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Os espaços representados e seus significados no romance: espaços do crime e

No documento – PósGraduação em Letras Neolatinas (páginas 85-101)

A leitura do tema da violação da lei em La pregunta de sus ojos pode ser viabilizada se também consideramos os significados que os espaços possuem na obra de Eduardo Sacheri. Antes de refletirmos a significação destes espaços na narrativa, como vimos, este trabalho parte da aceitação de que o romance apresenta, quanto à sua forma, uma trama de busca.

Resgatando mais uma vez os aspectos da trama elencados por Ronald B. Tobias (1999), vale observar que uma das características da trama de busca é que “la acción es muy abundante; los protagonistas están siempre en movimiento, explorando, buscando.”108 (TOBIAS, 1999, p.82). Se Chaparro é impulsionado a fazer justiça ao caso de Liliana Colotto, sua atuação ao longo da obra, como aqui já apontamos, é a responsável por permitir que conflitos inerentes à sociedade argentina sejam colocados em xeque na narrativa. Sob tal ótica, a ação está em constante movimento em função dos distintos cenários pelos quais transita o personagem. Em sua busca pela verdade, Chaparro percorre os rincões de uma Buenos Aires de encontros marcados e colisões inesperadas, de ruas rotineiras e de vielas desconhecidas, das paredes da Secretaria de toda uma vida e dos recônditos e ignorados arquivos nacionais.

Para uma melhor reflexão do tema da violação da lei a partir de uma leitura dos espaços que compõem o romance, este estudo parte do conceito de cronotopo erigido pelo pesquisador russo Mikhail Bakhtin (1989). De acordo com Bakhtin, o conceito trata-se de uma metáfora que faz referência à conexão essencial existente entre tempo e espaço, vinculação esta assimilada artisticamente pela literatura. Segundo o teórico, ambos (tempo e espaço) têm seu aspecto indissolúvel representado no conceito cronotopo, elemento figurativo de um “todo inteligible y concreto”109 (1996, p.63). Para o autor,

El tiempo se condensa aquí, se comprime, se convierte en visible desde el punto de vista artístico; y el espacio, a su vez, se intensifica, penetra en

el movimiento del tiempo, del argumento, de la historia. Los elementos

de tiempo se revelan en el espacio, y el espacio es entendido y medido a

108 Em português: “a ação é muito abundante; os protagonistas estão sempre em movimento, explorando, buscando.” (TOBIAS, 1999, p.82). (N. do T.)

través del tiempo. La intersección de las series y uniones de esos elementos constituye la característica del cronotopo artístico.110 (BAKHTIN, 1996, p.63, grifo nosso)

No que tange à análise dos espaços de La pregunta de sus ojos, confirma-se o colocado por Bakhtin quando o autor afirma que o espaço se intensifica no movimento do tempo. O tempo da ação no romance de Sacheri abarca um espaço temporal de quase três décadas, se tomamos por ponto de partida o assassinato da jovem Liliana Colotto e por término temporal a revelação dada pela carta do viúvo Ricardo Morales a Benjamín Chaparro. Em consonância com o transcorrer dos anos, o protagonista circula por distintos espaços e perfaz um caminho de idas e vindas por uma Argentina de distintas temporalidades.

É sabido que um personagem atua sempre em um determinado lugar e em um tempo específico, cronotopo espaço-temporal que chega ao leitor definido pela voz que narra. Como vimos no capítulo sobre as vozes do romance, La pregunta de

sus ojos conta com a presença de dois focalizadores distintos: um focalizador interno

(o próprio personagem Benjamín Chaparro, que se dispõe a narrar a história de Morales) e um FE – focalizador externo (a voz onisciente, que em 3ª pessoa narra as ações de um Chaparro amadurecido com o passar dos anos). Em um olhar comparativo, vale observar que, ainda que a partir de pontos de vista distintos, as descrições espaciais feitas pelo FE não destoam daquelas feitas pelo personagem- narrador, posto que as descrições realizadas pelo narrador externo se efetivam muito em função das recordações do próprio Chaparro, percepções íntimas, mas que chegam a nós graças ao caráter onisciente da voz deste narrador externo.

