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PARTE I – ESTADO DA ARTE

2. O turismo em Moçambique

Moçambique (Fig. 1) é um país do sudeste africano limitado nas suas fronteiras pelo oceano Índico, pela Tanzânia, Malawi, Zimbabué, África do Sul e Suazilândia. Tem uma área estimada em 799 380 km2, o 35º país do mundo em dimensão, e uma linha de costa de 2 470 quilómetros. O país

pode ser dividido administrativamente em dez

províncias (Cabo Delgado, Niassa, Nampula, Zambézia, Tete, Sofala, Manica, Inhambane, Gaza e Maputo) e 144 distritos. A população estima-se em 24 milhões de habitantes, de maioria negra e em que apenas 28% é católica, extremamente jovem (45,5% da população tem menos de 14 anos) e com uma das mais baixas esperanças médias de vida (52 anos, mais baixa que em 212 países mundiais). Economicamente falando, o produto interno bruto nacional per capita é dos mais baixos em todo o mundo (1200 dólares, 210º lugar entre os países mundiais), estimando- se que 52% da população esteja abaixo do limiar de pobreza (Central Intelligence Agency, 2013).

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A pesquisa em relação ao turismo em Moçambique revelou existir uma lacuna na bibliografia convencional, pelo que houve necessidade de recorrer a webgrafia. A documentação não foi escolhida ao acaso, tendo havido cuidado com a origem da informação. Assim, os documentos encontrados tiveram origem em Universidades (nacionais, moçambicanas, suecas, brasileiras, sul-africanas), órgãos estatais e associações oficiais de Turismo de Moçambique, e outras organizações com atividade em Moçambique, como ONGs.

A maior parte dos textos encontrados referem-se a casos específicos, apenas alguns falam da totalidade da condição turística do país. Neste âmbito, destacam-se os planos estratégicos governamentais, essencialmente o “Plano Estratégico para o Desenvolvimento do Turismo em Moçambique” (2004-2013). Pode estar um pouco desatualizado, mas traça as tendências gerais do turismo no país e os principais objetivos de desenvolvimento no setor. O sumo das informações deste plano, com a vantagem de em parte serem atualizadas, pode ser lido num documento produzido no âmbito da “VII Reunião de Economistas da CPLP” (9 a 11 de abril de 2008), sob o nome de “Turismo em Moçambique e os desafios da Integração SADC”, da autoria do Ministro do Turismo à época, Fernando Sumbana. Por fim, o “Plano Quinquenal do Governo para 2010-2014”, criado pelo governo no ano 2010 e aprovado no mesmo ano pela Assembleia da República de Moçambique, confirma a persistência do mesmo caminho estratégico.

Antes de apresentar os dados que estes textos nos fornecem referimos os números atuais da OMT (World Tourism Organization, 2013): em 2002, registou-se a entrada de 33.8 milhões de turistas internacionais na África Subsariana, o que representa uma subida de 7.1% anuais, em relação a 2005. No entanto, a África Subsariana, em 2012, ainda só atingiu 3.3% de turistas em termos mundiais.

Deste total, a região sul de África recebeu 12.6 milhões de turistas internacionais e espera receber 20 milhões em 2020 e 29 milhões em 2030, com uma previsão de crescimento anual entre 2010 e 2030 de 4.3%, subindo a sua percentagem no mercado mundial de 1.3% para 1.6%. Quanto a Moçambique, os dados mais atualizados são os relativos às receitas do turismo internacional, que ascenderam entre 2010 e 2012, de 197 para 250 milhões de dólares, ou seja, 0.7% do total africano, segundo a OMT (World Tourism Organization, 2013).

A estratégia nacional apontada pelos autores do planeamento estratégico é de apostar num “turismo de alto rendimento e fraca densidade, o que significa que se privilegia a atracção do turismo de topo, onde os gastos per capita têm significado, não sendo o incremento de receitas apenas em função do volume” (Sumbana, 2008: 2).

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O documento de 2008 apresenta ainda números da OMT (2003) para a África Sub-Sahariana (OMT Tendências do Mercado em África, Edição 2003), instituição que prevê que o turismo deverá gerar 4% do PIB da região até 2010. Na altura da publicação do documento, o turismo contribuía para 2.5% do PIB em Moçambique, e 8% na África do Sul. Com base no cenário previsto, Sumbana (2008:4) afirma que o “turismo deverá constituir uma alternativa certa para a redução da pobreza, criação de emprego, geração da moeda externa para além da sua contribuição para a balança de pagamentos”.

