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PARTE I – PROJETO EDUCATIVO

5. IMPLEMENTAÇÃO DO PROJETO

5.2.1. Observação e Interação na 1ª Fase do Projeto

Na primeira fase do projeto, apesar de ter tentado interagir com estas três crianças, tornava-se muito difícil pela quantidade de participantes, dar-lhes a devida atenção.

Desta forma, irei descrever cada um deles segundo as minhas observações e interações na primeira fase do projeto.

O Azul tem 4 anos e é um menino de etnia cigana que tem um atraso na

fala.

“(…) parece um desenho animado a falar, pois exprime-se muito através de sons e expressões faciais e corporais.” (DB 13 de fevereiro).

“Desde o início que estabeleci uma boa relação com ele, como muitas vezes não percebo o que ele diz, comecei a perguntar se ele estava bem com o gesto de “fixe”, e ele sempre me responde com outro “fixe”.” (DB, 13 de fevereiro).

O facto de pertencer à etnia cigana pode explicar a dificuldade da comunicação em português, pois muitas vezes usava palavras em caló (dialeto da etnia cigana na Península Ibérica).

Reparei desde cedo que era uma criança muito alegre, amorosa e com bastante energia, que acabava por realizar as atividades imitando os outros, pois não compreendia bem a finalidade das mesmas.

O Dourado também tem 4 anos de idade e tem problemas auditivos graves, e, portanto, a sua comunicação verbal é praticamente nula. Pelo que me foi dito pela educadora, ele foi operado, semanas antes do início do projeto, para que lhe colocassem um implante auditivo num dos ouvidos, tendo começado a ouvir com a ajuda de um aparelho auditivo.

Verifiquei desde cedo que se entusiasmava com sons fortes e tentava comunicar gritando diferentes sons e onomatopeias. A primeira experiência que ele teve ao ouvir o som do saxofone foi relatada por mim no diário de bordo:

“Quando comecei a tocar saxofone ele ficou completamente imobilizado, pois, penso que conseguia ouvir perfeitamente o som forte deste instrumento e provavelmente nunca tinha ouvido nada assim. Fui tocar para a frente dele e reparei que estava com um certo medo. Peguei na sua mão e coloquei-a na campânula, para que pudesse sentir as vibrações, pois não sabia ao certo se ele estava a ouvir, e assim podia sentir. Tive de tocar uma nota grave, pois só assim a campânula vibra. Desta forma, ele assustou-se e começou a chorar (…)” (DB, 21 de janeiro).

Tentei sempre em todas as sessões guardar um tempo para brincar e interagir com ele usando sons vocais, pois o saxofone ainda era um instrumento de que ele tinha medo, apesar de ficar muito atento e surpreendido sempre que eu tocava.

Interagia com ele a brincar aos “carrinhos” ou a desenhar rabiscos, imitando muitas vezes aquilo que ele fazia fisicamente, assim como os sons vocais que reproduzia.

“(…) estava a brincar com os carrinhos no tapete, e comecei a brincar com ele também, imitando alguns gestos e sons que ele fazia. Ele ficou muito contente com a minha interação.” (DB, 11 de fevereiro)

“(…) estivemos a rabiscar numa folha. Eu ia imitando o que ele fazia, mas também tentava que ele me imitasse a mim, por exemplo: fazia só pontinhos ou só traços, e quando ele começava a fazer linhas eu seguia com o meu lápis atrás do dele. Penso que conseguimos comunicar bem um com o outro desta forma, e para além disso criamos proximidade (…)” (DB, 13 de fevereiro)

A ligação que estabelecemos foi, desde cedo, muito forte, prova disso era ele sentir-se feliz com a minha presença e ser muito afetivo, vindo abraçar- me no início e no fim das sessões. Assim como quando fazíamos atividades sentados no tapete, ele vinha sempre sentar-se ao meu colo.

“O Dourado tem sempre um lugar fixo onde se costuma sentar, mas ao ver-me (…) foi sentar-se ao meu colo todo contente.” (DB, 18 de fevereiro).

Por vezes foi muito difícil incluir o Dourado nas atividades que realizávamos em grupo. Porém, numa dessas vezes em que estávamos todos sentados no tapete, ele:

“(…) começou a bater com os pés no chão e eu pedi aos colegas que o imitassem. Para mim, este foi o ponto alto desta sessão, ver a alegria dele ao perceber que toda a gente o estava a imitar, fiquei logo mais animada. Ele começou a tentar falar de tão feliz que estava, berrando muito alto e agudo. Também suspirou e fez sons estranhos, fomos sempre imitando tudo o que ele fazia com os pés, as mãos, a boca e até mesmo quando ele se levantava. Foi um momento muito bonito, que me encheu de alegria por ver que todas as crianças se estavam a divertir e que o Dourado podia fazer parte fundamental deste projeto, pois por vezes cheguei a sentir-me culpada por não estar a conseguir integrar bem o Dourado nas brincadeiras que fazíamos.” (DB, 18 de fevereiro).

Por fim, o Laranja, com 6 anos, é um menino de etnia cigana que não fala, apenas “diz” sim e não com a cabeça. Foi-me dito pela educadora que tinha entrado para a turma há pouco tempo e que em casa falava normalmente. Pelo que observei nas sessões da primeira fase, é um menino muito atento, envergonhado e desconfiado, além de não falar também não quis participar nas atividades das primeiras três sessões.

Penso que fui conquistando a sua confiança ao longo das sessões, mas, ainda assim, quando me dirigia a ele, mostrava-se envergonhado.

“O Laranja começou a participar nas atividades, mostrando um sorriso constante ao longo de toda a sessão. Ainda assim, continua sem falar e sem reproduzir qualquer som vocal.” (DB, 11 de fevereiro).

Mesmo que entenda tudo o que lhe é dito, não se sabe ao certo se fala corretamente português.

No fim da sétima sessão eu e o professor ficamos um pouco mais tempo com estes três meninos. O Azul pôde brincar mais um pouco com o “saxofone mágico”, brinquei às escondidas com o Dourado enquanto reproduzia sons com o saxofone, e também consegui aproximar-me do Laranja tocando saxofone encostado ao seu corpo. Desta forma, conseguimos perceber o quão interessante seria se eu continuasse as sessões apenas com eles os três, tentando criar e desenvolver métodos de comunicação que se adaptassem melhor a cada um deles. E assim o fiz.