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Possibilidade de reconversão turística das casas

PARTE III – RESULTADOS

3. Apresentação das categorias de análise: caracterização das casas dehonianas e da região

3.1. Caracterização das casas dehonianas

3.1.2. Possibilidade de reconversão turística das casas

Nesta categoria aborda-se a visão dos superiores das comunidades e de outros padres da comunidade (HL29 e HL30) sobre o futuro das casas enquanto locais de hospedagem a pessoas externas ou a turistas. Em Quelimane e Milevane são consideradas as hipóteses de converter as instalações disponíveis em estabelecimentos de hospedagem. Já no Gurué, ainda que se trate de uma casa já convertida à hospedagem, o desenvolvimento da atividade também é ponderado.

Mais particularmente em Quelimane, o superior (S2) admite já ter discutido o assunto da possibilidade da “casa como ocasião de negócio”, até porque “todos dizem que são malucos por deixarem uma estrutura parada assim” (S2).

Surgem, porém, várias condicionantes que impõem esta inutilização. Primeiro, a congregação não está vocacionada para os negócios, nem os membros da casa têm disponibilidade para tal. Precisavam de duas pessoas que se dedicassem somente a esses assuntos, mas é difícil encontrar alguém que se queira ocupar de tal atividade. Depois, para iniciar esta atividade seria necessário um grande investimento, para além dos custos avultados de manutenção da casa que já têm de suportar, e de cumprir todos os trâmites necessários à oficialização enquanto estabelecimento de hospedagem “um mínimo de participação às estruturas financeiras municipais, um alvará (…). A reestruturação, vistoria, definição de custos e impostos financeiros” (S2). O superior da comunidade considera que a mudança é necessária, mais tarde ou mais cedo, e que a proximidade da casa às Universidades e o exemplo da prática de alojamento de estudantes e professores por outras casas de religiosos os leva a ter em conta essa opção. Já consideraram, mesmo, alterações na casa para permitir essa atividade de uma forma mais cómoda para os residentes, como dividir a casa a meio, de cima a baixo, já que há saídas dos dois lados. Os estudantes universitários já comunicaram essa necessidade, mas a solução não avança. Isto acontece porque alguns membros da comunidade mostram-se renitentes em apoiar

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tal mudança, devido ao transtorno que traria aos residentes e por acreditarem que os lucros ainda não são necessários. Para além da opção de transformar a casa num lar de estudantes, já se pensou em transformá-la num centro para idosos ou numa escola. Também se colocou a opção de converter o pomar num jardim, mas para isso são necessários dois trabalhadores para o manter.

Quanto a Milevane, existem algumas preocupações semelhantes às de Quelimane, como a preservação da tranquilidade dos residentes e a questão dos custos da casa. Aí, os padres parecem ter considerado mais opções para que a tranquilidade seja preservada com a hospedagem ativa, como, por exemplo, a divisão entre os dois grandes edifícios, ficando um reservado para comunidade e o outro para os hóspedes, exceto no caso de poucos hóspedes e por pouco tempo. Estes acham que o alojamento pode ser a solução para os custos avultados da manutenção da casa e das suas infraestruturas (seria preciso renovar as madeiras e as canalizações, que ainda são as originais). Além disso, consideram que se a aposta no turismo religioso for feita “ter os padres por perto” (S3) é vantajoso pois os turistas poderão partilhar com eles o seu estilo de vida, se assim o desejarem. Os custos avultados com a casa também têm feito a comunidade pensar que se justifica a hipótese de vender a propriedade, e nesse caso mudarem-se para a missão de Nauela (antiga missão dehoniana que se encontra desocupada desde a independência) para assim recuperarem o ambiente e ficarem perto da casa de Milevane, pois o cemitério da congregação está na propriedade de Milevane. Além das despesas com infraestruturas e equipamentos da casa, os padres esperam que o lucro das dormidas possa cobrir as despesas da comunidade. No caso de se estabelecer a atividade turística, as decisões mais importantes ficam a cargo de toda a província dehoniana, ou seja, do conjunto das comunidades da congregação em Moçambique, não só da comunidade atual, que pode ou não ficar a gerir a atividade. Isto também se aplica naturalmente às despesas iniciais de renovação dos edifícios, que, ao serem custeadas pela caixa comum, deverão regressar à mesma caixa. Um dos padres (HL30) considera a ideia do turismo bem-vinda, ainda que vá alterar a vida da comunidade, porque a pastoral em si, praticamente, só dá despesa. É uma atividade necessária, mas envolve ações que não trazem nenhum lucro, como visitas às comunidades externas e a formação de elementos externos dentro da casa, em que os padres têm de arranjar meios para os sustentar durante esse período. Com a situação económica frágil dentro e fora de Moçambique, cada casa precisa de criar meios de subsistência. A hospedagem

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ou a instalação de uma faculdade nas suas estruturas são hipóteses que têm sido discutidas. “É preciso andar para a frente, que haja algo novo para o bem do povo” (HL30).

No Gurué, o superior da comunidade dehoniana (S4c) explica que não foi traçado um plano para o futuro, mas que o objetivo inicial e final não é o da hospedagem, mas o da casa de anciãos. Porém, de momento, pensa-se em aumentar a capacidade de alojamento e introduzir os melhoramentos que os clientes pedem, como camas de casal, televisão no quarto e internet, de modo a continuarem a atrair os hóspedes e até ultrapassarem a concorrência futura. No caso de ser criado um projeto estruturado de alojamento turístico. Seria necessário empregar alguém capacitado para a sua gestão. Se a concorrência aumentar, os padres estão disponíveis para melhorar as condições de alojamento já existentes para manter os clientes que já os conhecem. Isto, se se verificar que não é necessário transferir os seminaristas de Milevane para o Gurué, no futuro.

Concluindo, todos os entrevistados consideram que, num futuro mais ou menos próximo, o aproveitamento das casas para fins lucrativos e a abertura da comunidade dehoniana ao exterior é necessária. Reconhecem que existem obstáculos, mas é inevitável essa abertura. Das várias hipóteses, a mais considerada é o da hospedagem, ainda que por vezes não pareça ser a mais desejável.