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PRINCÍPIO DA IRREPETIBILIDADE DE ALIMENTOS: UMA ANÁLISE DOUTRINÁRIA E JURISPRUDENCIAL

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(1)

PRINCÍPIO DA IRREPETIBILIDADE DE ALIMENTOS: UMA ANÁLISE DOUTRINÁRIA E JURISPRUDENCIAL

SAMARA ROZA MIRANDA

Itajaí, junho de 2010

(2)

PRINCÍPIO DA IRREPETIBILIDADE DE ALIMENTOS: UMA ANÁLISE DOUTRINÁRIA E JURISPRUDENCIAL

SAMARA ROZA MIRANDA

Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito.

Orientador: Professor Mestre Fernanda Sell de Souto Goulart Fernandes

Itajaí, junho de 2010

(3)

e participaram desta conquista, em especial a professora Fernanda Sell de Souto Goulart Fernandes, cujo comprometimento foi de extrema importância para a concretização desta fase.

Agradeço também aos meus pais, Lino e Célia, e ao carinhoso esposo Wenyton, por toda a paciência e cuidado a mim destinados nestes anos de faculdade.

E ao grande amigo Eduardo Erivelton Campos.

(4)

que sempre com muito cuidado, amor e respeito me

apoiou e me incentivou na minha realização

profissional.

(5)

ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

Itajaí, junho de 2010

Samara Roza Miranda

Graduanda

(6)

Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, elaborada pela graduanda Samara Rosa, sob o título, PRINCÍPIO DA IRREPETIBILIDADE DE ALIMENTOS: UMA ANÁLISE DOUTRINÁRIA E JURISPRUDENCIAL foi submetida em 07/06/2010 à banca examinadora composta pelos seguintes professores: Mestre Fernanda Sell de Souto Goulart Fernandes, orientadora e presidente da banca e professor Eduardo Erivelton Campos, examinador, e aprovada com a nota [Nota] [[nota Extenso]].

Itajaí, junho de 2010

Profª. Msc. Fernanda Sell de Souto Goulart Fernandes Orientadora e Presidente da Banca

Prof. Msc Antonio Augusto Lapa

Coordenação da Monografia

(7)

AC Apelação cível

Art. Artigo

CC/2002 Código Civil de 2002

CRFB/1988 Constituição da República Federativa do Brasil

Des. Desembargador

DJ Diário Oficial

DJU Diário Oficial da União

EC Emenda Constitucional

Min. Ministro

OAB Ordem dos Advogados do Brasil

RE Recurso Extraordinário

Rel. Relator

RESP Recurso Especial

STF Supremo Tribunal Federal

STJ Superior Tribunal de Justiça

TJ Tribunal de Justiça

(8)

Conceitua alimentos “como prestações periódicas que uma pessoa concede a outra para satisfazer as necessidades vitais de conservação e existência do ser humano, compreendendo não somente os alimentos, como também vestuário, moradia, lazer, tratamento médico, remédios em caso de doenças e mesmo educação se o alimentado for menor” 1

Alimentos Civis:

São os alimentos que incluem as necessidades morais, intelectuais e de laser, possibilitando ao alimentado manter a mesma posição social, que desfrutavam antes da necessidade dos alimentos, bem como compatível com a posição do alimentante 2 .

Alimentos côngruos:

Entende-se o dever de ministrar comida, vestuário, habitação e demais recursos econômicos necessários, tomando-se em consideração a idade, condição social e demais circunstâncias pertinentes ao familiar em situação de necessidade 3 .

Alimentos indenizatórios:

São os resultantes da prática de um ato ilícito, o que ocorre quando o causador de um dano fica obrigado a fornecer alimentos a vítima ou a seus dependentes.

Alimentos naturais:

1

CAHALI, Yussef Said. Dos Alimentos, 6º ed. Revista dos Tribunais 2009, p. 15.

2

CAHALI,Yussef Said. Dos Alimentos. p. 18

3

CAHALI,Yussef Said. Dos Alimentos. p. 18

(9)

vestuário saúde, habitação, educação.

Alimentos necessários:

Valor mínimo indispensável para qualquer pessoa sobreviver.

Alimentos Provisórios:

São os alimentos fixados de plano na ação de alimentos, tratando-se de medida liminar antecipatória, quando houver prova do parentesco. Uma vez apresentadas as provas e sendo solicitado, o juiz fixará os alimentos provisórios 5

Alimentos Provisionais:

Alimentos provisionais, também chamados ad litem, são constituídos por prestação reclamada por um dos litigantes contra outro, como preliminar em medida cautelar [incidente ou antecedente] nas ações de separação judicial, de divórcio, de anulação ou nulidade de casamento, de investigação de paternidade e de alimentos. Tais alimentos destinam-se a custear o feito e a mantença do alimentário, durante a demanda. 6

Direito Incompensável:

Os valores que se destinam a alimentos não podem ser utilizados para compensação de obrigações, pois, ocorreria à privação do alimentando dos meios de sobrevivência. Portanto, se o devedor da pensão alimentícia for credor do alimentando por qualquer outra situação, não poderá se utilizar da compensação quando lhe for exigido o crédito alimentar 7 .

Direito Intransacionável:

4

DIAS, Maria Berenice, Manual de Direito das Famílias, p. 460.

5

GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro, p 444

6

RODRIGUES, Silvio, Direito Civil. Direito de Família,.São Paulo. Saraiva, 2005. v.6. p 391.

7

CAHALI,Yussef Said. Dos Alimentos. p. 89

(10)

quantum das prestações vencidas e vincendas é transacionável . Intransmissibilidade:

Apresenta-se como decorrência natural do caráter personalíssimo dos alimentos, assim tanto o direito à alimentos como a obrigação do alimentante se extingue com a morte de um ou outro.

Irrenunciabilidade:

"Pode-se deixar de exercer, mas não se pode renunciar o direito a alimentos" 9 . O legislador atribuiu interesse público à impossibilidade de abdicar desse direito. Não é válida, portanto, a declaração de que o alimentado desiste de pleitear alimentos em face do alimentante. A obrigação é imposta pelo legislador por motivo de humanidade e necessidade. Por isso mesmo, não pode ser renunciado.

Pensão alimentícia:

É toda renda ou prestação mensal ou anual paga pelo Estado ou particular, a alguém de que necessite de alimentos, medicamentos, esporte, lazer, educação e tantos outros requisitos assegurados constitucionalmente sob a égide do principio da dignidade da pessoa humana. 10

Princípio da alternatividade:

É aquele em que os alimentos podem ser pagos em espécie ou em dinheiro, nos termos do art. 1.701do CC.

Princípio da complementariedade:

8

DINIZ, Helena. Direito Civil Brasileiro. p 540.

9

BRASIL, Código Civil Brasileiro. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis /LCP/Lcp07.htm. Acesso em: 05 de Agosto de 2009.

10

COELHO, Jair. Conceito e Natureza Jurídica dos Alimentos, CENAJUR, Escola de Direito e Cidadania. Disponível em: http://www.capitaotadeu.com.br/downloads/20090408181317.pdf.

Acesso em 02 de Maio de 2010.

(11)

Princípio da irrenunciabilidade:

Que se caracteriza pelo fato do credor não exercer o direito de requerer alimentos, porém lhe é vedado renunciar o direito a alimentos, art. 1.707 do CC.

Princípio da irrepetibilidade:

Este princípio tem uma característica muito especial, uma vez pagos alimentos estes não podem ser devolvidos. Este princípio não está descrito na lei, porém é uma construção doutrinária e jurisprudencial pois “como se trata de verba que serve para garantir a vida, destina-se a aquisição de bens de consumo para assegurar a sobrevivência. Assim, inimaginável pretender que sejam devolvidos.” 11

Princípio da isonomia:

Regrado no art. 5º, inciso I, da Constituição Federal nivela os iguais e discrimina os desiguais em direitos e obrigações.

