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5 RESULTADOS

5.1 O COMPARTILHAMENTO DE IDEIAS E EXPERIÊNCIAS EDUCATIVAS

5.1.2 Recursos e ferramentas tecnológicos no ensino do esporte

5.1.2.2 O uso do vídeo

As reflexões empreendidas pelos professores sobre a inserção do vídeo no ensino do esporte estiveram atreladas às possibilidade de análise dos momentos do processo de ensino e aprendizagem que podem ser vivenciados pelos estudantes, por meio da estratégia do videoprocesso, a qual consiste, conforme Ferrés (1996), em uma proposta de produção de vídeo, valendo-se do estímulo a uma participação ativa na produção de

conteúdo audiovisual sobre um determinado assunto, tema ou objeto de conhecimento curricular.

Partindo dessa perspectiva, ao serem estimulados a pensar e compartilhar ideias acerca das maneiras de agregar os vídeos como recursos tecnológicos no processo de ensino e aprendizagem do esporte, o professor P1 destacou que, em razão de a escola onde trabalha possuir muitas limitações de materiais e de espaços, ele e os alunos estão enfocando os esportes que podem ser realizados ao ar livre e em espaços irregulares.

Conforme o referido professor, esse processo de sair da esfera das práticas esportivas convencionais (os esportes coletivos: basquete, futsal, handebol e vôlei), para agregar outras práticas menos hegemônicas, pode ser um tópico educativo para tema da produção audiovisual, por meio da estratégia de produção do making off - que se constitui como um tipo de documentário que revela os bastidores entre alunos e estudantes sobre o processo educativo desenvolvido.

[...] os propósitos educativos para esse trabalho pedagógico pode se desenvolver por que temos muita falta de incentivo à prática esportiva na escola por causa de espaços precários, inapropriados, sem condições de praticar um esporte de qualidade. Desta forma nós improvisamos, buscamos por lugares e espaços, áreas de lazer, ruas, etc. para a prática do esporte [...]. Acho interessante a ideia de fazer um making off de tudo isso e despertar a criticidade no aluno (P1 – FÓRUM 4).

De acordo com Rangel-Betti (1999), mesmo não havendo espaço apropriado, como uma quadra poliesportiva, por exemplo; uma possibilidade de favorecer um trabalho pedagógico é a busca por abordagens de outras práticas não hegemônicas que possam ser realizadas em espaços alternativos, por meio do desenvolvimento de estratégias para que esse processo educativo seja enriquecedor e leve o aluno não só a experimentar novas formas de acessar e construir o conhecimento, mas também a desenvolver uma visão mais crítica sobre os entraves que existem na escola para a realização das práticas esportivas.

Assim, a construção do vídeo em formato de making off elencada pelo professor P1, ao permitir que o aluno tenha uma experiência autoral como produtor e difusor de conhecimentos sobre o esporte, entrelaçando esses saberes e situações ao seu contexto escolar e social, oportuniza também que o estudante possa acessar o conhecimento esportivo numa perspectiva que lhe possibilite, com mais clareza, conforme aponta Moran (2012), a explorar o ver, o visualizar, o ter diante dos professores as situações, as pessoas, os cenários, as cores, as relações espaciais, e também permitem o acesso aos múltiplos recortes da realidade.

Nessa mesma perspectiva, os professores P4 P5 e P7, pontuaram, também, que os alunos podem ser orientados a desenvolver vídeos partindo de uma temática lançada sobre os esportes, como meio para estimular a pesquisa, para construção de conhecimento e posterior apresentação dos achados, o que ensejaria, conforme aponta Moran (2016), ao elencar as potencialidades de trabalhar numa perspectiva de produção de vídeo pelos próprios discentes, o favorecimento da autonomia e protagonismo dos alunos.

Especificamente, os professores P4 e P5 destacaram que o enfoque na produção de vídeo pode ser direcionado para que os alunos possam construir, com a mediação do professor, sua própria mídia educativa, como forma de interagir e engajar-se em conhecimentos do esporte elencados no processo de ensino e aprendizagem.

Penso que a utilização das ferramentas de vídeo serve para os alunos construir sua própria mídia educativa. Os alunos na minha escola têm a sala de informática a disposição para pesquisarem sobre a construção do roteiro de sua gravação (P4 – FÓRUM 4).

[...] as turmas hoje são muito numerosas. A distribuição dos alunos em grupos é uma estratégia mais palpável para criar vídeos. Depois desses grupos formados, é necessário estabelecer critérios pelo professor para a construção dos vídeos com os assuntos envolvendo o conteúdo. Quando esses vídeos estiverem prontos eles deverão ser mostrados aos demais colegas da turma (P5 – FÓRUM 4).