No que diz respeito a nossa metodologia de leitura e com o objetivo de analisar de maneira mais sistemática e proveitosa os muitos espaços que compõem a narrativa, nosso estudo privilegiou uma divisão destes espaços por grupos semânticos. Espaços múltiplos e significativos, que partem do âmbito do privado e mais restrito (a casa de Chaparro; a Secretaria de Instrução; a pensão onde Chaparro se refugia quando é perseguido; a sala da Juíza Irene; a prisão de Villa Devoto; o living da casa onde o personagem escreve) a espaços corriqueiros e

110 Em português: “O tempo se condensa aqui, se comprime, se converte em visível desde o ponto de vista artístico; e o espaço, por sua vez, se intensifica, penetra no movimento do tempo, do argumento, da história. Os elementos de tempo se revelam no espaço, e o espaço é entendido e medido através do tempo. A interseção das séries e uniões desses elementos constitui a característica do cronotopo artístico.” (BAKHTIN, 1996, p.63, grifo nosso) (N. do T.)

abertos ao público (o bar onde Chaparro e Morales se encontram; a cafeteria de encontro com o oficial inspetor Báez; os bares da Estação de Once; as ruas de Buenos Aires). Nesta medida, para uma melhor reflexão sobre como os espaços são significativos para a leitura de temas como a violação da lei e a violência no romance de Sacheri, partiremos de uma classificação semântica dos mesmos com base numa divisão entre “espaços do crime” versus “espaços de justiça”.

De antemão, explicamos que, em nossa leitura, os “espaços do crime” são aqueles que, ao longo da trama, aparecem como cenário de atuação de personagens conectados à violação da lei ou que agem de forma desfavorável à solução do crime da morte de Liliana. Por sua vez, “espaços de justiça” são os espaços que atuam, cada qual a seu modo, contra esta violação e contribuem para a busca pela verdade empreendida na narrativa. Este estudo também levanta a possibilidade de nomear “espaços híbridos”, haja vista o duplo caminho de leitura como lugares de crime e de justiça, de acordo com as características do espaço que se ressaltam. Ressalvas feitas, a seleção realizada por este estudo prioriza a análise de três espaços que se mostram fundamentais em nossa leitura do tema da violação da lei e da violência na narrativa: a prisão de Devoto, a Secretaria de Instrução e o Arquivo Central de Buenos Aires.

A leitura aqui realizada inicia-se pela apresentação, no romance, da

Carcelaria de Villa Devoto. Após confissão na Secretaria de Instrução feita ao

próprio Chaparro e a seu amigo Sandoval, o suspeito pela morte de Liliana – Isidoro Antonio Gómez – é detido na prisão de Devoto, onde é quase morto por outros presos. Ainda debilitado, o personagem é então chamado dentro da prisão por Peralta (personagem que posteriormente o leitor descobre tratar-se de Pedro Romano, inimigo de Chaparro) para prestar-lhe um serviço. O cenário de encontro – uma sala escura de uma ala restrita aos presos – apela para um clima de sigilo e ilegalidade. Em conversa com o Inspetor Báez, personagem que, como vimos, exerce o papel de investigador na trama policial de La pregunta, Chaparro descobre que Isidoro consegue ser libertado da prisão para atuar como instrumento de vingança de Pedro Romano contra ele.

Gómez se ha salvado. Pero aquí tenemos la primera curiosidad, porque... ¿sabe dónde consta todo este incidente de la riña, los heridos y la mar en coche? En ningún lado. A ninguno de los dos heridos lo remiten al hospital. Los atienden ahí nomás, en la enfermería del Penal. No hay una sola

actuación administrativa, ni la declaración de un solo guardia, ni de un solo preso. Lo que hay, lo único que hay en el legajo de Gómez, es una orden de traslado a otro pabellón, dos semanas más tarde, cuando al tipo le dan alta. […] Lo que termina pasando es que lo envían al pabellón de delitos políticos. Acá le confieso que me desorienté feo: ¿qué podía tener que ver Gómez y su asesinato pasional con todos esos tipos de las FAR, el ERP, los Montoneros? Y encima esos presos estaban a disposición del fuero especial, y no del fuero penal común de los otros, ¿me sigue? Gómez no tiene nada que ver con eso, me dije.111 (SACHERI, 2010, p.208).