Princípio da mutabilidade personalíssimo:

Conforme o artigo 1.699 do CC, a decisão sobre alimentos pode ser sempre alterada. Os princípios que andam junto à obrigação e ao princípio da mutabilidade personalíssimo é o da necessidade e da possibilidade.

Princípio da preferência:

Primeiro são chamados os parentes na linha reta, para prestar os alimentos e depois, os parentes da linha colateral.

Princípio da proporcionalidade:

Segundo Gilmar Ferreira Mendes, o princípio da proporcionalidade ou razoabilidade, em essência, consubstancia uma pauta que emana diretamente das idéias de justiça, equidade, bom senso, prudência, moderação, justa medida, proibição de

11

DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 5 ed. Revista dos Tribunais 2009, p. 463

(12)

alimentando.

Princípio da reciprocidade:

Corresponde ao direito a prestação de alimentos previsto no artigo 1694 do Código Civil que diz que estabelece ser recíproco entre pais e filhos, poderem os parentes, os cônjuges ou companheiros pedir uns aos outros os alimentos de que necessitem para viver de modo compatível com a sua condição social, inclusive para atender às necessidades de sua educação.

Princípio da transmissibilidade:

Previsto no artigo 1.700 do CC, a obrigação de prestar alimentos transmite-se aos herdeiros do devedor.

Transmissão

“a obrigação de prestar alimentos transmite-se aos herdeiros do devedor” 13 até os limites do espólio, pois refere-se às pensões cujo direito já estava constituído à data do óbito do alimentante, não se transmite portanto a condição de alimentante. Tem- se por este norte que o alimentado, tratando-se de herdeiro, terá seu quinhão hereditário para garantir-lhe a sobrevivência, não sendo cabível, portanto onerar aos outros herdeiros com prestações futuras.

12

DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. p. 493

13

BRASIL, Código Civil Brasileiro. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/LCP

/Lcp07.htm. Acesso em: 05 de Agosto de 2009.

(13)

INTRODUÇÃO...16

DOS ALIMENTOS: CONCEITO, CARACTERÍSTICAS, POSSIBILIDADE E NECESSIDADE DO ALIMENTANTE E DO ALIMENTADO...20

1.1CONCEITO DE ALIMENTOS...20

1.2DA NATUREZA JURÍDICA DOS ALIMENTOS...23

1.3DAS ESPÉCIES DE PENSÕES ALIMENTÍCIAS, SUAS CARACTERÍSTICAS E DESTINAÇÕES. ...24

1.3.1Quanto à natureza: alimentos naturais e civis...24

1.3.2Quanto à causa jurídica...27

1.4 CARACTERÍSTICAS DOS ALIMENTOS...29

1.4.1Direito Personalíssimo...29

1.4.2Direito Irrenunciável...30

1.4.3Direito Intransmissível...31

1.4.4Direito Impenhorável...32

1.4.5Direito Incompensável...33

1.4.6Direito Intransacionável...34

1.4.7Direito Imprescritível...34

1.5ALIMENTOS PROVISÓRIOS E PROVISIONAIS...35

1.5.1Dos Alimentos Provisórios...35

1.5.2Dos Alimentos Provisionais...35

EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA OBRIGAÇÃO DE ALIMENTAR...37

(14)

2.1A OBRIGAÇÃO DE PRESTAR ALIMENTOS...37

2.2OBRIGAÇÃO LEGAL DE ALIMENTOS...42

2.3OBRIGAÇÃO LEGAL E CASAMENTO...49

2.4OBRIGAÇÃO LEGAL E UNIÃO ESTÁVEL...52

2.5DEVER DE SUSTENTO DOS FILHOS MENORES E INVÁLIDOS...54

2.6DA OBRIGAÇÃO ALIMENTAR ADVINDA DA LEI...56

DOS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS E DO PRINCÍPIO DA IRREPETIBILIDADE DOS ALIMENTOS...59

3.1DOS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS QUE NORTEIAM A PRESTAÇÃO DE ALIMENTOS...59

3.2PRINCIPIO DA IRREPETIBIDADE DOS ALIMENTOS...61

3.3A IRREPETIBILIDADE DOS ALIMENTOS PARA CÔNJUGE E COMPANHEI- ROS...64

3.4A IRREPETIBILIDADE DOS ALIMENTOS DOS FILHOS, ESTUDO BASEADO EM DOUTRINAS E ENTENDIMENTOS JURISPRUDÊNCIAIS...66

CONSIDERAÇÕES FINAIS...74

REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS...78

(15)

RESUMO

A presente Monografia tem como objeto de estudo o princípio

da irrepetibilidade dos alimentos frente à obrigação de prestação alimentícia do

alimentante em relação ao alimentado. O objetivo investigatório geral foi o de

pesquisar, analisar e descrever, com base na legislação supracitada, bem como, na

doutrina e na jurisprudência brasileira predominante, sobre os princípios

constitucionais e o entendimento jurisprudencial sobre a aplicação, ou não do

princípio da irrepetibilidade dos alimentos. A Monografia é composta de três

capítulos: o primeiro trata sobre os alimentos, sua natureza e características,

necessidade e possibilidade do alimentante e consequentemente do alimentado; o

segundo traz a evolução histórica da obrigação de alimentar, a obrigação legal com

relação a filhos, cônjuges e companheiros; e o terceiro sintetiza os estudos, tratando

sobre os princípios constitucionais e sobre o princípio da irrepetibilidade dos

alimentos. O tema é relevante, atual e tem aplicação prática imediata, tendo em vista

a quantidade de divergências jurisprudenciais acerca do tema em tela

(16)

O objeto de estudo da presente Monografia é o princípio da irrepetibilidade dos alimentos frente à obrigação de prestação alimentícia do alimentante em relação ao alimentado, entre outras disposições legais.

O motivo da pesquisa, que resultou na produção do presente trabalho, foi o de solucionar os problemas formulados, a fim de testar as hipóteses e dirimir as dúvidas, principalmente no que se refere a aplicabilidade do princípio da irrepetibilidade dos alimentos.

A escolha do tema deveu-se ao interesse da pesquisadora pelo assunto em tela, tendo em vista as exigências sociais e a necessidade de que a acadêmica sente em aprofundar os conhecimentos, a fim de se preparar para os desafios do Mestrado; além disso, para a especialização na vindoura atividade profissional, que será voltada para o Direito de Família, o que envolve prestações alimentícias, obrigações, direitos e demais disposições referentes ao assunto abordado.

O tema é relevante, atual e tem aplicação prática imediata, tendo em vista a quantidade de divergências jurisprudenciais acerca do tema em tela.

O estudo está delimitado em discorrer sobre o que vem a ser o princípio da irrepetibilidade e a sua aplicação no instituto dos alimentos, pois, não existe previsão legal nesse sentido, somente existe entendimento doutrinário e jurisprudencial, mencionados no decorrer do trabalho.

Fundamenta a validade da presente pesquisa, entre outros

motivos, o propósito do desenvolvimento da ciência do direito, como meio de melhor

compreensão e aplicação das regras jurídicas contidas na legislação pesquisada,

com destaque para aceitação do princípio da irrepetibilidade dos alimentos frente a

(17)

inexistência tipificada em códigos, somente solidificada em entendimentos doutrinários e jurisprudenciais.

O objetivo institucional foi o de produzir a presente Monografia para a obtenção do título de Bacharel em Direito, pela Universidade do Vale do Itajaí.

O objetivo investigatório geral foi o de pesquisar, analisar e descrever, com base na legislação supracitada, bem como, na doutrina e na jurisprudência brasileira predominante, sobre a existência do princípio da irrepetibilidade e a sua aplicabilidade nos tribunais.

