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Recursos hídricos no Assentamento Americana

No documento IGOR SIMONI HOMEM DE CARVALHO (páginas 184-187)

Capítulo 3 O Assentamento Americana: histórico, concepção, aspectos sócio-econômicos e

3.5. Aspectos ambientais e estrutura do Assentamento Americana

3.5.1. Recursos hídricos no Assentamento Americana

A área do Assentamento Americana é marcada pela presença de lagoas e brejos, mas abriga também córregos e nascentes. A rede de drenagem da área comporta uma parte que verte para o norte, abastecendo o rio Vacaria, tributário do rio Jequitinhonha, e outra parte que verte para o sul, formando o córrego Extrema, que deságua no rio Itacambiruçu, também tributário do Jequitinhonha (Figura 8, página 91).

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As lagoas fazem parte das mais de dez bacias de sedimentação existentes na área do Assentamento (CAA-NM & UFMG, 2002). Segundo relatos dos moradores mais antigos, até os anos 1970, estas lagoas – do Miguel, das Pedras, Americana, Mutuca, Marruaz, Branca, Boa Vista, dos Porcos, Garça e Nova – eram perenes, e atraiam moradores de toda a região para a pesca. Progressivamente, muitas dessas lagoas e brejos foram secando, ou se tornando intermitentes. Em alguns casos, foram construídas barragens para segurar a água por mais tempo, como no caso da Lagoa Nova, conhecida também como Lagoa do Pau Santo.

As Figuras 11 e 12 (página 122) dão uma ideia do processo de secamento de lagoas verificado na área do Assentamento nas últimas décadas. A Figura 11 é uma imagem do satélite Landsat de 26 de agosto de 1990 (período da seca), na qual estão destacadas três lagoas: Nova, da Branca e da Boa Vista. A Figura 12 é uma imagem do satélite Landsat de 15 de setembro de 2009 (também no período da seca), e mostra as mesmas lagoas, sendo que a da Boa Vista já totalmente seca e as outras duas com espelho d‟água menor. De fato, conforme verificado em campo, a Lagoa da Boa Vista se encontra sem água, tanto no período da seca quanto no período das chuvas. Conforme mencionado, nesta lagoa “se pescava traíra” em outros tempos.

A pesquisa de campo confirmou informações do PDA a respeito de cursos d‟água assoreados. Segundo o PDA,

o córrego que passa pela região conhecida como Retiro do Barreiro está completamente assoreado, em função de uma grande voçoroca fora do PA que carreia elevada quantidade de partículas de areia para o leito deste. Esse assoreamento é agravado pela exploração de areia em uma propriedade vizinha, a montante do Córrego. (CAA-NM & UFMG, 2002:49).

Estas informações foram confirmadas por uma das entrevistadas, moradora do Barreiro. Atualmente, tal córrego chega mesmo a secar completamente, como se observa na foto 4, tirada durante um veranico (temporada seca na época das chuvas) em janeiro de 2011. Foi observado ainda um córrego assoreado na localidade Sossego (foto 5). O PDA informa ainda sobre a existência de voçorocas na região do Sapé, as quais foram verificadas próximo à rodovia BR 251.

Em muitos lotes foram perfuradas cisternas nas áreas de baixada ou no leito dos antigos corpos d‟água, além dos já mencionados tanques para dessedentação de animais. Estas cisternas e tanques têm sido utilizados para complementar o abastecimento das famílias, já que

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a maior parte da água que utilizam vem da rede aí instalada, cuja água vem de poços tubulares profundos (artesianos).

O Assentamento conta com boa quantidade de água subterrânea. Foram implantados quatro poços artesianos, com vazão suficiente para uso doméstico das famílias. A água destes poços é lançada para caixas d‟água e distribuída às casas por tubulação. Contudo, o valor do litro d‟água cobrado é considerado muito alto pelas famílias assentadas, impedindo a utilização desta água na irrigação de cultivos. Além disso, é importante que o uso da água subterrânea seja menor que a capacidade de recarga do lençol freático, para que seja sustentável.

A alternativa mais sustentável para complementação da disponibilidade hídrica tem sido a captação e armazenamento da água da chuva, por meio de cisternas de placas de cimento e estrutura de ferro, construídas por meio dos programas “1 Milhão de Cisternas” (P1MC) e “Uma Terra, Duas águas”42 (P1+2). As “cisternas caseiras”, de 16 mil litros, captam água do telhado

para ser usada na cozinha e banheiro. Já as “cisternas calçadão” armazenam até 52 mil litros de água, que é usada para irrigação de hortas e dessedentação de animais. O “calçadão” é uma área cimentada de 200m², por onde é captada a água. É possível encher uma cisterna dessas com apenas 350mm de chuvas. Como na região do Assentamento Americana incidem de 800 a 1000mm de chuvas anuais, as cisternas calçadão podem promover uma disponibilidade de mais de cem mil litros de água por família/ano. Além disso, os calçadões podem ser usados para secagem de produtos agrícolas no período da seca.

Todos os membros do Grupo Agroextrativista já contam com suas cisternas de placas. Boa parte dos outros assentados também já tem as suas, sendo que alguns dispõem de cisternas de plástico. Alguns membros do GAC trabalham ainda como pedreiros e mobilizadores dos programas P1MC e P1+2.

O cuidado com os recursos hídricos do Assentamento Americana é uma das preocupações contida no PDA e no Regimento Interno, e levada a cabo pelos assentados, especialmente do GAC, como, por exemplo, manter a vegetação nativa das chapadas e deixar faixas de vegetação nos lotes e nas margens de corpos d‟água. Para alguns assentados, a preservação e recuperação da cobertura vegetal do Assentamento pode resultar na recuperação dos corpos d‟água outrora existentes, conforme relata um membro do GAC:

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Você sabe que é possível voltar a água. Não passa mais a roçadeira naquela manga na área da sede, não deixa o fogo pegar mais – faz um trabalho desse, deixando faixas, deixando o que tem e introduzindo mais. (Assentado, membro

do GAC)

No documento IGOR SIMONI HOMEM DE CARVALHO (páginas 184-187)