A saída de Gómez da prisão de Devoto é um dos casos que mais ilustram o tratamento da violação da lei pela narrativa. Primeiramente no que diz respeito ao incidente de briga dentro da prisão, já que não há qualquer espécie de registro policial ou em hospitais do caso. Logo, Gómez é recrutado como informante pelo centro de inteligência criado para delatar, dentro do pavilhão de presos políticos, os envolvidos com as guerrilhas contra o governo. Em seguida, o assassino confesso e preso por homicídio consegue deixar a prisão em uma Anistia dada a estes presos políticos:

[…] Pero si llegó vivo hasta mayo en ese pabellón tan mal no lo habrá hecho. ¿Por qué no seguir usándolo afuera? Así que el procedimiento para sacarlo es sencillísimo. En realidad, no hay tal procedimiento. Se hace solo. Cuando los detenidos que saben que van a salir con la amnistía armen las listas, van a incluirlo también a Gómez con todo gusto y con todos los honores. Y, si no, igual no hay problema. Lo agrega al pie la gente de Peralta, y listo.112 (SACHERI, 2010, p. 210).

Ainda que permita uma leitura como espaço de realização de justiça, tendo em vista que atua, em sua definição, como lugar de detenção dos que cometeram

111 Em português: “Gómez se salvou. Mas aqui temos a primeira curiosidade, porque... sabe onde consta esse incidente da briga, dos feriados e tudo o mais? Em lugar nenhum. Nenhum dos feridos é mandado para o hospital. São atendidos ali mesmo, na enfermaria do presídio. Não há um só registro administrativo, nem o depoimento de um só guarda, nem de um só preso. O que há, a única coisa que há na papelada de Gómez, é uma ordem de transferência para outro pavilhão, duas semanas depois, quando ele recebe alta. [...] O que acaba acontecendo é que o enviam ao pavilhão de presos políticos. A essa altura, confesso que me desorientei pacas: o que Gómez e seu assassinato passional podiam ter a ver com todos aqueles caras das FAR, do ERP*, dos Montoneros? E ainda por cima esses presos estavam à disposição do foro especial, e não do foro penal comum dos outros, está me acompanhando? Gómez não tinha nada a ver com isso, pensei.” (SACHERI, 2011, p.136- 137)

* Siglas de Fuerzas Armadas Revolucionarias e Ejército Revolucionario del Pueblo. (Nota da edição de 2011).

112 Em português: “[...] mas, se chegou vivo até maio naquele pavilhão, não deve ter trabalhado muito mal. Então, por que não continuar a usá-lo lá fora? O procedimento para soltá-lo é muito simples. Na verdade, não existe esse procedimento. A coisa anda sozinha. Quando os detidos que sabem que vão sair com a anistia fizerem as listas, vão incluir Gómez com todo o gosto e com todas as honras. E, se não incluírem, também não há problema. O pessoal de Peralta acrescenta o nome dele no pé da página, e pronto.” (SACHERI, 2011, p.138).

infrações contra a sociedade, a Prisão de Devoto, em La pregunta de sus ojos, é descrita como um “espaço do crime”, quando se considera a violação da lei no que tange à corrupção do sistema judiciário verificada nas negociações feitas dentro do cárcere e no que diz respeito à própria liberdade de Isidoro, um retrocesso na investigação e na solução do caso da morte de Liliana Colotto.

A reflexão aqui feita dos espaços representados em La pregunta de sus ojos parte agora à análise da descrição da Secretaria de Instrução em que Chaparro trabalha. Grande parte da narrativa transcorre neste espaço. É este o lugar em que o personagem vê Irene por primeira vez e que passa anos tentando encontrá-la e esquecê-la. É o lugar em que Chaparro vê sua vida transformada quando, às oito e cinco da manhã do dia 30 de maio de 1968, lhe chega a notificação policial do homicídio de uma jovem, a qual é obrigado a averiguar.

Sube las escalinatas de Talcahuano. Todavía no han cerrado la puerta principal. Se trepa al primer ascensor que tiene a tiro. No necesita aclararle al ascensorista que va al quinto piso, porque en el Palacio lo conocen hasta las piedras.

