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PARTE I. INTRODUÇÃO E ENQUADRAMENTO INTRODUCTION AND RESEARCH CONTEXT

Capítulo 1. Ecossistemas Ripícolas e Bacia Hidrográfica do Tejo em Portugal – Síntese e Contextualização.

1.1. Introdução Introduction

1.1.2. Objeto e Área de Estudo Study Object & Study Area

O objeto de estudo da nossa investigação são os bosques e galerias ripícolas da parte portuguesa da Bacia Hidrográfica do Tejo. Estas formações vegetais são dominadas por plantas lenhosas de porte arbóreo ou arbustivo alto/arborescente que, por um lado, representam a Vegetação Ripícola Potencial (VRP) nativa2 da área de estudo; por outro, fruto da intervenção humana direta ou indireta nos habitats, representam formações dominadas por plantas exóticas - que designamos Vegetação Ripícola Invasora Lenhosa (VRIL). São assim nosso objeto de investigação, os bosques e galerias que se desenvolvem sob condições edafo-higrófilas mais ou menos favorecidas em humidade, permanente ou temporariamente, e que estejam sob a influência mais ou menos direta de um curso de água. Neste sentido, por um lado (e sobretudo) estudamos cada uma das séries de vegetação ripícola, representadas pela VRP, que ocorrem nos habitats entre as margens do leito aparente e o leito de cheia dos cursos de água, i.e. as séries incluídas na geossérie ripícola; por outro lado intentamos o estudo de formações VRIL que invadem ou substituem a VRP. Por outras palavras estudamos os bosques e galerias sujeitos à dinâmica fluvial atual, ou seja das margens do canal fluvial às respetivas planícies aluviais ou outros tipos de leito de cheia.

Em termos sintaxonómicos a VRP está sobretudo enquadrada em 3 classes de vegetação – a SALICETEA PURPUREAE-POPULETEA NIGRAE, que engloba bosques ripícolas do leito aparente e do leito de cheia, incluindo também os borrazeirais de Salix salviifolia s.l. que surgem no leito aparente; a ALNETEA GLUTINOSAE que inclui os bosques fluvio-palustres que surgem sobretudo no leito de

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cheia, mas que também ocorrem no leito normal de pequenos cursos de água; e a NERIO- TAMARICETEA, que inclui as galerias ribeirinhas arborescentes tipicamente mediterrânicas.

b. Área de Estudo: Contextualização da Bacia Hidrográfica do Tejo em Portugal. Study Area:Context of Tagus River Basin in Portugal

A Bacia Hidrográfica do Tejo, com uma área total de cerca de 80 600 km2 e alongada segundo uma direção ENE-WSW, é a terceira maior da Península Ibérica a seguir às bacias do Douro e do Ebro. A sua área em Portugal é de cerca de 24 800 km2, o que corresponde a cerca de 1/3 do seu total na Península e representa a bacia com maior expressão em Portugal Continental abrangendo mais de 1/4 do território. Com uma localização de charneira entre o N e o S de Portugal [Mapa 1] do ponto de vista biofísico, esta é uma bacia marcada genericamente por uma dissimetria entre as margens setentrional e meridional do maior rio peninsular.

