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CAPÍTULO 2 – Sete olhares sobre a Supervisão Educacional da ETE Henrique

2.2 O olhar da Coordenação

A primeira pergunta da entrevista é sobre a importância do Supervisor Educacional na escola, que respondem:

De certa forma, pois contribui para organização da vida escolar (FREIRE, 2016). A supervisão é responsável pelo planejamento execução do processo educativo, promover o aperfeiçoamento do corpo docente, interagir a escola com o meio e proporcionar ao corpo discente e docente, meios que facilitem e estimulem a educação, contribuindo eficazmente para a organização e dinâmica da escola (GOMES, 2016).

Os Coordenadores de Turno Freire (2016) e Técnico em Máquinas Navais Gomes (2016) parecem concordar com os professores quanto a que o principal trabalho do supervisor é organizar o trabalho pedagógico, de modo a contribuir no cotidiano escolar e nas metas desejadas pela escola.

O supervisor será aquele dinamizador da organização do trabalho que irá colaborar e com o coletivo escolar viabilizar uma educação de qualidade para a sua escola, na formação integral de seus alunos em sujeitos, em indivíduos-históricos (PARO, 1998, 2007).

Na resposta do Coordenador do Curso Técnico em Máquinas Navais podemos nos apoiar em Alves (2011) ao pensar a relação do supervisor educacional com os demais sujeitos da escola e sua contribuição com o espaço escolar. Alves (2011) afirma que apenas com o respeito mútuo aos demais participantes da comunidade escolar, com a valorização do trabalho escolar organizacional produzido em conjunto, com o suporte oferecido, enquanto pessoa e profissional educador, com a construção de um clima de empatia e estímulo, é que a prática supervisionada será bem conduzida.

A resposta da pergunta sobre se o Supervisor da ETE Henrique Lage consegue construir coletivamente resoluções para dificuldades do cotidiano escolar também são similares, para o Coordenador de Turno: “Sim, vejo o trabalho em conjunto com a direção, professores e alunos (FREIRE, 2016)”. E para o Coordenador Técnico em Máquinas Navais: “Sim, com reflexão, raciocínio e priorizando a formação da cidadania e aquilo que é importante para a escola (GOMES, 2016)”.

A visão do Coordenador de Turno Freire é generosa, tanto em relação ao trabalho colaborativo da supervisão com a direção, tanto no trato e na resolução de problemas e dificuldades no cotidiano escolar com esta última, professores e alunos. Parece haver uma integração entre direção, supervisão, professores e alunos para que as dificuldades do dia-a-dia sejam resolvidas.

Em conjunto com a direção, conforme o Ministério de Educação e Cultura (1979) deve-se estabelecer “a criação de condições favoráveis ao máximo desenvolvimento das potencialidades da comunidade escolar” (p. 44), com os professores, criando-se parcerias para resolução de problemas que possam afetar o processo educativo na sala de aula (LÜCK, 2004, p. 20-22) e com os alunos, preocupando-se com a ação educativa que está sendo realizada (LÜCK, 2004, p. 31).

Na visão do Coordenador Técnico o supervisor educacional será o mediador, o dinamizador de ações de modo reflexivo nas resoluções de dificuldades do cotidiano, não deixando de lado a formação cidadã do aluno e os objetivos da escola.

Indagados sobre acreditarem que as atividades desenvolvidas pelo Supervisor da Escola asseguram o melhor processo de ensino-e-aprendizagem dos alunos respondem:

Acredito, por conta do suporte e do incentivo (FREIRE, 2016). Sim, através da parceria com os professores e outros setores da escola, principalmente com a orientação educacional. A supervisão visará

sempre à formação do aluno, o seu desenvolvimento como cidadão crítico e participativo e atuante na sociedade (GOMES, 2016).

As autoras Medina (1997) e Alves (2011) parecem concordar com as respostas dos Coordenadores sobre a importância do supervisor educacional na contribuição do processo ensino-aprendizagem. De acordo com Medina (1997), o supervisor será aquele que constrói com os professores seu trabalho diário, principalmente para auxiliar no resultado da ação educativa que está sendo desenvolvida com os alunos em sala de aula (p. 20-21).

A ação do supervisor será a de colaborar de modo conjunto com o docente que ensina em relação ao aluno que aprende. No diálogo com os professores, na confiança estabelecida em relação ao trabalho dos dois sujeitos, a partir de sua observação participante poderá encontrar formas próprias de intervir de modo qualitativo na ação educativa da sala de aula, “na forma de tratamento dado pelo professor aos conteúdos e às condições de existência dos alunos” (MEDINA, 1997, p. 30).

Os Coordenadores concordam “sem dúvida” que o Supervisor Educacional da ETE Henrique Lage consegue estabelecer relações com o coletivo escolar, na fala do Coordenador de Turno ele consegue “estabelecer pontes”, o que parece ser uma boa definição para um supervisor-educador. Ele será o que constrói pontes entre os sujeitos da escola, na tentativa de realizar uma organização pedagógica de modo envolvente e comprometido.

