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PARTE III – RESULTADOS

3. Apresentação das categorias de análise: caracterização das casas dehonianas e da região

3.1. Caracterização das casas dehonianas

3.1.7. Preços do alojamento

Esta subcategoria relaciona-se com os preços da diária praticados nas casas, com a informação sobre os lucros das dormidas, segundo os superiores das comunidades, e com o grau de satisfação dos hóspedes quanto à relação preço-oferta.

O preço da diária, como comunicado pelos superiores das comunidades, está estabelecido com mais segurança nas casas que praticam de forma regular a hospedagem, ou seja, na casa de Alto-Molocué e na do Gurué. Na primeira casa, o preço, que inclui a dormida e o pequeno- almoço, mudou no ano de 2013 de 750 meticais para 10004. Os hóspedes concordavam que o

preço anterior era inferior à qualidade da oferta e sugeriram o aumento. Ainda assim, o preço é inferior ao praticado noutros estabelecimentos com quartos com casa de banho privativa, e só superior ao preço dos quartos que partilham uma casa de banho com cinco ou seis quartos, “em condições muito precárias” (S1). Por agora, os padres só têm uma “falsa concorrência”,

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Entre Fevereiro e Maio de 2013, o euro correspondeu a um valor entre 38 e 40 meticais. Desde esse período até Janeiro de 2014 variou sempre entre 38 e 41 meticais (MobileSoftJungle, 2014)

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constituída por um hotel, construído no ano anterior, que possui luz e água corrente, e por dois hotéis em construção. No entanto salientam que um “lugar sossegado como este, onde possam descansar com estas condições de quarto, com wc privativo e água corrente, não tem” (S1).

As casas beneficiam da existência de clientes fixos, alguns colaboradores nas atividades sociais dehonianas, sem preconceitos quanto à Igreja e que gostam do lugar. Os padres admitem voltar ao preço antigo se se tratar de algum cliente cuja conta não seja paga por empresas, como é frequente entre os hóspedes habituais, e que não possam suportar o preço atual. Quanto ao preço da refeição, este também foi atualizado, passando de 150 meticais para 200.

O preço da refeição é igual no Gurué, ainda que tenham sido os padres do Alto-Molocué a ajustar o preço em relação ao Gurué, e não o contrário, e no pressuposto de que quem fica alojado num sítio também costuma ficar hospedado no outro. Também aqui o preço da diária inclui o pequeno-almoço mas não se limita a um número único, já que a tipologia dos quartos é variada. A dormida nas camaratas custa 200 meticais, num quarto com casa-de-banho exterior fica por 400, num single com casa-de-banho privativa por 600 e no quarto de casal com casa-de- banho privativa por 950. “Preços que para moçambicanos também dá para usar”, como afirma um dos padres do Gurué (S4a).

Os padres pretendem que com o tempo a dinâmica do espaço mude, contemplando melhores condições (ar condicionado e televisão nos quartos) embora com preços mais elevados, cujo valor mínimo seria 1500, 2000 meticais. Estas mudanças seriam possíveis se a liderança da oferta local fosse garantida. Quanto ao investimento nestes melhoramentos, seria recuperado facilmente, só com um grupo de 40 pessoas (S4a)

Em Quelimane ainda não se pratica a hospedagem paga.

Em Milevane, a hospedagem paga é praticada ocasionalmente, com preços simbólicos para os religiosos que os visitam para retiros, e 500 meticais para outros hóspedes. Há, ainda, outros preços se os hóspedes se organizarem à margem da comunidade quanto à restauração e outras comodidades.

Se a casa sofrer uma reestruturação em função do turismo, os preços praticados deverão compensar os gastos diretos e indiretos relacionados com o alojamento (despesas da casa, da estrutura e do pessoal). Além disso, a gestão do empreendimento e as despesas terão de recair no conjunto da província dehoniana de Moçambique, e não só na comunidade de Milevane.

O registo da satisfação dos clientes quanto ao preço-qualidade da oferta foi possível apenas no caso do Alto-Molocué e do Gurué. Num universo de seis hóspedes, apenas dois não

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consideraram a relação preço-qualidade da oferta muito boa. As duas avaliações da casa do Alto- Molocué conferem a boa relação entre preço e qualidade da oferta, principalmente em comparação com os outros alojamentos disponíveis na região. As quatro avaliações no Gurué dividem-se entre a satisfação por todos os preços praticados (VA4 e VA5) e a falta dela (VA3, inquérito respondido por dois visitantes). Um dos visitantes satisfeitos (VA4) considera que os preços são baixos e só não atribui a pontuação máxima por ter alguns problemas com a casa de banho.

