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Um dos aspectos que se tentou captar nas entrevistas aos pais e mães das crianças da turma escolhida para o estudo diz respeito aos objectivos educativos, procurando perceber-se que tipo de educação é que viam estes pais e mães como ideal e se consideravam a hipótese de haver uma diferenciação a este nível em função do sexo dos filhos. Para além disso, que características em termos de personalidade desejavam que os filhos tivessem, se ambicionavam para eles um curso ou alguma profissão específica e o que esperavam dos filhos no futuro enquanto homem/mulher. Nas entrevistas sobressaiu, na generalidade dos pais e mães, a importância do “ser alguém”, tendo-se evidenciado igualmente a importância dos “valores” na educação e dos pais darem “amor” e “carinho” aos filhos.

Destaca-se a posição assumida de forma praticamente unânime por parte dos pais de não diferenciação dos objectivos educativos e de personalidade em função do sexo dos filhos, situação que poderá descortinar a questão da visibilidade social associada à norma da igualdade de género. Para além disso, alega-se maioritariamente que são os filhos que devem decidir acerca do seu futuro académico e profissional, com raras excepções em que os pais ambicionam um curso específico para o filho. Uma das distinções de sexo/género que se patenteia em alguns discursos diz respeito à maior preocupação, “medo” e consequente protecção, face às “meninas”, quiçá vistas como mais expostas a riscos comparativamente com os rapazes. Apesar disso, pais e mães não deixaram transparecer nos seus discursos qualquer tipo de diferenciação, quando questionados acerca de saídas nocturnas dos filhos no futuro e sobre as respectivas atitudes consoante se tratar de rapaz ou rapariga.

E – E os objectivos são diferentes para a menina e para o menino? Quais são os objectivos para o futuro, em termos de carácter e inserção social… É igual, ou…

e – Eu penso que será igual…, desde que um e outro queiram ser alguém… (silêncio) E – Tem algum curso ou profissão desejável para eles, ou…

e – Não… Isso eles é que têm que ter…, isso na mente o que é que querem ser.

Pai de Carla, 30 anos, serralheiro

“Educar é um bocado complicado… Têm que se ensinar bastantes valores..., que eles hoje em dia…, muitos deles eu acho que não têm. (…) Gostava que ele gostasse de estudar…, que ele gostasse bastante de estudar (…) que fosse sempre, pela vida fora,

bem-educado. (…) que ele forme uma família…, que tenha uma boa profissão.”, Mãe

de Rodrigo, 35 anos, auxiliar num infantário

“(…) sermos compreensivos perante eles, dar-lhes carinho, dar-lhes o amor que eles precisam… Dar-lhe tudo, não exagerado, porque eles agora também exigem um bocadinho dos pais e a gente faz ver que também não pode ser tudo (…) as meninas normalmente são mais... exigem mais um bocadinho das mães…, são mais exigentes. Eu acho que… pronto, as meninas é diferente. A gente tem mais medo porque é menina (…) ”, Mãe de Nuno, 40 anos, costureira

“O fundamental de tudo é dar carinho e dar amor. Acho que a gente se não gostar dos nossos filhos, se não lhes der carinho, acho que eles mesmo eles sentem isso. E depois começam à deriva…”, Mãe de Sónia, 34 anos, ajudante de cozinha

“Não é dar brinquedos (…) É amor e carinho, é o que as pessoas hoje em dia esquecem-se muito.”, Mãe de Francisco, 32 anos, recepcionista

“Penso que educar bem é alertar sobretudo para a vida, para a realidade, para aquilo que nos rodeia, não é? E, sobretudo, dar algumas referências. A questão dos valores, que hoje já se começa a falar muito…, que as pessoas não têm valores, não têm referências…”, Pai de Paula, 43 anos, técnico superior da administração pública

E – Distingue educar bem uma filha de um filho, ou para si é igual?

