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Mapa 5: Recorte do Observatório da Educação na Fronteira.

3.2.2 Objetivos e abordagem metodológica do OBEDF

O OBEDF teve como objetivos a construção de um panorama da situação sociolinguística de escolas localizadas na fronteira e seus efeitos nos processos de ensino-aprendizagem e, com isso, o desenvolvimento de investigações para fins de proposição de metodologias de ensino-aprendizagem e políticas educacionais públicas em prol da valorização da diversidade linguístico-cultural. Para tanto, o projeto foi delineado em diferentes ações que envolveram equipes atuantes em diferentes frentes (pesquisadores das universidades, estudantes de pós-graduação, professores-pesquisadores da Educação Básica), como a realização de diagnósticos sociolinguísticos entre a comunidade de cada uma das escolas parceiras, observações sistematizadas de aulas e de práticas escolares, seminários de estudos e debates em torno dos temas língua/educação/fronteira, planejamento e implementação de propostas metodológicas para ensino bilíngue, conforme detalharei adiante.

Partindo de uma abordagem metodológica de pesquisa-ação59, o

59 Os termos pesquisa-ação e pesquisa-participante são encontrados na literatura referindo-se à

mesma base conceitual. Brandão (1988, p. 10) compreende pesquisa-participante como uma abordagem metodológica que visa ao conhecimento coletivo, produzido conjuntamente,

projeto visou fomentar transformações a partir do conhecimento e experiência de toda a equipe composta de professores e gestores locais, pesquisadores das universidades e estudantes de pós-graduação, de modo que, segundo as palavras da coordenadora, pudesse “[...] ser capaz de articular as práticas próprias à pesquisa e ao ensino para qualificar o trabalho pedagógico.” (MORELLO, 2011, p. 16).

Buscando uma definição e categorização dessa abordagem, Thiollent (2003, p. 14) oferece uma explicação que considero consoante aos trabalhos realizados no âmbito do OBEDF:

[...] um tipo de pesquisa social com base empírica que é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e no qual os pesquisadores e os participantes representativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo.

Visando ao fomento de pesquisas e de políticas linguístico- educacionais públicas adequadas às situações de contato de línguas nas regiões de fronteira, o projeto teve como encaminhamento iniciativas de ação conjunta entre educadores e pesquisadores na identificação das problemáticas advindas da ausência de políticas sensíveis aos contextos mencionados, bem como a proposição de formas de resolução. Assim, diferente de pesquisas sociais de base positivista, que pressupunham a neutralidade dos pesquisadores sem envolvimento com a complexidade das situações reais, a abordagem proposta pressupunha a relação de interação dos pesquisadores das universidades com o ambiente da pesquisa e equipes das escolas, conformando um grupo atuando conjuntamente na discussão e sugestão de meios para a resolução de problemas próprios do contexto.

No que tange aos princípios da pesquisa-ação, aponto a seguir envolvendo pesquisadores e grupos na recriação da identificação e resolução de seus problemas “de dentro para fora”. Pesquisadores que fazem parte das obras que o autor organiza (BRANDÃO, 1988, 2006) utilizam ambos os termos ou ressaltam a palavra ação na conceituação de pesquisa-participante. Outros, ainda, colocam que a pesquisa-participante muitas vezes vem sendo utilizada para referir-se a tipos de investigação em que o pesquisador participa do contexto da pesquisa, mas não necessariamente desenvolve uma ação, sendo, portanto, uma modalidade de observação participante (THIOLLENT, 2003). Esse trabalho não visa a ingressar nessa discussão terminológica, no entanto opto pelo uso do termo pesquisa-ação, dando ênfase às ações e intervenções propostas e desenvolvidas pela equipe no decorrer do projeto OBEDF.

alguns deles, relacionando-os à especificidade do projeto OBEDF (BRANDÃO, 1988, 2006; ENGEL, 2000; THIOLLENT, 2003; GABARRON; LANDA, 2006):

a) A pesquisa-ação deve partir da realidade da comunidade envolvida, ou seja, da situação social e dos problemas/dificuldades nela encontrados. Nesse caso, as ações partiram dos diferentes contextos fronteiriços das escolas parceiras do OBEDF em suas demandas linguístico- educacionais;

b) A pesquisa-ação deve promover relações horizontais não autoritárias, dando voz a todos os participantes, envolvendo- os na construção de conhecimento conjunto e nas formas de resolução de seus problemas, tal qual se visou proceder ao longo do projeto, na relação entre pesquisadores e equipes das escolas;

c) A pesquisa-ação pressupõe engajamento dos participantes (pesquisadores e comunidade) e atuação política, visando à capacitação de agentes no seio da comunidade participante e transformações sociais. Ao longo do trabalho, buscou-se capacitar educadores por meio de leituras, oficinas e discussões para lidarem com a complexidade linguística de seu contexto e imprimirem suas vozes em um modelo de gestão compartilhada (MORELLO, 2011).

No que se refere aos objetivos da pesquisa-ação, visa-se coadunar a ação (objetivo prático) e a produção de conhecimento (objetivo de conhecimento), de forma que haja real contribuição para o avanço dos debates acerca do tema em questão, o que irá conferir a cientificidade dessa abordagem (THIOLLENT, 2003). O primeiro objetivo refere-se à proposição de ações relacionadas aos problemas diagnosticados conjuntamente e, o outro à obtenção de informações próprias da situação social em que a pesquisa ocorre, produzindo conhecimento científico de forma empírica, processual.

Em alguns casos, as propostas de pesquisa-ação não dão conta de resolver problemas concretos de forma imediata, uma vez que nem sempre é possível fazê-lo em razão da duração da investigação ou mesmo da profundidade do problema, a exemplo de mudanças que requerem uma intervenção direta do poder público, como é o caso da proposição de políticas linguísticas públicas.

produção de conhecimento(s) que contribuem tanto para a coletividade em que a investigação ocorre quanto para outras coletividades que apresentem problemas similares. “Trata-se de um conhecimento a ser cotejado com outros estudos e suscetível de parciais generalizações no estudo de problemas sociológicos, educacionais ou outros, de maior alcance.” (THIOLLENT, 2003, p.18-19). As ações e encaminhamentos do projeto OBEDF, por exemplo, embora tenham sido desenvolvidas em um recorte da faixa de fronteira, permitem estabelecer relações entre situações-problema que ocorrem em outros recortes da extensa faixa de fronteira brasileira, como aquelas evidenciadas por Pires-Santos (1999, 2004) em Foz do Iguaçu-PR, e Santos (2012) no município de Bonfim-RR.