Segundo Rangel (1997) o supervisor será aquele que terá a “visão-sobre”, será aquele que enxergará algo por cima, ou ainda que enxergará acerca de algo. Se ficássemos apenas nessas palavras o supervisor de Rangel trabalharia em função da escola de modo fragmentado– função –, não de forma envolvida e comprometida com o coletivo da escola, de modo recíproco – ação.

Porém, a própria autora na evolução de seu texto demonstra que a função e a ação do supervisor na escola podem andar pari-passu:

Pode-se, então, reafirmar que a “especificidade” da função supervisora não implica “divisões” que dissociam, desarticulam ou elitizam as atividades pedagógicas; ao contrário, a ação (específica) do supervisor se faz no sentido de fortalecer os elos entre as ações e os sujeitos que as realizam (RANGEL, 1997, p. 152).

Ainda assim, a autora utiliza em conjunto com a palavra “função” palavras que dão sentido à fragmentação do trabalho, como “dissociam, desarticulam ou elitizam”, mesmo não havendo essa implicação. E em conjunto com a palavra “ação” usa palavras que dão sentido ao coletivismo no trabalho. Rangel não conceitua ação, mas podemos entender que a palavra ação é usada para algo maior e mais abrangente. Logo, a ação (ARENDT, 2000) seria a relação humana dialógica (PARO, 2007) que o supervisor estabelece com os demais sujeitos da escola, de modo a contribuir com as ações desses, com orientações, diretrizes, valores.

Sobre a própria relação dos Coordenadores com a Supervisão Educacional da ETE Henrique Lage, há generosidade em suas respostas quanto à troca profissional e pessoal. Para o Coordenador de turno: “Sempre há troca e colaboração. Não há dúvidas, nem intromissões em nossos papéis, eu coordeno os alunos e os professores em seu horário e salas de aula, a supervisão faz bem mais coisas na vida escolar com alunos e professores” (FREIRE, 2016).

No Regimento Norteador das Unidades Escolares da Educação Básica/ Técnica da Rede FAETEC de 2013, o coordenador de turno será aquele que irá gerir a rotina escolar, na dinâmica do espaço escolar. Em relação a horários, salas de aula, ausência de professores, avisos e programações da escola, responsabilidade sobre a guarda do diário de classe na escola, organizar o trabalho dos inspetores de alunos serão as principais atividades prestadas por esse sujeito escolar.

Em relação às atividades e ações do supervisor educacional da FAETEC26,é necessário que esses sujeitos estabeleçam uma relação de troca e colaboração, como responde o Coordenador de Turno. O primeiro, ao gerir a organização do trabalho pedagógico da escola, e o segundo a rotina escolar, tornam claro o quanto as atividades são próximas e que um pode contribuir no trabalho do outro para ajudar a escola na organização do trabalho tanto pedagógico, quanto escolar.

A resposta do Coordenador Técnico parece muito voltada para a pessoa do Supervisor Educacional com que ele trabalha: “Sou suspeito em falar, mas é a melhor possível com respeito a maneira de falar coerente com a maneira de ser” (GOMES, 2016).

Na ETE Henrique Lage a divisão do setor por cursos técnicos faz com que supervisor e coordenador técnico trabalhem mais próximos de modo a gerir a parte técnica. O Coordenador Técnico Gomes parece registrar um elogio ao supervisor educacional que com ele divide a gestão do Curso Técnico em Máquinas Navais.

Na pergunta sobre verem o Supervisor Educacional da escola como um líder educacional, respondem positivamente. O Coordenador de turno: “Sim, com certeza, com atuação preciosa e marcante” (FREIRE, 2016). E o Coordenador de Máquinas Navais: “Sim, além de dar conta das questões burocráticos, contribui com a formação dos professores em serviços na formação dos profissionais” (GOMES, 2016).

Para Lück (2004), o supervisor será uma “liderança e inspiração pedagógica”, liderança no sentido de o supervisor educacional articular os processos de ensino aprendizagem relativos a métodos, técnicas, conteúdos (p. 18-19), inspiração, no sentido de ser referência marcante na escola, ao pensar no articulador desses processos desenvolvidos pelo supervisor.

Com base em Rangel (1997), entendemos que o supervisor será um educador comprometido com as ações sociopolíticas da educação. Seu compromisso de “visão sobre” do processo de ensino-aprendizagem alcança relações entre o coletivo escolar e processos educativos. A preocupação da autora se direciona numa prática em que devem ser evitadas “a rotinização e a mecanização das ações”, já que o propósito do supervisor educacional como um líder é possibilitar a reflexão da teoria e prática e coordenar o trabalho em conjunto, no sentido de que “as decisões e as ações” em relação “ao ato de ensinar e de aprender se façam de modo fundamentado e articulado” (p. 149).

