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Consoante o artigo 1694125 do Código Civil: “Podem os

parentes, os cônjuges ou companheiros pedir uns aos outros os alimentos de que

necessitem para viver de modo compatível com a sua condição social, inclusive para

atender às necessidades de sua educação”.

Percebe-se, desta forma, que a lei impõe aos sujeitos descritos

no dispositivo o dever de mútuo auxílio, isto é, o dever de prestar alimentos uns aos

outros.

Nas palavras do eminente jurista Yussef Said Cahali126:

[...] a palavra “alimentos” vem a significar tudo o que é necessário

para satisfazer aos reclamos da vida, são as prestações com as

quais podem ser satisfeitas as necessidades vitais de quem não

pode provê-las por si; mais amplamente, é a contribuição periódica

assegurada a alguém, por um título de direito, para exigi-la de

outrem, como necessária à sua manutenção[...].

Alimentos são, as prestações devidas, feitas para aquele que

as recebe possa subsistir, isto é, manter sua existência, realizar o direito à vida,

tanto física [sustento do corpo] como intelectual e moral [cultivo e educação do

espírito, do ser racional].127

Além da reciprocidade do direito a alimentos, dentre suas

características, pode-se ainda citar sua inalienabilidade, irrepetibilidade,

alternatividade, transmissibilidade, irrenunciabilidade e o fato de constituírem um

direito personalíssimo.

Igualmente, é relevante destacar que os alimentos são fixados

conforme o binômio necessidade-possibilidade, ou seja, de acordo com a

necessidade de quem pede e com os recursos de quem paga.

125BRASIL, Código Civil Brasileiro, Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/

Leis/LCP/Lcp07.htm. Acesso em: 05 de Agosto de 2009.

126 CAHALI, Yussef Said. Dos alimentos. p. 15/16.

Em regra, ensina Carlos Roberto Gonçalves128 que:

Entre pais e filhos menores, cônjuges e companheiros não existe

propriamente obrigação alimentar, mas dever alimentar,

respectivamente de sustento e mútua assistência [CC, arts.

1.566, III e IV, e 1.724]. A obrigação alimentar também decorre da

lei, mas é fundada no parentesco [art. 1.694], ficando circunscrita aos

ascendentes, descendentes e colaterais até o segundo grau, com

reciprocidade, tendo por fundamento o princípio da solidariedade

familiar.[grifou-se]

Conforme ensina Clóvis Bevilácqua, "os alimentos são somente

devidos, se o alimentário não tem recursos e está impossibilitado de prover à sua

subsistência, e quando o alimentador possui bens além dos necessários para a sua

própria sustentação". 129

A respeito do assunto, o Tribunal de Justiça de Santa Catarina

já julgou:

DIREITO DE FAMÍLIA. AÇÃO DE SEPARAÇÃO JUDICIAL C/C

PARTILHA DE BENS, FIXAÇÃO DE ALIMENTOS E

REGULAMENTAÇÃO DE VISITAS. [...] É lícito ao ex-cônjuge

requerer alimentos do outro com fundamento na assistência

mútua. Contudo, para não desvirtuar a verdadeira natureza

jurídica da obrigação, faz-se necessária a comprovação de que

o alimentando de fato esteja impossibilitado de prover, por seu

esforço, sua subsistência, bem como das reais condições

financeiras de quem, por direito, estaria obrigado a lhe prestar

auxílio.130

Desta forma, aquele que pedir alimentos deve alegar e provar,

não só o fato que a tal o legitima, o casamento e a consequente separação de fato

e, ou o divórcio mas também a sua necessidade e a sua incapacidade de a eles

prover, devendo alegar e provar, de igual modo, que não pode trabalhar o bastante

para assegurá-los por si próprio e que não tem rendimentos que lhes possam

assegurar.

128 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. v. 6. p.

462.

129 BEVILÁCQUA, Clóvis. Direito de Família. Edição Histórica. 7 ed. Rio de Janeiro: Rio, 1976, p.

385.

130 BRASIL. Apelação Cível n. 2008.020034-3. Balneário Camboriú Relator: Marcus Tulio Sartorato.

Órgão Julgador: Terceira Câmara de Direito Civil. Data: 03/10/2008.

Há resistência na doutrina em admitir a obrigação alimentar ao

ex- cônjuge, pois os deveres previstos no artigo 1566131 do C.C. se extinguem.

Assim os alimentos seriam admitidos apenas entre parentes.

No dizer do Desembargador Eliseu Gomes Torres:

“SEPARAÇÃO JUDICIAL. ALIMENTOS A MULHER.

DESCABIMENTO. A CIRCUNSTÂNCIA DE SER O VARÃO

GRANDE EMPRESÁRIO, COM ALTO PADRÃO DE VIDA, QUE

UTILIZAR CARROS IMPORTADOS E TELEFONE CELULAR, NÃO

CONDUZ NECESSARIAMENTE A OBRIGAÇÃO DE PENSIONAR A

EX-MULHER. JÁ SE DISSE QUE CASAMENTO NÃO É EMPREGO

E MARIDO NÃO É ÓRGÃO PREVIDENCIÁRIO. Tratando-se de

senhora jovem, com apenas trinta e sete anos, apta para o trabalho,

eis que exerce cargo na Caixa Econômica, não tem ele qualquer

obrigação de sustenta-la. Alimentos aos filhos menores, tendo sido

os alimentos fixado de forma prudente, levando em consideração a

idade e o padrão de vida que mantinham os filhos, não merecem ser

alterados”.132

Ademais, é a orientação reiterada do egrégio Tribunal de

Justiça do Estado de Santa Catarina:

APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE ALIMENTOS - UNIÃO ESTÁVEL -

VERBA PLEITEADA PELA EX-COMPANHEIRA - SAÚDE E

APTIDÃO PARA O TRABALHO REMUNERADO - SITUAÇÃO

DEMONSTRADA - OCIOSIDADE E PARASITISMO - VEDAÇÃO

LEGAL - NECESSIDADE INDEMONSTRADA - OBRIGAÇÃO

ALIMENTAR INEXISTENTE - SENTENÇA MANTIDA - RECURSO

DESPROVIDO. Em se tratando de alimentos, para que a mulher os

receba de seu ex-companheiro, deve ser robusta a prova de sua real

necessidade, haja vista que tal instituto, por imposição legal, veda

que a pensão alimentícia seja instrumento de ociosidade e

parasitismo.133

Neste mesmo diapasão:

Não há razão para que a pensão alimentícia perpetue-se

através dos tempos quando o vínculo matrimonial já se desfez. Cada um, sendo

131BRASIL, Código Civil Brasileiro. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/LCP/

cp07.htm. Acesso em: 05 de Agosto de 2009.

132 BRASIL. Apelação Cível nº. 596068106 - TJTS – 8ª CC –j. 29/08/1996 – Rel. Des. Eliseu Gomes

Torres.

133 BRASIL. Apelação Cível nº. 2005.018017-6. Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina,

Rel. Des. Mazoni Ferreira.

perfeitamente capaz de trabalhar, deve procurar seu sustento de forma honesta e

individualmente, sem configurar o casamento eterna fonte de rendimentos.134

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