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CAPÍTULO 2 – Sete olhares sobre a Supervisão Educacional da ETE Henrique

2.3 O olhar da Secretaria

Tal como os Professores de física e SRM e os Coordenadores, o Secretário reforça a ideia de organização do trabalho pedagógico pela responsabilidade do supervisor educacional na ETEHL.

Principalmente numa escola técnica, por conta da quantidade de alunos, de professores, eu acho que a supervisão é indispensável. Por conta da formação pedagógica que o supervisor tem, numa escola técnica em que grande parte dos professores não passaram, e se passaram, foi assim de uma forma bem ligeira, com relação a questões pedagógicas mesmo, em sala de aula, em orientar nas questões de práticas pedagógicas, até nos relacionamentos com os alunos. E sobretudo na realização dos Conselhos de Classe que é o momento mais difícil né, da escola, no embate que temos de aprovação e reprovação, nas questões internas e externas da escola em relação aos alunos, então acho que a supervisão é fundamental. (ASSIS, 2016). Importante ressaltar que o Secretário frisa o fato da escola ser técnica, e ter professores técnicos sem formação pedagógica. A orientação pedagógica do supervisor educacional pode ser crucial para auxiliar esses professores em táticas que podem vir a utilizar em sala de aula para ensinar ao seu aluno.

Ao relatar sobre “relacionamentos com os alunos” e “questões internas e externas da escola em relação aos alunos”, o Secretário Assis (2016) alude a atividades que deveriam ser desenvolvidas pela Orientação Educacional, um setor que existe na escola, mas, igual na fala do professor de física, aqui se fica subentendido que o Supervisor Educacional em muitos momentos acumula as duas funções em suas ações dentro da escola.

Na tensão e nos conflitos possíveis que possam acontecer nos Conselhos de Classe, podendo ser “o momento mais difícil” na escola, por colocar em debate a vida do aluno mediante a aprovação ou reprovação, o supervisor ao ser aquele que possui “visão sobre”, como diz Mary Rangel (1997), a vida acadêmica do aluno, ao estabelecer relações de confiança entre os professores e se posicionar como líder pedagógico que reflete e faz refletir em conjunto com os professores sobre a vida do aluno, não apenas em seu rendimento quantitativo, porém qualitativo nas questões de avaliação de desempenho trimestral e/ou anual coloca em perspectiva uma visão sobre o aluno e sua formação de forma mais ampla.

Indagado sobre as possibilidades de resolução que o Supervisor Educacional pode estabelecer em conjunto para as dificuldades do dia-a-dia escolar o Secretário parece focar na questão de a escola ser técnica,

Por que numa escola técnica, principalmente, por que na rede de ensino de escolas técnicas é fundamental esse papel do supervisor, a interferência da supervisão no acompanhamento do conteúdo, no desempenho do professor, em buscar o equilíbrio no embate entre professor e aluno (ASSIS, 2016).

Sua preocupação parece ser pelo fato de na ETE Henrique Lage haver professores na rede que tem como formação de graduação em arquitetura ou em engenharia para dar aulas na parte diversificada (técnica) de cada curso técnico que compõe a escola. A falta de embasamento didático-pedagógico para esse professor requer que a supervisão educacional, nesses casos, se aproxime dele para lhe fornecer orientações pedagógicas adequadas para que aconteça o processo educativo.

Para Rangel (1997, p. 148), o supervisor educacional em nível escolar vai assegurar o melhor processo de ensino aprendizagem, alcançando as demais relações entre alunos, professores, conteúdo, métodos, avaliação, planejamento e contexto de ensino. Ferreira (2001, p. 83) considera o supervisor educacional um agente articulador de práticas educativas visando à qualidade da formação humana para o pleno exercício da cidadania.

A “interferência” do supervisor enquanto ação, não deve ser aquela impositiva, mas enaltecendo a autonomia do professor, refletindo e repensando práticas que possam ajudá-lo em sala de aula. Deve-se ter em mente que professores são os profissionais que realizam a maior influência na formação dos alunos. Seus conhecimentos técnicos, atitudes culturais, posturas diante da vida e de seu entorno e habilidades profissionais são fundamentais para o sucesso na formação dos alunos(LÜCK, 2009).

