• Nenhum resultado encontrado

Obtemos assim a taxa de lucro % = em contraste com a taxa de mais-valia

A taxa de mais-valia medida segundo capital variável se denomina taxa de mais- valia; a taxa de mais-valia medida segundo o capital global se denomina taxa de lucro. São duas medições diferentes da mesma grandeza que, devido ã diversidade das escalas, expressam ao mesmo tempo proporções ou relações diferentes da mesma

grandeza.

Da transformação da taxa de mais-valia em taxa de lucro deve-se derivar a trans- formação da mais-valia em lucro, e não o contrário. E, de fato, a taxa de lucro é de onde historicamente se partiu. Mais-valia e taxa de mais-valia são, zem termos

relativos, o invisível e o essencial a ser pesquisado, enquanto a taxa de lucro e, por-

tanto, a forma da mais-valia como lucro se mostram na superfície dos fenômenos. No que tange ao capitalista individual, está claro que a única coisa que lhe inte- ressa é a relação entre a mais-valia, ou o excedente do valor pelo qual ele vende suas mercadorias, e o capital global adiantado para a produção da mercadoria; a relação determinada e a conexão intrínseca desse excedente com os componentes específicos do capital não só não lhe interessam, mas é de seu interesse tornar ne- bulosa essa relação determinada e essa conexão intrínseca.

Embora o excedente do valor da mercadoria sobre seu preço de custo seja ge- rado no processo de produção direto, ele só se realiza no processo de circulação, e tanto mais facilmente ganha a aparência de se originar no processo de circulação

quanto na realidade, dentro da concorrência, no mercado real, depende de rela- ções de mercado se esse excedente é realizado ou não e em que grau. Dispensa uma discussão específica aqui o fato de que, se uma mercadoria é vendida acima ou abaixo de seu valor, só ocorre outra repartição da mais-valia, e essa repartição diferente, essa proporção alterada em que diferentes pessoas repartem ente si a mais- valia, em nada altera a grandeza ou a natureza da mais-valia. No processo de circu- lação efetivo não apenas ocorrem as tranformações que examinamos no Livro Se- gundo, mas elas coincidem com a concorrência real, com a compra e venda das mercadorias acima ou abaixo de seu valor, de modo que, para o capitalista indivi- dual, a mais-valia realizada por ele mesmo depende tanto da luta recíproca por van- tagens quanto da exploração direta do trabalho.

A TAXA DE LUCRO 35

No processo de circulação surge ao lado do tempo de trablho o tempo de circu- lação como fator que limita a massa de mais-valia realizável em determinado inter- valo de tempo. Ainda outros momentos, originários da circulação, intervém decisivamente no processo de produção direto. Ambos, o processo de produção direto e o processo de circulação, se entrecruzam e interpenetram constantemente e, assim, falsificam constantemente os marcos característicos que os distinguem. A produção de mais-valia, bem como a do valor de modo geral, ganha, como mos- trado anteriormente, novas determinações no processo de circulação; o capital per- corre o círculo .de suas tranformações; por fim, ele passa, por assim dizer, de sua vida orgânica interior para relações vitais exteriores, para relações nas quais se de- frontam não capital e trabalho, mas, por um lado, capital e capital e, por outro, os indivíduos novamente como simples comprador e vendedor; tempo de circulação e tempo de trabalho se entrecruzam em seu curso e, assim, ambos parecem deter- minar por igual a mais-valia; a forma original, em que capital e trabalho assalariado se defrontam, é disfarçada pela intromissão de relações aparentemente independentes dela; a própria mais-valia não aparece como produto da apropriação de tempo de trabalho, mas como excedente do preço de venda das mercadorias sobre seu preço de custo e por isso este último facilmente se apresenta como seu verdadeiro valor valeur intrinsêque!, de modo que o lucro aparece como excedente do preço de

venda das mercadorias acima de seu valor imanente.

Apesar de tudo, durante o processo de produção direto, a natureza da mais- valia entra continuamente na consciência do capitalista, como sua avidez por tempo de trabalho alheio já nos mostrou, ao examinarmos a mais-valia. Só que: 1! O pró- prio processo de produção direto é apenas um momento evanescente, que passa constantemente para o processo de circulação, assim como este passa para aquele, de modo que a noção mais clara ou mais obscura, despertada no processo de pro- dução, quanto ã fonte do ganho nele efetuado, ou seja, quanto ã natureza da mais- valia, no máximo aparece como um momento de igual direito ao lado da concep- ção de que o excedente realizado proviria do movimento independente do proces- so de produção, originário da própria circulação, portanto de um movimento pertencente ao capital, independentemente de sua relação com o trabalho. Esses fenômenos da circulação citados, até mesmo por economistas modernos como Ram- say, Malthus, Senior, Torrens etc., diretamente como provas de que o capital, em sua mera existência material, independentemente da relação social com o trabalho - dentro da qual precisamente ele é capital -, seria uma fonte autônoma de mais- valia, ao lado do trabalho e independentemente do trabalho. 2! Sob a rubrica dos custos, na qual cai o salário tanto quanto o preço de matérias-primas, depreciação da maquinaria etc., a extorsão de trabalho não-pago aparece apenas como econo- mia no pagamento de um dos artigos que entram nos custos, apenas como paga- mento menor por determinado quantum de trabalho; exatamente como também se economiza quando a matéria-prima é comprada mais barato ou se reduz a de- preciação da maquinaria. Assim, a extorsão de mais-trabalho perde seu caráter es- pecífico; sua relação específica com a mais-valia é obscurecida; e, como foi mostra- do no Livro Primeiro, Seção Vl,2` isso é fomentado e felicitado pela representação do valor da força de trabalho na forma de salário.