O turismo em Moçambique é dominado fortemente pelos países adjacentes: o mercado regional (África Austral) representa cerca de 86% dos turistas estrangeiros que entram no país. O problema deste tipo de turista é que produz pouca receita, entrando no país no seu meio de transporte, e muitas vezes carregando consigo o seu próprio meio de alojamento (tendas, barcos, caravanas) e até a sua alimentação (Sumbana, 2008). Portugal é apontado como um mercado emissor tradicional. Quanto a potenciais mercados, pretende-se apontar para mercados com sinergia cultural com Moçambique (Médio Oriente, América do Sul e Ásia), e não tanto para mercados saturados da Europa e América do Norte (Ministério do Turismo, 2004).

O papel turístico de Moçambique remonta ao tempo colonial, em que o país era considerado um dos destinos de primeira classe em África, em torno das praias, fauna e cosmopolitismo dos centros urbanos, principalmente no centro e sul do país. O volume de entradas baixou drasticamente com os problemas de segurança a partir de 1973, em que se atravessou os finais da guerra colonial e depois a guerra civil. Apenas em 1992 a paz foi retomada e o setor pôde renascer. Os parques naturais, que tinham sofrido a diminuição drástica da população animal, começaram a recuperar. O investimento voltou, concentrando-se na hotelaria nas estâncias balneares do sul, e mais recentemente, em pontos específicos do norte, como Pemba, Quirimbas e Nacala (Ministério do Turismo, 2004).

Moçambique pode ser dividido em três grandes regiões: norte (Cabo Delgado, Nampula e Niassa), centro (Sofala, Manica, Tete e Zambézia) e sul (Maputo-Cidade, Maputo, Gaza e Inhambane). A última região é onde se concentra mais o turismo, com 50% da capacidade total de estabelecimento registados e 65% do total das camas. Este domínio advém das estâncias balneares, do turismo de negócios em Maputo e do parque natural Transfronteiriço do Grande Limpopo, que liga o parque nacional do Limpopo ao Kruger (África do Sul) e Gonarezhou (Zimbabué). Além disso, Maputo é a grande porta de entrada do país.

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A região centro tem a sua força em termos turísticos no parque nacional da Gorongosa e vive também do turismo de negócios e comércio, concentrado na Beira e nas fronteiras terrestres. A falta de equipamentos turísticos nas praias de Sofala desvia os turistas para o sul. O abastecimento de bens de consumo é custoso (especialmente em Tete e Zambézia) e os alojamentos são poucos, onerosos e longe dos padrões internacionais (Ministério do Turismo, 2004). No entanto, a região Norte, apesar de pouco desenvolvida em termos turísticos apresenta potencialidades dignas de nota pelo que é designada como a “joia do turismo” pelo potencial inexplorado:

“a rica história do passado da Ilha de Moçambique e do Ibo, a vida marinha e a beleza do que é provavelmente um dos mais lindos arquipélagos no mundo, o arquipélago das Quirimbas, a selva intacta e extensa da Reserva do Niassa e a biodiversidade única do Lago Niassa” (Ministério do Turismo, 2004: 21).

O turismo no norte encontra-se principalmente concentrado em Nampula, Nacala e Pemba, em redor da oferta balnear do litoral e do corredor de desenvolvimento de Nacala, que abrange Nacala, Nampula e Niassa, até à fronteira do Malawi, seguindo o transporte comercial originado em parte pela linha férrea que segue este mesmo corredor.

O “Plano Estratégico para o Desenvolvimento do Turismo em Moçambique” (2004-2013) giza a estratégia para promover o incremento sustentável do turismo no país, com os seguintes objetivos: desenvolver e posicionar Moçambique como um destino turístico de classe mundial; contribuir para a criação de emprego, crescimento económico e alívio da pobreza; desenvolver um turismo económico e ambientalmente sustentável; participar no desenvolvimento e proteção da biodiversidade; preservar os valores culturais e orgulho nacional (Sumbana, 2008).