e – Há pequeninas coisas. Por mais que a gente diga que hoje em dia é tudo igual, não é. (…) acima de tudo, as diferenças que eu tento lhes explicar é em relação às outras pessoas. Porque normalmente os rapazes são um bocadinho mais agressivos…, um bocadinho mais violentos (…) Agora, se um vai fazer a cama, não é, o outro também vai. Se um aprende a…, a…, a fazer comida, o outro também tem (…) nesse aspecto, não há diferenças. Tento-lhes explicar certas coisas é a nível mais de convivência com as outras pessoas, porque… há uma pequenina diferença entre as mulheres e os homens. Há e vai haver sempre.

Este último excerto da mãe de Francisco testemunha que muitas vezes os pais até podem ter o objectivo de educar de forma idêntica, indiferenciadamente em função do sexo, mas a sociedade, “as outras pessoas”, constroem as diferenças entre “mulheres” e “homens”, que parecem existir inevitavelmente. Esta entrevistada reconhece portanto que as diferenças que “explica” aos filhos são como que “impostas” pela sociedade, esforçando-se de qualquer forma por educar no sentido de ambos os filhos, indiferenciadamente em função do sexo, estarem preparados para as mesmas tarefas. No entanto, quando afirma que “(…) há uma pequenina diferença entre as mulheres e os homens. Há e vai haver sempre.”, emerge uma questão que poderá ser interessante analisar do ponto de vista sociológico, que tem que ver com a possibilidade das diferenças de género serem inextinguíveis. Se pensarmos nos processos de categorização e imitação social, assimilação e interiorização de esquemas mentais e de hábitos, poderá julgar-se que a sociedade inventa e reinventará sempre novas formas de feminilidades e masculinidades, mais ou menos estanques ao sexo biológico; por outro lado, sabe-se que há a este nível mudanças notáveis na sociedade, surgindo questões relacionadas com a transversalidade e interpenetração das categorias de género, e com as ambiguidades vividas pelos sujeitos sociais, sendo a população transgénero e transexual um exemplo daquelas.

Nos excertos seguintes destaca-se a importância do tempo na educação dos filhos, um ideal que nem sempre é fácil de concretizar aos olhos dos pais entrevistados, tendo muitos deles afirmado não acompanharem os filhos e/ou filhas da forma que desejavam. Aparece também a importância do “portar bem”, juntamente com a obediência (“que faça o que lhe mandam”), mais no feminino, tratando-se efectivamente de aspectos que serão ainda abordados, respeitantes aos atributos de género, numa lógica de diferenciação entre rapazes e raparigas e de reprodução dos estereótipos de género.

E – E o que é que seria para si educar bem um filho? e – Estar com ele.

E – Acha que é importante o tempo…

e – Sim, o tempo. Sim, porque… o ir buscar à escola, ir levar à escola, fazer os trabalhos com ele, dizer…, tentar compreendê-lo melhor, não é… Eu acho que, se nós tivéssemos mais tempo para eles, eu acho que eles também iam ter outra relação connosco… Se calhar, ter mais abertura (…) Não sei muito bem, mas penso eu que a

minha única..., a minha falha é…, neste momento, é mesmo o tempo. O tempo que eu devia ter para ele que não tenho.

Mãe de Tiago, 29 anos, cozinheira

“(…) para mim, educar bem, acho que é nós nas horas…, portanto, nas horas más, como nas horas boas, nós estarmos sempre presentes. (…) O tempo é o que falta, porque mesmo o meu marido também trabalha muito (…) o tempo que nós temos com eles é muito pouco.”, Mãe de Diogo, 46 anos, empregada de balcão

“Faço-lhe ver quando ela sai de casa as coisas…, que se comporte bem na escola (…), que esteja atenta às aulas…, que esteja…, que faça o que lhe mandam… E mesmo para as pessoas de fora, que seja educada (…)”, Mãe de Natacha, 47 anos, empregada de

balcão

Outra questão abordada nas entrevistas diz respeito às características pessoais, às qualidades que os pais e mães gostavam que os(as) filhos(as) tivessem. Sobressai a importância atribuída ao “estudar”, ao “trabalhar” e, mais uma vez, à capacidade dos filhos para “ser alguém”. No último dos excertos que se seguem, nota-se claramente que o pai tem a expectativa de constituir uma referência para o filho, ao desejar que ele “fizesse aquilo que o pai fez”, inclusivamente a nível profissional.