O Secretário Assis (2016) acredita que o Supervisor Educacional da ETE Henrique Lage deve assegurar o melhor processo de ensino e aprendizagem aos alunos,

[...] acredito que tem uma interferência na supervisão, na elaboração do conteúdo, no sentido de construir com o professor a partir do simples para o complexo. Por que às vezes temos formações, como o engenheiro que o mesmo conteúdo que deu em engenharia, na faculdade, deseja dar em sala de aula do ensino médio, acho que o papel da supervisão é importante em acompanhar esse processo, auxiliando o professor a como passar o conteúdo aos alunos de forma a partir do simples e ir ao complexo (ASSIS, 2016).

O supervisor educador irá auxiliar e coordenador o professor para que suas ações educativas visem à aprendizagem de cada aluno, fomentando e fazendo crescer no professor o fato de que sua orientação e liderança são decisivas para o êxito dos alunos no processo educacional (LÜCK, 2009). Nisso acontece também uma relação humana dialógica, assim também está o supervisor e o professor nessa troca se constituindo enquanto sujeitos (PARO, 1998, 2007).

Isto porque, em última análise o aprimoramento do processo ensino- aprendizagem, preconizado pela supervisão escolar, não depende tanto de diretrizes preestabelecidas e de planos prontos, muitas vezes pouco aceitos, ou aceitos passivamente pelo professor, mas das condições apresentadas por este profissional para implementá-la. É o potencial do professor que “faz diferença” nesse processo [...] (LÜCK, 2004, p. 21-22).

Para que isso aconteça, Lück frisa sobre as relações que devem ser estabelecidas entre o supervisor e o professor, que seja de confiança mútua para que as ações firmadas entre eles possam adentrar a sala de aula e assim fazer a diferença na formação do educando(LÜCK, 2004).

Através de Lück (2004, 2009), entendemos que a finalidade da escola é ensinar e formar os alunos de modo integral, e todas as ações realizadas na escola devem ser orientadas e coordenadas nesse sentido, para que se “produza os melhores resultados possíveis no sentido de atendimento às necessidades dos educandos e promoção do seu desenvolvimento”(LÜCK, 2004, p. 16).

Inclusive, para que a finalidade seja realizada de modo efetivo, o Supervisor Educacional deve conseguir estabelecer relações com o coletivo escolar. Nesse sentido, o Secretário também concorda, “Sim, apesar do peso maior do supervisor com o professor, mas aí e com isso a sua relação deve se estreitar com outros participantes da escola” (ASSIS, 2016).

Por esta perspectiva, entendemos que a relevância do professor nesse processo educativo é que dará o tom do sucesso ou insucesso do mesmo. Daí, a importância do supervisor educacional ao auxiliar o professor de modo coordenado e orientador, para que de forma recíproca se desenvolva reflexões e sentidos e para que isso se configure em atitudes, práticas e habilidades que possam se refletir em sala de aula, tentando-se alcançar a principal razão da escola: formar e ensinar os alunos de modo integral constituído- os sujeitos, indivíduos-histórico.

Ao convergir atividades nos âmbitos técnico e administrativo para além do pedagógico o supervisor educacional se liga a demais sujeitos escolares para produzir ações. Ações que organiza a vida em comum escolar com a Direção, Coordenação, Orientação Educacional e Secretaria – por fazer parte do grupo gestor –, dos professores – por auxiliar e orientar suas atividades, de modo pedagógico – e os alunos –por contribuir no processo de ensino-aprendizagem.

Com isso a resposta do Secretário é cheia de sentidos para perceber as múltiplas atividades que o supervisor deve ser capaz de realizar dentro da escola, alcançando os demais sujeitos escolares e organizando a vida em comum que compartilham na ETE Henrique Lage.

A resposta sobre sua própria relação, enquanto Secretário Escolar, com a Supervisão Educacional, já constitui uma ação administrativa e pedagógica que este setor realiza com a secretaria escolar.

[...] eu tenho o trabalho da supervisão com a secretaria como algo importante, pois o acompanhamento pedagógico do aluno daquela série, daquele semestre, na interferência de no caso quando o professor não entrega a nota, quando não fecha as avaliações, acompanhamento da distribuição dos alunos nas turmas. Creio que tenha que ser um trabalho em conjunto, de forma próxima. A secretaria trabalha muito em processar informações, por que existe uma demanda externa daqueles alunos que já saíram da escola, mas que de certa forma vem na escola para requerer um documento, além disso os documentos de alunos que estão na escola, então para o trabalho da secretaria funcionar depende do trabalho da supervisão, em aspecto administrativo que não deixa de ser pedagógico, pois nos auxilia na consolidação e na sistematização dos resultados do ano letivo de cada aluno (ASSIS, 2016).