A visão do turismo centra-se no desenvolvimento do ecoturismo, do turismo de mar e sol, do turismo cultural e da observação da fauna e da flora. Isto implica necessariamente a construção de várias infraestruturas, a capacitação de recursos humanos e a modificação de comportamentos. O Plano Estratégico para o Desenvolvimento do Turismo fixa o ano de 2025 como o ano de referência para Moçambique estar preparado para ser um destino turístico de excelência, prevendo que a partir dessa data o país seja o destino de cerca de 4 milhões de turistas por ano (Sumbana, 2008).

No plano estratégico de turismo, o papel do turismo na redução da pobreza é enfatizado, e incluído no Plano de Ação do Governo para a Redução da Pobreza Absoluta (PARPA) como um setor complementar, por se encontrar intrinsecamente ligado a muitas das prioridades primárias.

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Fig. 2 - Áreas Prioritárias para Investimento em Turismo Fonte: Ministério do Turismo, 2004: 67. Escala indeterminada.

É feita uma referência particular no plano quanto ao papel do turismo “no estímulo da procura de bens localmente produzidos, contribuindo então para a criação de mais oportunidades de emprego e para a importância da criação de uma cultura de como estratégia do aumento das receitas globais do turismo” (Ministério do Turismo, 2004: 15).

O plano estratégico de turismo assenta em três processos fundamentais de implementação do turismo: planeamento integrado; desenvolvimento de produtos; marketing integrado. Contudo, considerando a escassez dos recursos, é necessária a concentração de esforços em torno de áreas ou zonas específicas, nomeadamente: Áreas Prioritárias para Investimento em Turismo (APITs); Áreas de Conservação

Transfronteira (ACTFs) e as Áreas de Conservação (ACs); Rotas de Turismo. (Sumbana, 2008) (Fig. 2)

As APITs estão divididas entre destinos existentes (A) e emergentes (B), e no meio dos dois os destinos existentes com desenvolvimento limitado (A/B).

O estudo desenvolvido no âmbito desta dissertação precisa de focar somente três zonas: Ilha de Moçambique/Nacala,

Gilé/Pebane e Turismo de Gurué, situadas nas províncias de Nampula e Zambézia. Apenas a primeira é considerada existente (mas de

desenvolvimento limitado), enquanto as outras ainda são emergentes como Áreas Prioritárias para Investimento em Turismo (Sumbana, 2008).

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A zona da Ilha de Moçambique/Nacala abrange a baía de Macambo no sul até à Baia de Memba, no norte da Província de Nampula. Tem como produtos chave a cultura, o sol, praia e mar e os desportos aquáticos, e tem como segmentos de mercado os nichos de lazer internacional e o lazer regional. A zona de Gilé/Pebane inclui a reserva de Gilé e a zona costeira de Pebane, na Província da Zambézia. Tem como produtos chave o ecoturismo, sol, praia e mar, cultura e interesses especiais, e tem como segmentos o mercado de lazer doméstico e os nichos internacionais. A zona de Turismo de Gurué abrange a região homónima na Província da Zambézia. Tem como produtos chave a aventura, o ecoturismo e a cultura, e tem como segmentos o lazer doméstico e os nichos internacional e regional. (Ministério do Turismo, 2004). Estas são zonas cuja proximidade permite uma ligação às casas dehonianas. A última zona, abrangida pelo trabalho de campo desta dissertação, tem indiscutivelmente as qualidades e potencialidades que lhe são atribuídas, mas não se pode dizer que seja visível um aproveitamento nesse sentido de momento.

Outro ponto a considerar é o das rotas de Turismo, desenhadas pelo Ministério do Turismo para promover certas regiões tanto aos turistas como a potenciais investidores. Aqui temos de considerar duas rotas Turísticas do Norte, a Rota de “Costa e Cultura” e a rota “Descoberta do Norte”. A primeira atravessa Nampula/Nacala - Ilha de Moçambique – Pemba – Quirimbas, e é descrita como “A única rota de curto prazo no norte que liga a Ilha de Moçambique, património mundial da UNESCO, com as praias tropicais, ilhas virgens, águas quentes e recursos marinhos ricos e vários”, passando pelo ecoturismo das Quirimbas e a experiência cultural da Ilha do Ibo. Pode constituir uma atração interessante nas imediações de Nampula.