E – E que qualidades é que gostava que ela tivesse no futuro? Por exemplo, que é que espera dela enquanto mulher?

e – Olhe, que fosse uma boa mãe…, como eu acho que sou e… (riso baixo) que fosse trabalhadora e que…, e tentasse atingir os seus objectivos. (…)

Mãe de Carla, 29 anos, auxiliar de limpeza

“Aquilo que eu pretendo é que ele seja uma pessoa…, que tenha um sentido de orientação na vida, que tente procurar a felicidade…, que tente estudar…, que tente ser alguém (…)”, Mãe de Tiago, 29 anos, cozinheira

E – E tem alguma profissão desejável para o futuro dele?

e – Tinha. Isso tinha e ele sabe muito bem… E, por acaso, ele tem minimamente essa vocação. Pode futuramente mudar! Mas eu gostava muito que ele fosse…, seguisse engenharia mecânica.

E – Para seguir os passos do pai… e – Exactamente.

E – O que espera dele enquanto homem no futuro?

e – (silêncio) É muito difícil responder, mas eu, possivelmente, esperava que ele fosse…, pronto, minimamente, fizesse aquilo que o pai fez. Lutar pela vida e tentar fazer o melhor possível.

Pai de Nuno, 39 anos, mecânico

O tópico relativo às regras é uma questão com particular relevo nos casos dos rapazes que vivem no lar, visto que, enquanto instituição pertencente à Confraria de Santo António de Viseu, patenteia um grande fechamento ao nível de regras, com reflexo, nomeadamente, na rigidez de horários, fazendo também parte da Confraria o Lar de S. José que acolhe raparigas. Poderia ter sido interessante averiguar até que ponto ali se observariam ou não semelhanças em termos das regras, rotinas, fusionalidades, portanto, se as interacções seriam também elas influenciadas pelo sexo/género, ao nível do grau de fechamento e normatividade neste tipo de instituições de acolhimento de crianças e jovens; no entanto, por não constituir um aspecto fundamental da problemática definida e sair já do âmbito da população que se pretendeu observar, não se levou a cabo essa comparação.

“Acordo…, depois vou comer…, às oito…, não, acho que é às sete horas, vou comer…, depois, acabamos a refeição, vamos…, vamos para a televisão e temos computadores, vamos para lá… Depois também podemos vir cá para fora passear, uma hora… Depois a gente vem para dentro. (…) Chego ao lar, vou meter a mochila no salão de estudo e depois vou outra vez para a televisão. Depois das nove horas às nove e meia, não, é das oito às nove e meia, tenho o salão de estudos para fazer os trabalhos.”, David

O rapaz cujo excerto se segue, David, de treze anos na altura do estudo, realça os castigos que já teve, quer em casa, quer no lar. Quando ainda vivia com a família, em caso de não cumprimento das regras que os pais desejavam, revelando desobediência no sair de casa “sem pedir ordem” e linguagem incorrecta, os castigos consistiam em retirar da sua posse aquilo que ele mais gostava, consola e televisão. No lar, os castigos estão antes relacionados com actividades no âmbito doméstico, como a limpeza e ajuda na cozinha, existindo castigos, no seu entender, quando há comportamentos desviantes na escola, de que são exemplos o “faltar às aulas” e “andar a fumar”, comportamentos através dos quais ele e outros jovens se afirmam como diferentes e contra o status quo, atitude bastante habitual na fase da adolescência.