Do ponto de vista morfológico a margem N é dominada pela Cordilheira Central e pelas serras calcárias da Orla Ocidental, apresentando assim maiores altitudes e declives mais acentuados do que a margem S, dominada por uma topografia mais aplanada ainda que com algumas exceções, destacando-se a Serra de S. Mamede [Mapa 2]. Este contraste morfológico reflete-se depois numa acentuada dissimetria climática NW-SE (Ramos, 1994): o bordo setentrional da bacia é mais chuvoso, atingindo os valores mais elevados na Serra da Estrela (na estação meteorológica das Penhas da Saúde são assinalados uns impressionantes 2743,5 mm/ano, em ano médio, segundo (APA & ARH Tejo, 2012a) com dados da série climatológica 1961-1990). No bordo meridional, bem menos chuvoso, os valores mais elevados de precipitação média anual destacam-se apenas na referida Serra de S. Mamede (nos anos médios a estação de Portalegre registou 888,9 mm/ano de precipitação média anual (APA & ARH Tejo, 2012a). Este contraste pluviométrico é claramente observável nos ombrótipos da Classificação Bioclimática da Terra de Rivas-Martínez [Mapa 3]3. Na parte W-NW e N da bacia domina o ombrótipo húmido, atingindo os topos das serras mais altas o hiper-húmido e na Serra da Estrela chega mesmo ao ultra-hiper-húmido inferior. Na margem S da bacia só os topos da Serra de S. Mamede se encontram em ombrótipo húmido, dominando o sub-húmido inferior e o seco superior. No entanto é na margem N do Tejo, nas sub-bacias do extremo S da Beira Baixa, e nomeadamente na do Rio Erges, que se encontram as únicas bolsas de ombroclima semiárido superior e as maiores manchas de seco inferior na área de estudo. Esta área a S do Falha do Ponsul, aplanada e mais abatida, acaba por apresentar assim condições ômbricas mais extremadas que a própria margem S que apenas apresenta uma mancha de seco inferior junto a Fronteira, na sub-bacia da Ribeira Grande (Sorraia). Esta exceção ao gradiente geral N-S da distribuição da precipitação decorre do efeito de Föhn provocado pela própria morfologia, já que os relevos da Cordilheira Central ao constituírem obstáculo às massas de ar húmidas do Atlântico levam a que estas já não atinjam o extremo da Beira Baixa. Este efeito é também observável nos valores da amplitude térmica anual que estão na origem do Mapa 4, onde se apresenta os tipos de continentalidade (simples). Não havendo propriamente na área de estudo climas continentais destaca-se claramente as áreas mais interiores da Beira Baixa no tipo Euoceânico atenuado. Na área de estudo é evidente um gradiente W-E na influência amenizadora do oceano sobres as temperaturas extremas.

Ao nível da temperatura, para as plantas e comunidades vegetais um fator limitante é a intensidade do frio, pelo que o Mapa 5, dos termótipos da mesma classificação bioclimática, é um dos mais importantes para perceber a sua distribuição. Com base em valores máximos e mínimos das

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temperaturas médias anual e mensais e ponderados com os valores da continentalidade simples, os termótipos refletem claramente um marcado gradiente climático geral N-S na área de estudo. A Bacia do Tejo em Portugal é assim dominada por um clima mediterrânico, sendo a Cordilheira Central a fronteira entre os climas temperado (a NW) e o mediterrânico (a E e a S). Nesta bacia, grosso modo, só as partes mais elevadas destas serras NW se inserem em andares de clima temperado (sobretudo meso, mas variando entre o termotemperado superior na vertente S da Serra da Lousã até ao orotemperado inferior no topo da Serra da Estrela). Para o interior e para sul domina o clima mediterrânico. A área de estudo é assim marcada pela termicidade mais elevada nas áreas de menor altitude a SW e nos vales alargados da Sub-bacia do Sorraia, subindo pelo Tejo para NE até aos vales alargados do supracitado extremo da Beira Baixa. No restante território, de influência mediterrânica, domina o mesomediterrânico inferior que é o termótipo com maior área de distribuição. Nas serras mediterrânicas domina o mesomediterrânico superior e os topos mais elevados de algumas serras, sobretudo do NE, apresentam já valores térmicos mais reduzidos do supramediterrânico.

Tal como refere (Ramos, 1994), as diferenças morfológicas e climáticas (nomeadamente as pluviométricas) assinaladas vão influenciar a hidrografia da área de estudo, sendo responsáveis por uma rede de drenagem mais densa e hierarquizada na margem N, da qual o Tejo recebe a maior parte das suas águas, destacando-se a Sub-Bacia do Zêzere4. A estas diferenciações acrescenta-se uma grande diversidade litológica [Mapa 2], responsável por diferentes graus de permeabilidade das formações geológicas. Como refere (Ramos, 1994) a Bacia do Tejo estende-se pelas três unidades morfoestruturais em que se divide Portugal Continental: a N e E desenvolve-se nos terrenos do Maciço Antigo ou Hercínico (MA), a W e NW nos da Orla Sedimentar Mesocenozóica Ocidental ou Lusitânica (Orla) e a SW na Bacia Sedimentar Cenozóica Terciária do Tejo (BS) [Mapa 2]. No MA dominam as formações de permeabilidade muito baixa (xistos e grauvaques, micaxistos e gnaisses) e baixa (granitos e granitoides), enquanto na Orla predominam as classes de permeabilidade variável a baixa (calcários mais ou menos margosos e complexos gresoargilosos), existindo também importantes afloramentos de permeabilidade elevada, devida à carsificação dos calcários (e.g. Maciço Calcário Estremenho). Dado o domínio de formações geológicas pouco consolidadas, na BS, ao contrário das outras unidades, a permeabilidade é sobretudo em pequeno e os meios de circulação da água são essencialmente porosos. Nela dominam os complexos arenoargilosos de permeabilidade variável a baixa, mas ao longo do golfo do Tejo (a área mais deprimida da BS) a permeabilidade é elevada (Ramos, 1994).