Os objetivos investigatórios específicos foram os seguintes:

a] pesquisar, interpretar e relatar sobre os aspectos históricos, conceitos, natureza jurídica da obrigação de prestar alimentos.

b] investigar, analisar e descrever sobre a aplicação do princípio da irrepetibilidade no ordenamento jurídico brasileiro, especialmente na esfera familiar de prestar sustento ao filho menor, ao cônjuge ou companheiro, ao parente ou por determinação judicial decorrente de um acidente.

c] pesquisar, sintetizar e relatar sobre o reconhecimento da aplicação, imediata, do princípio da irrepetibilidade na esfera jurisprudencial.

Foram elaborados e serviram de base e estímulo para a realização desta pesquisa, resultante em Monografia, três problemas e respectivas hipóteses, conforme se verificam a seguir:

Primeiro problema: O menor, uma vez reconhecida a sua filiação, tem seu direito de prestação alimentícia tutelado?

Primeira hipótese: O alimentando tem garantido no

ordenamento jurídico brasileiro seu direito à prestação alimentícia por envolver

interesse de subsistência, portanto mesmo quando gerado fora do casamento, terá

seu direito aos alimentos tutelado.

(18)

Segundo problema: Havendo a minoração da pensão alimentícia no decorrer do próprio processo de fixação dos alimentos, o alimentante tem o direito de ter restituídos, os valores que durante a análise da decisão foram pagos a mais ao alimentado ?

Segunda hipótese: Havendo a minoração da pensão alimentícia no decorrer do próprio processo de fixação dos alimentos, o alimentante, por ausência de previsão legal nesse sentido, não poderá pleitear a devolução dos valores, tendo o alimentado apenas o dever moral de restituir os alimentos que, por força de uma decisão temporária foram pagos durante um certo tempo num patamar acima do necessário.

Terceiro problema: Poderá o alimentante pleitear a Prestação de Contas dos alimentos pagos?

Terceira hipótese: Não há previsão legal de Prestação de Contas para o instituto dos alimentos. Por tratar-se de valores pagos com a finalidade de subsistência não há previsão de devolução (Princípio da irrepetibilidade). O alimentante poderá ajuizar Ação Revisional de Alimentos, compreendendo somente valores à pagar.

A presente monografia está dividida em três capítulos, estruturada da seguinte forma:

Para tanto, principia–se, no Capítulo 1, tratando-se do instituto dos alimentos: conceito, natureza jurídica, seus caracteres, causa jurídica e características de direito.

O segundo capítulo discorre acerca da evolução histórica da obrigação alimentar, da obrigação legal dos alimentos aos filhos e ao cônjuge, no casamento e na união estável.

No terceiro capítulo, busca-se solucionar o problema

elaborado, objetivando-se confirmar ou negar a referida hipótese, através da análise

(19)

da legislação que disciplina de forma específica sobre a irrepetibilidade dos alimentos, bem como o entendimento doutrinário e jurusprudêncial.

Quanto à Metodologia empregada, registra-se que, na Fase de Investigação foi utilizado o Método Indutivo, vez que a pesquisa do tema partiu do geral para a direção particular. Além disso, na Fase de Tratamento de Dados, utilizou-se o Método Cartesiano [verificar, dividir/analisar, sintetizar e enumerar as conclusões], e o Relatório dos Resultados expresso na presente Monografia é composto na base lógica Indutiva.

Nas diversas fases da Pesquisa, foram acionadas as Técnicas, do Referente, da Categoria, do Conceito Operacional e da Pesquisa Bibliográfica, de modo que, além das palavras ou expressões cujos conceitos constam no rol de categorias, existem outras definições no decorrer do trabalho.

O presente Relatório de Pesquisa se encerra com as

Considerações Finais, nas quais são apresentados pontos conclusivos destacados,

análises e reflexões, havendo breve síntese de cada capítulo e demonstrações

sobre as hipóteses básicas da pesquisa, verificando-se se as mesmas foram ou não

confirmadas.

(20)

Capítulo 1

DOS ALIMENTOS: CONCEITO, CARACTERÍSTICAS, POSSIBILIDADE E NECESSIDADE DO

ALIMENTANTE E DO ALIMENTADO.

1.1 CONCEITO DE ALIMENTOS

A Carta Magna 14 no seu artigo 5º preconiza que “todos são iguais perante a lei, [...] garantindo-se o direito a vida [...]”. O ser humano inicia sua vida de maneira totalmente dependente daqueles que o assistem ao nascer. Os seres humanos são seres gregários, e obtém na organização social os meios materiais de que necessitam para sobreviver através de seu labor.

Há porém casos em que não se tem recursos para prover à própria subsistência. O artigo 3º, I a Carta Magna 15 , fundamenta o instituto dos alimentos no Princípio da Solidariedade. Daí o dever de outros proverem os necessitados de meios indispensáveis para manter-se.

A autora Maria Helena Diniz 16 compreende que a alimentação, vestuário, habitação, tratamento médico, transporte e diversão são imprescindíveis à vida da pessoa. Se a pessoa alimentada for menor de idade, os cuidados aumentam no sentido da instrução educacional.

Yussef Said Cahali 17 conceitua a acepção da palavra alimentos como “tudo aquilo que é necessário a conservação do ser humano com vida.” Já para o aspecto jurídico bastaria acrescentar a esse conceito, a ideia de obrigação

14

BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil, Disponível em http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm. Acesso em: 02 de Maio de de 2010.

15

BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil, Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm. Acesso em: 02 de Maio de de 2010.

16

DINIZ, Helena. Direito Civil Brasileiro. 20 ed. São Paulo: Saraiva, 2005. v 5, p 533

17

CAHALI,Yussef Said. Dos Alimentos. p. 15.

(21)

que é imposta a alguém, em função de uma causa jurídica, prevista em lei, de prestá-los a quem deles necessite.

Yussef Said Cahali 18 , ainda, conceitua alimentos como prestações periódicas que uma pessoa concede a outra para satisfazer as necessidades vitais de conservação e existência do ser humano, compreendendo não somente os alimentos, como também vestuário, moradia, lazer, tratamento médico, remédios em caso de doenças e mesmo educação se o alimentado for menor.

Também, Maria Berenice Dias 19 , preconiza:

Todos têm direito de viver, e viver com dignidade. Surge, desse modo, o direito a alimentos como princípio da preservação da dignidade humana [CF 1º III]. Por isso os alimentos têm a natureza de direito de personalidade, pois asseguram a inviolabilidade do direito à vida, à integridade física. Os parentes são os primeiros convocados a auxiliar aqueles que não têm condições de subsistir por seus próprios meios. A lei transformou os vínculos afetivos das relações familiares em encargo de garantir a subsistência dos demais parentes. Trata-se do dever de mútuo auxílio transformado em lei. Aliás, este é um dos motivos que leva a Constituição a emprestar especial proteção à família [CF 226]. Assim, parentes, cônjuges e companheiros assumem, por força de lei, a obrigação de prover o sustento uns dos outros, aliviando o Estado e a sociedade desse ônus.

Tradicionalmente, no direito brasileiro a obrigação legal de alimentos tem um cunho assistencial e não indenizatório 20 .

Enquanto perdura o núcleo familiar, não se cogita da obrigação de alimentos. O que existe é o direito ao sustento dos filhos, relativo aos deveres dos pais, decorrente do poder familiar [art. 1630 do C.C] 21 e dos deveres do casamento [art. 1566, IV do C.C.] 22 . Da mesma forma, há direito à assistência

18

CAHALI,Yussef Said. Dos Alimentos. p. 15.

19

DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 5 ed. Revista dos Tribunais 2009, p. 458.

20

GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro, Volume VI. São Paulo. Saraiva, 2005, p 442.

21

BRASIL, Código Civil Brasileiro, Disponível em http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/Leis/

LCP/Lcp07.htm. Acesso em: 05 de Agosto de 2009.

22

BRASIL, Código Civil Brasileiro, Disponível em http://www.planalto.gov.br/ ccivil_ 03/Leis/

LCP/Lcp07.htm. Acesso em: 05 de Agosto de 2009.

