que o procurava nos terminais ferroviários. E se o encontrasse então? O que fazer? Abatê-lo a tiros? Fácil demais. Rápido demais. Quanta dor pode sentir um indivíduo em cujo peito acabam de esvaziar um carregador? Desconfio de que não muita.” (SACHERI, 2011, p.146)

que lhe resta unicamente sofrer em silêncio pela morte de sua esposa, haja vista que nada mais pode ser feito diante dos rumos tomados pelo caso da jovem na trama de Sacheri. Contudo, se pensamos em sua dimensão oculta, o que causa estranhamento em Chaparro (e, por extensão, também no leitor) é que Morales, em última instância, não é um resignado e conformado com os caminhos que o destino lhe reservou, tal como a imagem do personagem vinha sendo construída ao longo da narrativa de Chaparro. A resolução do caso de Liliana pelas próprias mãos de Morales nos desvela um homem convencido a arriscar tudo (inclusive a sua própria vida) por aquilo que realmente acredita. Se a prisão perpétua é, em tese, o destino dado pela lei a um homicida confesso, a justiça feita pelas próprias mãos de Morales leva até os últimos limites o que a lei prega em teoria:

En realidad, todo eso lo vi después, desde el piso de cemento sobre el que me derrumbé jadeante. Porque durante varios minutos no pude sacar los ojos de la celda, la celda construida en el centro del recinto, la celda cuadrada de barrotes gruesos desde el piso hasta el techo, con una puerta de dos cerraduras sin picaportes y una portezuela pequeña en un rincón, de esas que se usan para meter y sacar cosas en un calabozo, la celda con un lavatorio y un inodoro en una esquina y una mesa y una silla en otra, con un camastro sobre la reja del fondo, la celda con un cuerpo acostado y vuelto de espaldas sobre ese camastro.

Supongo que en ese momento sentí horror, incredulidad, aprensión, pasmo. Pero, por sobre todas las cosas, sentí una descomunal sorpresa que me golpeó con la ferocidad de unas mandíbulas hambrientas, y que poco a poco me obligó a convertir en polvo todo lo que yo había pensado de Morales y su historia en los últimos veinte años.66 (SACHERI, 2010, p.301- 302)

Após a leitura deste fragmento que retrata o instante em que Chaparro descobre o destino de Isidoro Gómez, assassino da jovem, cabe aqui chamarmos atenção ao que nos coloca Robert McKee com relação às transformações pelas quais passa um personagem ao longo da trama. Segundo o autor, “una buena escritura no sólo revela la verdadera personalidad, sino que gira o altera esa misma

66 Em português:

“Na realidade, tudo isso eu só vi depois, do piso de cimento sobre o qual me joguei, ofegante. Porque durante vários minutos não consegui tirar os olhos da cela, a cela construída no centro do recinto, a cela quadrada de barras grossas, do piso até o teto, com uma porta de duas fechaduras sem maçanetas e uma portinhola num canto, daquelas que se usam em jaulas para meter e tirar coisas, a cela com uma pia e um vaso sanitário num ângulo e uma mesa com cadeira em outro, com um catre encostado à grade do fundo, a cela com um corpo deitado e virado de costas sobre esse catre.

Penso que nesse momento senti horror, incredulidade, apreensão, desfalecimento. Mas, por sobre todas as coisas, senti uma surpresa descomunal que me golpeou com a ferocidade de mandíbulas famintas, e que pouco a pouco me obrigou a transformar em pó tudo o que eu havia pensado de Morales e sua história nos últimos vinte anos.” (SACHERI, 2011, p.200).

naturaleza interna, para bien o para mal, a lo largo de la narración.”67 (MCKEE, 2004, p.135). Ricardo Morales, de fato, também tem sua dimensão oculta revelada quando uma situação de pressão se impõe ao personagem. O consequente estranhamento do leitor e dos demais personagens vem à tona precisamente quando esta dimensão oculta de Morales entra enormemente em choque com o que até então havia sido apresentado como sua caracterização.

Como nos explica Robert McKee, é justamente esta incompatibilidade entre caracterização e dimensão oculta de um personagem o que faz de uma escritura mais atrativa, envolvente e instigante. A revelação da prisão perpétua do assassino pelo próprio viúvo da vítima vai de encontro à imagem construída de Morales por Chaparro e, por conseguinte, pelo próprio leitor. Trazendo à luz uma vez mais a entrevista com Eduardo Sacheri, sinalizamos a intenção do escritor de que o encontro da verdade por Chaparro surpreendesse tanto o leitor quanto o próprio narrador (ver apêndice B – pergunta 10). É tão só ao final da narrativa que temos acesso ao que seria a dimensão oculta de Morales, obtida a partir da fusão dos traços que o caracterizam, das decisões que toma em situações de pressão e de sua relação com os demais personagens da narrativa, tal como mais uma vez aponta Antonio Garrido Dominguéz (2007), quando afirma que

La construcción del personaje se presenta, pues, como resultado de la interacción entre los signos que integran la identidad del personaje, los que reflejan su conducta y, finalmente los que expresan sus vínculos con los demás personajes. Exceptuando quizá el primer tipo de rasgos (y, desde luego, no en todos los casos), los demás se van definiendo –y, con mucha frecuencia, modificando– al compás del desarrollo de la acción. De ahí que pueda afirmarse con toda justicia que el diseño del personaje no se culmina hasta que finaliza el proceso textual.68 (GARRIDO DOMINGUÉZ, 2007, p.88)

Para retomarmos a Robert McKee (2004), entendemos, neste estudo, que a verdadeira personalidade de um personagem dá espaço a muitas dimensões que

67 Em português: “uma boa escritura não só revela a verdadeira personalidade, mas também gira ou altera essa mesma natureza interna, para bem ou para mal, ao longo da narração.” (MCKEE, 2004, p.135) (N. do T.)

68 Em português: “A construção do personagem se apresenta, pois, como resultado da interação entre os signos que integram a identidade do personagem, os que refletem sua conduta e, finalmente os que expressam seus vínculos com os demais personagens. Excetuando-se talvez o primeiro tipo de características (e, claro, não em todos os casos), os demais vão definindo-se –e, com muita frequência, modificando-se– de acordo com o desenvolvimento da ação. Daí que se possa afirmar com total razão que o desenho do personagem não se culmina até que finaliza o processo textual.” (GARRIDO DOMINGUÉZ, 2007, p.88) (N. do T.)

nos permitem vê-lo através de diferentes prismas. Sentimentos nobres e baixos convivem em um único ser, conformando uma personalidade que revela-se multifacetada e mutável no desenrolar da trama. Como vimos na análise dos dois personagens de La pregunta de sus ojos e à luz das reflexões teóricas aqui feitas, os dilemas que um personagem vê-se obrigado a enfrentar no transcurso da trama de Sacheri são os responsáveis por revelar-nos a verdadeira natureza destes mesmos personagens.

Ler um personagem é ler suas transformações. De débil a forte. De titubeante

No documento – PósGraduação em Letras Neolatinas (páginas 52-60)