A segunda rota liga Nacala/Ilha de Moçambique – Corredor de Nacala – Nampula – Gurué – Cuamba – Lichinga – Metangula – Reserva de Niassa – Palma – Quirimbas – Pemba – Nacala, e é descrita como “uma rota circular que liga todas as APITs do norte.” (Ministério do Turismo, 2004: 73). Porém exige ligações aéreas, pelas grandes distâncias e falta de infraestruturas. Ainda assim, permite a conjugação de cultura, praia e vida selvagem, e pode garantir pernoitagem em Nampula e Gurué, dois dos locais de comunidades dehonianas (Ministério do Turismo, 2004).

A Tabela 1 que se apresenta de seguida reproduz a análise SWOT efetuada para o plano estratégico nacional de Moçambique, na área do turismo, embora tenha sido adaptado para este

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(Ministério do Turismo, 2004: 43 e 44,adaptado)

trabalho, pois considerámos apenas as temáticas que mais interessam no âmbito desta dissertação: o turismo cultural.

Tabela 1 - Análise SWOT do Turismo Cultural de Moçambique

Pontos Fortes Pontos Fracos

Beleza cénica das rotas do turismo (como a costa do sul e as montanhas do norte);

Ambiente tropical/exótico (diferente de outros países anglo-saxónicos na região), refletido através da língua, música, arte, arquitetura, gastronomia, etc;

Cidades históricas (Inhambane, Ilha de Moçambique); Arquitetura especial e sem igual nas grandes cidades (principalmente Beira e Maputo).

Imagem (afetada pelo passado de Moçambique e assuntos relacionados com o continente africano como instabilidade política, minas, criminalidade, desastres naturais, pobreza, HIV/AIDS, malária e outras doenças, etc.);

Nível global de instalações e serviços (água, serviço de saúde pública, esgoto, saúde);

Falta de planeamento do uso da terra e outros recursos, bem como fraca interligação interinstitucional na história de desenvolvimento do turismo em Moçambique;

Fraca capacidade institucional por parte do Governo para elaborar, controlar e monitorizar a planificação de Turismo;

Fraco investimento e responsabilidades institucionais não claramente definidas e atribuídas;

Níveis profissionais baixos no setor público e privado para a identificação de cenários de desenvolvimento adequados;

Níveis altos de burocracia e processos complicados para atrair investimento;

Relação preço/qualidade não equilibrada. Os preços praticados são demasiado elevados;

Comunidades e empresários locais têm pouca experiência no turismo;

Pouca diversidade na oferta de produtos utilizando-se o potencial das cidades;

Serviço e qualidade de acomodação baixos, em geral; Vias de acesso e cuidados preventivos contra a Malária, cólera e outras doenças;

Distâncias enormes e serviços de transporte limitados no país;

Dificuldades em infraestruturas, acesso, recursos humanos, aspetos institucionais, marketing, ambiente, conservação, etc.

Oportunidades Ameaças

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principais atrações turísticas do país e da região; Mercado do ecoturismo;

Marketing de Nicho. Nichos de alto potencial para Moçambique: observação de pássaros, caça, mergulho, pesca, turismo cultural, ecoturismo e aventura;

Marketing das regiões de Moçambique (o norte, o centro e o sul têm perfis e oportunidades muito diferentes);

Integração regional (África Austral) através da criação de ligações entre o interior e a costa, ACTFs, corredores e circuitos de turismo regional;

Tendências de decrescimento do mercado doméstico da África do Sul e da região;

O recente processo de descentralização de competências do governo prevê oportunidades para a planificação e desenvolvimento aos níveis Provincial e Distrital.

crescimento descontrolado de turismo e técnicas artesanais de pesca;

Crescimento descontrolado do setor de turismo; Domínio de operadores e turistas de África de Sul e outros países da região ou de países com interesse complementar a Moçambique;

Comunidades não participam efetivamente nos programas do turismo;

Falta de incentivos governamentais e de alocação de recursos para a realização das atividades de marketing e de atração de investidores;

Crescimento desequilibrado dos mercados regional/doméstico/internacional e de investidores;

O clima de instabilidade em alguns países na África Austral ameaça toda a região, em geral, e o mercado moçambicano, em particular;

A contínua fraca disponibilização de quadros qualificados para a conceção e implementação dos programas;

Fraca disponibilidade de recursos técnicos e financeiros para a implementação de planos integrados e estratégicos para o desenvolvimento do turismo.