(22)

material [art. 1566, III do C.C.], referente aos deveres dos cônjuges e companheiros na união estável. Podem decorrer ainda do dever de amparo nos casos de pessoas idosas [art. 230 da C.F. De 1988 e Lei 8.842/94].

Neste sentido, também pensa Silvio Rodrigues, 23 ao remeter o conceito de alimentos como sendo toda prestação fornecida a uma pessoa, em dinheiro, ou em espécies, para que esta possa atender as necessidades da sua vida. Para ele o significado da palavra alimentos também tem conotação mais expressiva e extensiva, reforçando ainda mais a ideia defendida anteriormente.

Outro doutrinador que defende esta linha doutrinária é Caio Mário da Silva Pereira, 24 que subscreve alimentos como sendo toda prestação para satisfação das necessidades vitais de quem não pode prove-las por si, compreendendo o que é imprescritível para vida das pessoas, a alimentação, vestuário, medicamento, tratamento médico e diversos outros gêneros de coisas que ficam sob critério da análise de cada caso concreto.

Logo, os legisladores, tiveram a sensibilidade para ampliar o conceito de pensão alimentícia, e atender assim quase toda gama de particularidade do caso concreto em questão, assim como tentar assegurar ao alimentado coisas como, lazer, cultura, esporte e muitas outras.

Definido o conceito de alimentos, passa-se a conceituar a expressão pensão. Segundo Ruth Rocha, 25 em seu dicionário da língua portuguesa, esta expressão possui três significados diferentes, para ela o primeiro conceito de pensão como sendo renda anual ou mensal, paga pelo Estado ou particular a alguém ou a seus herdeiros.

A primeira conceituação supracitada nos remete àquilo que mais interessa para se definir o objeto conceitual de pensão alimentícia, pois ao se definir pensão como sendo toda prestação paga pelo particular ou pelo Estado, a

23

RODRIGUES, Silvio. Direito Civil: Direito de Família, 27. ed. São Paulo; Saraiva. 2002.p.418.

24

PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil: Direito de Família, 15. ed. Rio de Janeiro; Forense. 2005. p. 495.

25

ROCHA, Ruth. Mini Dicionário, São Paulo: Scipione, 2006. p.466.

(23)

alguém ou seus herdeiros, está se começando a traçar as linhas tão esperadas para o estudo ora em debate à cerca de pensão alimentícia.

Pensão alimentícia é toda renda ou prestação mensal ou anual paga pelo Estado ou particular, a alguém de que necessite de alimentos, medicamentos, esporte, lazer, educação e tantos outros requisitos assegurados constitucionalmente sob a égide do principio da dignidade da pessoa humana. 26 . 1.2 DA NATUREZA JURÍDICA DOS ALIMENTOS

A natureza jurídica dos alimentos é um assunto bastante discutido na doutrina, como é um tema intrigante, existe divergências entre os doutrinadores pátrios, alguns têm considerado a pensão alimentícia como sendo um direito pessoal e extrapatrimonial, pois consideram eles que a pensão alimentícia possui um interesse social, ético, e não econômico.

No entendimento de Jair Coelho 27 , a natureza jurídica da pensão alimentícia tem outra denotação para doutrinadores como Orlando Gomes e Maria Helena Diniz, para ele, eles classificam a natureza dos alimentos como sendo um direito de caráter especial, pois segundo eles a pensão de alimentícia possui um valor pessoal e patrimonial, fortemente ligado aos princípios que norteiam o direito de família, isso significa dizer, que os alimentos não podem ser concebidos como uma relação de pagador e devedor, crédito e débito, desconsiderando que, embora periodicamente o alimentante pague ao alimentado uma soma, esta relação não configura acréscimo no patrimônio do alimentante.

Isso pode ser até relativizado, pois para definir a natureza jurídica da pensão alimentícia, devem-se observar as condições do alimentante e do alimentado, pois só assim é possível saber se a pensão alimentícia tem na sua natureza, um caráter personalíssimo ou extrapatrimonial.

26

COELHO, Jair. Conceito e Natureza Jurídica dos Alimentos, CENAJUR, Escola de Direito e Cidadania. Disponível em: http://www.capitaotadeu.com.br/downloads/20090408181317.pdf.

Acesso em 02 de Maio de 2010.

27

COELHO, Jair. Conceito e Natureza Jurídica dos Alimentos, CENAJUR, Escola de Direito e Cidadania. Disponível em: http://www.capitaotadeu.com.br/downloads/20090408181317.pdf.

Acesso em 02 de Maio de 2010.

(24)

Por exemplo, as pensões alimentícias não pode representar um acréscimo no patrimônio do alimentante, como também ser considerada como uma garantia real para crédito, pois fica visível que a pensão alimentícia vem atender somente a necessidade vital do alimentante. Logo, é descabido conceituar a natureza jurídica deste instituto como extra patrimonial.

No entanto, pode-se encontrar, nas classes com poderes aquisitivos maiores, pensões de alimentos de grande soma, nesta pode-se compreender como sendo a pensão garantia de crédito, que além de atender as necessidades vitais do alimentante, configuram um aumento no patrimônio dos mesmos, é o que geralmente acontece quando há uma separação nas famílias ricas e tradicionais. Portanto, é rica e oportuna à discussão a respeito da natureza jurídica deste instituto e merecedora de outro objeto de estudo futuro.

1.3 DAS ESPÉCIES DE PENSÕES ALIMENTÍCIAS, SUAS CARACTERÍSTICAS E DESTINAÇÕES.

A doutrina classifica os alimentos segundo vários critérios: I – quanto a natureza; II – quanto a causa jurídica; III – quanto a finalidade; IV – quanto ao momento da prestação; V – quanto a modalidade da prestação. 28

1.3.1 Quanto à natureza: alimentos naturais e civis.

Naturais são os alimentos mínimos necessários para a satisfação das necessidades básicas da vida. Nos ensinamentos de Maria Berenice Dias, alimentos naturais são os indispensáveis para garantir a subsistência, como alimentação, vestuário saúde, habitação, educação 29 .

Já Yussef Said Cahali 30 por sua vez, assim os define:

Quando se pretende identificar como alimentos aquilo que é estritamente necessário para mantença da vida de uma pessoa, compreendendo tão-somente a alimentação, a cura, o vestuário, a habitação, nos limites assim do necessarium vitae, diz-se que são alimentos naturais.

28

CAHALI,Yussef Said , Dos Alimentos, p. 18.

29

DIAS, Maria Berenice, Manual de Direito das Famílias, p. 460.

30

CAHALI,Yussef Said , Dos Alimentos, p. 18.

(25)

O autor Sílvio Rodrigues, 31 explica o disposto no § 1º do art.

1.694 do CC, acentuando que:

Não significa que, considerando essas duas grandezas [necessidades e possibilidade], se deva inexoravelmente tirar uma resultante aritmética, como, por exemplo, fixando sempre os alimentos em um terço ou em dois quintos dos ganhos do alimentante. Tais ganhos, bem como as necessidades do alimentando, são parâmetros onde se inspirará o Juiz para fixar a pensão alimentícia, O legislador daqui, como o de alhures, quis deliberadamente ser vago, fiando apenas um Standard jurídico, abrindo ao Juiz um extenso campo de ação, capaz de possibilitar-lhe o enquadramento dos mais variados casos individuais [grifos no original].

Assim os alimentos necessários serão calculados baseando-se no mínimo indispensáveis para qualquer pessoa sobreviver, sem tomar em consideração as condições próprias do beneficiário.

O Código Civil Brasileiro/2002 introduz expressamente a discriminação quanto a natureza dos alimentos indispensáveis, agora ao lado dos alimentos necessários. 32

Em qualquer espécie de pensão de alimentos existe a aplicação do binômio, necessidade e possibilidades, princípios norteadores da obrigação de prestar alimentos.