E – E em relação à escola, o que é que achas que eles gostavam? e – Que me portasse bem!

E – E há castigos lá no lar? e – Há…

E – Por exemplo…

e – Limpar a casa de banho, varrer claustros…, fazer refeitório durante cinco ou dez dias, só depois…

E – E tu já fizeste? e – Já.

E – Porquê?

e – Foi por causa de faltar às aulas e de andar a fumar. (…)

E – Então e quando vivias com os teus pais, também tinhas castigos?

e – Tinha. (…) Não me deixavam jogar Game Boy. Escondiam-ma. E não me deixavam ver televisão.

E – Quando fazias o quê?

e – Quando eu saía de casa sem pedir ordem.

E – Então os teus pais diziam para não fazeres coisas e tu fazias… Não cumprias as regras que eles queriam, era?

e – Era. E não queriam que eu dissesse asneiras e eu dizia.

A valorização do bom comportamento, do “portar bem” que já se falou anteriormente, não é apenas importante no lar, manifestando-se a nível geral, aparecendo em praticamente todas as entrevistas das crianças a percepção desse objectivo por parte da família, associado ao comportamento na escola. O ser bom aluno, o tirar boas notas, surge pois como um objectivo essencial para mães e pais. Nas entrevistas das crianças, quando se pergunta o que os pais esperam delas, respondem remetendo para comportamentos escolares, evidenciando-se assim a importância que as crianças sentem que os pais atribuem ao sucesso escolar.

Similarmente, os pais dos rapazes que vivem no lar aparentam desejar esse “bom” comportamento, manifestando-se neste grupo de jovens o gosto pelo desvio, a afirmação pela diferença e fuga à norma, nos vários contextos institucionais onde se movem (como se pode notar pelo discurso de David, no excerto em baixo). Efectivamente, na questão onde se pergunta às crianças o que os pais esperam dele(a), realça em quase todas o “portar bem”, o tirar boas notas e o estudar: “Que eu tenha boas notas…, e que me porte bem.” (Diogo); “Temo-nos sempre que portar bem para termos aquilo que nós queremos.” (Nuno); “Espera que quando eu sair do lar seja um…, um bom rapaz. (…) e que tire um bom curso…, que tenha boas coisas.”, afirmou Guilherme, relativamente ao que a mãe espera dele.

E – Achas que não cumpres as regras? e – É.

E – E porquê?

e – (silêncio prolongado) Por nada… E – Não gostas de te portar bem? e – Gosto.

E – Gostas?

e – Gosto, mas só que às vezes não me apetece portar bem… Às vezes não sei se me hei-de portar mal ou se me hei-de portar bem! (a sorrir)

David

A Dr.ª Antonieta enfatiza na entrevista a importância que tem a dimensão escolar dentro da instituição que é o lar, realçando no excerto apresentado o carácter obrigatório, e rígido em termos de horários, da actividade relacionada com o estudo: “(…) eles têm estudo obrigatório dentro do lar, das oito e meia da manhã às nove e meia. Os que estão de manhã em casa. Os que estão de tarde em casa é das três às quatro e meia.”. Neste contexto, saliente-se que os

professores ajudantes na sala de estudo assumem inclusivamente o papel de encarregados de educação, um papel que é habitualmente seguido por um dos pais das crianças.

Apesar de durante a entrevista sobressair a imagem de fechamento do lar – aparecendo como um espaço onde as crianças e adolescentes lá residentes se vêem obrigados a cumprir um conjunto de regras bastante rígidas, com base num horário fixo –, afirma-se o objectivo primordial de assemelhar o lar a uma família: “O objectivo é sempre o mesmo. (…) Aproximarmo-nos o mais possível das famílias, através da transmissão de carinho, amor, valores (…), proporcionar-lhes uma educação (…) o mais correcta possível, inseri-los nos equipamentos escolares, profissionais (…)”. Relativamente aos contactos com a família no exterior do lar, a directora do lar informou que “(…) a regra da casa é quem está autorizado pelo tribunal poder passar um fim-de-semana por mês com a família.”.