Pelo fato de que todas as partes do capital aparecem igualmente como fontes de valor excedente lucro!, a relação-capital é mistificada.

A maneira pela qual, mediante a transição pela taxa de lucro, a mais-valia é

transformada na forma de lucro é, no entanto, apenas o desenvolvimento ulterior

da inversão que já ocorria durante o processo de produção, de sujeito e objeto. Já

36 TRANSFORMAÇÃO DA MAIS-VALIA E DA TAXA DE MAIS-VALIA EM TAXA DE LUCRO

tínhamos visto aqui como todas as forças produtivas subjetivas do trabalho se apre- sentam como forças produtivas do capital.3` Por um lado, o valor, o trabalho pas- sado que domina o trabalho vivo, é personificado no capitalista; por outro, o trabalhador aparece, inversamente, como mera força de trabalho objetiva, como mer- cadoria. Dessa relação às avessas se origina necessariamente, mesmo já na própria relação de produção simples, a correspondente concepção às avessas, uma cons- ciência transposta, que é ainda mais desenvolvida pelas transformações e modifica- ções do processo de circulação propriamente dito.

Como se pode verificar na escola ricardiana, é uma tentativa completamente errônea querer apresentar as leis da taxa de lucro diretamente como leis da taxa de mais-valia ou vice-versa. Na cabeça do capitalista elas naturalmente não se dis- tinguem. Na expressão m/ C , a mais-valia é medida segundo o valor do capital glo- bal que foi adiantado para sua produção e que, nessa produção, foi em parte totalmente consumido, em parte apenas aplicado. De fato, a relação m/ C expressa o grau de valorização de todo o capital adiantado, isto é, considerando-o de acordo

com a conexão conceitual intrínseca e com a natureza da mais-valia, ela mostra co-

mo a grandeza da variação do capital variável se relaciona com a grandeza do capi- tal global adiantado.

A gradeza de valor do capital globa não está, em si e para si, em nenhuma rela- ção intrínseca com a grandeza da mais-valia, ao menos não diretamente. De acordo com seus elementos materiais, o capital global menos o capital variável, portanto o capital constante, consiste nas condições materiais para a realização do trabalho: meios de trabalho e material de trabalho. Para que determinado quantum de traba- lho se realize em mercadorias e, portanto, também forme valor, é exigido determi- nado quantum de material de trabalho e de meios de trabalho. Conforme o caráter específico do trabalho agregado, tem lugar determinada relação técnica entre a massa de trabalho e a massa de meios de produção, aos quais esse trabalho vivo deve ser agregado. Nessa medida tem lugar, portanto, também uma relação determinada entre a massa de mais-valia ou de mais-trabalho e a massa de meios de produção. Se, por exemplo, o trabalho necessário à produção do salário monta diariamente a 6 horas, o trabalhador precisa trabalhar 12 horas para fazer 6 horas de mais-trabalho,

para gerar mais-valia de 100%. Nas 12 horas ele consome o dobro de meios de

produção que nas 6 horas. Mas, por isso, a mais-valia que ele agrega em 6 horas não está, de modo algum, em relação direta com o valor dos meios de produção consumidos nas 6 ou também nas 12 horas. Esse valor é aqui completamente indi- ferente; o que importa é a massa tecnicamente necessária. Se a matéria-prima ou o meio de trabalho são baratos ou caros, é completamente indiferente; basta que possuam o valor de uso exigido e estejam disponíveis na proporção tecnicamente prescrita em relação ao trabalho vivo a ser absorvido. Se eu sei, no entanto, que em 1 hora se fiam x libras de algodão e que custam a xelins, então eu também sei, naturalmente, que em 12 horas são fiadas 12 x libras de algodão' = 12 a xelins e, então, eu posso calcular a relação da mais-valia tão bem com o valor das 12 quanto com o valor das 6. Mas a relação entre o trabalho vivo e o valor dos meios de pro- dução só entra aqui ã medida que a xelins serve de nome para x libras de algodão; porque determinado quantum de algodão tem determinado preço e, portanto, tam- bém, inversamente, determinado preço pode servir como índice para determinado quantum de algodão, enquanto o preço do algodão não se alterar. Se eu sei que, para me apropriar de 6 horas de mais-trabalho, preciso fazer trabalhar 12 horas, por- tanto tenho de ter algodão preparado para 12 horas, e se conheço o preço desse algodão necessário para 12 horas, então existe, por vias indiretas, uma relação en-

A TAXA DE LUCRO 37

tre o preço do algodão como índice do quantum necessário! e a mais-valia. lnver- samente, porém, nunca posso concluir, a partir do preço da matéria-prima, quanto ã massa de matéria-prima que pode, por exemplo, ser fiada em 1 hora e não em 6. Não tem lugar, portanto, nenhuma relação intrínseca, necessária, entre o valor do capital constante, portanto também entre o valor do capital global = c + v!

e a mais-valia.