Em especial pode-se destacar o art. 1694, § 1º 33 , que define a prestação de alimentos entre parentes, cônjuges ou companheiros, disciplinando que “os alimentos devem ser fixados na proporção das necessidades do reclamante e dos recursos da pessoa obrigada, para que o alimentado possa viver de acordo com a posição social do alimentante.” [grifo nosso]. Neste primeiro caso trata-se da obrigação decorrente do princípio da solidariedade familiar.

31

RODRIGUES, Silvio. Direito Civil, 27 ed. São Paulo: Saraiva, 2002. v. 6.p. 230.

32

CAHALI, Yussef Said. Dos Alimentos, p. 20.

33

BRASIL, Código Civil Brasileiro, Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil

_03/Leis/LCP/Lcp07.htm. Acesso em: 05 de Agosto de 2009.

(26)

Nesse sentido, o Tribunal de Justiça de Santa Catarina já decidiu que:

"Conforme disposto no art. 1694, § 1.º, do CÓDIGO CIVIL, para a fixação da verba alimentar deve ser observada a proporção entre as necessidades do alimentando e os recursos da pessoa que irá provê- la, condicionando-se, assim, o dever de prestar alimentos ao binômio necessidade-possibilidade" [TJSC, Apelação Cível n. ° 2007.062183- 6, de Imbituba, julgado em 08/04/2008]

Porém o § 2º limita os alimentos “ao indispensável à subsistência, quando a situação de necessidade resultar de culpa de quem os pleiteia." Neste caso, trata-se de uma sanção, o fato do alimentante ser responsável por toda a situação fática, um acidente, por exemplo, que o alimentante foi culpado e impossibilitou o alimentado em prover os seus alimentos e o alimento de seus dependentes.

Já o art. 1704 34 em seu caput preconiza que “se um dos cônjuges separado judicialmente vier a necessitar de alimentos, será o outro a prestá-los mediante pensão a ser fixada pelo juiz, caso não tenha sido declarado culpado na ação de separação judicial” complementa no parágrafo único: “Se o cônjuge declarado culpado vier a necessitar de alimentos, e não tiver parentes em condições de prestá-los, nem aptidão para o trabalho, o outro cônjuge será obrigado a assegurá-los, fixando o juiz o valor indispensável a sobrevivência.”[grifou-se].

Civis são os alimentos que compreendem, além dos alimentos naturais, os que abrangem necessidades morais e intelectuais, inclusive laser, possibilitando ao alimentado manter a mesma posição social [filhos ou cônjuges], que detinha antes da necessidade dos alimentos, bem como compatível com a posição do alimentante. 35

Também chamados de alimentos côngruos, Cahali 36 a eles se refere ao mencionar que: entende-se o dever de ministrar comida, vestuário, habitação e demais recursos econômicos necessários, tomando-se em consideração

34

BRASIL, Código Civil Brasileiro, Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil _03/Leis/LCP/Lcp07.htm. Acesso em: 05 de Agosto de 2009.

35

CAHALI, Yussef Said. Dos Alimentos, p. 18.

36

CAHALI, Yussef Said. Dos Alimentos, p. 18.

(27)

a idade, condição social e demais circunstâncias pertinentes ao familiar em situação de necessidade.

Assim os alimentos naturais são os estritamente necessários para manutenção da vida, enquanto os civis serão mensurados em razão dos bens e condições do alimentante e da posição social ocupada pelo alimentado.

1.3.2 Quanto à causa jurídica

Quanto à causa jurídica os alimentos estão divididos em:

a) Legais ou legítimos, b) Voluntários e,

c) Indenizatórios.

Como legais ou legítimos temos os alimentos devidos em função de obrigação legal, decorrentes do direito de sangue, consequência da relação de parentesco, de natureza familiar, ou em decorrência do casamento ou companheirismo. Estão inseridos no direito de Família.

Já os alimentos voluntários, como o próprio nome diz, decorrem de declaração de vontade, como nas obrigações assumidas contratualmente por quem não tinha obrigação legal de pagar alimentos. Poderá ocorrer entre vivos ou como disposição de última vontade, neste caso manifestada em testamento, sob a forma de legado de alimentos, e previsto no C.C. no art.

1920. 37 Entre vivos pertencem ao direito das obrigações e os de disposição de última vontade pertencem ao direito das sucessões. 38

A aquisição do direito resulta de ato voluntário sempre que os sujeitos pretendem a criação de uma pretensão alimentícia; a obrigação assim estatuída pode sê-lo a benefício do próprio sujeito da relação jurídica ou a benefício de terceiro; se se pretende a constituição de um direito de alimento em favor de terceiro, o negócio toma a forma de ato a título gratuito quanto àquele que instituí o

37

BRASIL, Código Civil Brasileiro, Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/LCP /Lcp07.htm. Acesso em: 05 de Agosto de 2009.

38

GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro, Volume VI. São Paulo. Saraiva 2005. p

443.

(28)

benefício, com a outra parte assumindo o encargo de prestar alimentos ao terceiro necessitado, a qual se obrigou a socorrer; se, ao contrário, mediante ao ato jurídico, o necessitado visou constituir para si um direito alimentar, o ato jurídico, criador da obrigação de prestar, assume o caráter de ato jurídico oneroso. 39

Portanto poder-se-à assegurar sob forma jurídica uma renda vitalícia, como meio de subsistência, de forma onerosa ou gratuita; bem como através do usufruto, ou de constituição de um capital vinculado, oferecendo as partes as vantagens de uma maior segurança.

O art. 557, IV 40 do C.C., no capítulo sobre doações, prevê a revogação da doação por ingratidão, sempre que não sendo a doação remuneratória, o donatário não prestar alimentos ao doador, de que este venha a necessitar. Tal obrigação existe mesmo que não esteja estipulada no contrato de doação, ou de resultar de vínculo de família. Vale notar que é clausula implícita na doação. A obrigação alimentar do donatário deriva, portanto de lei, da relação jurídica existente entre as partes, e não de laços de parentesco. Segundo Cahali poderá ser convencional ou eventual.

Na obrigação convencional, desde que é licito criar, mediante negocio jurídico bilateral, a obrigação de prestar alimentos, assinala Orlando Gomes que a obrigação tanto pode ser o objeto principal do contrato como resultar de exigência legal quanto ao comportamento superveniente de uma das partes em relação à outra; esta última hipótese configura-se no contrato de doação: o donatário, não sendo a doação remuneratória, é obrigado a prestar ao doador os alimentos de que este venha a necessitar, pois se não cumprir essa obrigação, dará motivo à revogação da doação por ingratidão, a menos que não esteja em condições de ministrá-los [CC 2002, art. 557, IV]; entende- se que, embora a lei não estatua expressamente a obrigação do donatário de prestar alimentos ao doador, a referência indireta pela inclusão da recusa injustificada entre as causas de revogação da doação deve ser interpretada no sentido de que tal obrigação existe independente de ter sido estipulada no contrato ou resultar de vínculo familiar; tratar-se-ia, em suma, de cláusula implícita de todo contrato de doação. 41

Os alimentos indenizatórios são os resultantes da prática de um ato ilícito, o que ocorre quando o causador de um dano fica obrigado a fornecer

39

CAHALI,Yussef Said , Dos Alimentos, p. 20.

40

BRASIL, Código Civil Brasileiro, Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/

LCP/Lcp07.htm. Acesso em: 05 de Agosto de 2009.

41

CAHALI, Yussef Said. Dos Alimentos, p. 22.

(29)

alimentos a vítima ou a seus dependentes. Estão incluídos também no direito das obrigações, previstos nos arts. 948 42 , II e 950 43 do C.C. Os alimentos indenizatórios embora decorrentes da responsabilidade civil não perdem o caráter de urgência inadiável e de adimplemento imediato.