Avanza a paso firme, haciendo ruido con los mocasines de suela sobre las baldosas blancas y negras del pasillo que corre paralelo a la calle Tucumán hasta encararse con la alta y angosta puerta de su Secretaría.113 (SACHERI, 2010, p.11 – Capítulo “Despedida”)

As descrições feitas na narrativa deixam bem marcado o longo tempo de vida que Chaparro passa em sua Secretaria. A adjetivação enfatiza a magnitude espacial, com destaque dado à escadaria do Palácio da Justiça situado na rua Talcahuano. Lugar de manifestações públicas, a escadaria da Suprema Corte representada na narrativa de Sacheri também surge como palco de acontecimentos históricos, como exemplo das inúmeras greves contra as políticas aplicadas pelo governo de Carlos Menem114 na década de 90 no país:

113 Em português: “Sobe a escadaria que dá para a Talcahuano. Ainda não fecharam a porta principal. Entra no primeiro elevador que chega. Não precisa esclarecer ao ascensorista que vai para o quinto andar, porque no palácio até as pedras o conhecem.

Avança, em passo firme, fazendo ruído com os mocassins sobre os ladrilhos brancos e pretos do corredor que segue paralelo à rua Tucumán, até topar com a porta estreita e alta de sua Secretaria.” (SACHERI, 2011, p.8)

114 Carlos Menem (1930) exerceu seu mandato de 1989 a 1995 e, após sua reeleição neste ano, seguiu na presidência até 1999. Sua política presidencial foi marcada pelo intenso aumento do desemprego, gerador de inúmeras greves e protestos sindicalistas. (Ver AQUINO, Rubim Santos Leão de; LEMOS, Nivaldo Jesus Freitas de; LOPES, Oscar Guilherme Pahl Campos. História das

El 26 de septiembre de 1996 era un jueves como cualquier otro, excepto tal vez por el batifondo que venía de la calle. Desde las doce comenzaba la primera huelga general contra el gobierno de Carlos Menem, y una columna del sindicato de judiciales metía bochinche con algún que otro petardo, mientras se concentraba en las escalinatas de la calle Talcahuano.115 (SACHERI, 2010, p.283).

Vale observar que, seja como trajeto que conduz o personagem a seu lugar de trabalho ou como caminho de acesso ao mundo de fora da Secretaria, as escadarias do Palácio aparecem em diferentes instantes da narrativa, incluindo o momento de desfecho em que Chaparro se recobre de coragem para finalmente confessar o seu amor à juíza:

Por eso se pone finalmente en movimiento y sube saltando de dos en dos los escalones de la entrada de Lavalle. Toma el ascensor hasta en quinto piso. Camina a grandes trancos por el pasillo de baldosas blancas y negras dispuestas en rombo.116 (SACHERI, 2010, p.315 – Capítulo “Devolución”). É também na janela de sua Secretaria de Instrução que Chaparro se debruça todas as vezes que seu companheiro e funcionário Pablo Sandoval sai do escritório, para atestar se seu amigo cruza a rua Tucumán em direção a sua casa em Viamonte ou se segue em direção a um dos muitos bares da rua Venezuela:

– Me voy – Sandoval se puso de pie de repente, se colocó el saco y caminó hacia la puerta–. Nos vemos.

“La puta madre”, pensé. Otra vez. Abrí la ventana y esperé. Pasaron varios minutos, pero Sandoval no cruzó Tucumán hacia Viamonte. Me sentí un poco culpable: “una inundación en la India deja cuarenta mil muertos, pero, como no los conozco, me angustia más la salud de mi tío que tuvo un infarto”. En algún regimiento, en alguna comisaría, a Nacho lo estaban reventando a golpes de puño y de picana. Pero yo no me angustiaba tanto por él como por su primo Pablo, que era mi amigo y pretendía emborracharse hasta quedar en coma.

¿Yo era el egoísta o todos lo éramos? Me consolé pensando que por Sandoval podía hacer algo, y por su primo Nacho, no. ¿Era así? Decidí darle la ventaja habitual: tres horas antes de salir a buscarlo. Me senté a corregir una prisión preventiva. Decidí que fueran dos horas. Tres tal vez fuesen demasiadas.117 (SACHERI, 2010, p.231-232).