Dada toda esta diversidade hidrogeomorfológica da Bacia do Tejo uma síntese de todas estas inter-relações é fornecida pela tipologia de rios de (INAG, 2008a), apresentada no Mapa 6. Com base nos diferentes parâmetros hidrogeomorfológicos esta tipologia diferencia 6 tipos principais de cursos de água na Bacia do Tejo (descritos no Capítulo 2). A N os tipos M, N1 e N4, que se diferenciam dos restantes pelo carater essencialmente permanente do seu escoamento superficial, em litologia siliciosa com baixa mineralização das águas; e entre si pela altitude que faz diferenciar o declive e os valores médios da temperatura anual e da precipitação, sendo o N4 um tipo de transição para os rios do sul. O tipo S2, na área de estudo, é restrito à Serra de S. Mamede e assemelha-se aos rios do N, enquanto os tipos S1 são rios tipicamente mediterrânicos maioritariamente de escoamento sazonal.

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No Mapa 1 apresentamos uma divisão hidrográfica ao nível de sub-bacias do Rio Tejo em Portugal com base no mapa da Figura 3 do PBH do Tejo (INAG, 2001a). Nas sub-bacias principais, assim como nas secundárias e no próprio Rio Tejo, reconhecemos genericamente 3 setores, de acordo com o modelo clássico de domínio da erosão (Alto), transporte (Médio) e acumulação (Baixo) de sedimentos. Assim no Tejo temos: Alto Tejo PT, limitado a jusante pela fronteira do MA com a BS (Belver); Médio Tejo, de Belver ao Arripiado e Baixo Tejo que corresponde à Lezíria do Tejo.

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Finalmente a W o tipo S3 é diferenciado sobretudo pela sua natureza sedimentar (dos terrenos da Orla e BS) que lhes conferem águas de elevada mineralização.

Para completar as características ambientais que estão na origem da flora e da vegetação natural falta referir um elemento biológico essencial a estas – o solo [Mapa 7]. A diversidade de solos é elevada e depende de vários fatores, destacando-se, entre outros, a litologia do substrato da rocha-mãe. No entanto, no caso particular da vegetação ripícola a constante dinâmica fluvial acaba por baralhar essa relação, já que há uma constante mobilidade dos sedimentos. Neste sentido destacam-se os fluvissolos, solos pouco evoluídos geneticamente e azonais associados aos depósitos aluvionares. Na Bacia do Tejo destacam-se sobretudo as manchas de fluvissolos do Baixo Tejo e Sub- bacia do Sorraia e ainda na Sub-bacia do Zêzere, na Cova da Beira. Dos restantes tipos de solos é importante sobretudo diferenciar a sua origem em terrenos carbonatados (Orla e BS), dos que têm origem em substrato silicioso (BS e MA), pois o pH é um dos parâmetros químicos do solo mais importantes para a flora e vegetação.

Assim o Mapa 8 da Vegetação Natural Potencial (VNP) resume a relação entre as condições ambientais desta feita com a distribuição biogeográfica da flora e vegetação nativa. Deste modo genericamente no NW da área de estudo dominam séries de vegetação de influência temperada atlântica, destacando-se o carvalhal-alvarinho. Para NE sobressaem os carvalhais de carvalho-negral já de influência mediterrânica setentrional. A W o cercal de carvalho-cerquinho e um tipo de azinhal, ambos mais ou menos relacionados com a natureza básica desta região. Na margem esquerda da BS destacam-se os sobrais, que também ocorrem a W na Orla, associados a terrenos menos saturados em bases. Outro tipo de sobral, mais setentrional e interior, faz o contacto com os carvalhais a N em altitudes médias. Finalmente na parte E-SE da área de estudo, no limite entre a BS e o MA, nos terrenos paleogénicos, surge novamente o cercal mais ou menos basófilo. Para o interior domina o azinhal acidófilo adaptado às condições climáticas mais xéricas, que vai sendo substituído genericamente por sobral com o aumento da humidade atmosférica para N, na Beira Baixa. No Alto- Alentejo é substituído pelo carvalhal-negral não só devido à influência da Serra de S. Mamede, mas também dada a maior humidade edáfica nos granitos de Nisa.

