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SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO

2. REVISÃO DA LITERATURA

2.1.1. Obesidade: definição e classificação

Considerada uma doença de etiologia complexa, multifatorial e cujos mecanismos que a desencadeiam ainda não foram totalmente elucidados, a obesidade é definida pela Organização Mundial da Saúde (OMS), como uma doença crônica, inflamatória, endócrino-metabólica e heterogênea, caracterizada por um acúmulo anormal ou excessivo de gordura corporal, em um nível que pode comprometer a saúde do indivíduo (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1995; 2000).

A obesidade integra o conjunto das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), e tem sido associada a um grande número de enfermidades, como as cardiovasculares, diversos tipos de câncer, doenças do aparelho digestivo, diabetes mellitus tipo 2, entre outras. Somam-se aos danos fisiológicos os impactos psicossociais relacionados à questão do estigma e da discriminação a indivíduos sob esta condição, constituindo-se em um dos maiores desafios em saúde pública deste século (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1995; 2000; 2015; THE GLOBAL BURDEN OF METABOLIC RISK FACTORS FOR CHRONIC DISEASES COLLABORATION, 2014).

A obesidade, enquanto doença resultante do acúmulo excessivo de gordura corporal tem sido tradicionalmente diagnosticada a partir de um indicador antropométrico adotado pela OMS (1995), o Body Mass Index (BMI) ou Índice de Massa Corporal (IMC) ou ainda Índice de

Quételet (em homenagem ao seu criador), que é obtido por meio do cálculo da relação entre o peso corporal (em quilogramas) pelo quadrado da altura (em metros). Por meio deste parâmetro são considerados obesos os indivíduos adultos cujo cálculo do IMC apresenta valor igual ou superior a 30 kg/m² (QUÉTELET, 1870; WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1995; 2000).

Segundo Weerarathna, Lekamwasam e Rodrigo (2008), o IMC é um indicador antropométrico que apresenta boa correlação com a gordura corporal total e com as alterações metabólicas associadas à obesidade. No Quadro 1, são apresentados os valores do IMC estabelecidos pela OMS para indivíduos adultos com suas respectivas classificações, assim como o risco de desenvolvimento de comorbidades associado a cada um dos diferentes pontos de corte (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2000).

Quadro 1. Classificação do estado nutricional de adultos segundo o

índice de massa corporal (IMC) e risco de desenvolvimento de comorbidades.

IMC (Kg/m²) Classificação Risco de comorbidades

< 18,5 Baixo peso Baixo

18,5 – 24,9 Eutrofia ou Peso normal Médio

≥ 25,0 Excesso de peso *

25,0 – 29,9 Sobrepeso ou Pré-obesidade Aumentado

30,0 – 34,9 Obesidade classe I Moderado

35,0 – 39,9 Obesidade classe II Severo

≥ 40,0 Obesidade classe III ou mórbida Muito severo * Risco para o desenvolvimento de comorbidades não estabelecido. Fonte: WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2000.

De acordo com os dados apresentados no Quadro 1, o risco de

desenvolvimento de comorbidades ou de DCNT aumenta

progressivamente na medida em que aumenta o IMC (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2000; GUH et al., 2009). Apesar disso, ressalta-se que o IMC, mesmo sendo útil para avaliar o excesso de

gordura corporal total em estudos populacionais, devido à sua simplicidade, rapidez e baixo custo, é um indicador que não descreve a ampla variação que ocorre na composição corporal (não reflete a distribuição da gordura corporal, nem distingue massa gorda de massa magra) (ANJOS, 1998; WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1998). Assim, indivíduos com um mesmo IMC podem apresentar diferentes percentuais de gordura corporal (ANJOS, 1998; WEERARATHNA; LEKAMWASAM; RODRIGO, 2008).

Diante disso, as evidências sugerem que mais importante que o conhecimento da obesidade geral (medida pelo IMC), é o seu conhecimento acompanhado do conhecimento da distribuição do tecido adiposo no organismo, uma vez que alterações metabólicas importantes dependem da localização e da distribuição da gordura corporal (HANT et al., 1995; MICHELS; GREENLAD; ROSNER, 1998; HUXLEY et al., 2010; ASHWELL; GUNN; GIBSON, 2012).