Ao utilizar os recursos que possui para realizar fins, no caso de interferir na entrega de notas, no fechamento dos dados dos alunos no ano letivo, por exemplo, realiza-se uma gestão da vida escolar do aluno, uma atividade administrativa, que, segundo Paro (2012), que também é pedagógica, pois existe o aspecto mediador, “[...] o caráter mediador da administração que não pode de modo algum ser negligenciado quando se trata de providenciar para que determinado processo ou conjunto de processos se encaminhem para a realização de metas desejadas” (p. 66. Grifos do autor). Se a meta da secretaria escolar é consolidar e sistematizar os resultados do ano letivo de cada aluno, de forma administrativa, acreditamos que o “caráter mediador” será realizado pela supervisão e que, de acordo com Paro (2012), não pode ser

negligenciado de modo algum. O Secretário já responde que a mediação desse processo da secretaria deve ser realizada pela Supervisão Educacional da ETE Henrique Lage, que os dois setores devem trabalhar de maneira próxima, pois sem isso o objetivo da secretaria não se realiza.

A resposta do Secretário Assis (2016)não nos ajuda a detectar se a Supervisão Educacional da ETE Henrique Lage realiza de maneira efetiva a mediação para auxiliar no objetivo da secretaria, apenas nos informa que, para o trabalho da secretaria funcionar, isso depende do trabalho da supervisão. Isso quer dizer que, se a supervisão não organiza os processos pedagógicos, de modo administrativo, e repassa-os à secretaria para processar as informações da vida do aluno, o supervisor não está realizando ação, está violando um aspecto fundamental de sua função e da gestão da escola, sobretudo da vida escolar do educando.

Porém, se essa atividade se efetiva, é correto afirmar que a Supervisão Educacional da ETE Henrique Lage realiza ação, ação administrativa e pedagógica, ao encaminhar processos para a realização de metas desejadas a outros setores, como por exemplo, o da Secretaria Escolar.

Em relação sobre se o Secretário vê o Supervisor Educacional como líder pedagógico sua resposta parece dividir duas visões de supervisor, o autoritário, impositivo e controlador e o educador, mediador e orientador de “boas práticas da vida escolar”.

Ao invés de “super visão”, terá “visão sobre”, como alega Rangel (2008), entendendo o supervisor como um educador comprometido com as ações sociopolíticas da educação. Seu compromisso de “visão sobre” do processo de ensino-aprendizagem alcança relações entre o coletivo escolar e processos educativos (p.76).

Ferreira (2001) nos ajuda a constituir um supervisor educador enquanto um líder pedagógico ao refletir e coordenar ações no âmbito escolar, e a perceber que, para além de suas múltiplas ações próprias, deve ser aquele que atua na organização da vida escolar como profissional articulador do trabalho em grupo que age no planejamento de projetos educacionais de modo “dinâmico e orgânico” (p. 83). Assim deverá ser, ao que parece, um supervisor descrito pelo Secretário Escolar.

Indagado sobre se acredita que o Supervisor Educacional contribui na organização de trabalho da ETE Henrique Lage o Secretário acredita que se estabelece uma organização ao se articular atividades pedagógicas e administrativas.

Ao andar pari-passu as atividades administrativas e pedagógicas de uma escola, assegura Paro (2012) que a gestão escolar está se realizando com êxito. “A boa realização do ensino (atividade-fim) é a razão de ser de todas as demais atividades (atividades-meio)” (p. 66). E o supervisor educacional da FAETEC realiza a mediação entre essas duas atividades a de fim – pedagógico – e as de meio – administrativas e técnicas.

Ainda, segundo Paro (2012), uma não pode ir bem, sobretudo a administrativa, se a outra vai mal, a pedagógica. Uma escola não pode falhar em seu pedagógico e ter sucesso no administrativo, se é o administrativo que depende do pedagógico para existir, e não o contrário. O autor afirma que se apenas o administrativo acontece, esse deixa de sê-lo e passa a ser puramente burocrático, com fim em si mesmo. Assim sendo não visa ao fim da escola, formar e educar alunos, apenas processa dados e informações de tais alunos, “nada de relevante do ponto de vista do ensino ou dos objetivos educativos da escola” (p.66)

De acordo com a resposta do Secretário a ação do Supervisor Educacional da ETE Henrique Lage se debruça sobre o caráter mediador das atividades meio e fim na escola. A contribuição que o setor realiza ao firmar essa ação “deixa em aberto as ilimitadas possibilidades de distribuição da autoridade e de organização do trabalho”, para realizar os fins visados (PARO, 2012, p. 65).

