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4 O PERCURSO METODOLÓGICO NO ÂMBITO DO OBEDF

4.1 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

4.1.2 Observação e participação

Aliados ao trabalho documental, outros procedimentos foram adotados ao longo da participação no OBEDF, conforme ilustrado no esquema da pesquisa. Foram também realizadas: a) observações/participação durante as visitas em campo (fevereiro/março de 2012, agosto de 2012, novembro de 2012 e outubro de 2013); e b) observações/participação nos seminários promovidos pelo projeto OBEDF. Esses procedimentos propiciaram acompanhar os encaminhamentos/ações das equipes das escolas em Ponta Porã, realizar discussões e reflexões junto às equipes e, ao mesmo tempo, a partir de um olhar descritivo-analítico, buscar compreender o processo de gestão do multi/plurilinguismo nesses espaços de escolarização, inseridos no contexto plurilíngue de Ponta Porã.

O outro aspecto relativo à observação e participação refere-se à perspectiva do fenômeno analisado. Como a gestão do multi/plurilinguismo foi depreendida e analisada, em grande parte, a partir de dados gerados e coletados entre os sujeitos _ nesse caso por meio de documentos produzidos pelos sujeitos da pesquisa e entrevistas _ os procedimentos de observação e participação constituíram-se

75 Refiro-me a documentos de qualquer gênero, produzidos por órgãos dos poderes legislativo

ou executivo, bem como documentos que compõem a administração indireta, ou seja, textos que dão suporte à legislação e documentos oficiais, além daqueles que se constituem como programas de governo. Todos esses documentos, bem como outros documentos acessados, constam nas Referências deste trabalho, separados sob o título Documentos.

também como estratégias para uma leitura crítica de cada um dos documentos e análise dos enunciados neles expressos.

Com base nessa exposição, explicito que meus lugares e olhares no âmbito dos diversos encaminhamentos do OBEDF entrelaçam-se de maneira diversificada nos papéis de observadora-espectadora, observadora-participante e participante-observadora (GIL, 2011; LÜDKE; ANDRÉ, 1986), sendo de difícil separação de cada um desses lugares. Desse modo, as análises e conclusões advindas desse trabalho de pesquisa devem ser lidos a partir desta ótica. Cabem aqui as palavras de Gomes (2013, p. 19), quando afirma que “ocupando aquele ponto, ou seja, naquela posição, podemos ver algo que não veríamos se estivéssemos situados em outra posição qualquer”.

No que tange ao papel de observadora-espectadora, coloquei-me como observadora das situações e fatos de caráter público no intuito de conhecer práticas existentes no contexto das escolas participantes. Gil (2011, p. 102) explica que esse tipo de observação, embora seja tomado como espontâneo, “[...] coloca-se num plano científico, pois vai além da simples constatação de fatos”. Assim, esse modo de observação foi utilizado durante as visitas, colocando-me como espectadora daquelas realidades, de forma a conhecer algumas práticas em torno das línguas das comunidades de ambas as escolas.

Já no que se refere à definição das formas de observação consorciadas à participação, essa representou um dos desafios da investigação. Na observação-participante, o pesquisador se integra à comunidade no sentido de vivenciar o cotidiano de suas ações para melhor compreender os significados que os indivíduos conferem aos diversos fenômenos do contexto em que se inserem. A participação, desse modo, diz-se da presença do pesquisador no contexto da pesquisa, o que, de certa forma, interfere na dinâmica e curso das ações (LÜDKE; ANDRÉ, 1986; GIL, 2011). Na pesquisa-ação, por sua vez, a participação do pesquisador além de interferir na dinâmica do contexto devido à sua presença, também tem o sentido de intervenção, tida aqui como atuação conjunta entre pesquisador e comunidade, buscando a discussão e proposição de estratégias para lidar com diferentes situações. Conforme coloca Thiollent (2003, p.22), “[...] na pesquisa- ação é necessário produzir conhecimentos, adquirir experiência, contribuir para a discussão ou fazer avançar o debate acerca das questões abordadas”.