Embora exista consenso na doutrina e na jurisprudência no sentido de que a “prestação de alimentos às pessoas a quem o morto devia”, serve apenas como referência na fixação do dano decorrente do ato ilícito, não se confundindo com alimentos do Direito de Família. 44

O preceito constitucional que admite a prisão civil por dívida, nos casos de obrigação alimentar, dever ser interpretado de forma restritiva, não tendo aplicação analógica às hipóteses de prestação alimentar derivada de ato ilícito.

Mas há consenso no sentido de ser inadmissível a prisão civil por falta de pagamento de prestação alimentícia decorrente de ação de responsabilidade ex delito. A prisão civil por dívida como meio coercitivo para o cumprimento da obrigação alimentar é cabível somente no caso dos alimentos previstos no Direito de Família. 45 Admite-se, todavia, o desconto em folha de pagamento do alimentante para obrigação alimentar indenizatória.

1.4 CARACTERÍSTICAS DOS ALIMENTOS

1.4.1 Direito Personalíssimo

O direito a alimentos é personalíssimo, pois tem como objetivo assegurar a integridade física e preservar a vida daquele que necessita de auxilio para sobreviver. Nos dizeres de Maria Helena Diniz [...] tem por escopo tutelar a integridade física do indivíduo 46 .

42

BRASIL. Código Civil Brasileiro, Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/LCP /Lcp07.htm. Acesso em: 05 de Agosto de 2009.

43

BRASIL. Código Civil Brasileiro, Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis /LCP/Lcp07.htm. Acesso em: 05 de Agosto de 2009.

44

CAHALI, Yussef Said. Dos Alimentos, p. 24.

45

CAHALI,Yussef Said. Dos Alimentos, p. 25.

46

DINIZ, Helena. Direito Civil Brasileiro, p 540.

(30)

Portanto sua titularidade não pode ser passada para outro [art.

1707, CC 47 ] nem se sujeita a compensação [art. 373, II, CC 48 ], qualquer que seja a natureza da dívida que venha a lhe ser oposta. 49 Não podem os credores privar o alimentado dos recursos de que necessita para assegurar a própria sobrevivência, o que os torna impenhoráveis.

1.4.2 Direito Irrenunciável

Irrenunciabilidade está estabelecida no art. 404 50 do Código Civil: "Pode-se deixar de exercer, mas não se pode renunciar o direito a alimentos".

O legislador atribuiu interesse público à impossibilidade de abdicar desse direito.

Não é válida, portanto, a declaração de que o alimentado desiste de pleitear alimentos em face do alimentante. A obrigação é imposta pelo legislador por motivo de humanidade e necessidade. Por isso mesmo, não pode ser renunciado. Embora necessitado, pode o alimentado deixar de pedir alimentos, mas não se admite que renuncie tal direito.

Acerca do assunto, preleciona Yussef Said Cahali:

Na fundamentação do princípio, pretende-se que não se admite a renúncia porque predomina na relação o interesse público, o qual exige que a pessoa indigente seja sustentada e não consente que agravemos encargos das instituições de beneficência pública. 51 Entenda-se que a irrenunciabilidade ocorre em relação ao direito, não atingindo o seu exercício, portanto não se renuncia a alimentos futuros, podendo porém renunciar aos alimentos devidos e não prestados, tem-se assim a renúncia da faculdade de exercício e não a de gozo. 52

47

BRASIL. Código Civil Brasileiro. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/LCP/

Lcp07.htm. Acesso em: 05 de Agosto de 2009.

48

BRASIL. Código Civil Brasileiro. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/LCP/

Lcp07.htm. Acesso em: 05 de Agosto de 2009.

49

DIAS, Maria Berenice, Manual de Direito das Famílias. p. 461.

50

BRASIL. Código Civil Brasileiro. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/LCP /Lcp07.htm. Acesso em: 05 de Agosto de 2009.

51

CAHALI, Yussef Said. Dos Alimentos, p. 50.

52

CAHALI, Yussef Said. Dos Alimentos, p. 50.

(31)

1.4.3 Direito Intransmissível

Intransmissibilidade apresenta-se como decorrência natural do caráter personalíssimo dos alimentos, assim tanto o direito à alimentos como a obrigação do alimentante se extingue com a morte de um ou outro.

No caso da morte do credor de alimentos, sendo pessoal e intransferível o direito, fica simples o entendimento de que se não há a quem alimentar não há motivos para manter-se a obrigação.

[...] falecendo o devedor, não ficariam seus herdeiros obrigados a continuar a cumpri-la; desde que o devedor, estivesse adstrito ao seu cumprimento em razão de sua condição pessoal de cônjuge, ascendente, descendente, ou irmão, extinguindo-se aquela condição pessoal pela morte do prestante, do mesmo modo a obrigação desaparece, não se transmitindo aos herdeiros do devedor; em condições tais, falecido o alimentante, não poderia o alimentário reclamar que os suprimentos, daí em diante, lhes fossem feitos pelos herdeiros ou parentes do de cujus; falecendo a pessoa obrigada, a pretensão alimentícia contra seus sucessores somente poderia ser exercitada por direito próprio, ex novo, e desde que verificados, entre o necessitado e o herdeiro do alimentante, os pressupostos previstos em lei; é que os herdeiros do devedor somente poderiam ser compelidos a prestar alimentos àquela pessoa a quem ele os prestava, se encontrar-se ema vinculada a uma relação familiar a que a lei reconhece a obrigação, surgindo esta, portanto, para o novo obrigado, originariamente, e não na sua condição de herdeiro. 53 Ocorre, porém a transmissão, como preceitua o art. 1700 54 do C.C. que estabelece que “a obrigação de prestar alimentos transmite-se aos herdeiros do devedor” 55 até os limites do espólio, pois refere-se às pensões cujo direito já estava constituído à data do óbito do alimentante, não se transmite portanto a condição de alimentante. Tem-se por este norte que o alimentado, tratando-se de herdeiro, terá seu quinhão hereditário para garantir-lhe a sobrevivência, não sendo cabível, portanto onerar aos outros herdeiros com prestações futuras. 56

53

CAHALI,Yussef Said. Dos Alimentos, p. 54/55.

54

BRASIL, Código Civil Brasileiro. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/LCP/

Lcp07.htm. Acesso em: 05 de Agosto de 2009.

55

BRASIL, Código Civil Brasileiro. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/LCP/

Lcp07.htm. Acesso em: 05 de Agosto de 2009.

56

CAHALI,Yussef Said. Dos Alimentos, p. 54/55

(32)

Nos casos em que continue sem condições de prover a própria sobrevivência, deverá pleitear alimentos junto àqueles que estiverem em condições e tiverem a obrigação de os fornecer, invocando um direito próprio, originário e não como continuidade daquele. 57

1.4.4 Direito Impenhorável

O crédito alimentício tem a finalidade de garantir a subsistência da pessoa alimentada, que não conta com outros recursos para sobreviver, não podendo garantir suas necessidades com seu próprio trabalho. Em razão disso os valores destinados aos alimentos não podem responder pelas dívidas do alimentado, estando isentos da penhora.

Preceitua o art. 649, IV do CPC 58 :

Art. 649, IV São absolutamente impenhoráveis: [...] IV - os vencimentos, subsídios, soldos, salários, remunerações, proventos de aposentadoria, pensões, pecúlios e montepios; as quantias recebidas por liberalidade de terceiro e destinadas ao sustento do devedor e sua família, os ganhos de trabalhador autônomo e os honorários de profissional liberal, observado o disposto no § 3o deste artigo.

Ademais, a respeito do tema, o Tribunal de Justiça de Santa Catarina já julgou que :

AGRAVO DE INSTRUMENTO. EXECUÇÃO DE QUANTIA CERTA CONTRA DEVEDOR SOLVENTE. PENHORA VIA CONVÊNIO BACEN-JUD. COMPROVAÇÃO DE QUE PARTE DOS VALORES CONSTRITADOS POSSUEM NATUREZA ALIMENTAR.