Dada a distribuição restrita da vegetação ripícola na paisagem, relacionada essencialmente com solos aluviais, no Mapa 8 só é possível destacar genericamente as geosséries ripícolas nas grandes áreas de aluviões supracitadas, entre outras, como na Campina de Idanha, da Sub-bacia do Ponsul. Por outro lado o conhecimento sobre as séries de vegetação ripícola (VRP) e sua distribuição, que estão na origem das geosséries ripícolas, não se encontram tão avançados como as séries vegetação edafoclimatófila (VNP). O único esboço cartográfico conhecido das geosséries ripícolas é o de (Aguiar et al., 1995), apresentado no Mapa 9. Este trabalho, que posteriormente será discutido no Capítulo 7 desta tese (assim como outras classificações da vegetação construídas com base numa metodologia ecológica distinta, de cariz mais limnológico), foi a primeira aproximação às geosséries ripícolas de Portugal Continental e, genericamente, continua a ser o único mapa que demonstra a distribuição dos principais tipos de VRP (séries de bosques e galerias ripícolas e permasséries helofíticas), à luz do conhecimento fitossociológico de então.

Concluindo a contextualização biofísica natural da área de estudo, e fruto da relação entre a vegetação natural e as condicionantes ambientais já referidas, a Bacia do Tejo em Portugal encontra- se biogeograficamente incluída na Região Mediterrânica e dividida por 3 províncias, segundo a interpretação biogeográfica de (Costa et al., 1999) [Mapa 10]. No entanto, tal como referem estes autores, a fronteira NW da bacia, correspondente à Cordilheira Central, apresenta grandes relações com a região biogeográfica eurossiberiana (clima e vegetação), pelo que estes territórios poderão vir

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a ser incluídos nessa região. Em Portugal Continental, atualmente, os territórios biogeográficos incluídos na Região Eurossiberiana estão confinados ao NW, genericamente a N da Bacia do Mondego. Os territórios da província Gaditano-Onubo-Algarviense, a W, grosso modo são delimitados pela fronteira das bacias sedimentares ceno e mesocenozóicas com MA. A exceção encontra-se no Subsetor Beirense Litoral e áreas a S, mas a sua inclusão nesta província mais meridional e ocidental não é pacífica, como será discutido no Capítulo 7. No MA temos sobretudo a Província Luso-Extremadurense e no limite N a Província Carpetano-Ibérico-Leonesa.

No entanto a vegetação atual, fruto da intervenção humana ancestral na paisagem, não é, genericamente, a que acabamos de descrever. Deste modo no Mapa 11 surge uma interpretação da paisagem tradicional na Bacia do Tejo, vista do ponto de vista mais humano da paisagem, mas que ainda assim reflete muitas das características abióticas e da vegetação natural supracitadas. Por sua vez o Mapa 12 mostra a ocupação e uso do solo mais atual onde sobressaem as grandes áreas urbanizadas no setor vestibular da bacia – a Área Metropolitana de Lisboa. Segundo (APA & ARH Tejo, 2012a) a Região Hidrográfica do Tejo (RHT)5 tem uma população de cerca de 3 500 000 habitantes e uma densidade populacional de 139 hab./km2. No entanto a distribuição da população está claramente concentrada na parte W da Bacia, enquanto no interior a população se aglomera sobretudo em algumas cidades médias e áreas envolventes, como Covilhã e Castelo Branco a N, ou Portalegre, Ponte de Sor e Estremoz a S. Segundo (APA & ARH Tejo, 2012a), com base na mesma tipologia do Mapa 12, a RHT é dominada por áreas florestais e meios naturais e seminaturais (ca. 50%) e por áreas agrícolas e agroflorestais (40%). No entanto nesta classificação não se consegue, como na fitossociológica, diferenciar o que é de origem autóctone, como os montados que resultam do aproveitamento da vegetação nativa, e portanto são muito mais sustentáveis do ponto de vista ecológico; do que é de origem exótica, como as plantações intensivas de eucaliptos, que dominam a paisagem florestal em Portugal, ou as áreas de acaciais que invadem áreas naturais, muitas vezes independentemente do seu grau de hemerobia. Estas últimas culturas são assim menos ou pouco sustentáveis ecologicamente, e acarretam mais riscos ambientais, sobretudo para áreas que estão reservadas à proteção da Natureza [Mapa 13]6.