Como se trata de uma investigação vinculada a uma abordagem metodológica da pesquisa-ação, na qual desempenhei atividades entre os

educadores das escolas participantes de Ponta Porã-MS, no acompanhamento das ações do projeto em campo, virtualmente ou durante os seminários, a observação e a participação se deram de forma indissociável, em diferentes momentos. Gomes (2013, p. 32) coloca que “[...] o olhar pode ser amplo e geral, mas a visibilidade é sempre dirigida e parcial”. Assim, nos procedimentos metodológicos adotados e nas ações desenvolvidas no decurso da participação do projeto, meu olhar voltava-se para o fenômeno da gestão do multi/plurilinguismo naquelas escolas, entre aqueles educadores.

Importante ressaltar que os Relatos de visita a campo, ou seja, registros referentes às observações e participação de ações nas escolas, foram produzidos de forma a sistematizar esses procedimentos e extrair- lhes dados (LÜDKE; ANDRÉ, 1986).

Na sequência, apresento um quadro que se propõe explicativo em relação aos demais procedimentos envolvidos na pesquisa. Os procedimentos fazem parte de um contínuo em que as diversas atividades se entrelaçam envolvendo diversos participantes, dentre os quais os sujeitos da pesquisa (tratados em seção própria).

Quadro 5: Procedimentos de observação/participação.

4.1.3 Entrevistas

De forma a compor a triangulação dos dados em conjunto aos obtidos por meio de pesquisa e análise documental, bem como por meio da observação e participação em campo, verifiquei a necessidade da realização de entrevistas com os educadores participantes do projeto, sujeitos desta pesquisa, visando compreender de que forma interpretam e avaliam sua experiência e ações no projeto OBEDF.

Selltiz (1967 apud GIL, 2011, p. 109) afirma que, sendo um valioso procedimento de pesquisa em Ciências Sociais,

[...] a entrevista é bastante adequada para a obtenção de informações acerca do que as pessoas sabem, creem, esperam, sentem ou desejam, pretendem fazer, fazem ou fizeram, bem como acerca das suas explicações ou razões a respeito das coisas precedentes.

Compreendo que as entrevistas, para uma pesquisa que se insere em uma perspectiva qualitativa, permitem o aprofundamento de aspectos levantados por meio da utilização de outros instrumentos (LÜDKE; ANDRÉ, 1986). Tal sendo, visando a preencher lacunas verificadas no tratamento das fontes documentais e procedimentos de observação e participação, em especial no que tange às informações sobre as orientações político-linguísticas dos educadores e suas explicações ou razões a respeito das ações realizadas no decurso projeto, adotei também esse procedimento metodológico.

Também foram realizadas entrevistas em campo tanto durante a realização do projeto como após o seu término. Desse modo, conforme será possível verificar ao longo das análises, as entrevistas possuem diferentes datas. As que se deram durante a vigência do OBEDF foram realizadas conjuntamente aos procedimentos de observação e participação, conforme apresentado no quadro anterior.

Após término do projeto, em outubro de 2013, retornei ao campo onde foram realizadas entrevistas semiestruturadas com o propósito de ouvir dos educadores participantes do projeto suas experiências e impressões em relação às ações por eles realizadas e suas relações com as línguas, na tentativa de depreender, também por meio desse procedimento, suas orientações político-linguísticas (RUIZ, 1984). Dito de outro modo, tratou-se de estratégia de validação dos procedimentos adotados em etapas anteriores.

A elaboração do roteiro dessa entrevista76 deu-se no decorrer das análises, a partir das necessidades de aprofundamento dos dados obtidos pelas fontes ora disponíveis.

Em relação à apresentação dos dados relativos às entrevistas, frente aos objetivos aqui propostos, ao longo das análises, apresentarei excertos transcritos conforme sistema ortográfico da língua portuguesa e

76

identificados da seguinte forma: (Sujeito x, Escola x, Entrevista em xx/xx/xx).