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PARTE III – RESULTADOS

3. Apresentação das categorias de análise: caracterização das casas dehonianas e da região

3.1. Caracterização das casas dehonianas

3.1.5. Outros serviços

Aqui analisam-se outros tipos de serviços disponibilizados pelas casas ou passíveis de serem disponibilizados, com exceção da restauração.

Os serviços foram apenas enumerados nas casas que já recebem hospedagem sistematicamente. No Alto-Molocué, o superior considerou que o único serviço oferecido é a internet, através da rede wireless que funciona apenas na sala de fotocópias (ainda que refira o preço da lavandaria, na entrevista). Um dos hóspedes (VA1) não usou o serviço, acreditando que era inexistente, podendo ser outro sinal de que certas informações não são concedidas inicialmente sem que o cliente as solicite. Outro hóspede (VA2) não apreciou a indisponibilidade do serviço de internet nos quartos, limitando-se a uma sala. Além disso, não há informação na casa de que o serviço existe, e é preciso pedir a senha e autorização para estar naquela sala.

Já no Gurué, o serviço de internet não é disponibilizado, considerando-se que é muito caro para ser disponibilizado.

Tanto no Alto-Molocué como no Gurué disponibiliza-se um serviço pago de lavandaria, ainda que na primeira casa o superior não o tenha referido. Os hóspedes que usaram o serviço (VA2, VA4, VA5) estão satisfeitos com o mesmo, quer pela qualidade, quer pelo preço, neste caso no

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Gurué, porque foi onde esta questão foi mais abordada. Os que não usaram (VA1 e VA3) foi porque não precisaram, e não por falta de informação.

Além disso, as duas casas beneficiam da possibilidade de organização de reuniões. A casa de Alto-Molocué já recebe encontros de políticos e tem possibilidades de reuniões para 200, 300 pessoas. Há duas salas para reunião de pequenos grupos, uma sala comum no edifício principal e uma sala que se destinava às refeições dos hóspedes, no edifício da garagem (S1).

No Gurué, a capacidade é maior, contando com dois grandes espaços de reunião: o salão maior, no complexo do CPLD, que tem capacidade para 200-300 pessoas, e um salão na casa de hospedagem (antigo noviciado) com capacidade para 45-50 pessoas. Um dos padres falou sobre o salão desta forma:

“Os moçambicanos gostam muito do Gurué, é por isso que [os padres] criaram aquele salão, para atrair gente, e atrai. O ano passado tiveram afluência, este ano já têm reservas, mesmo dos conselhos coordenadores, para eles é uma vantagem. Tiveram ultimamente o MDM, com 136 pessoas, também os do governo local, para um seminário foram 96, e em agosto virão 100 pessoas do ministério das minas... Se calhar uma das grandes apostas seria esse turismo de reuniões, congressos, … por isso construíram esse grande salão e quando as pessoas vêm ficam muito satisfeitas com os quartos e também porque o preço é acessível” (S4a).

As casas que ainda não acolhem hóspedes regularmente, Quelimane e Milevane, também têm possibilidades de acolhimento para reuniões. A primeira pode acolher 300 pessoas na sala de refeições (S2). Quanto à segunda impõe-se o limite do número de dormida, porque é um lugar isolado e quem vem para reuniões terá de pernoitar também. Se os hóspedes forem pouco exigentes com a dormida (se dormirem em cima de esteiras, por exemplo), a casa pode acolher 200 pessoas e a reunião pode ocorrer na capela grande da casa (S3).

A casa do Gurué oferece, ainda, serviço de fotocópias (no contexto do CPLD) e o serviço religioso.

Esta casa não providencia guias, pois estes podem contratar-se na cidade, e o transporte disponível nunca é usado pelos hóspedes. Nas outras casas, os transportes são também limitados em número e em disponibilidade, já que servem em exclusivo a comunidade. Existem dois carros em Quelimane (sendo que um é usado exclusivamente pelo padre médico), e dois em Milevane (um parado na oficina há três anos).

Quanto aos serviços de atendimento especializado, à perspetiva de contratar alguém para gerir e acompanhar os turistas, os padres das casas da Zambézia concordam que é preciso encontrar alguém com interesse, tempo e dedicação para gerir a chegada dos hóspedes, já que os padres

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têm outros afazeres prioritários. No Alto-Molocué, a ocupação intensa obrigaria à contratação de pessoal. Segundo testemunho de um padre já avaliaram que os rendimentos de um ano já permitiria a atribuição de um salário de 3000 meticais, e podem aumentá-lo “se for alguém que saiba escrever, falar uma língua, um pouco de inglês, porque houve em tempos alguma afluência” (S1). Mas essa pessoa controlaria apenas as entradas e acolheria os hóspedes, não podendo efetuar trabalho de guia pela vila. Consideram, também, que os hóspedes não vêm pelo lazer e que não há muito que ver:

“O turismo começa e acaba numa hora, dar uma volta à vila, que lembra os tempos coloniais, e acaba por aí. A única coisa que pode interessar é o turismo religioso, ou seja, conhecer a experiência das […] comunidades deles que estão lá fora. Esta é uma experiência muito original, muito valiosa, que merece, mas é preciso um interesse eclesial.” (S1)

Referem que pode existir um eventual interesse pela missão antiga (Malua), embora não reconheçam o valor natural da região, deixando essa valorização para as áreas onde se localizam as casas de Gurué e de Milevane.