Segundo o mesmo plano, Moçambique deve concentrar os seus esforços nas suas forças, que estão em três grupos de recursos turísticos: os recursos litorais e marinhos; os recursos da natureza e fauna bravia; e os recursos culturais e artificiais. Cada um desses grupos de recursos tem uma estratégia específica e uma zona a que está mais associada. Os recursos litorais e marinhos devem ser capitalizados, pela sua “qualidade excepcional e sem igual na África Austral”, tendo sempre como prioridade a conservação; encontram-se mais associados à zona sul. Os recursos da natureza e fauna bravia devem ser desenvolvidos, para poder competir no seio da África Austral, com a reabilitação e construção de infraestruturas, promoção de investimento nas zonas de conservação, desenvolvimento de recursos humanos e repovoação da fauna. Estão mais associados à zona centro. Os recursos culturais e artificiais, produto de uma identidade cultural única na região, devem ser usados em complemento com os outros recursos para os enriquecer e eles próprios desenvolvidos numa “linha específica de produtos culturais”. Estão mais associados à zona norte (Ministério do Turismo, 2004: 51).

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Já se verificou que o governo privilegia a variedade turística, afastando-se da monotonia do sol, praia e mar. Nesse sentido, o plano estratégico aponta os mercados de nicho estratégicos para Moçambique: mergulho, pesca de alto mar, caça, observação de pássaros, ecoturismo, turismo de aventura, cruzeiro, mercado de luxo de alto rendimento e turismo cultural. (Ministério do Turismo: 2004). Entre estes, os nichos ligados ao ar livre, como a observação de pássaros, o ecoturismo e o turismo de aventura, e o turismo cultural são os nichos que podem ser ligados aos lugares estudados neste trabalho. No entanto, não há um foco nem referência ao potencial turístico das comunidades religiosas, dos santuários, dos locais de retiro e do passado e presente de missionação e evangelização de qualquer uma das religiões praticadas no país, pelo menos não de uma forma particular, já que estará integrado na categoria vasta do turismo cultural.

Como já foi dito, o Plano Quinquenal de 2010-2014 confirma muitas destas intenções, traçando como objetivos estratégicos a capacitação de técnicos turísticos e fiscais, a promoção do desenvolvimento das APITs através de parcerias público-privadas e das comunidades locais, a reabilitação das Áreas de Conservação, desenvolvimento de ações de promoção dos produtos turísticos no exterior através da marca Moçambique e construção de um Sistema de Gestão de Informação Turística como meio de quantificar o impacto económico do turismo (Ministério do Turismo, 2010).

A realidade é que pouco mais há que planos de intenções para as áreas geográficas que nos interessam. O papel do estado é o de moderador, regulador, promotor e capacitador, e não de investidor. Assim, o investimento depende do interesse de privados, que podem ser influenciados pelas áreas selecionadas pelo governo, em poucos casos (Gurué, Nampula/Nacala) coincidentes com as regiões alvo deste trabalho. Além disso, a prática é mais limitada do que a teoria planeada, verificando-se investimentos mas não à escala e com a qualidade pretendida.

Como o Plano Estratégico Nacional referia, uma parte importante da capacidade hoteleira está nas zonas costeiras do sul, com destaque para os resorts de praia. Para além de nichos específicos desenvolvidos, como estes resorts costeiros (de norte a sul, no litoral continental e nas ilhas) e alguns alojamentos especializados e de grande qualidade nas áreas de conservação e de caça (Gorongosa, Niassa, …), o alojamento existe enquanto esforço privado de pequenos empresários, e o turismo enquanto curiosidade de viajantes aventureiros.

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Fonte:

http://www.dehonbrasil.com/12dea gosto/

Quanto a turismo religioso, não há sinal da existência de um movimento motivado pela religião para além de algumas festas e pequenas peregrinações locais que, apesar de poderem ter a sua importância no meio local e até regional, não se destacam satisfatoriamente para serem referidas como potencialidade ou realidade turística. O maior movimento de visitantes com alguma relação com a religião é o do voluntariado junto de missões, mas trata-se, na maioria das vezes, de voluntariado puro, e não de turismo rentabilizado de voluntariado. O mesmo se passa nas comunidades dehonianas atuais, que não lucram nem com o turismo religioso nem com o de voluntariado.