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Uma perspectiva de formação continuada colaborativa que possui como propósito a promoção de aprendizagens em meio a coletividade, por meio da troca de experiências, ideias e discussões em conjunto, deve orientar-se a que os professores em serviço possam, de um lado, manter diálogos e reflexões com seus pares e, de outro, experimentar e colocar em prática suas próprias ideias, de modo que superem e esquivam-se dos entraves, dos obstáculos e das situações problemáticas que o seu contexto singular apresenta. Nessa perspectiva, as próprias tecnologias digitais, para além de mediadoras do processo de ensino e aprendizagem, também se revelam como um instrumento eficiente para estabelecer e manter redes de professores em constante contato e interação, a fim de esses profissionais aprimorarem e construírem em conjunto práticas pedagógicas significativas e inovadoras, em um verdadeiro coletivo docente.

Nesse caminho, as plataformas digitais construídas para a implementação de ambientes virtuais de aprendizagem (AVA) despontam como novo espaço de interação e de encontro entre indivíduos que buscam aprendizagens significativas e de forma colaborativa. Tomando a definição elaborada por Almeida (2003), os ambientes virtuais de aprendizagem são

[...] sistemas computacionais disponíveis na internet, destinados ao suporte de atividades mediadas pelas tecnologias de informação e comunicação. Permitem integrar múltiplas mídias, linguagens e recursos, apresentar informações de maneira organizada, desenvolver interações entre pessoas e objetos de conhecimento, elaborar e socializar produções, tendo em vista atingir determinado objetivo (ALMEIDA, 2003, p. 331).

Esses espaços virtuais de aprendizagem oferecem condições para formas de interação síncrona e assíncrona entre os usuários, para uma comunicação unidirecional (através de um painel eletrônico, por exemplo), bidirecional (o correio eletrônico, por exemplo) ou, ainda, para uma comunicação multidirecional (por exemplo, a utilização de chats, fóruns, audioconferências, videoconferência etc.) (ONRUBIA; COLOMINA; ENGEL, 2010), além de também possibilitar recursos característicos da hipertextualidade, com base em “[...] sequências de textos articulados e interligados entre si e com outras mídias, sons, fotos, vídeos etc.” (KENSKI, 2012, p. 95), de modo que facilita a propagação de atitudes de cooperação entre os participantes, uma vez que a conectividade permite o acesso rápido à informação e à comunicação interpessoal, independentemente do tempo e do lugar (KENSKI, 2012).

Outra dentre as principais características tecnológicas do ambiente virtual é o sentimento de telepresença, que faz com que os usuários de diferentes localidades acessem o mesmo ambiente em dias e horários diferentes e se sintam como se estivessem fisicamente juntos, trabalhando no mesmo lugar e ao mesmo tempo (KENSKI, 2012), o que também propicia ao conjunto de integrantes que fazem uso dessas plataformas a construção de uma verdadeira comunidade virtual de aprendizagem, haja vista os interesses e participação em comum, voltados para a ampliação da interatividade, troca de experiências e compartilhamentos de ideias, e também o propósito da promoção explícita de aprendizagens entre docentes, por meio do desenvolvimento de estratégias, planos, atividades e papéis específicos, atrelados às possibilidades e recursos das tecnologias digitais (COLL; BUSTOS; ENGEL, 2010).

A comunidade virtual de aprendizagem, conforme Coll, Bustos e Engel (2010), ao promover a interação e fomentar a troca de informações profissionais entre pares, pode

colaborar para que os professores em formação continuada tenham garantido um espaço de aprendizagem, a fim de que possam compartilhar as vivências sobre o processo de imersão que cada um pode realizar em sua própria prática educativa, com foco na experiência, exploração e experimentação de novos conceitos, metodologias e conhecimentos, uma vez que tal processo, conforme aponta Claxton (2005), possibilita um domínio prático de ambientes complexos. Isto porque a imersão em um ambiente tão complexo como o ambiente educativo possibilita ao professor “[...] a identificação de padrões recorrentes nos contextos e experiências vivenciadas, o que permite fazer previsões, projeções e escolher as melhores ações e caminhos para se atingir os objetivos esperados” (BRUNO, 2010, p. 47).