Já um padre da casa do Gurué (S4a) explica que o Alto-Molocué tem mais potencial que Milevane por ser um lugar de passagem e ter terreno para construir mais quartos, mas falta-lhe quem possa gerir estes serviços com mais cuidado (já que o responsável atual tem de gerir uma missão, ao nível da pastoral e da evangelização).

Em Quelimane a disponibilidade total de duas pessoas para a atividade de hospedagem seria a condição ideal para arrancar com a oficialização da mesma.

Em Milevane equaciona-se encontrar alguém com “cabeça” para gerir todos os elementos da casa: cozinha, limpeza, pagamentos, … O padre superior da casa (S3) considera que lhe falta esse espírito, ao contrário do padre Onório do Alto-Molocué, e que a idade o atraiçoa. O padre explica que ou se encontrava um casal na Itália, na reforma e que pudesse dar um ou dois anos, ou os padres da comunidade é que passam a gerir a hospitalidade, como os do Gurué, mas que não é fácil fazê-lo, porque precisam de um ambiente mais exclusivo da comunidade. De qualquer forma, essa decisão seria de toda a província, e não só deles, e poderiam ser substituídos por outros padres. Outro padre da casa (HL29) concorda que seria necessário arranjar alguém que acompanhasse os turistas e gerisse a casa numa situação de aproveitamento turístico. Um padre do Gurué (S4a) considera que o lugar tem potencial, mas é preciso alguém com capacidade de gestão à frente do empreendimento. Depois dar-se-iam passos no sentido de publicitar o lugar. Podia ser um bom lugar de reunião de grupos de padres,

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irmãs e catequistas, mas são pessoas que não podem pagar muito, e muitos não sabem usar corretamente as instalações, são mais os prejuízos que estão a ter do que as vantagens. Podia ser usado para reuniões e congressos que duram um fim de semana. A casa tem a vantagem de ter água corrente e uma bela paisagem, mas não tem energia elétrica e encontra-se limitada a uma rede de telemóvel.

No Gurué também se pensa em encontrar alguém de fora do país (falou-se de italianos) e de preferência com experiência na gestão em restauração ou hotelaria e reformado, porque, mesmo com a crise, um leigo que esteja na idade ativa precisa de pensar no futuro profissional e familiar, não pode ficar num país estrangeiro em voluntariado ou mesmo a ganhar 300 euros por mês, um salário elevado para os moçambicanos, mas reduzido para um ocidental, especialmente se pretender viver com o mesmo modo de vida da Europa. A razão para essa escolha é de querer encontrar alguém com alguma “seriedade” (S4a), em quem se possa ter confiança. “É por isso que diz que se não vão ter as pessoas certas, não podem fazer propostas. É preciso ter os pés no chão.” (S4a). A gestão feita pelos padres não é uma solução permanente, porque são poucos e não querem exercer esta atividade toda a vida, mesmo que esteja a dar bons resultados; se não houver quem possa gerir a atividade de alojamento, preferem mudar de atividade. O efeito da hospedagem no Gurué podia ser reproduzido nas casas certas, que seriam as do Alto-Molocué e Milevane, mas têm as mesmas necessidades em termos de recursos humanos no atendimento. Precisam de pessoal com vocação, tempo, paciência e que seja de confiança. Entraram no negócio de hospedagem por verem que era importante para o Gurué, porque faltavam estruturas do género na região, mas entretanto a concorrência surgirá, e aí terão de melhorar a oferta. E para isso precisam de ter alguém para receber os visitantes, e por isso não sabem quanto tempo vão continuar no ramo, por não saberem se vão conseguir evoluir nesse sentido e até corresponder a pedidos mais complexos. Além disso, antes de avançarem com novos serviços seria preciso criar produtos, atrativos ou atividades para as pessoas quererem visitar as casas. Outro padre (S4c) acrescenta que há necessidade de formação turística por parte de quem atende os visitantes no Gurué, e noutros estabelecimentos, faltando uma “forma de pensar, receber, motivar a consumir os produtos da região” (S4c). Quanto à possibilidade de guiar os turistas, descarta-se a ideia de ser feito por alguém empregue pela casa porque já há quem faça esse serviço na cidade (ainda que careiros), e considera-se que o turista, se estiver bem informado, pode passear sem guia facilmente, apenas tendo cuidado com “um certa criminalidade” (S4a).

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Por fim, o atendimento também foi avaliado pelos hóspedes. Este foi muito positivo, com um máximo de 10 em 10 e mínimo de 8 em 10, no caso das casas de Alto-Molocué e Gurué, respetivamente. Na primeira casa, um hóspede (VA2) gaba o cuidado com as reservas e a atenção na chegada dos hóspedes por qualquer um dos padres, ainda que exista um padre, o padre Onório, responsável pela hospedagem. Na segunda casa, os hóspedes (VA3 e VA4) também louvam o atendimento por parte dos padres e dos outros trabalhadores na casa.