Se a taxa de mais-valia é conhecida e sua grandeza é dada, a taxa de lucro

expressa apenas o que ela de fato é, outra mensuração da mais-valia, sua mensura- ção segundo o valor do capital global em vez de segundo o valor da parte do capital da qual, por seu intercâmbio com trabalho, ele se origina diretamente. Mas, na reali- dade isto é, no mundo dos fenômenos!, a coisa aparece às avessas. A mais-valia é dada, mas dada como excedente do preço de venda da mercadoria sobre seu preço de custo; continua misterioso saber de onde provém esse excedente: da ex- ploração do trabalho no processo de produção, da extração de vantagens do com- prador no processo de circulação, ou de ambas. O que, além disso, está dado é a relação desse excedente com o valor do capital global, ou a taxa de lucro. O cálcu- lo desse excedente do preço de venda sobre o preço de custo segundo o valor do capital global adiantado é muito importante e natural, já que por meio dele se acha de fato o algarismo da proporção em que o capital global se valorizou, seu grau de valorização. Partindo-se dessa taxa de lucro, de modo algum pode-se deduzir uma relação específica entre o excedente e a parte do capital desembolsada em salários. Ver-se-á em capítulo posterior as engraçadas cabriolas que Malthus dá ao tentar alcançar por esse caminho o segredo da mais-valia e da relação específica da mes- ma com a parte variável do capital. O que a taxa de lucro mostra enquanto tal é, antes, uma relação uniforme do excedente com partes de igual grandeza do capital, que, desse ponto de vista, não apresenta diferenças internas, salvo a existente entre capital fixo e circulante. E essa diferença também só porque o excedente é calcula- do duplamente. Ou seja, primeiro como grandeza simples: excedente sobre o preço de custo. Nessa sua primeira forma, todo o capital circulante entra no preço de cus- to, enquanto do capital fixo só entra nela a depreciação. Depois, segundo: a relação desse excedente de valor com o valor global do capital adiantado. Aqui, o valor de todo o capital fixo, bem como do circulante, entra no cálculo. O capital circulante entra, portanto, as duas vezes do mesmo modo, enquanto o capital fixo entra uma vez de um modo diferente, da outra vez do mesmo modo que o capital circulante. Assim, a diferença entre capital fixo e capital circulante se impõe aqui como única.

Portanto, o excedente, para falar com Hegel, se reflete em si mesmo a partir da taxa

de lucro ou, posto de outro modo, o excedente, caracterizado mais de perto pela

taxa de lucro, se apresenta como um excedente que o capital produz acima de seu

próprio valor anualmente ou em determinado período de circulação.

Embora a taxa de lucro seja numericamente diferente da taxa de mais-valia, en- quanto mais-valia e lucro sejam de fato o mesmo, sendo também numericamente iguais, o lucro é, no entanto, uma forma transmutada da mais-valia, uma forma em que sua origem e o segredo de sua existência são velados e apagados. De fato, o

lucro é a forma fenomênica da mais-valia, tendo esta de ser primeiro revelada me-

diante análise daquele. Na mais-valia a relação entre capital e trabalho está posta a nu; na relação entre capital e lucro, isto é, entre capital e mais-valia, como ela aparece, por um lado, como excedente realizado no processo de circulação, acima do preço de custo da mercadoria, por outro, como excedente determinado mais de perto por sua relação com o capital global, o capital aparece como relação consigo

4' Marx se refere aqui às Teorias da Mais-Valia. que deveriam constituir. segundo seu plano, o volume IV de O Capital. N. dos T.!

38 TRANSFORMAÇÃO DA MAIS-VALIA E DA TAXA DE MAIS-VALIA EM TAXA DE LUCRO

mesmo, uma relação em que ele, como soma original de valor, se distingue de um valor novo, por ele mesmo posto. Que ele produz esse valor novo durante seu mo- vimento através do processo de produção e do processo de circulação, isso está na consciência. Mas como isso ocorre, está mistificado e parece provir de qualidades

ocultas, inerentes a ele.

Quanto mais perseguirmos o processo de valorização do capital, tanto mais a relação-capital há de se mistificar e tanto menos há de por a nu o segredo de seu

organismo interno.

Nesta seção, a taxa de lucro é numericamente diferente da taxa de mais-valia;

por outro lado, lucro e mais-valia são tratados como a mesma grandeza numérica, só que em forma diferente. Na próxima seção veremos como a alienação prossegue