115 Em português: “O dia 26 de setembro de 1996 era uma quinta-feira como qualquer outra, exceto talvez pela algazarra que vinha da rua. A partir das doze começava a primeira greve geral contra o governo de Carlos Menem, e uma facção do sindicato dos judiciários provocava tumulto com uma ou outra bomba, enquanto se concentrava na escadaria da calle Talcahuano.” (SACHERI, 2011, p.187). 116 Em português: “Por isso, finalmente se põe em movimento e sobe pulando de dois em dois os degraus da entrada da Lavalle. Toma o elevador até o quinto andar. Caminha em grandes passadas pelo corredor de ladrilhos brancos e pretos dispostos em losango.” (SACHERI, 2011, p.209).

117 Em português: “– Estou indo. – Sandoval se levantou de repente, vestiu o paletó e caminhou em direção à porta. – A gente se vê.

É interessante notar que, ainda que Benjamín Chaparro saiba o quanto aquele ambiente é recorrente em sua biografia e integra sua própria história de vida, o personagem sente alguma espécie de incômodo quando pensa que sua imagem pode estar vinculada de forma previsível àquele espaço:

Antes de abrir el sobre, volví a mirar el destinatario. Era yo, sin duda. “Benjamín Miguel Chaparro. Juzgado Nacional de Primera Instancia en lo Criminal de Instrucción nº 41, Secretaria nº 19”. ¿Cómo sabía Morales que iba a encontrarme allí? Me disgustó un poco ese envío intempestivo, aunque… ¿qué era exactamente lo que me molestaba? De hecho no lo hacía responsable por mi huida desesperada de 1976. Al respeto siempre tuve claro que eso se lo debía al malparido de Romano. ¿Me perturbaba que me escribiese tantos años después? Tampoco. Guardaba de él un recuerdo afable, casi cariñoso. ¿Qué era entonces? Demoré un rato en caer en la cuenta de que lo que verdaderamente me ofuscaba era ser tan previsible, tan monótono, tan igual a mí mismo, como para que alguien pudiera ubicarme en el mismo Juzgado, la misma Secretaría, el mismo cargo y el mismo escritorio dos décadas después de nuestro último contacto.118 (SACHERI, 2010, p. 283-284).

A partir da reflexão feita nesta pesquisa sobre a representatividade dos espaços dentro da narrativa e sua vinculação com o tema da violação da lei, a Secretaria de Instrução pode ser lida enquanto “espaço de Justiça”, se a entendemos como lugar de investigação e busca por solução de fatos encarados como delito. O objetivo de uma Secretaria de Instrução, em tese, é o de garantir o direito de defesa aos que são alvo de processos de investigação e o direito de proteção às vítimas envolvidas nos delitos em questão. No entanto, em La pregunta ‘Puta merda’, pensei. Outra vez. Abri a janela e esperei. Passaram-se vários minutos, mas Sandoval não atravessou a Tucumán em direção à Viamonte. Me senti meio culpado: ‘Uma inundação na Índia deixa quarenta mil mortos, mas, como não os conheço, me angustia mais a saúde do meu tio que teve um infarto.’ Em algum regimento, em alguma delegacia, estavam arrebentando Nacho a socos e choques elétricos. Mas eu não me angustiava tanto por ele quanto por seu primo Pablo, que era meu amigo e pretendia se embebedar até entrar em coma.

Eu era egoísta, ou todos éramos? Me consolei pensando que por Sandoval podia fazer algo, mas por seu primo Nacho, não. Era assim? Decidi dar a ele a vantagem habitual: três horas antes de sair à sua procura. Me sentei para corrigir uma prisão preventiva. Resolvi que seriam duas horas. Três talvez fossem demais.” (SACHERI, 2011, p.153).

118 Em português: “Antes de abrir o envelope, voltei a olhar o destinatário. Era eu, sem dúvida. ‘Benjamín Miguel Chaparro. Juizado Nacional de Primeira Instância no Criminal de Instrução nº41, Secretaria nº19’. Como Morales sabia que ia me encontrar ali? O envio imprevisto me chateou um pouco, embora... o que me incomodava, exatamente? Na verdade, eu não o responsabilizava pela

No documento – PósGraduação em Letras Neolatinas (páginas 85-101)