Quanto ao tratamento dos pais relativamente aos filhos, pretendeu averiguar-se até que ponto o tom de voz utilizado nas repreensões e a autoridade é distinta em pais e mães e, ao mesmo tempo, se há aí distinção em função do sexo dos filhos. Concluiu-se que pai e mãe falam alto, quer para rapazes, quer para raparigas, tendo sido admitido por ambos nas entrevistas esse tipo de atitudes mais severas para com os filhos. Desta forma, sobressai aqui, e mais uma vez, a interiorização e a verbalização (exteriorização) da norma de igualização entre os sexos, portanto, de género.

“(…) o pai berra mais alto!”, Mãe de Rodrigo, 35 anos, auxiliar num infantário

“(…) a mãe é mais rígida…, mais dura. O pai fala mais, mas não faz nada!”, Mãe de

Nuno, 40 anos, costureira

Realçaram nas famílias desta turma algumas regras no que diz respeito ao jantar em conjunto, tendo-se achado os castigos mais frequentes em caso de comportamentos julgados não adequados no campo escolar do que no interior do espaço doméstico. Notou-se a partir da análise das entrevistas uma tendência para se enfatizarem os castigos quando se trata de filhos rapazes, justificando uma mãe haver castigos “(…) quando ele é mais reguila, quando me responde coisas que eu não gosto, quando eu lhe mando fazer uma coisa e ele não faz (…)” (Mãe de Nuno, 40 anos, costureira) e geralmente o castigo é retirar aos filhos os brinquedos preferidos, alguns dos quais já anteriormente referidos.

“O castigo é ir para o quarto dele. (…) Acho que foi na semana passada que ficou sem a Play Station.”, Mãe de Rodrigo, 35 anos, auxiliar num infantário

“(…) tirar-lhe o Game Boy, que é a coisa que ele detesta que lhe tirem… Já ficou uma semana… Televisão…, se gosta de ver bonecos, muitas vezes fica sem eles… E essas coisitas que ele mais gosta eu tiro!”, Mãe de Nuno, 40 anos, costureira

“(…) o Francisco já teve uma semana que não jogou Game Boy, porque abusou um bocadinho e então, a partir daí…”, Mãe de Francisco, 32 anos, recepcionista

No que diz respeito aos castigos praticados no lar, a directora esclareceu na entrevista que são denominados “perdas de regalia” ou punições, das quais dá como exemplo privações de actividades que os rapazes gostam, como jogar computador ou ver televisão; ressalvou também que, devido à idade, os três rapazes da turma não podem ainda passear no exterior do lar, não podendo então aplicar-se a punição nessa actividade. A directora clarificou o contexto dessas punições, remetendo para certos comportamentos que fogem às regras estabelecidas no lar para as crianças e para os jovens nele residentes.

“Nós não chamamos bem castigo, não é… Castigo é muito pesado e ultimamente castigo é uma palavra proibida. Portanto, nós chamamos-lhe mais, ou perdas de regalias, quando perdem a regalia da televisão, de…, de jogar computador, ou assim…, ou então punição, não é, porque para eles limpar a casa de banho comum é uma punição, é horrível…”, Dr.ª Antonieta, 31 anos, directora do lar

“Obviamente que quando os comportamentos ultrapassam os limites do aceitável (…) Depois há aquelas punições com tarefas domésticas, que são para aqueles comportamentos, por exemplo, esses meninos que não vêm da escola, no transporte (…) São advertidos, ficam um dia sem poder sair sozinhos. Não é o caso deles, que eles não podem sair, mas por exemplo ficam um dia sem poder jogar computador! Ou um dia sem poder ver televisão…”, Dr.ª Antonieta, 31 anos, directora do lar