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A oferta do enoturismo

No documento O perfil do enoturista: o caso português (páginas 38-42)

CAPÍTULO 2 – O SISTEMA DO ENOTURISMO

2.3. A oferta do enoturismo

Pelo lado da oferta, o enoturismo pode ser considerado como o conjunto de todas as atividades associadas à visita a adegas, museus e outros estabelecimentos ligados ao setor, tendo como principal objetivo o propósito de terem uma experiência relacionada com a temática do vinho, como é o conhecimento dos vinhos e a sua prova, assim como

8 Esta distinção entre as motivações para os turistas visitarem uma adega levou Johnson (1998, referido por Gallaway et al., 2008) a distinguir dois tipos de turistas: o especialista que se refere a alguém que visita uma adega com o fim de recreação e cuja finalidade principal é o interesse específico no vinho ou na vinha e os fenómenos com estes relacionados e o generalista que corresponde a alguém que vai visitar uma adega por outras razões. Igualmente William e Dossa (2003) baseando-se na segmentação psicográfica, num inquérito realizado a não residentes de British Columbia, dividiram os turistas em

generalists e immersionists, em que os últimos dão mais ênfase ao aumento dos conhecimentos sobre a

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o conhecimento das regiões, instituições e organizações visitadas, incluindo as caves, as adegas, as quintas, os festivais, os eventos, as visitas guiadas, o alojamento, a restauração e os bares, o artesanato, a produção de alimentos, as infraestruturas que suportam um destino e as atividades associadas. Ou seja, pressupõe o contacto direto do turista com as atividades vitivinícolas e com os produtos resultantes destas atividades e com o património paisagístico e arquitetónico relacionado com a cultura e a produção do vinho (Simões, 2008).

Isso vai obrigar os atores intervenientes a terem em consideração a totalidade das ofertas e o mercado alvo, de modo a atenderem às necessidades do turista. Os produtos turísticos são muitas vezes considerados como uma cadeia de valor acrescentados de todos os componentes de serviço que constituem uma rede (Zhang, Song & Huang, 2009). Identificar as formas de gestão dessa rede, que exigem inter-relações firmes e de desenvolvimento dos produtos, é fundamental para as empresas de turismo se pretenderem manter uma vantagem competitiva sobre os seus rivais igualmente competitivos, devendo ser obrigação das empresas recorrer ao marketing para estudar os canais de distribuição do turismo (Middleton & Clark, 2001; Pearce & Schott, 2005). Assim, um conjunto de empresas ou de organizações, privadas ou públicas, está envolvido em diferentes atividades, que vão desde o fornecimento de diferentes componentes do produto e serviço turísticos, como a acomodação e a distribuição ou comercialização de um destino turístico específico (Zhang, et al., 2009).

Como indústria do turismo, entende-se o alojamento, a restauração, os festivais e mostras de vinho, as visitas guiadas e as atividades associadas (Hall et al., 2002a). As próprias localidades onde estão instaladas as adegas, poderão ser também recursos turísticos de grande importância. Os recursos da indústria do vinho são as adegas e caves, as vinhas, as festas do vinho e os eventos especiais (Cambourne & Macionis, 2000). Os recursos humanos referem-se aos produtores de vinho, aos enólogos, aos viticultores, aos trabalhadores das vinhas e a todos os outros trabalhadores ligados à indústria do vinho e da vinha bem como os operadores turísticos.

As infraestruturas físicas incluem o ambiente físico, a paisagem, a gastronomia e os componentes sociais e culturais da região do vinho que contribuem para a experiência do visitante (Hall et al., 2002a). Em termos de componente institucional, fazem parte da oferta todos os níveis do governo com responsabilidade na vitivinicultura e no turismo,

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assim como toda a legislação, regulamentação e ordenamento do território relacionados com o vinho, a vinha e o turismo.

O enoturista pretende participar em atividades de recreio e de lazer que se realizam em instalações e infraestruturas ou equipamentos, do setor vitivinícola e do setor do turismo, tendo como principal motivação a visita às regiões de vinhos, com os objetivos de conhecer a cultura e as características do vinho nessa região, os recursos associados ao setor do vinho, a prestação de um serviço turístico e os recursos presentes na região. Assim, é necessário perceber que o enoturista pretende, além de visitar as adegas e caves, passar pela experiência que ocorre fora do espaço fechado das adegas, vinhas, caves e sala de prova, como os hotéis, os restaurantes, a vinha, etc. Tão importante como a associação ao conceito do vinho e a todos os aspetos que se lhe referem, será a complexidade da experiência transmitida, que valoriza a vivência do visitante quando entra em contacto com a oferta do enoturismo. Aliás, a implementação de uma estrutura regional que vise a estruturação de uma oferta de um destino deve incluir a oferta dos diferentes elementos para usufruto dos turistas.