Finalmente, para terminar esta contextualização da área de estudo, selecionamos dois mapas que demonstram claramente a dependência de determinados usos humanos na paisagem ribeirinha com as características hidrogeomorfológicas dos cursos de água, tal como acontece na vegetação. No Mapa 14 estão assinalados os aproveitamentos hidráulicos inventariados na Bacia do Tejo até 2010, divididos pela sua dimensão. O aspeto que mais se destaca é a proliferação de pequenas barragens ou açudes [segundo a inventariação de (APA & ARH Tejo, 2012a) são ca. de 2000 no total da bacia) sobretudo na Sub-bacia do Sorraia e da área mais xérica da Beira Baixa. Esta distribuição dos açudes ou represas é claramente o reflexo da necessidade humana de travar o escoamento das águas pela rede de drenagem, em áreas onde a precipitação média anual é mais reduzida e mais concentrada, e, a somar a isso, onde dominam formações geológicas de permeabilidade muito baixa (xistentas), que não permitem grandes reservas de água subterrâneas. Deste modo, cursos de água genericamente de escoamento sazonal veem agravada a sua sazonalidade, passando muitas vezes a comportar-se como cursos efémeros. Segundo este mapa a distribuição de médias (91 no total) e sobretudo de grandes barragens (45 no total) é relativamente semelhante entre a parte N e a parte S da Bacia do Tejo. No entanto destaca-se que os novos projetos hidráulicos em estudo se concentram na Sub-

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Para além da Bacia Hidrográfica do Tejo inclui ainda as ribeiras litorais da Costa do Estoril e Costa da Caparica. 6

Outra área não assinalada, em que a proteção da paisagem natural é um princípio estruturante, é o Geopark Naturtejo, que abrange os concelhos de Castelo Branco, Idanha-a-Nova, Nisa, Oleiros, Proença-a-Nova e Vila Velha de Ródão.

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bacia do Zêzere, já que esta a apresenta maiores valores de escoamento e onde já se concentram grandes barragens. No entanto noutra contabilidade mais antiga, de (Ramos, 1994), a autora chamava à atenção para a maioria das barragens existentes na Bacia do Tejo (67%) se situarem na margem N, tendo a margem S apenas 12%, localizando-se as restantes ao longo do próprio Rio Tejo. Outro aspeto que merece destaque é o muito reduzido n.º de barragens (e as que existem são pequenas) nas sub-bacias que drenam da Orla, refletindo a grande permeabilidade das suas formações geológicas, que levam a que as populações se sirvam sobretudo das reservas subterrâneas.

No Mapa 15, referente aos regadios coletivos tradicionais e públicos inventariados até 2001, mostra-se a mesma realidade mas numa outra perspetiva7. Neste caso os regadios tradicionais mostram sobretudo os cursos de água com escoamento permanente, já que são estes que dispõe de escoamento superficial na época em que as culturas mais precisam de água (no verão). Assim é evidente a concentração dos regadios tradicionais sobretudo nas sub-bacias a N do Tejo, excluindo a parte mais xérica da Beira Baixa, onde o regadio público, de maior envergadura, permitiu maior capacidade de armazenamento de água. Através de um grande empreendimento hidráulico conseguiu-se assim contrariar o regime natural dos cursos de água. Deste modo os regadios públicos, como têm maior capacidade de intervenção nos cursos de água, já não se regem tanto pelas condicionantes naturais que intervêm no escoamento superficial dos rios. Estes empreendimentos acarretam por isso grandes impactos nos cursos de água que podem colocar em causa a sustentabilidade dos ecossistemas que deles dependem, e.g. a grande regularização da rede de drenagem da Sub-bacia do Sorraia e do seu coletor principal totalmente resseccionado; ou a recente obra de grande envergadura de engenharia hidráulica que vai levar a que águas da Bacia do Douro sejam transvazadas para as da Bacia do Tejo, um processo que acarreta riscos ecológicos consideráveis.

Deste modo, foi devido as estas e outras condicionantes, que fazem da Bacia do Tejo em Portugal um território de contrastes a vários níveis, que nos levou a seccioná-la como área de estudo geobotânico dos bosques e galerias ripícolas.

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Nos regadios públicos não estão incluídos, segundo (INAG, 2001a), a segunda fase do aproveitamento hidroagrícola de Cova da Beira, e ainda os do Alto Ocreza/Marateca e dos Minutos (Almansor) atualmente já construídos. Os tradicionais reportam-se a dados de finais de 1996.

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40 Maciço hercínico Orla sedimentar Bacia sedimentar 0 - 400 m 400 - 700 m 700 - 1200 m > 1200 m I - HIPSOMETRIA Litologia

A: 16. rochas sedimentares xisto-grauváquicas e séries metamórficas, 17. rochas carbonatadas, 18. quartzitos e xistos com intercalações

quartzíticas, 19. granitos alcalinos, quartzodioritos do maciço de Évora e ortognaisses graníticas de Portalegre, 20. granitos calco-