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Ocupação, trabalho e renda

No documento IGOR SIMONI HOMEM DE CARVALHO (páginas 176-180)

Capítulo 3 O Assentamento Americana: histórico, concepção, aspectos sócio-econômicos e

3.3. As famílias do Assentamento Americana

3.3.5. Ocupação, trabalho e renda

Foram levantadas informações sobre as cinco principais fontes de sustento para 37 famílias do Assentamento (Figura 21). As famílias camponesas em geral têm um controle débil das finanças da família (CHAYANOV, 1981), e isso se confirmou para as famílias entrevistadas. Alguns entrevistados não foram capazes de estabelecer uma pontuação ou ordem de prioridade para as fontes de sustento (1ª mais importante, seguida da 2ª, 3ª etc.), tendo sido mencionada

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três ou quatro fontes, sem ranqueá-las. Nestes casos, as respostas a esta pergunta foram complementadas com outras informações recolhidas na entrevista, sendo possível assim estabelecer uma pontuação e um ranking das atividades mais importantes. Portanto, as informações aqui apresentadas permitem uma aproximação adequada da realidade de cada família.

A maior parte das famílias do Assentamento Americana tem, como atividade principal, o trabalho em seus lotes: cultivos, criações e serviços domésticos. Geralmente, o objetivo central desse trabalho é a auto-suficiência, ou seja, evitar pagar por aquilo que se pode produzir e

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 mero d e famílias

Ranking das fontes de sustento mais importantes para 37 famílias do Assentamento Americana

1ª 2ª 3ª 4ª 5ª

Figura 21. Ranking das fontes de sustento mais importantes para 37 famílias do Assentamento

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fazer. De 37 famílias entrevistadas, a produção no lote é a principal atividade de sustento familiar para 16, e está entre as três mais importantes para 28 famílias.

Todas as famílias buscam, também, formas de obter renda monetária. A prestação de serviços remunerados é a fonte de renda mais importante para 13 famílias, e está entre as três mais significativas para, ao menos, outras 20. São mais freqüentes os serviços prestados no próprio Assentamento e seu entorno, em obras civis ou em trabalhos “de roça”. Em menor proporção estão os assentados que trabalham em “firmas” de eucalipto.

Ao menos 18 famílias têm, na comercialização de produtos agropecuários, uma das atividades econômicas principais. Tem maior peso a venda informal do que a formal. A venda de frutas in natura, óleos e doce é feita em feiras livres (especialmente a de Grão Mogol), diretamente aos consumidores, na beira da estrada, na porta dos produtores ou sob encomenda. A comercialização no mercado formal se dá, na maioria dos casos, via Cooperativa Grande Sertão. Calcula-se que, entre 2002 e 2010, somente a comercialização de frutas nativas via Cooperativa gerou cerca de vinte mil reais para doze famílias do Assentamento. Este valor ainda está muito aquém do potencial de geração de renda pelo extrativismo, pois são enfrentadas dificuldades relacionadas, principalmente, ao transporte, e o esforço de coleta ainda atinge uma porcentagem muito pequena dos recursos disponíveis. Com a progressão do plantio de espécies frutíferas (nativas e exóticas) e o adensamento das áreas de coleta, espera- se que o aproveitamento de espécies nativas seja uma atividade cada vez mais importante às famílias do Assentamento.

Muitas famílias têm ainda o costume de trocar dias de serviço, e em situações específicas, trabalhar em mutirão. Estas relações de trabalho reforçam os laços de solidariedade entre as famílias, e impactam de maneira positiva na produção e nas economias domésticas.

O programa Bolsa Família está entre as três fontes de renda mais importantes para 12 famíilias. A renda proveniente de aposentadorias é a mais importante para as seis famílias que a têm. Há ainda famílias que recebem outros benefícios do governo, como o auxílio-saúde. Há ainda aqueles que recebem ajuda de custo de trabalhos institucionais (CAA-NM, Cooperativa Grande Sertão, STR de Grão Mogol, Agente de Saúde).