Já os clientes insatisfeitos da casa do Gurué acham que os preços são excessivos em relação à qualidade da oferta. Uma hóspede (VA3) pensa que o seu quarto e a sua cama eram muito pequenos para o preço cobrado, 900 meticais (mais à frente na mesma entrevista refere 950 meticais). Preço que um entrevistado (S4a) disse corresponder a um quarto com cama de casal. E considera que mesmo os quartos de quatro camas, que teve oportunidade de ver, são demasiado simples para o preço que cobram (200 meticais) e as refeições (200 meticais), pagas à parte, são caras.

Apenas dois entrevistados falaram sobre os lucros das dormidas, e apenas duas casas lidam com entradas monetárias significativas para serem discutidas: Alto-Molocué (S1) e Gurué (S4a).

O entrevistado que fala dos rendimentos obtidos no Alto-Molocué só lá se instalou em 2011, e, por isso, só pode falar do que observou. Os rendimentos são pensados em contraponto com as despesas. Estima-se que cada residente custe cerca de 500 meticais diariamente, e que a casa tenha uma média de 5 ou 6 residentes a dado momento. Assim, em 2011 chegaram aos 50% de autonomia financeira devido às receitas do alojamento. Em 2012 atingiram os 75% de autonomia, “graças à alimentação e maior capacidade de acolhimento e haver mais pessoas a conhecerem, muito por recomendação, e que também ficam ligados à casa” (S1), mas também se devem à diminuição de pedidos de financiamento da parte das comunidades individuais aos fundos comuns da província dehoniana de Moçambique. Todavia, o entrevistado entende que não poderão atingir uma autonomia superior sem ter alguém plenamente dedicado à hospedagem que supervisione as condições dos quartos e do acolhimento em geral. Ainda assim, considera que se cuidassem melhor da área da refeição, a autonomia económica seria alcançável. Esta é já uma vantagem da casa. A refeição saudável e variada a 150 meticais, um preço semelhante ao praticado fora por um frango com batata, começou a ser oferecida aos hóspedes em meados de 2012 e em seis meses faturaram “cento e tal mil meticais” (S1), correspondente à despesa da alimentação da comunidade e dos hóspedes num ano. É preciso

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considerar que “há tempos em que a casa está cheia, e outras alturas que nem tanto” (S1). O superior da casa considera que os hóspedes escolhem a casa e as suas refeições por oferecer uma refeição melhorada e mais saudável pelo mesmo preço dos estabelecimentos externos, a comodidade de fazer a refeição dentro do alojamento, a familiaridade com os padres, a disponibilização de televisão e de serviço de internet e as condições para quem precisa de descansar e de se levantar cedo, sendo o pequeno-almoço servido a partir das 6h15 ou até antes, se assim for pedido. Porém, ele considera que a falta de liberdade dos hóspedes, devido à condicionante do horário de fecho (22h30) e à limitação às experiências sexuais, afasta alguns clientes do lugar, especialmente os de sexo masculino. Estas restrições levaram mesmo ao abandono do alojamento depois da primeira noite por parte de alguns clientes. Ainda assim, é preciso acrescentar que põe-se a hipótese de combinar outra hora de entrada se o cliente necessitar.

No Gurué, o entrevistado também garante que o alojamento e as refeições são boas fontes de receita para o autossustentabilidade, ainda que não possa discriminar os números, já que não há contabilização detalhada. Refere que apesar de a oferta de hospedagem existir há apenas dois anos, “há mesmo muitas pessoas a chegar” (S4a). Os hóspedes estão sempre a chegar, além dos grupos que se instalam de forma prolongada em trabalho, sendo o melhor exemplo o dos trabalhadores da M. Couto Alves, empresa que nessa altura asfaltava a estrada Gurué- Magige. Estes ocupam treze quartos há quase três anos. Os grupos vão aparecendo, como as 40 pessoas que ficaram alojadas por dois dias na altura da entrevista.

Os lucros das dormidas são reunidos na caixa comum dos padres dehonianos em Moçambique. Assim, esse dinheiro é usado para alimentar as comunidades religiosas e algumas casas de formação da congregação, para além de financiar a construção de “algumas coisas importantes na província moçambicana” (S4c). Desta forma, as instituições que vivem sob a alçada do CPLD, principalmente as duas escolas técnicas, não vivem dos lucros do alojamento, mas dos lucros da parte industrial, ou seja, das oficinas do mesmo Centro, até porque o alojamento está sob a alçada da província dehoniana, e não do CPLD.