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O princípio da irrepetibilidade tem uma característica muito

especial, uma vez pagos alimentos estes não podem ser devolvidos. Este princípio

não está descrito na lei, porém é uma construção doutrinária e jurisprudencial com

base na presunção de que alimentos são para manutenção da vida e não há como

devolvê-los. Somente se a pessoa agir de má-fé, pode ser aplicado uma pena de

devolução de alimentos.

Na doutrina, é o entendimento de Yussef Said Cahali:

Ocorrendo a redução da pensão pela sentença definitiva, o melhor

entendimento orienta-se no sentido de que, uma vez reduzida a

pensão provisional [cautelar ou provisória], a redução prevalece

desde a data da sentença contra a qual houve apelação com efeito

apenas devolutivo: como os alimentos provisoriamente fixados

podem ser revistos a qualquer tempo e como "em qualquer caso, os

alimentos fixados retroagem à data da citação" [art. 13, §§ 1º e 2º, da

Lei 5.478/68], também aqui a sentença opera substituição ex tunc

dos alimentos provisionais ou provisórios pelos definitivos,

ressalvada apenas a irrepetibilidade daquilo que já tiver sido pago

pelo devedor, segundo os princípios gerais da obrigação alimentar.

161

E continua:

"O art. 13, § 2º, da Lei 5.478/68 pôs termo à controvérsia: o disposto

nesta lei aplica-se à revisão de sentenças proferidas em pedidos de

alimentos, sendo que, "em qualquer caso, os alimentos fixados

retroagem à data da citação".162

No entendimento do STF, "nas ações de revisão, os alimentos

retroagem à data da citação" [RTJ 90/197]; o que é de tranquila aceitação.

161 CAHALI, Yussef Said. Dos alimentos. 4. ed. São Paulo: RT, 2002, p. 873.

Quando acontece do alimento ser fixado em valor inferior dos

alimentos provisionais, retroagirão à data da citação, ressalvadas as possíveis

prestações já quitadas em virtude da irrepetibilidade daquilo que já foi pago,

conforme entendimento do Tribunal de justiça de Santa Catarina.163

No mesmo norte, Belmiro Pedro Welter discorre:

O termo inicial de qualquer pensão, judicialmente estabelecida, é

fixado pela Lei n. 5.478/68, art. 13, § 2º, cujos dizeres são claros: Em

qualquer caso, os alimentos fixados retroagem à data da citação. [...]

E quando os alimentos provisórios ou provisionais não tiverem sido

fixados liminarmente, e sim no decorrer do processo, serão devidos a

contar da data de intimação do advogado, mas, procedente a ação,

os alimentos definitivos retroagirão a data da citação. 164

Em qualquer circunstância, seja reduzida, majorada ou

efetivamente suprimida a pensão alimentícia, a decisão retroagirá à data da citação,

a teor do art. 13, § 2º, da Lei de Alimentos n.º 5.478/68, restando inalterado,

contudo, a irrepetibilidade daquilo que já foi pago. 165

E não é diferente quanto à jurisprudência:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. EXECUÇÃO DE ALIMENTOS.

EXONERAÇÃO DA OBRIGAÇÃO DE PRESTAÇÃO ALIMENTÍCIA.

DECISÃO TRANSITADA EM JULGADO. RETROAÇÃO DOS

EFEITOS À DATA DA CITAÇÃO DA ALIMENTANDA NA AÇÃO

EXONERATÓRIA. EXEGESE DO ART. 13, §2º, DA LEI N. 5.478/68.

DECISÃO REFORMADA. RECURSO PROVIDO. "[...] Em qualquer

circunstância, seja reduzida, majorada ou efetivamente suprimida a

pensão alimentícia, a decisão retroagirá à data da citação da

revisional, a teor do art. 13, § 2º, da Lei de Alimentos ¿? LA [n.º

5.478/68], remanescendo incólume, contudo, a irrepetibilidade

daquilo que já foi pago. [...]"166

163 BRASIL. STJ. Recurso Especial 209.098/RJ, relª Minª NANCY ANDRIGHI. Órgão julgador:

Terceira Turma. Julgado em 14.12.2004.