Sobre essa perspectiva de produção de conteúdos audiovisuais, Ferrés (1996) defende que a produção do vídeo, por parte dos próprios alunos, permite o desenvolvimento de novas expressões e de autoconhecimento e também possibilita e estimula a criação coletiva entre os dissentes, uma vez que, conforme defende o referido autor, a eficácia do uso didático do vídeo e da produção da linguagem virtual está estritamente relacionada ao fato de os estudantes serem incentivados a criar e ressignificar os processos educacionais com maior liberdade e protagonismo.

Ainda em relação aos recursos tecnológicos para a produção de vídeos, o professor P7, por sua vez, salientou que o trabalho por meio da linguagem audiovisual pode ser uma boa oportunidade para incentivar o uso dos celulares dos próprios alunos, uma vez que esse dispositivo possui inúmeros recursos que permitem produzir, manipular e editar vídeos, de forma mais intuitiva, haja vista que seus alunos já possuem bastante intimidade e, em sua maioria, já sabem manipular e empregar os recursos disponíveis nos diversos aplicativos possíveis de serem baixados gratuitamente.

Os vídeos podem ser feitos pelo uso dos celulares dos próprios alunos e todas as etapas podem ser filmadas em forma de documentário. Nesse processo, os alunos devem se sentir capaz de contar históricas de uma forma onde as pessoas que vão assistir consigam entender a mensagem e o objeto do vídeo. Durante a filmagem os alunos devem ser orientados a procurar os melhores ângulos e utilizar um microfone para ter uma melhor qualidade de áudio. Por ser produzido pelos próprios alunos, podem ser utilizados aplicativos mais fáceis de edição de vídeo (P7 – FÓRUM 4).

Segundo Reinaldo et al. (2016), em contraponto aos computadores e notebooks, o uso de celulares e smarthphones dispensa treinamento especializado, pois oferecem recursos e aplicativos extremamente intuitivos sobre diferentes áreas do conhecimento, os quais são, em grande parte, disponibilizados gratuitamente. Nesse sentido, o emprego de aplicativos de edição nesse dispositivo torna-se mais acessível e prático para o seu uso, na escola, como recurso didático pelos alunos, posto que os discentes, em sua maioria, possuem celulares e outros dispositivos similares (REINALDO et al., 2016).

Além do processo de produção de vídeo, incrementado pelas diferentes perspectivas dos docentes supracitados, o professor P2 também lembrou que já utiliza vídeos para iniciar uma temática nova e para aprofundar os conhecimentos que auxiliam os alunos, no prosseguimento das atividades pedagógicas.

Sempre passo vídeo para os alunos quando estou introduzindo um conteúdo novo. No primeiro trimestre usei dois vídeos para os alunos entenderem o tênis de mesa, porque achei bem adequado a didática dos vídeos, mas eu assisto tudo antes de levar para a escola porque é uma forma que eu tenho de me atualizar (P2 – FÓRUM 4).

Considerando que há atualmente, no mundo virtual, uma quantidade gigantesca de vídeos, muitos deles tutorias, que aborda os mais distintos temas relacionados ao esporte, percebe-se que as reflexões do professor P2, a título de exemplo, demonstram que, além de instrumentos didáticos que podem ser utilizados para subsidiar o processo de aprendizagem dos alunos, essas mídias se constituem importantes instrumentos para o professor acessar informações e conceitos relacionados ao esporte, podendo converter-se, de acordo com Reinaldo et al. (2016), em alternativa para subsidiar o trabalho do professor diante do insuficiente acervo de material que grande parte das bibliotecas escolares apresentam.

Entretanto, vale destacar que o trabalho com a inserção do vídeo em projetos de ensino e aprendizagem, em concordância com Diniz, Rodrigues e Darido (2012), exige uma preparação prévia, especificamente direcionada aos objetos elencados para as aulas, com o intuito de que este recurso não seja mal utilizado e não seja desperdiçado, para que, assim, o seu uso possa significar um avanço no aprimoramento das estratégias de ensino, haja vista que, conforme destaca Moran (2012), na abordagem da aula com o vídeo, o aluno inicialmente tende a conceber a ideia de que esse momento de aprendizagem significa descanso, e não aula.

Nesse sentido, vale destacar que os professores, ao discutirem sobre as potencialidades e possibilidades de uso pedagógico da linguagem audiovisual e dos recursos de edição de vídeos, demonstraram estar cientes da necessidade de assumir uma postura de

observância contínua em suas práticas pedagógicas, a fim de que os alunos saibam lidar com esses recursos e ferramentas digitais, de forma a agregar mais um instrumento mediador e facilitador, no processo de ensino e aprendizagem dos esportes.