Muitas famílias têm produzido carvão como forma de aproveitar a lenha que sobra dos desmates feitos para abertura de pastos. A justificativa utilizada pela maioria dos assentados é

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que a produção de carvão é tão somente para aproveitar a lenha que, de outra forma, seria perdida “apodrecendo” nos pastos.

De 35 entrevistadas, 18 mencionaram o carvão como uma de suas fontes de ingresso, sendo que: uma considera ser a principal; duas consideram ser a segunda mais importante; nove afirmam ser a terceira; e seis famílias elencaram a produção e venda de carvão como a quarta ou quinta fonte de ingresso mais importante. Outras nove famílias declararam que já fizeram ou que irão fazer carvão como forma de aproveitamento da lenha resultante da limpeza dos pastos, contudo sem destacar tal atividade como fonte de ingresso significativa. Oito famílias declaram não trabalhar com o carvão em nenhuma hipótese, sendo que, destas, sete são do GAC.

Alguns assentados que produzem carvão relatam que esta atividade não tem sido vantajosa, pois o preço tem caído muito. Além disso, o trabalho nos fornos é fatigante, penoso e insalubre. Muitos agricultores entrevistados declararam ter consciência de que não há perspectiva de “viver de carvão”, pois o plantio industrial de eucalipto está além de suas possibilidades (financeiras e técnicas), e a madeira do Cerrado logo diminuirá, inviabilizando o carvoejamento no longo prazo. De fato, mesmo que a produção de carvão induza ao desmate total do lote, em poucos anos a disponibilidade de lenha será bastante reduzida, tornando a atividade carvoeira insustentável. Assim, para a maioria das famílias, espera-se que a produção carvoeira seja temporária, mesmo que esteja sendo uma fonte de renda significativa no momento. Dessa forma, é importante que as roças e criações, o extrativismo e a comercialização de produtos agropecuários sejam reconhecidos como atividades economicamente mais vantajosas do que a produção de carvão.

Ao menos quatro assentados declararam a intenção de plantar eucalipto em seus lotes, eventualmente fazendo da produção de carvão uma atividade prioritária. Segundo informações levantadas após o fim da pesquisa de campo, um dos assentados já iniciou o seu plantio. Se o eucalipto for adotado por um número significativo de famílias do Assentamento, haverá condições, em um futuro próximo, de se analisar mais profundamente os diversos aspectos envolvidos nesta produção, como as técnicas de plantio empregadas, o tipo do produto final (carvão ou madeira), o acesso a mercados e a influência em outras atividades econômicas da família produtora. Tais questões serão aprofundadas adiante, no Capítulo 4.

Os membros do núcleo-duro do GAC declaram a não intenção de trabalhar com carvão, por não realizarem grandes desmates e por considerar mais vantajoso o aproveitamento da

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lenha. Se, por um lado, é possível que mais famílias passem a dar preferência ao aproveitamento da lenha nos fogões e fornos caseiros e (futuramente) na Unidade Multiuso, por outro lado, à medida que as licenças de desmatamento forem sendo liberadas pelo IEF, é possível que muitas famílias ainda terão no carvão uma importante atividade e fonte de ingresso, mesmo que seu preço continue caindo.

A diversidade de situações vivenciada por cada família, nas diferentes localidades dentro do Assentamento, reflete a diversidade de estratégias de sobrevivência típicas do campesinato. Em geral, a produção para auto-suficiência e a comercialização dos excedentes são prioritárias, porém, a prestação de serviços remunerados e, mais recentemente, os auxílios governamentais, têm assumido importância crescente. Vale mencionar o trabalho das donas de casa, especialmente importante nas famílias camponesas: cozinha, limpeza, quintal, horta, pequenas criações. Em geral, nem mesmo é considerado trabalho. Porém, se fosse contabilizado em termos monetários, certamente o valor seria alto.

No documento IGOR SIMONI HOMEM DE CARVALHO (páginas 176-180)