INTELIGÊNCIA DO ART. 649, IV DO CPC. RECURSO CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO. "Somente será possível a PENHORA de valores, depositados em conta corrente do devedor, cuja origem não provenha de benefícios previdenciários ou não possua natureza alimentar. É possível a PENHORA da importância que originalmente era SALÁRIO, após o transcurso de 30 [dias], visto que ultrapassado o referido prazo, o caráter alimentar que tal verba possuía deixa de existir". 59

Logo, quando se tratar de crédito de natureza alimentar, tem-se

57

CAHALI,Yussef Said. Dos Alimentos, p. 54/55

58

BRASIL, Código de Processo Cvil. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/

L5869.htm. Acesso em: 02 de Maio de 2010.

59

BRASIL. Agravo de Instrumento n. 2009.043614-7, de Chapecó, Relator: Altamiro de Oliveira,

Órgão Julgador: Câmara Especial Regional de Chapecó, Data: 18/12/2009.

(33)

como excluída a exceção da impenhorabilidade absoluta dos vencimentos e proventos de aposentadoria.

1.4.5 Direito Incompensável

Conforme os art. 1707 do C.C. 60 , os valores que se destinam a alimentos não podem ser utilizados para compensação de obrigações, pois, ocorreria à privação do alimentando dos meios de sobrevivência. Portanto, se o devedor da pensão alimentícia for credor do alimentando por qualquer outra situação, não poderá se utilizar da compensação quando lhe for exigido o crédito alimentar. 61

Acerca disso, entende o doutrinador Yussef Said Cahali 62 que:

[…] nada impede que os valores pagos sejam computados nas prestações vincendas, operando-se a compensação dos créditos [...]. Aliás, a hipótese não é, a rigor, de compensação, mas de adiantamento a ser considerado nas prestações futuras.

Também, com relação as tema a jurisprudência não destoa:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. ALIMENTOS PROVISÓRIOS. I - VERBA FIXADA EM 30% DOS RENDIMENTOS DO RÉU.

EXISTÊNCIA DE FILHO ANTERIOR A QUEM PAGA PENSÃO DE 25% DE SEUS GANHOS. AUSÊNCIA DE JUSTIFICATIVA PARA A DIFERENCIAÇÃO OU DE INTENÇÃO DE REVISÃO DA OBRIGAÇÃO ANTERIOR. EQUIPARAÇÃO DAS VERBAS EM 25%.

MEDIDA NECESSÁRIA. PRINCÍPIO DA IGUALDADE ENTRE OS FILHOS. II - DESCONTOS ANTERIORES À CITAÇÃO.

COMPENSAÇÃO OU REPETIÇÃO. IMPOSSIBILIDADE.

ALIMENTOS DEVIDOS DESDE A FIXAÇÃO. III - 13º SALÁRIO.

VERBA REMUNERATÓRIA. INCIDÊNCIA. IV - LITIGÂNCIA DE MÁ- FÉ. TENTATIVA DE INDUÇÃO EM ERRO NÃO CARACTERIZADA.

PENA AFASTADA. V - RECURSO PROVIDO PARCIALMENTE.[...]

II - A teor do art. 4º da Lei n. 5.478/66, os ALIMENTOS provisórios são devidos desde a fixação, não podendo se falar na devolução dos descontos efetivados antes da citação, sobretudo em razão da

60

BRASIL, Código Civil Brasileiro. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis /LCP/Lcp07.htm. Acesso em: 05 de Agosto de 2009.

61

CAHALI, Yussef Said. Dos Alimentos, p. 89.

62

CAHALI, Yussef Said. Dos Alimentos, p. 89.

(34)

irrepetibilidade e INCOMPENSABILIDADE da verba alimentar e sua natureza emergencial. [...] 63

Há que se observar, que em alguns casos a alegada compensação trata na verdade de adiantamento feito pelo alimentante, em razão de necessidade ou satisfação de interesse do alimentado. Neste caso, a doutrina admite, nas ações de alimentos, a compensação 64 .

1.4.6 Direito Intransacionável

O direito à alimentos não poderá ser objeto de transação. Tal afirmativa se fundamenta na premissa de ser um direito personalíssimo e indisponível. Porém o quantum das prestações vencidas e vincendas é transacionável 65 .

Importante ressaltar que a transação realizada nos autos de alimentos, constituí título judicial.

1.4.7 Direito Imprescritível

O alimentando, persistindo a necessidade e os requisitos que ensejam a ação de alimentos poderá, a qualquer tempo, pleitear os recursos indispensáveis a sua subsistência. Isso se da devido ao caráter imprescritível do alimento. O mesmo não se pode afirmar quanto as prestações vencidas, pois conforme o C.C. art. 206 § 2º 66 prescreve em dois anos “a pretensão para haver prestações alimentares, a partir da data em que se venceram”.

Portanto se o credor não executar dividas alimentares atrasadas, deixando escoar o biênio, não mais poderá exigi-las, visto, por mais de dois anos, delas não precisou para prover sua subsistência. 67

63

BRASIL. Agravo de Instrumento n. 2008.049352-2, de Timbó, Tribunal de Justiça de Santa Catarina, Relator: Henry Petry Junior, Órgão Julgador: Terceira, Câmara de Direito Civil, Data:

27/02/2009.

64

CAHALI, Yussef Said , Dos Alimentos, p. 89.

65

DINIZ, Helena. Direito Civil Brasileiro, p 540.

66

BRASIL, Código Civil Brasileiro. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/LCP /Lcp07.htm. Acesso em: 05 de Agosto de 2009.

67

DINIZ, Helena. Direito Civil Brasileiro, p 546.

(35)

O lapso prescricional incide sobre as prestações vencidas e não honradas pelo alimentante, extinguindo a possibilidade de executá-las em função da inércia do exequente. Não há ocorrência da prescrição quanto ao direito de pleitear alimentos quando estes se fazem necessários.

1.5 ALIMENTOS PROVISÓRIOS E PROVISIONAIS.

1.5.1 Dos Alimentos Provisórios

São os alimentos fixados de plano na ação de alimentos, tratando-se de medida liminar antecipatória, quando houver prova do parentesco.

Uma vez apresentadas as provas e sendo solicitado, o juiz fixará os alimentos provisórios.

Os alimentos possuem natureza antecipatória porque visam garantir a manutenção da vida na pendência da lide, devendo serem pagos até a decisão, inclusive no caso de recurso.

Nos ensinamentos de Carlos Roberto Gonçalves, 68 os alimentos provisórios são os fixados em caráter liminar, sendo estipulado no despacho inicial, proferido na ação de alimentos, de rito especial estabelecido pela Lei nº 5.478/68- Lei de Alimentos.

Para fixação dos alimentos provisórios o juiz observará os elementos fornecidos nos autos, de modo a fixar os valores em dados seguros quanto a situação econômica e financeira do alimentante, evitando assim de levá-lo ao inadimplemento da obrigação imposta.

1.5.2 Dos Alimentos Provisionais

Alimentos provisionais são aqueles concedidos provisoriamente, antes ou durante a ação principal. São chamados de ad litem ou expensa litis por serem concedidos também para atenderem as despesas processuais.

68

GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro, p 444.

(36)

Sobre os alimentos provisionais ensina Rodrigues:

Alimentos provisionais, também chamados ad litem, são constituídos por prestação reclamada por um dos litigantes contra outro, como preliminar em medida cautelar [incidente ou antecedente] nas ações de separação judicial, de divórcio, de anulação ou nulidade de casamento, de investigação de paternidade e de alimentos. Tais alimentos destinam-se a custear o feito e a mantença do alimentário, durante a demanda. 69

Os alimentos provisionais estão vinculados ao objeto da própria demanda e tem por objetivo a preservação temporal de assistência, concessão sua não antecipa os efeitos da decisão definitiva da ação. Visa também satisfazer o caráter de urgência dos alimentos, protegendo a parte da demora processual.

Dando continuidade no assunto, será analisado no próximo capítulo a evolução histórica dos alimentos, as obrigações advindas da lei, do compromisso com o companheiro e familiares.