Se for nesse sentido que a supervisão educacional da ETE Henrique Lage atua, de acordo com a autora e com a resposta dos Coordenadores, a sua liderança é realizada com êxito no espaço escolar, de modo coletivo, envolvente e comprometido.

Nas respostas da questão sobre a contribuição do Supervisor Educacional na organização do trabalho escolar podemos perceber que a visão dos Coordenadores se tornam fragmentadas ao levar a crer que a organização do trabalho promovida pela supervisão educacional envolva apenas a direção e as coordenações e não os demais sujeitos escolares.

Para o Coordenador de Turno: “Sim, por trabalhar lado a lado com a direção” (FREIRE, 2016). O Coordenador Técnico em Máquinas Navais: “Sim, através das reuniões fica mais nítido essa participação” (GOMES, 2016).

Essas respostas podem comprometer as anteriores, se os Coordenadores não pensaram de modo consciente nas ações que não apenas eles, mas o coletivo escolar realiza na escola todos os dias, incluindo a Supervisão Educacional. Tanto Supervisores, quanto Coordenadores, como os demais sujeitos que participam e constroem a escola devem se relacionar com o coletivo escolar, se a Supervisão trabalha “lado a lado com a direção”(FREIRE, 2016) tão somente seu trabalho será apenas ser uma extensão, “um braço da Direção” (MELO, 2016), ou se apenas ocorre em reuniões com os Coordenadores, sem ouvir os demais sujeitos da escola e com eles discutir sobre sobre os problemas da escola e suas possíveis resoluções, a participação nas tomadas de decisão será verticalizado, e assim sendo o trabalho pedagógico se tornará fragmentado e esvaziado de sentido, não constituindo ação.

A organização do trabalho passa a ganhar importância através da participação de todos que constituem a escola (HYPOLITO, 1991, p. 11). Para resolver problemas, para dinamizar resoluções, para mediar situações é necessário que não apenas a Supervisão e a Direção tomem a frente nas decisões, mas todos que da escola participam. Participação comprometida faz com que as resoluções construídas coletivamente sejam levadas e cumpridas de modo consciente, de acordo com Lück (2009).

Indagados sobre o que faltaria na Supervisão Educacional os dois Coordenadores atentam para as condições de trabalho: “[...] se formos analisar as condições de trabalho, falta modernização dos equipamentos, ou seja, poderia trabalhar com tecnologia da informação” (FREIRE, 2016). E o Coordenador Técnico: “[...] acredito que o uso das novas tecnologias de comunicação e de informação” (GOMES, 2016).

Muitos dos trabalhos de rotina realizados pela supervisão educacional não são sistematizados com ajuda de tecnologia, mas sim de modo manual, notando uma precarização das condições de trabalho (HYPOLITO, 1991, p. 4)27. Essa seria uma preocupação não apenas dos Coordenadores, como também dos Supervisores que participaram dessa dissertação.

Já sobre o profissional Supervisor Educacional abriremos aspas sobre a fala do Coordenador de Turno: “No que diz respeito a pessoas, não vejo faltar nada. [...] Sobre seu papel, acredito que desempenha muito bem as suas atribuições” (FREIRE, 2016).

O Coordenador de Turno em seu vocabulário utiliza ainda papel, atribuições, palavras atreladas ao funcionalismo, isso se vincula a uma visão fragmentada do trabalho, se vincula ao que seja apenas pertinente ao supervisor fazer, e não nas articulações e possíveis potencializações que essas articulações e ações possam fazer.

Mesmo se utilizando de um vocabulário que dá sentido fragmentado ao supervisor, o Coordenador de Turno acredita que as ações desse sujeito são realizadas com êxito, onde nada falta, na questão do profissional.

A última pergunta sobre se notam diferença entre supervisores estatutário e contratados na ETE Henrique Lage houve discrepância nas respostas. Para o Coordenador de turno não há diferença entre os profissionais, apenas nas condições de trabalho: “[...] contratados ganham menos e não conta tempo de serviço. No modo de trabalhar, não, não vejo diferença” (FREIRE, 2016).

As opiniões do Coordenador de Turno sobre contratados e estatutários se vincula apenas à questão do regime trabalhista diferenciado. Sobre os baixos ganhos e pela não contagem do tempo de serviço ao ser provido de cargo público, por seu tempo em contrato.

Tanto os professores entrevistados, quanto o Coordenador de Turno Freire (2016) relatam não notar diferença no trabalho realizado pela Supervisão em relação à escola. Acreditam que o mesmo profissionalismo e dedicação dos estatutários teriam também os contratados, e vice-versa.

Já na fala do Coordenador Técnico se apresenta que os supervisores contratados trabalham de modo satisfatório, até mais que os estatutários: “Sim, o contratado é mais dedicado, compromissado, desempenha suas atividades de modo mais eficaz” (GOMES, 2016).

É bom lembrar que os contratados trabalham com remuneração mais baixa e com condições de trabalhos precários, mas nem por isso parecem, pela fala do Coordenador, descompromissados com a melhoria do ensino e da educação da ETE Henrique Lage.

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