A concentração de tecido adiposo na região abdominal caracteriza a chamada obesidade abdominal. Normalmente neste tipo de obesidade, a gordura encontra-se distribuída em dois grandes compartimentos, um subcutâneo e outro intra-abdominal (visceral). O acúmulo de gordura visceral para alguns pesquisadores está mais fortemente relacionado a fatores de risco metabólicos do que qualquer outro compartimento de gordura no organismo (BOSELLO; ZAMBONI, 2000; RIBEIRO FILHO et al., 2006).

Nesse sentido, a medida da circunferência da cintura (CC) tem sido recomendada como um dos melhores indicadores antropométricos indiretos para se aferir a quantidade de tecido adiposo na região abdominal. Trata-se de uma medida que vêm sendo largamente utilizada em estudos de base populacional como indicador de gordura abdominal, uma vez que guarda associação estatisticamente significante com a quantidade de gordura visceral, seja pela sua associação com a ocorrência de doenças cardiovasculares, seja pela alta correlação que possui com métodos laboratoriais de avaliação da composição corporal (CASTANHEIRA; OLINTO; GIGANTE, 2003; WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2008a).

A OMS estabelece que mulheres devem ter a medida da CC menor do que 80 cm e homens menor que 94 cm. A partir desses valores, a medida da CC é considerada elevada e passa a ser indicativa de risco cardiovascular, principalmente quando a medida alcança ou ultrapassa 88 cm em mulheres e 102 cm em homens (WORLD

HEALTH ORGANIZATION, 1998; 2008a). Considerando que o risco de morbidade e mortalidade relacionado à medida da CC elevada varia de acordo com as diferenças étnicas, alguns pesquisadores têm proposto a utilização de pontos de corte diferentes aos estabelecidos pela OMS e específicos para determinadas populações (OKOSUN et al., 2000; WANG et al., 2010; LEAR et al., 2010). No Brasil, estudos pontuais recomendam valores da CC entre 80 a 86 cm para as mulheres, e entre 85 a 88 cm para os homens (FERREIRA et al., 2006; PEIXOTO et al., 2006; ALMEIDA et al., 2009; GUS et al., 2009). Contudo, a adoção dessas novas recomendações deve ser feita com cautela, uma vez que não há um consenso entre os pontos de corte recomendados por esses estudos.

Além dos indicadores antropométricos de uso corrente (IMC e CC), outros métodos ainda podem ser utilizados para se estimar com precisão a quantidade total de gordura corporal e o seu padrão de distribuição. Destacam-se aqueles envolvendo outras medidas antropométricas duplamente indiretas (pregas cutâneas, razão cintura- estatura, razão cintura-quadril e bioimpedância elétrica) e aqueles indiretos que podem ser realizados em nível anatômico (análise de ativação de nêutrons), em nível molecular (absorciometria de raios X de dupla energia - DEXA) e por meio de técnicas de imagem (método de infravermelho, ressonância nuclear magnética, tomografia computadorizada abdominal), além da pesagem hidrostática (considerada o padrão-ouro) (HOFFMAN et al., 2000; ANJOS; WARLICH, 2007; CUPPARI, 2009).

De modo geral, esses métodos indiretos, apesar de mais acurados, constituem-se em métodos de elevado custo operacional e normalmente de acesso restrito a centros especializados de pesquisa, e por isso tornam-se pouco apropriados para uso em estudos populacionais (HOFFMAN et al., 2000; ANJOS; WARLICH, 2007; CUPPARI, 2009). Assim, para a realização de estudos epidemiológicos, o emprego de medidas antropométricas (IMC e CC) vem sendo amplamente recomendado, por serem consideradas medidas simples, de fácil obtenção, não invasivas, de custo baixo e de boa precisão para estimativas da prevalência da obesidade (geral e abdominal) (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1995; 2008; ANJOS; WARLICH, 2007).