Nesse caminho, os ambientes virtuais de aprendizagem, por possibilitarem a combinação de diferentes ferramentas tecnológicas e o manejo de potentes bases de dados, permitem planejar, registrar e acompanhar o que é realizado, o que é dito ou quem o diz e para quem é direcionada cada fala (ABADIA; MONEREO, 2010) e, por consequência, configuram-se como uma ferramenta de apoio substancial para os professores trabalharem de forma colaborativa, uma vez que esses ambientes podem constituir-se um lugar de encontro em comum, ao valer-se dos meios de comunicação e interação que as plataformas virtuais oferecem, mesmo que os integrantes das comunidades de aprendizagens sejam oriundos de distintas localidades e espaços geograficamente afastados.

Atualmente, há inúmeras plataformas pensadas para configurar-se como lócus de encontro das comunidades virtuais de aprendizagem. Uma delas, muito utilizada por instituições voltadas para a formação de professores, é o Moodle (Modular Object-

Oriented Dynamic Learning Environment), o qual se consiste em um sistema de gestão

de cursos (Course Management System - CSM) desenvolvida em Hypertext Processor (PHP), com base em uma plataforma de código aberto - open source (LISBÔA et al., 2009). De acordo com Lisbôa, et al. (2009), uma das principais vantagens do Moodle é a possibilidade de que qualquer utilizador possa modificar e fazer adaptações do ambiente

virtual, de acordo com as necessidades próprias da comunidade de aprendizagem (LISBÔA et al., 2009).

Legoinha, Pais e Fernandes (2006) destacam que o conceito fundamental do Moodle é baseado em uma página em que são disponibilizados recursos e desenvolvidas atividades para e com os participantes do curso, sendo uma eventual metáfora para o sistema a designação inscrita sob a alcunha: “ambiente formativo ubíquo”. Além dessas características básicas, os referidos autores também acentuam que o Moodle apresenta um sistema de gestão formativo com “[...] forte componente de participação, comunicação e colaboração entre formandos, formadores e pares [...]” (LEGOINHA; PAIS; FERNANDES, 2006, p. 2), haja vista as ferramentas e recursos que são disponibilizados para a construção de conhecimento, por parte dos integrantes do curso e da interação e da cultura com outras experiências de aprendizagem (LISBÔA et al., 2009).

Nessa perspectiva, o espaço de encontro que pode ser desenvolvido na plataforma Moodle oferece inúmeras ferramentas que podem contribuir para potencializar interações, no interior de uma comunidade virtual de aprendizagem, entre professores em formação continuada. Algumas dessas ferramentas e recursos básicos de apoio tecnológico disponibilizadas pelo Moodle podem ser conferidas no Quadro 13.

Quadro 13 – Recursos do AVA Moodle (Continua) Recursos Descrição das Funcionalidades.

Modificar Perfil Permite que qualquer usuário altere informações pessoais.

Disponibilizar Turmas Permite ao administrador que indique as turmas que serão disponibilizados ao início de cada ano/semestre/trimestre.

Configuração da

Disciplina Permite ao administrador alterar a visibilidade de qualquer recurso ou atividade dentro da disciplina, excluir ou acrescentar blocos e alterar atividades e blocos de lugar.

Designar Funções Permite atribuir uma função ao usuário, ex.: moderador, estudante monitor editor, convidado da turma, entre outros.

Quadro 13 – Recursos do AVA Moodle (Conclusão) Mensagem Permite ao usuário e ao administrador enviar mensagem para qualquer

participante da disciplina.

Grupos Permite que o administrador da disciplina crie grupos para realizar atividades em grupo.

Página de textos

simples Permite criar páginas de texto simples para transmitir informações que não requeiram outros recursos. Página de texto Web Permite a criação de uma página web com a inserção de imagens, links e edição

do código html. Link a um arquivo ou

site Permite disponibilizar arquivos de diferentes formatos e links. Diretório/pasta Permite disponibilizar uma ou mais pastas de arquivos aos usuários.