164 WELTER, Belmiro Pedro. Alimentos no Código Civil. Porto Alegre: Síntese, 2003, p. 117.

165 BRASIL. STJ. Recurso Especial. n. 967.168/SP. rel: Min. NANCY ANDRIGHI. j.em 13.5.2008] [AI

n. 2008.056657-1, de Criciúma, Rel. Des. Henry Petry Junior, j. Em 11/11/2008.

166BRASIL. STJ. Recurso Especial. n. 967.168/SP. rel: Min. NANCY ANDRIGHI. j.em 13.5.2008] [AI

n. 2008.056657-1, de Criciúma, Rel. Des. Henry Petry Junior, j. Em 11/11/2008.

Nesta fase deste estudo, é importante discorrer sobre os

efeitos em que as apelações serão recebidas quando interpostas contra as

sentenças proferidas pelo juiz ad quo.

Quanto ao efeito que será recebido a apelação sobre a decisão

de prestação alimentícia Nelson Nery Junior e Rosa Maria Andrade Nery167

disciplinam que será recebida somente no efeito devolutivo, possibilitando a parte

alimentada dar continuidade a execução da prestação de alimentos, conforme

entendimento abaixo descrito.

Ademais, no entendimento de Nelson Nery Junior e Rosa Maria

Andrade Nery168

É recebida somente no efeito devolutivo, produzindo efeitos desde

logo, a apelação da sentença condenatória proferida em ação de

alimentos, quer seja para fixá-los, diminuí-los ou majorá-los.

É importante a análise do efeito que a decisão poderá ser

recebida pelo Tribunal ad quem, isto porque, se o processo for recebido no efeito

suspensivo, impediria que o alimentado continuasse a execução sobre o valor

devido pelo alimentante, desta forma, mesmo que estejam discutido a devolução dos

valores pagos, a mais, em relação aos alimentos devidos, este recurso não impedirá

a continuidade da execução da prestação alimentícia devida. 169

Outra situação em que será encontrado o princípio da

irrepetibilidade dos alimentos é na tentativa da interposição de uma Ação de

Prestação de Contas por parte do alimentante em desfavor do genitor[a] do

alimentado, conforme abaixo descrito.

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE PRESTAÇÃO DE CONTAS.

ALIMENTOS. ADMINISTRAÇÃO DA VERBA PELA GENITORA,

DETENTORA DA GUARDA DOS ALIMENTADOS. AÇÃO

PROPOSTA PELO ALIMENTANTE. ILEGITIMIDADE ATIVA E

167NERY JUNIOR, Nelson; NERY, Rosa Maria Andrade. Código de Processo CivilComentado. 8.

ed. São Paulo: RT, 2004. p. 980

168NERY JUNIOR, Nelson; NERY, Rosa Maria Andrade. Código de Processo Civil Comentado p.

980

169NERY JUNIOR, Nelson; NERY, Rosa Maria Andrade. Código de Processo Civil Comentado p.

980

FALTA DE INTERESSE DE AGIR. EXEGESE DO ART. 914 E

SEGUINTES DO CPC. PROCESSO EXTINTO, SEM JULGAMENTO

DE MÉRITO [ART. 267, VI, DO CPC]. SENTENÇA REFORMADA.

RECURSO PROVIDO.

O alimentante não possui legitimidade ativa para propor ação de

prestação de contas contra a mãe dos alimentados, administradora

dos alimentos. Somente os beneficiários da verba podem, em tese,

requerê-la, a teor do disposto no art. 914 e seguintes do CPC.

"Aquele que presta alimentos não detém interesse processual para

ajuizar ação de prestação de contas em face da mãe da alimentada,

porquanto ausente a utilidade do provimento jurisdicional invocado,

notadamente porque quaisquer valores que sejam porventura

apurados em favor do alimentante, estarão cobertos pelo manto do

princípio da irrepetibilidade dos alimentos já pagos". 170

Assim, aquele que presta alimentos não detém interesse

processual para ajuizar ação de prestação de contas em face do[a] genitor[a] do

alimentado, porque quaisquer valores que sejam porventura apurados em favor do

alimentante, estarão cobertos pelo manto do princípio da irrepetibilidade dos

alimentos já pagos. Porém, o beneficiário, neste caso o alimentado, tem o direito de

buscar a tutela jurisdicional no sentido de apurar como estão sendo aplicados os

valores recebidos e administrados por seu guardião , nesta situação, sua genitora.

3.3 A IRREPETIBILIDADE DOS ALIMENTOS PARA CÔNJUGE E

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