Os consumidores procuram cada vez mais diferentes tipos de ofertas e experiências que desejam passar numa atmosfera emocionante, mas igualmente confortável e autêntica, o que traz novos desafios para a oferta, de modo a que o enoturismo seja capaz de satisfazer as exigências do novo turista (Reiter, 2004, referido por Orsolini e Boksberger, 2009).

Por conseguinte, os gestores das adegas procuram a construção de atividades recreativas que levem o turista a experimentar sensações diferentes e que tenham uma forte componente de entretenimento mas sobretudo educativa, apostando na criação de instalações próprias, espaços onde as pessoas podem degustar o vinho e saborear produtos típicos em simultâneo com o relacionamento com os restantes visitantes ou com o pessoal da adega, onde se inclui o enólogo. As empresas convidam os visitantes para o seu espaço de produção, permitindo-lhes assistir no local e com a matéria-prima genuína à realização do seu vinho favorito, podendo interagir diretamente com os intervenientes no processo de fabrico do vinho (Mitchell e Orwig, 2002, referido por Mitchell, 2006).

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Verifica-se que do lado da oferta há uma grande necessidade de se promoverem fatores de desenvolvimento e atratividade com esforços de marketing, envolvendo a indústria do vinho e do turismo como: circuitos e percursos para e dentro da região, com rotas de vinho bem sinalizadas; promoção de atividades recreativas, de modo a aumentarem as opções de escolha pelos visitantes; espaços de venda de produtos regionais nas adegas ou na região; a manutenção de uma imagem consistente relativamente ao vinho. Para isso, a associação a uma denominação de origem de uma região poderá permitir que, do lado da oferta, se promovam os atributos e uma identidade regional, local ou pessoal própria do vinho que aí é produzido. O próprio conceito de denominação de origem possui um atributo fortemente territorial, associando uma marca a um território. É função das regiões valorizar a imagem de marca de uma região, aproveitando as características do vinho, principalmente o de boa qualidade, em coordenação com o reconhecimento gastronómica da região e a valorização dos seus recursos endógenos e particulares, proporcionado experiências únicas, de modo a promover uma aumento dos impactes económicos do turismo na região (Getz, 2000).

O produto do turismo de vinho, que é uma combinação de desenvolvimento específico relacionado com o vinho e que inclui os centros interpretativos, as aldeias de vinho, as rotas de vinho, a sinalização e os passeios pela região deve contribuir para mudar a imagem e a função de acordo com a imagem pretendida (Getz, 2000). Para o turista, se a imagem da marca e da identidade corresponder à oferta, então o nível de satisfação obtido será positivo.

Mas o vinho, por si só, pode não ser suficientemente atrativo para deslocar turistas a uma região de vinhos, caso não haja atividades complementares (Alonso & O´Neill, 2009). Por esse motivo, vão sendo criadas em paralelo, quer pela administração pública, quer por privados, atividades enoturísticas que acrescentam conhecimento sobre o vinho e podem gerar desenvolvimento nas diversas zonas vitivinícolas (Medina & Tresseras, 2008; Zamora & Barril, 2007). São exemplos de atividades as provas de vinho nas adegas, a degustação de vinho e comida, as visitas às adegas e às vinhas, os festivais e eventos baseados na temática do vinho, as atividades sociais e recreativas que diversificam a oferta, a compra de produtos regionais, a visita a um centro interpretativo, o património arquitetónico e outras atividades relacionadas com o estilo

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de vida e a cultura locais (Geißler, 2007, referido por Pikkemaat, Peters, Boksberger & Seco, 2009).

Charters e Ali-Knight (2000), com base numa investigação realizada em regiões vitivinícolas da Austrália concluem que os turistas que visitam uma adega raramente a visitam sem terem uma experiência prévia formativa sobre o vinho; é possível identificar um sector minoritário (1/3 dos visitantes) cuja motivação principal seja a de ter uma experiência inicial de aprendizagem. Destacam ainda por ordem de importância os seguintes fatores educativos: aprender como armazenar e envelhecer o vinho, aprender as relações vinho/comida, aprender a provar vinhos, obter explicações sobre a produção do vinho, adquirir informação sobre o desenvolvimento de uma vinha, a fabricação do vinho, conhecer o enólogo e realizar passeios pelas vinhas (Sánchez Vargas, Plaza Mejia, Porras Bueno & Miguel Ligero, 2008b).

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