Rótulo Permite inserir links (em html) em qualquer lugar na exibição da página principal do curso, incluindo gráficos, animações, figuras, tabelas, etc.

Base de dados Permite criar uma Base de dados, para o compartilhamento de diversos tipos de itens (diferentes tipos de arquivos, por exemplo) entre os participantes da disciplina.

Chat O chat permite aos participantes uma interação síncrona (bate-papo, discussão, tira-dúvidas) via web. É uma maneira útil para promover a troca de ideias e discussões sobre os assuntos apresentados no curso.

Enquete O administrador da página propõe uma pergunta do tipo enquete, disponibilizado múltiplas respostas. Pode ser usada em provas de múltipla escolha, coleta de opiniões sobre determinado tema etc.

Fórum Permite realizar postagem de conteúdos, podendo ser estruturado de diferentes formas e incluir avaliações das postagens efetuadas. Podem também exibir imagens e arquivos anexados.

Lição Permite exibir conteúdos, baseada em ramificações e rotas de acesso. Consiste em um número de páginas que contem questões que redirecionam o usuário para o conteúdo disponível.

Frequência Permite controlar a frequência de cada um dos alunos nas aulas.

Tarefa Tarefas permitem que o professor crie uma atividade na qual os usuários devem enviar arquivos (em qualquer formato) ou, ainda, respondê-la por intermédio do próprio Moodle.

Wiki Um Wiki é uma página web que pode ser editada colaborativamente, ou seja, qualquer participante pode inserir, editar e apagar textos. Oferece suporte a processos de aprendizagem colaborativa.

Nota Permite atribuir uma nota às atividades (provas, trabalhos, exercícios etc), com a possibilidade de criar categorias de notas e atribuir diferentes pesos.

Arquivo no Moodle Todos os arquivos disponibilizados pelo administrador da página no Moodle ficam armazenados em uma única pasta, visível apenas para o administrador, servindo como um repositório para armazenar os arquivos utilizados.

Importa destacar que o sucesso da utilização de recursos do Moodle, na formação continuada de professores e no estabelecimento de uma comunidade virtual de aprendizagem, está condicionado, em grande medida, ao desempenho estratégico criado pelo agente formador, de modo que este possa auxiliar e contribuir na adequação do curso ao público-alvo, ao contexto e aos objetivos que envolvem o espaço formativo entre professores (LISBÔA et al., 2009).

Além do mais, conforme pontua Imbernón (2009), o formador deve ainda assumir um papel de prático colaborador, de uma maneira flexível e preocupado em constituir espaços formativos para a ajuda na análise de obstáculos individuais e coletivos que o professorado em formação continuada encontra para a solução de distintas situações problemáticas. Nesse quesito, o bom uso das ferramentas e recursos digitais, tanto para a utilização em projetos de aprendizagem, quanto para possibilitar o intercâmbio entre pares e o trabalho coletivo desenvolvido no interior de uma comunidade de aprendizagem, pode despontar para um espaço que passe do mero propósito de “atualização”, para um espaço de reflexão e inovação (IMBERNÓN, 2009).

Entretanto, o autor destaca que esse processo deve ser prosseguido sem perder de vista a premissa de que o formador deve utilizar as potencialidades e possibilidades das tecnologias digitais, para contribuir, auxiliar e ajudar os professores a meditar sobre situações práticas, e, também, para que eles próprios possam pensar acerca do que se faz durante a execução de ações formativas, de forma que consigam definir nesse processo “[...] a deliberação acerca do sentido (e da construção deste, analisando e submetendo à revisão crítica o sentido da educação) e o valor ético das atuações [...]” (IMBERNÓN, 2009, p. 107).

Tomando-se por base essa concepção, os momentos formativos pensados e direcionados aos professores em serviço adquirem garantias de uma interação entre pares que contribui para que emerja aprendizagens significativas com a mediação das ferramentas e recursos digitais pensados estrategicamente e para a promoção de

práticas pedagógicas inovadoras e significativas por cada docente integrante do coletivo de professores em formação.