69

RODRIGUES, Silvio, Direito Civil. Direito de Família. São Paulo. Saraiva, 2005. v. 6.p 391.

(37)

EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA OBRIGAÇÃO DE ALIMENTAR

2.1 A OBRIGAÇÃO DE PRESTAR ALIMENTOS

O Direito Romano conheceu a obrigação alimentar baseada em causas diversas, quais sejam: na convenção; no testamento; na relação familiar; na relação de patronato e na tutela. 70

Primariamente, foi à obrigação alimentar celebrada entre a clientela e o patrono sendo que apenas mais tarde, foi aplicada nas relações familiares. 71

O código civil de 1916, com o intuito de proteger a família, previa que o reconhecimento da paternidade só cabia aos filhos legítimos, isto é, aqueles concebidos na união do casal que vivia em matrimônio, o restante eram considerados bastardos, e não tinham direito de nada 72 .

Quer dizer que antes de 2003, um passado recente, uma criança não tinha o direito do reconhecimento paterno, e somente teria seu direito adquirido após da vigência do Código Civil de 2002 73 , atual.

O poder familiar, como o poder pátrio era exercido somente pelo homem. O varão era considerado o chefe da família. Era ele que provia o sustento do grupo com quem vivia 74 .

70

CAHALI, Yussef Said. Dos Alimentos. p. 41.

71

CAHALI, Yussef Said. Dos Alimentos. p. 41.

72

DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 5. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo:

Editora Revista dos Tribunais, 2009. p. 455.

73

BRASIL, Código Civil Brasileiro. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/LCP/

Lcp07 .htm. Acesso em: 05 de Agosto de 2009.

74

DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. p. 455.

(38)

A doutrina romana demorou a admitir esta obrigação em sua esfera familiar em virtude de sua estrutura familiar ser fincada na figura do pater famílias, o qual detinha sob sua condução todos os demais membros da família, não admitindo o reconhecimento dessa obrigação. Tais dependentes não poderiam exercitar contra o pater nenhuma pretensão de caráter patrimonial. 75

Não há uma precisão histórica no que concerne ao momento em que a noção de alimentos passou a ser conhecida. As obrigações alimentícias baseada nas relações familiares não tinham força e sequer eram mencionadas nos primeiros momentos da legislação romana. Pode-se afirmar que essa omissão seria um reflexo da própria constituição da família romana. Isto porque a relação de alimentos entre o vínculo familiar não teria sentido algum. 76

Com relação à obrigação alimentar decorrente do casamento, Maria Berenice Dias 77 afirma:

Era idêntico o perfil conservador e patriarcal da família. Apesar de o código atribuir a ambos os cônjuges o dever de mútua assistência, existia somente a obrigação alimentar do marido em favor da mulher inocente e pobre.

Este entendimento referia-se ao que estipulava o Código Civil de 1916, porém, atualmente, quaisquer dos cônjuges possuem obrigações recíprocas com o outro. 78

O único vínculo existente entre os integrantes de uma relação familiar era o vínculo derivado do pátrio poder. O pater familias concentrava em suas mãos todos os direitos, sem que qualquer obrigação os vinculasse aos seus dependentes. Tais dependentes não poderiam exercitar contra o titular da patria potestas nenhuma pretensão de caráter patrimonial, como a derivada de alimentos.

Neste caso, pode-se afirmar que a recíproca é verdadeira, pois o pai também não tinha o direito de buscar os alimentos em relação aos filhos. 79

75

CAHALI, Yussef Said. Dos Alimentos. p. 41.

76

CAHALI, Yussef Said. Dos Alimentos. p. 41.

77

DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. p. 455.

78

DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. p. 455.

79

CAHALI, Yussef Said. Dos Alimentos. p. 41.

(39)

O poder familiar era exercido pelo homem, no qual era a cabeça do casal, o chefe da sociedade conjugal. Era somente dele o dever de alimentar e sustentar a sua prole. 80

Não existe uma linha determinando o início, ou momento histórico na medida do reconhecimento da obrigação em oferecer alimentos no contexto familiar. Aquilo que era simplesmente um dever moral, em uma transformação histórica, acabou tornando-se uma obrigação jurídica. 81

A obrigação alimentar, em sua própria disciplina, representa o ponto de partida da sucessiva e ampla reelaboração do instituto, de que resulta a determinação no círculo da obrigação alimentar no âmbito do poder familiar, compreendendo-se aos cônjuges, ascendentes, descendentes, irmãos e irmãs. 82

Nesse sentido, o Código Civil Brasileiro 83 , atual, disciplina:

Art. 1.694. Podem os parentes, os cônjuges ou companheiros pedir uns aos outros os alimentos de que necessitem para viver de modo compatível com a sua condição social, inclusive para atender às necessidades de sua educação.

§ 1o Os alimentos devem ser fixados na proporção das necessidades do reclamante e dos recursos da pessoa obrigada.

§ 2o Os alimentos serão apenas os indispensáveis à subsistência, quando a situação de necessidade resultar de culpa de quem os pleiteia.

É notória a previsão legal estabelecida pelo poder Legislativo e Judiciário, no entanto, numa trajetória histórica evolutiva, focando a análise no período inicial da colonização brasileira, podemos dizer que o texto mais expressivo sobre a obrigação alimentar apareceu nas Ordenações Filipinas, no Livro 1, Tít.

LXXXVIII, 15. 84

80

DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. p. 455.

81

CAHALI, Yussef Said. Dos Alimentos. p. 42.

82

CAHALI, Yussef Said. Dos Alimentos. p. 44.

83

BRASIL, Código Civil Brasileiro, Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/LCP/

Lcp07.htm. Acesso em: 05 de Agosto de 2009.

84

CAHALI, Yussef Said. Dos Alimentos. p. 45.

(40)

O dever de solidariedade, a pietatis causa (por causa da piedade) foi o que deu origem a obrigação alimentar, desde que para com os notadamente necessitados. 85

O parentesco existente entre os membros de uma família no direito romano era baseado no poder existente do paterfamilias, sobre os membros da família.

A partir do momento em que o vínculo sangüíneo e o familiar tornaram-se essenciais, nasceu o fortalecimento da obrigação alimentar entre parentes. Inicialmente tal dever era destinado ao parentesco em linha reta, entre ascendentes e descendentes, o que após foi abrangida pela colateral, sendo portanto obrigados também os irmãos e os cônjuges.

Embora se tratar-se de uma proteção relacionada a órfãos, Yussef Said Cahali traz a indicação dos elementos que comporiam a obrigação.

Se alguns órfãos forem filhos de tais pessoas, que não devam ser dados por soldados, o juiz lhes ordenará o que lhes necessário for para seu mantimento, vestido e calçado, e tudo mais em cada um ano. E mandará escrever no inventário, para se levar em conta a seu tutor, ou Curador. e mandará ensinar a ler e escrever aqueles, que forem para isso, até a idade de 12 anos. E daí em diante lhes ordenará sua vida e ensino, segundo a qualidade de pessoas e fazenda. 86

O Assento de 09.04.1772, que adquiriu força e autoridade de lei por meio do Alvará de 29.08.1776, foi considerado o documento mais importante que disciplinava a obrigação alimentar. Dispunha “ser dever de cada um alimentar e sustentar a si mesmo”. Porém, também apresentava algumas exceções, como por exemplo, nos casos de irmãos, primos e consanguíneos legítimos e ilegítimos. 87

No decorrer dos anos, diante de uma evolução histórica e jurídica, foram surgindo no ordenamento brasileiro inúmeras leis disciplinando o

85

NEVES, Márcia Cristina Ananias. Vademecum do direito de família, 5.ed. São Paulo: Jurídica Brasileira, 1997. p.398.

86

CAHALI, Yussef Said. Dos Alimentos. p. 45.

87

CAHALI, Yussef Said. Dos Alimentos. p. 46.

Referências

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