Assim sendo, se constitui como ação importante essa atividade do Supervisor Educacional ao acreditar na capacidade de diálogo, convivência, cooperação com os sujeitos que tomam parte desses processos, cuidando que esta mediação se realize com êxito no ambiente escolar.

Sobre o que falta ao Supervisor Educacional da ETE Henrique Lage, o Secretário responde:

Talvez isso possa surgir como crítica, mas acho que existe trabalhos na secretaria, que, por exemplo, eu sou secretario e sou pedagogo, mas tem coisas na secretaria que necessitam de uma orientação da equipe pedagógica, se amanhã assume um secretário apenas com o nível médio haverá certas coisas que ele não vai saber responder e vai

precisar da equipe pedagógica, pois terá competência para tal (ASSIS, 2016).

Em primeiro momento, parece negligenciada a orientação pedagógica que a Supervisão Educacional da ETE Henrique Lage possa dar ao Secretário Escolar. Porém, ele mesmo afirma ser pedagogo e, com isso, tem o conhecimento necessário para responder às demandas de cunho pedagógico na secretaria. Sua preocupação gira em torno de outro momento, quando ele não mais for o Secretário Escolar.

Nesse sentido, podemos explorar a função e a ação e distanciá-las. Nas atribuições ao cargo não se descreve de modo preciso auxiliar a secretaria em emitir parecer em matéria de sua competência, porém existi no artigo 65 do Regimento Interno Escolar o ponto “XVII – emitir parecer em matéria de sua competência”. Podemos entender que seria uma função do supervisor realizar esse trabalho administrativo pedagógico, que é demanda da secretaria.

Na função, o entendimento do escrito ficará restrito à interpretação sobre se, em sentido de ação o compromisso que o supervisor educador possui com a escola, e principalmente, com a educação, vai fazê-lo auxiliar o trabalho do Secretário no que tange a orientações pedagógicas pertinentes na emissão de parecer ou de qualquer outro documento que necessite de respaldo pedagógico.

Para finalizar a entrevista, o Secretário responde se percebe diferenças entre o Supervisor Educacional contratado e estatutário na ETE Henrique Lage:

Eu acho que depois que os supervisores contratados ingressaram na FAETEC, o trabalho da supervisão ajudou e muito o trabalho da secretaria. Antes havia menos supervisores, mas também com relação a esse trabalho da supervisão em conjunto com a secretaria eu encontrava muita dificuldade antes, por que havia uma certa resistência com algumas informações da supervisão. É importante dizer também que pelo número de supervisores, pessoal no final de carreira, se aposentando. E quem entrou a partir de 2014 na supervisão deu um “sangue novo” ao setor, realizando o trabalho com mais efetividade, no sentido tanto da eficácia, com relação à questão administrativa, quanto da eficiência, em relação à interferência nesse processo pedagógico da escola (ASSIS, 2016).

O olhar do Secretário Assis sobre o grupo de Supervisores Educacionais contratados em 2014 é positivo. O “sangue novo” (ASSIS, 2016) que entrou no setor parece ter entrado em parceria com a Secretaria Escolar de modo a dinamizar as atividades administrativas, organizando melhor essa atividade-meio (PARO, 2012, p.66).

Antes, por razões que o próprio Secretário aponta, o trabalho administrativo era apenas burocrático, com fim em si mesmo, por conta da resistência de Supervisores em repassar informações pedagógicas importantes para que a secretaria escolar pudesse realizar o seu trabalho. A partir de 2014, parece ter havido uma diferença nesse sentido, fazendo com que as atividades meio e fim realizadas pela Supervisão Educacional se convertessem em ação, propriamente dita.

A partir de 2014, o Secretario nos direciona a entender que o Supervisor Educacional da ETE Henrique Lage realiza ação administrativa e pedagógica mediando ações entre outros setores, principalmente o da Secretaria Escolar de modo eficaz e eficiente, como uma integração operacional e gestacional dos processos escolares entre os setores.

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